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MAIS DEZ ENREDOS QUE PODERIAM VIRAR ROTEIROS DE DRAMATURGIA

MAIS DEZ ENREDOS QUE PODERIAM VIRAR ROTEIROS DE DRAMATURGIA

6 de setembro de 2022, nº 51

Em junho de 2007 escrevi um Top 10 Sambario sobre ʺDez Enredos que Foram Temas de Desfiles de Carnaval e que Poderiam se Tornar Roteiros de Dramaturgiaʺ. Fiquei surpreso ao ver que o texto já tinha sido escrito há tanto tempo e resolvi atualizá-lo, pois surgiu muita ideia bacana neste período como tema de carnaval e que poderia render boas histórias a serem aproveitadas como roteiro de cinema ou teledramaturgia.

Como falei no texto anterior, as sinopses de enredo são verdadeiros argumentos para roteiros de filmes, novelas ou minisséries. E o carnaval acaba cumprindo seu dever social, o de entreter, informar e levar um pouco de cultura brasileira para os brasileiros, que acabam desconhecendo o valor deste patrimônio.

Então, segue uma lista atualizada do Top 10 Sambario com mais dez enredos que poderiam se tornar roteiros cinematográficos ou televisivos.


10º lugar: Yasuke (Mocidade Alegre/2023)

Mandou banhar, escorreu beleza
A verdade da cor, a natureza
É preta sua armadura
Tem na alma bravura
Ninguém segura!


Argumento: O enredo da Morada do samba já no lançamento foi cercado de muita expectativa por contar a incrível história do imigrante africano que se tornou um dos mais respeitados samurais no Japão no século 16. A ideia de unir África e Japão em um tema carnavalesco foi bastante comentada.

Um homem alto e africano chegou ao Japão. Ele se tornaria o primeiro estrangeiro a alcançar o status de guerreiro samurai. Conhecido como Yasuke, o homem era um guerreiro que alcançou o posto de samurai sob o domínio de Oda Nobunaga – um poderoso senhor feudal japonês do século 16 que ficou conhecido como o primeiro dos três unificadores do Japão. Em um ano, Yasuke havia se juntado aos escalões superiores da classe guerreira japonesa, os samurais. Em pouco tempo, ele falava japonês fluentemente e cavalgava ao lado de Nobunaga em batalhas.


Ilustração Yasuke lutando ao lado de Oda Nobunaga no livro infantil de Kurusu Yoshio, Kuro-suke

Não há registros da data ou país de nascimento de Yasuke. A maioria dos historiadores afirma que ele nasceu em Moçambique, mas alguns sugeriram outros países, como Etiópia ou Nigéria. O que se sabe, no entanto, é que segundo historiadores, Yasuke chegou ao Japão entre 1579 e 1582.

Como primeiro samurai estrangeiro, Yasuke participou de várias batalhas importantes ao lado de Oda Nobunaga.

Logomarca do enredo da Mocidade Alegre para 2023 com o tema Yasuke

Embora seu destino e os últimos anos de sua vida permaneçam desconhecidos, Yasuke viveu na imaginação de muitos japoneses que cresceram com o livro infantil premiado Kuro-suke (kuro que significa "negro" em japonês), escrito por Kurusu Yoshio.

Produção: Yasuke tem todos os ingredientes para render um bom filme de ação, com muita aventura e cheio de efeitos especiais. Os cineastas Floyd Webb e Deborah DeSnoo trabalham em um filme para Hollywood sobre Yasuke.

9º lugar: Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia? (Mocidade/2015)

Você, o que faria
Se o mundo fosse acabar
E só lhe restasse este dia pra viver?
Ver tudo ruir, a terra tremer!
O chão se abrindo aos seus pés
A profecia vai acontecer!

Argumento: ʺO Último Diaʺ é uma canção de 1995, de autoria de Billy Brandão e Paulinho Moska, e se tornou famosa na voz de Moska, que a gravou no álbum Pensar É Fazer Música. Em 1996, a música foi tema de abertura da mini-novela global “O Fim do Mundo”.

