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O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA
. 1º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - Os Primórdios . 2º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - A TV Coloriu 30 de dezembro de 2019, nº 39 CAPÍTULO 2 – A TV Coloriu
Do preto e branco “Quem
te viu, quem TV” (Adilson Magrinho, Jairo Bráulio, Claudinho e Mário Carabina)
– Samba enredo da GRES Leão de Nova Iguaçu 1991
o
dia 19 de fevereiro de 1972 os brasileiros puderam, pela primeira vez,
acompanhar uma transmissão pública de TV em cores. O marco na história
televisiva do país teve como palco a Festa da Uva, em Caxias do Sul, na serra do
Rio Grande do Sul. O então presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985) inaugurou
o evento, que teve transmissão comandada pelo Canal 10, a TV Difusora de Porto
Alegre (atual Band RS), e difundida pela Embratel para todo o Brasil, através
do sistema oficial de televisão analógico adotado no país, o sistema PAL-M – híbrido
dos sistemas norte-americano NTSC (de resolução de tela) e europeu PAL (de
codificação de sinais de cor). A visita do presidente Médici à Festa da Uva durou
uma hora, tempo de exibição do evento. Depois desta transmissão, as emissoras
se ajustaram ao novo padrão e, em março do mesmo ano, elas inauguraram suas
programações coloridas. Como boa parte das pessoas não tinha o aparelho de
televisão em cores, muitos se reuniram na frente das lojas de eletrodomésticos
para acompanhar a novidade. Muita gente ficou surpresa que os novos aparelhos
não vinham mais com a antena externa, já que os novos televisores tinham o dispositivo
interno. Em alguns municípios, os prefeitos chegaram a comprar aparelhos para
que a população acompanhasse a transmissão. Os leitores mais atentos puderam perceber a data:
19 de fevereiro. Em 1972, era o Sábado de “Enterro dos Ossos”. Quem viveu à
época deve se lembrar de que a Festa da Uva aconteceu dias após a comemoração do
carnaval, ocorrido de 12 a 15 do mesmo mês. E por que foi escolhido um festejo
da imigração italiana para ser transmitido em cores em detrimento do “maior espetáculo
visual do planeta”, no qual o visual é exuberante, cheio de cores e brilho em
profusão? A resposta é pura e simples: adulação ao então vigente regime
político no país e uma certa dose de bairrismo. O professor e jornalista gaúcho Sérgio Reis (1938
– 2018) – que trabalhou na primeira transmissão de TV em cores no Brasil –
contava, em suas palestras, que o então Presidente Médici, gaúcho de Bagé, iria
cumprir agenda oficial na Festa da Uva em 1972. Como o presidente não era muito
afeito ao carnaval e na semana seguinte aos festejos de Momo, viajaria ao Rio
Grande do Sul, seu estado natal, os assessores de seu gabinete decidiram dar
uma puxadinha no saco presidencial, fazendo com que a primeira transmissão
televisiva colorida acontecesse em território gaúcho. Ou seja, por uma questão
de poucos dias, o carnaval de 1972 deixou de ser um marco histórico das
telecomunicações verde e amarela.
Segundo o jornalista Walter Clark (1936 - 1997) em
sua autobiografia, “O campeão de
audiência”, o evento foi realmente escolhido por influência do então
Ministro das Comunicações, o engenheiro militar caxiense Higino Corsetti, pois
já tinham condições de fazer transmissões a cores mesmo antes do evento em
Caxias do Sul. A transmissão estava programada para acontecer no
Carnaval do Rio de Janeiro, mas as emissoras do centro do país não
apresentaram, em tempo, as condições técnicas necessárias. A Festa da Uva
ocorria na mesma época. A TV Difusora, com sede em Caxias do Sul, era a única
que dispunha de modernos equipamentos para transmitir o evento em cores,
diretamente da Avenida Sinimbu, no centro da cidade serrana. O fato do Gen.
Médici ser gaúcho também foi fator que favoreceu a escolha.