Em 2015, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou o mesmo tema para a avenida. Um tema inquietante que sempre impressionou a humanidade com suas previsões e profecias: afinal, o fim do mundo parece estar sempre próximo.

Produção: Poderia render uma reedição da novela numa versão mais ampliada (já que o original foi tratado como uma mini-novela) ou um documentário ao estilo Discovery Channel, com enquetes, depoimentos e curiosidades, como profecias.


O tema do fim do mundo poderia render uma reedição de novela ou um documentário ao estilo Discovery Channel

8º lugar: Onisuáquimalipanse (São Clemente /2017)

A coroa do sol vem me coroar
Alumiou, deixa alumiar
Que hoje o rei sou eu
Brilhando com a ginga que o samba me deu

Argumento: O título é uma transcrição fonética para tornar pronunciável a expressão em francês Honi soit qui mal y pense ou “maldito aquele que pensar mal de mim”. O universo de Onisuáquimalipanse é a França do século 17. Seu personagem principal Luís XV, o Rei Sol. Para poder se dedicar ao que a monarquia absolutista gostava de fazer, ou seja, tudo menos governar, o monarca nomeou Nicolas Fouquet seu secretário do Tesouro.

Ao longo dos anos, Fouquet tornou-se um homem muito rico e, para celebrar sua boa vida, resolveu reformar um acanhado castelo. O nobre não regateou, encarregando grandes artistas da época para tomar conta da obra.

O suntuoso Palácio de Versailles foi construído por Luiz XV para "concorrer" com o castelo de Nicolas Fouquet, secretário do Tesouro do Reino da França

A inauguração contou com o rei, 600 convidados e um cozinheiro performático chamado Vattel. O castelo tão suntuoso recebendo uma festa escandalosamente nababesca fizeram Luís XV suspeitar de seu “secretário do tesouro”. Além de tomar as devidas providências contra o audacioso Fouquet – naquele tempo não havia Ministério Público, CPI – o rei invejoso mandou construírem para ele uma obra ainda mais espetacular. O resultado? Palácio de Versailles.

A história é verídica e as semelhanças com as de um certo país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza  podem ser ʺmera coincidênciaʺ.

Produção: ʺOnisuáquimalipanseʺ tem todos os ingredientes de comédia e crítica social, com ares épicos, ao melhor estilo aventura de capa-e-espada.

7º lugar: O Alabê de Jerusalém, a Saga de Ogundana (Unidos do Viradouro /2016)

Viradouro no couro do tambor
Pediu a Oxum e Xangô (Ora Yê, Yê, Kawô)
E a Olodumaré, no Ifé
Que o africano caminheiro
Desça em solo brasileiro
Pra falar da Luz de Nazaré
O porta-voz da harmonia e da paz
O mensageiro dos Orixás

Argumento: Nascido há cerca de 2.000 anos, no antigo Daomé, hoje Benin, onde se cultuavam os orixás mais conhecidos e amados no Brasil, Ogundana, o protagonista da ópera e do livro, parte aos 12 anos em direção ao Norte da África, até o Egito, onde se apropria de toda a cultura local, em especial sua desenvolvida medicina. Sem romper a relação profunda com os orixás, ele adquire conhecimentos sobre todo o panteão egípcio e aprende os segredos da mumificação.

Na vizinha Núbia, aprende a medicina com pouca água e cura um centurião romano – que o convida a ir para Roma, onde se torna médico das tropas. Quando Pôncio Pilatos é nomeado governador da Judeia, o leva consigo. Inicia-se, então, a fase de aproximação de Ogundana ao judaísmo. E em Cesareia ele se apaixona por Judite, prima de Maria Madalena, através de quem conhecerá Jesus Cristo.

ʺO Alabê de Jerusalémʺ, ópera composta por Altay Veloso, foi encenada pela primeira vez em 2005, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Alabê de Jerusalém fala sobre a saga de Ogundana, contemporâneo de Jesus Cristo, que hoje, dois mil anos depois, no Brasil, num templo de culto africano, retorna a terra como uma entidade de nome Alabê de Jerusalém para contar sua experiência. Era ele quem cuidava da casa da música na tribo dos yorubás. A ópera traz passagens marcantes da trajetória de Ogundana, como a amizade com Jesus e a paixão por Judith.

Produção: A ópera ʺO Alabê de Jerusalémʺ, de Altay Veloso, foi encenada pela primeira vez em 2005, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Desde a sua estreia tem tido o apoio de todos os setores da comunidade artística brasileira. O espetáculo original teve a direção e a coreografia de Fábio de Mello, contou com os atores Isabel Fillardis, Watusi e Jayme Periard, além de um corpo de balé com 24 bailarinos e 18 cantores. Renderia um belo filme longa-metragem.

6º lugar: Saravá, Umbanda! (Alegria da Zona Sul/2019)

Vovô falou da força das sete linhas
Também contou de mistérios e magias
Ê caboclo curandeiro, Ê caboclo
Laroyê rei da madrugada
Prepara o abô
Marabô, na encruzilhada

Argumento: A Umbanda é uma religião monoteísta e afro-brasileira, surgida em 1908. Em 15 de novembro daquele ano, o médium Zélio Fernandino de Moraes, nascido em São Gonçalo (RJ), teria incorporado o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Este espírito o teria ajudado a criar a nova religião.

A Umbanda se baseia em três conceitos fundamentais: Luz, Caridade e Amor. Suas crenças misturam elementos do candomblé, do espiritismo e do catolicismo. Por isso, para muitos estudiosos, a Umbanda seria uma espécie de candomblé sem sacrifícios de animais, algo que seria mais aceito pela população branca e urbana da época. Ainda pegou conceitos do kardecismo, que estava chegando ao país, como o de “evolução” e “reencarnação”.

Fundada em 1908 no estado do Rio de Janeiro, a Umbanda rapidamente se espalhou por todo Brasil e outros países da América Latina

Também tem Jesus como referência espiritual e é possível encontrar sua imagem em lugar destacado nos altares das casas ou de terreiros de umbanda. É uma religião que reúne em suas liturgias a presença de mentores espirituais, popularmente chamado de guias. São os seres de luz que trabalham nas 7 linhas que irradiam energia dos divinos orixás para que sejam atendidos os pedidos daqueles que buscam o auxílio dos terreiros espalhados por todo Brasil.

Produção: A historia da Umbanda renderia um belo filme longa metragem, mostrando a fundação da religião e fatos envolvendo a nova fé até rapidamente ter se espalhado por todo Brasil e outros países da América Latina.

5º lugar: O Triunfo da América – o Canto Lírico de Joaquina Lapinha (Inocentes de Belford Roxo /2014)

Mulata da Lapa sua voz encantou
Meu samba é uma linda sinfonia
Bateria tocou na cidade do amor
Esse é o tom que contagia

Argumento: Joaquina Maria Conceição da Lapa, conhecida como Lapinha, foi uma cantora lírica e atriz dramática que alcançou grande sucesso no final do século XVIII e início do século XIX. Na infância, a menina que adorava cantar já chamava atenção por sua beleza e pela voz privilegiada. Lapinha era uma mulher transgressora, ousada, de brilho próprio e muito avançada para sua época.

Por ser negra, a artista enfrentou uma série de preconceitos, chegando a utilizar em suas apresentações, cosméticos que disfarçavam o tom escuro da sua pele tornando-a mais branca. Com sua bela voz e seu enorme carisma, Lapinha tornou-se a primeira cantora da raça negra a destacar se na arte cênica brasileira e internacional. Numa época em que a própria presença feminina no palco era bloqueada, é curioso que uma mulher de raça negra tenha feito tanto sucesso, a ponto de obter da Rainha D. Maria e do Príncipe Regente uma autorização para apresentar-se em Portugal, onde seu sucesso foi também estrondoso.