O surgimento da TV colorida fez com que as
emissoras dessem mais espaço ao desfile de carnaval. Num primeiro momento
aumentaram a duração dos flashes direto das ruas e salões. Depois passaram a
transmitir os desfiles na íntegra. Também na década de 70 começou a ser formatado o
estilo das transmissões e de narração dos desfiles de carnaval. O formato consagrado
deriva das transmissões esportivas: há um narrador com função semelhante à do
narrador de futebol, aquele que narra todas as ações. Há também o comentarista
(um ou mais), geralmente indivíduo com trajetória reconhecida no campo do
carnaval ou acadêmico, estudioso externo ao campo que, primeiro, fez dele seu
objeto de estudo e, depois, tomando esse estudo como legitimador, passa a
interferir no valor simbólico das produções sequentes ao momento inicial em que
estudou o campo. Por fim, também é importante a atuação dos repórteres de
pista, que descrevem os acontecimentos corriqueiros, os imprevistos, no que a
informação sobre a quebra de um carro alegórico ou sobre a aproximação do
limite do tempo de desfile se assemelha à informação sobre uma lesão de um
jogador de futebol. Muitas vezes, os profissionais escolhidos para
atuar nas transmissões de carnaval atuam cotidianamente na esfera esportiva.
Exemplos latentes disso são as escolhas da Rede Globo para a apresentação do
carnaval carioca, que já contou com Léo Batista (anos 70 e 80), Fernando
Vanucci (anos 80 e 90), Cléber Machado (anos 2000), Luís Roberto e Glenda
Kozlowski (anos 2010) e, mais recentemente, Alex Escobar. Na TV Manchete, o
âncora absoluto e símbolo das transmissões televisivas de carnaval da emissora
foi Paulo Stein, conhecido pela atuação no jornalismo esportivo no rádio e
televisão e que esteve presente durante todo o período que a TV da Família
Bloch acompanhou o carnaval, entre 1984 e 1998. Em 1992, o também narrador
esportivo José Carlos Araújo (na época na Rádio Globo) dividiu a narração dos
desfiles com Stein. Na última vez que a TV Bandeirantes transmitiu ao vivo os
desfiles das escolas de samba dos grupos Especial e de Acesso do Rio de Janeiro,
o comandante foi Luciano do Vale (1947 - 2014), locutor esportivo, radialista,
apresentador de televisão e empresário, que narrou várias Copas do Mundo e
Jogos Olímpicos. Mudanças no palco A década de 1970 foi o período no qual o Desfile
das Escolas de Samba, teve seu lugar de apresentação modificado. Após se
exibirem, em suas origens, na histórica Praça Onze e passarem por palcos como a
tradicional Avenida Rio Branco, as escolas de samba do Rio de Janeiro viveram
tempos áureos na Candelária e na Avenida Presidente Vargas, de 1963 a 1973. O espaço da Avenida Presidente Vargas, entre a
Candelária e o Campo de Santana, marca uma época de ouro dos desfiles, que
foram um dos pontos altos das comemorações do IV Centenário do Rio de Janeiro,
em 1965, ganharam espaço na tela da TV e passaram a ter a sua trilha sonora
gravada e comercializada. Em 1972, reconhecendo a grandeza e importância do
espetáculo, o jornal O GLOBO instituiu o Estandarte de Ouro, premiando os
sambistas que se destacaram. Os desfiles da época também se destacaram pela
consolidação da temática afro-brasileira nos enredos, por sambas memoráveis que
ganharam projeção nacional e pelo maior apuro visual de fantasias e alegorias,
convivendo em harmonia com o brilho de passistas e destaques. Quando tudo indicava que as agremiações haviam
encontrado o palco ideal para seus desfiles, a construção do metrô carioca, que
transformou a Presidente Vargas num vasto canteiro de obras, impossibilitou a
realização do concurso de 1974 na avenida, exigindo a mudança para um novo
palco. A Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro,
foi escolhida como nova passarela dos desfiles. O local abrigou os concursos de
1974 e 1975, com o público acomodado em arquibancadas mais altas e os cortejos
ocorrendo da Praça Quinze em direção à Avenida Beira-Mar. Produzindo alegorias
de dimensões bem maiores que a média das concorrentes, o carnavalesco do
Salgueiro, Joãosinho Trinta, foi quem melhor soube explorar a nova posição dos
espectadores, contribuindo para levar a escola ao bicampeonato.