O espetáculo teatral Joaquina Lapinha foi encenado em 2013 no RJ, tendo a atriz Isabel Fillardis como protagonista

Filha de uma negra liberta, a menina Joaquina torna-se uma espécie de “talismã” da mãe, que logo entende que o encantamento despertado pela filha pode garantir às duas um tratamento diferenciado apesar da cor da pele. A menina cresce, apresentando-se informalmente em reuniões familiares e festas. Nestas reuniões, a jovem Joaquina enfrenta reações preconceituosas, assédios de cavalheiros, agressões de senhoras ciumentas.

Produção: Joaquina Lapinha poderia render uma bela minissérie musical falando da história da atriz e cantora lírica negra do século 19.

4º lugar: O Salvador da Pátria (Paraíso do Tuiuti /2019)

Ora meu patrão!
Vida de gado desse povo tão marcado
Não precisa de dotô
Quando clareou o resultado
Tava o bode ali sentado
Aclamado o vencedor

Argumento: O bode Ioiô é uma figura conhecida no Ceará, o “salvador da pátria”. Reza o conto popular que o animal foi eleito vereador como um protesto da população pela insatisfação com o domínio local da elite e do mundo político.

Ioiô foi um famoso bode que viveu na cidade de Fortaleza no início do século 20, na década de 1920. Figura folclórica da cultura popular cearense, o animal costumava perambular pelas ruas centrais da cidade, na companhia de boêmios e escritores que frequentavam os bares e cafés ao redor da Praça do Ferreira, antigo centro cultural da capital, e que lhe davam cachaça para beber. Segundo conta a história popular, recebeu o nome de "Ioiô" por percorrer sempre o mesmo trajeto, definido entre a Praça do Ferreira e a Praia de Iracema.

Levado a Fortaleza em 1915 por retirantes sertanejos, foi adquirido e mantido por José de Magalhães Porto, representante do industrial Delmiro Gouveia, correspondente no nordeste da empresa britânica Rossbach Brazil Company, localizada na Praia de Iracema, da qual se tornou uma espécie de mascote.

Bode Ioio – O animal é peça do Museu do Ceará desde 1935 – Foto: Secult/CE

Em 1922 o bode Ioiô foi eleito a vereador, como forma de protesto à política local na época. Apesar de ele nunca ter se candidatado, a eleição aconteceu, pois naquele tempo os eleitores votavam em cédulas de papel, escrevendo o nome de seus candidatos. Ioiô nunca tomou posse oficialmente de seu posto de vereador, mas passou a ser conhecido como “Bode Celebridade”, o bode vereador despachava todos os dias na praça do Ferreira. Ioiô foi imortalizado ao ser empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, logo após sua morte, em 1931.

Produção: Outra trama que poderia render uma comédia com crítica social, respaldada em fatos verídicos e históricos.

3º lugar: Tata Londirá: o canto do Caboclo no Quilombo de Caxias (Acadêmicos do Grande Rio /2020)

É isso, dendê e catiço
O rito mestiço que sai da Bahia
E leva meu pai mandingueiro
Baixar no terreiro quilombo Caxias
Malandro, vedete, herói, faraó
Um saravá pra folia

Argumento: João Alves Torres Filho (1914-1971) iniciou sua trajetória religiosa em 1931 ainda em Salvador, mas foi na Baixada Fluminense que alcançou poder e fama. Polêmico, ousado, controvertido, insolente, atrevido, desaforado. Esses adjetivos eram comuns para expressar o forte gênio de Joãozinho da Gomeia, lembrado por suas atitudes pouco ortodoxas em relação aos tradicionais terreiros da Bahia. O babalorixá mais famoso do Brasil chegou a ser considerado o “rei do candomblé”. Filho de Oxóssi e Iansã, possuía a inteligência do caçador e o raciocínio rápido como um raio.

Nascido em Inhambupe, na Bahia, Joãozinho da Gomeia mudou-se ainda criança para Salvador. Sofria de fortes dores de cabeça, por isso sua madrinha o levou até o pai de santo Severiano Manoel de Abreu, também conhecido com Jubiabá, que o iniciou no candomblé com 16 anos de idade. Joãozinho nunca fez questão de esconder sua condição de homossexual. Era um mulato bonito, que alisava os cabelos e dançava lindamente.

Foi na Rua da Gomeia, no bairro de São Caetano, que despontou para se tornar um dos maiores nomes das religiões afro-brasileiras. Seu ritual misturava tradições de Angola, Ketu e dos Candomblés de Caboclo. Joãozinho levou a dança dos Orixás para os palcos dos teatros de Salvador.

Em 1946 mudou-se para o Rio de Janeiro, estabelecendo seu terreiro em Duque de Caxias. Atendeu políticos e artistas e tornou-se muito famoso. Muita gente branca e rica ia à busca dos préstimos do jovem e promissor pai de santo e de seu festejado guia, o Caboclo da Pedra Preta. No carnaval de 1956 protagonizou um episódio que chocou o povo do Candomblé ao ser manchete de jornais e revistas fantasiado de vedete.

Capa de um dos discos em LP gravados por Joãozinho da Gomeia

Já na década de 1960, sua fama estava consolidada e o terreiro era conhecido não só na Baixada, mas no Rio de Janeiro inteiro e em todo o Brasil. Contam que suas visitas ao Palácio do Catete eram constantes. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek nunca fizeram questão de esconder sua relação com Joãozinho, assim como tantos artistas e intelectuais da época.

Joãozinho da Gomeia morreu prematuramente, em São Paulo, aos 56 anos. Vítima de um tumor ou coágulo no cérebro e de complicações cardíacas. Seu enterro é lembrado até hoje e tomou ares de lenda na Baixada Fluminense. Contam que ao baixar seu corpo à sepultura, os raios de Iansã cortaram o céu e uma tempestade torrencial e repentina fez o dia virar noite.

Produção: A historia de Joãozinho da Gomeia já rendeu livros, mas poderia render um belo filme devido à força e a riqueza do personagem, com forte destaque às religiões de matriz africana.

2º lugar: O Rei Negro do Picadeiro (Acadêmicos do Salgueiro/2020)

Na corda bamba da vida me criei
Mas qual o negro não sonhou com liberdade?
Tantas vezes perdido, me encontrei
Do meu trapézio saltei num voo pra felicidade
Quando num breque, mambembe moleque
Beijo o picadeiro da ilusão

Argumento: Benjamin Chaves, mais conhecido como Benjamin de Oliveira (1870-1954), nasceu em Pará de Minas, no interior de Minas Gerais. Era filho de Malaquias Chaves e Leandra de Jesus, ambos escravizados. Seu pai o chamada de “Beijo”, “Moleque Beijo”. Assim como seus irmãos, Benjamin ganhou a alforria assim que nasceu, por sua mãe ser considerada uma “escrava de estimação“. Seu pai trabalhava buscando escravos fugidos.

Aos 12 anos, Benjamin fugiu de casa ainda criança com a trupe do circo Sotero, que passava na cidade, onde atuou como trapezista e acrobata. Três anos depois, ele decidiu escapar do circo, já que era espancado pelo dono do empreendimento. Fora do Sotero, ele encontrou ciganos que queriam lhe vender, fazendo com que ele tivesse de escapar novamente. O rapaz era tratado como mercadoria por todos. Na fuga, ele acabou encontrando um fazendeiro, que alegou que ele seria um escravo fugitivo. Benjamin, para ser liberado, teve que fazer algumas das acrobacias que ele havia aprendido no circo.

O jovem passou por diversos circos, em diferentes cidades, e chegou a chamar a atenção de um presidente da República. Quando estava no circo Caçamba, no Rio de Janeiro, o então presidente do Brasil, Marechal Floriano Peixoto, viu uma de suas apresentações e ficou admirado. Com isso, em 1893, o circo foi transferido para a Praça da República, em frente à sede do governo, localizada no Palácio do Itamaraty. A partir dali, os materiais usados pela trupe eram transportados pelo Exército Brasileiro.