O desfile de 1977 foi mantido no mesmo local, mas
para corrigir os problemas do ano anterior, houve a inversão do seu sentido,
com concentração na Praça Onze e dispersão no Mangue.
Já o carnaval de 1979 teve a Sapucaí novamente
como palco, mas devido a protestos dos moradores do bairro do Catumbi,
incomodados com a agitada concentração, e à dificuldade das escolas em se
armarem nas ruas estreitas do local, a prefeitura decidiu inverter o sentido do
desfile para o carnaval de 1980. Mas, se por um lado, a nova concentração na
Presidente Vargas agradou, a dispersão no Catumbi permanece como um desafio à
segurança e mobilidade dos desfilantes.
Formato da transmissão A primeira transmissão colorida de Carnaval pela TV
Globo aconteceu em 1973. As várias escolas de samba desfilavam todas no mesmo
dia (naquele ano foram dez no Grupo Especial), em um evento interminável, que
começava por volta das 18h do domingo e terminava somente na manhã de segunda,
sem interrupções. A maratona era tão longa que os narradores se revezavam. A grade de programação da emissora no Carnaval nos
anos 1970 era bem diferente da atual, que se consolidou nos anos 1990. Mas,
apesar de longa, a transmissão dos desfiles já apresentava formato parecido com
o que temos hoje. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que
durante quatro décadas foi o mega todo-poderoso executivo da Rede Globo, foi o homem
que “inventou” a televisão brasileira tal conhecemos hoje e que ainda ditou um
padrão de excelência que colocou a produção televisiva nacional como uma das
melhores do mundo. No entanto, o ex-vice-presidente de operações da Rede Globo,
cargo que ocupou até a virada do século, admitia que sabia muito pouco de
carnaval e nem tinha a dimensão da importância de uma escola de samba.
Aproximou-se da folia no final da década de 60, quando conheceu o cenógrafo e
carnavalesco Arlindo Rodrigues – que era funcionário da TV Globo. Em fins de
1973, Boni e o diretor de TV Régis Cardoso (que anos mais tarde viria a ser
presidente do Salgueiro) queriam que Arlindo fizesse os figurinos e os cenários
da novela Os Ossos do Barão. O
carnavalesco se desculpou, mas alegou estar atarefado com a produção do enredo
“A festa do Divino”, da Mocidade Independente de Padre Miguel para o carnaval
de 1974. Boni ficou uma arara e, alegando que a Globo era prioridade, ameaçou
demitir Arlindo, propondo que o carnavalesco optasse entre trabalhar para o
carnaval ou seguir trabalhando na emissora. O cenógrafo levou os dois
executivos globais ao barracão da Mocidade e lhes deu uma aula sobre o tema da
escola e o uso criativo dos materiais, da criação das alas, a ordem dos
desfiles, além de mostrar desenhos, figurinos, prospectos e toda a parafernália
carnavalesca. A partir daí, o carnaval arrebatou mais um folião: Boni não só
desfilou na escola com a camiseta de “Diretoria”, como passaria a participar
dos ensaios e discussões sobre o enredo, integrando o “núcleo duro” da
Mocidade. A partir desse momento, a Globo que até então se concentrava mais nos
bailes de carnaval, passou a se dedicar de forma mais contundente à transmissão
do desfile das escolas de samba. Graças a Arlindo Rodrigues.
A programação global no domingo (9) se deu da
seguinte forma: o Programa Silvio Santos começou às 11h30, praticamente com uma
edição especial sobre a data, com direito ao animador cantando suas
tradicionais marchinhas. A atração foi interrompida às 15h e às 17h para
boletins ao vivo, denominados Plantão do
Carnaval. O Fantástico daquele dia começou às 17h50 e teve apenas 10
minutos, com um resumo das notícias do dia.