Benjamim trabalhou na inovadora forma de teatro combinado com circo que chamariam de pavilhão. Comédias, paródias e a arte de representar por gestos, sem palavras. Representou clássicos, como Otello, farsas, melodramas, operetas como A Viúva Alegre, até uma paródia da ópera O Guarani, que acabou projetado nas telas de cinema. O primeiro Momo, que seria mais tarde, a representação do “Rei na Folia”, foi pela primeira vez, representado por Benjamim, na opereta O Cupido do Oriente. Assim como inúmeras peças, de minha autoria.

O primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamim de Oliveira (1870-1954)

Benjamim de Oliveira foi ator, diretor, autor, produtor, dançarino, compositor, cantor (até gravei discos), e palhaço sim senhor! O Primeiro Palhaço Negro do Brasil! E o palhaço o que é? Acima de tudo: um artista brasileiro!

Produção: A história de Benjamim de Oliveira daria um belo filme ou musical. A historia do artista praticamente retrata 80 anos do Brasil desde o final do século 19 até a metade do século 20.

 
1º lugar: Não há tristeza que possa suportar tanta alegria (Unidos do Viradouro /2022)

Assinado: Um pierrot apaixonado
Que além do infinito o amor se renove
Rio de Janeiro, 5 de março de 1919

Argumento: O maior carnaval de todos os tempos. Em 1919 o Rio viveu folia de quase três meses após a pandemia de Gripe Espanhola. Em março acontecia o primeiro carnaval depois do #fiqueemcasa da época, que adoeceu 600 mil cariocas e superlotou os hospitais. A folia entraria para a História. Ao alcançar a imunidade, tendo sobrevivido à peste e a Primeira Guerra Mundial, os foliões aproveitavam a festa como se fosse a última.

A imunidade foi atingida de forma misteriosa e cerca de dois meses após o início dos casos. O motivo ainda é uma incógnita para historiadores e especialistas da Saúde. O carnaval era só em março, mas – com a imunidade – o carioca antecipou a folia. Os famosos Bailes do Democráticos começaram logo em janeiro e varavam a madrugada.

Ainda no primeiro mês do ano, botaram o bloco na rua os Tenentes do Diabo, o Fenianos de Cascadura e o Felismina, Minha Nêga. Foi em 1919 também que surgiu um bloco para entrar para a História: o Cordão da Bola Preta. Na Avenida Rio Branco, desfilavam os "corsos" — nome dado ao que atualmente chamamos de carros alegóricos. Segundo o Correio da Manhã, só não havia mais gente na avenida porque não tinha espaço.

Em 1919, o país vivera um momento político conturbado. Rodrigues Alves havia sido eleito presidente da República, mas não chegou a ser empossado. Ele pegou a Gripe Espanhola e acabou morrendo antes de assumir.


Desfile do corso durante o carnaval na cidade do Rio de Janeiro em 1919

Foi também um carnaval de grandes figuras humanas: o Jamanta, um carnavalesco muito relacionado ao Clube dos Democráticos, que depois vai se ligar aos fundadores do Bola Preta, e passa à posteridade pela pena do Pedro Nava por causa de seu papel no recolhimento dos mortos na pandemia; Júlio Silva, fundador do Bloco do Eu Sozinho, desfilou até os anos 1970 e foi uma figura importante também para o futebol, já que criou o slogan “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”; já o Caveirinha sobreviveu à febre espanhola e ganhou o apelido por ter emagrecido com a doença.

Havia naquele ano expressões que estavam há muito sumidas, como os cordões, mas ao mesmo tempo já era um carnaval influenciado pela indústria fonográfica, de canções que saíam dali direto para serem gravadas. E o samba ainda era mais maxixe do que samba ainda.

Produção: “Não há tristeza que possa suportar tanta alegria” (ou seja, lá o título que a obra possa receber) daria uma bela minissérie de época abordando todos esses ingredientes do pós-Primeira Guerra Mundial e pós-pandemia de Gripe Espanhola.

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Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br