A transmissão do desfile começou às 18h. Antes de
cada escola, era apresentado um pequeno documentário com a história da
agremiação e seus destaques para aquele ano. Esse formato durou até bem pouco
tempo atrás. A narração foi dividida entre Luís Carlos Miele, Haroldo Costa,
Carlos Campbell, Berto Filho e Luiz Lobo, que se revezavam devido ao grande
número de horas do evento. Os comentaristas foram o musicólogo e historiador
Mozart de Araújo (1904 - 1988), que analisava baterias e melodias; o jornalista
e escritor Sérgio Cabral, falando de harmonias e evoluções; o cenógrafo Mauro
Monteiro (? – 2012), sobre fantasias, alegorias e adereços; Macedo Miranda, Filho
(1950 – 2008), avaliando mestres-salas, porta-bandeiras e comissões de frente;
e o narrador Luiz Lobo, que também avaliava enredos e letras de samba. Naquele ano desfilaram (pela ordem): Unidos de
Lucas, União da Ilha do Governador, Unidos de Vila Isabel, Unidos de São
Carlos, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Mangueira, Em Cima da
Hora, Império Serrano, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor. Os
resultados foram divulgados uma semana depois. O Salgueiro venceu com o enredo
“As minas do Rei Salomão”, do carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, ou
simplesmente, Joãosinho Trinta (1933 – 2011). Durante 15 horas e 5 minutos, a TV Globo (que no
Rio de Janeiro opera no canal 4) mostrou realmente o melhor do Carnaval, com
uma transmissão moderna, ritmada, a léguas de distância do blá-blá-blá geral de
antes, com direito a cenas do desfile em slow-motion (câmera lenta) e do
replay. Completando a programação, a emissora também
exibiu os concursos de fantasia do Hotel Glória e do Teatro Municipal do Rio,
na segunda (10), e do Clube Sírio Libanês, na terça (11). A transmissão dos
concursos de fantasias, que depois se transformou em uma tradição do Carnaval
da Manchete, nos anos 1980 e 1990, há alguns anos não encontra mais espaço na grade
das emissoras, infelizmente. Nos anos 70, os desfiles (principalmente a partir
da segunda metade da década), passaram a ser exibidos na íntegra. Enquanto a
escola estivesse na avenida, não havia nenhum tipo de interrupção para anúncios
comerciais. Os reclames aconteciam em breaks,
nos intervalos das apresentações entre uma escola e outra. Os desfiles adentravam
a madrugada. Naquela época, cada escola tinha um tempo máximo de 90 minutos de
apresentação. Não obstante, o encerramento da transmissão se dava sempre
próximo (ou mesmo após) o meio-dia do dia seguinte. E foi nessa época que o Grupo Especial (chamado de
Grupo 1, ou Primeiro Grupo) começou a inchar. Se em 1973, a elite do carnaval
carioca abrigava dez escolas, a categoria especial recebeu 14 agremiações participantes
em 1976 – fruto principalmente de dois anos consecutivos sem rebaixamento. Se
para quem acompanhava na telinha, no conforto da sala o cortejo de 10, 12 ou 14
agremiações era um bálsamo para os olhos, para quem desfilava, assistia das
arquibancadas pouco confortáveis, julgava ou trabalhava na organização, essa
festa interminável poderia significar um tormento terrível. A TV se consolidava como um meio de comunicação
parceiro do carnaval, e os artistas e artesãos da folia perceberam isso e tentaram
tirar proveito, tanto plasticamente quanto na concepção dos desfiles. A
semidesconhecida Beija-Flor de Nilópolis impressionou a todos em 1976, com o
enredo “Sonhar com rei dá leão”, contando a história do jogo do bicho, rompeu
com uma tradição de enredos que faziam propaganda do regime militar, e contava
com o gênio criativo de Joãosinho Trinta, além do apoio financeiro do bicheiro
Aniz Abraão David. Com sua concepção teatral, J30 foi um dos artistas que mais
souberam adaptar a criação carnavalesca às sucessivas mudanças de palco da
“ópera popular” e à consolidação da TV divulgando as imagens do carnaval via
satélite. Outros artistas criadores, como Arlindo Rodrigues, Fernando Pinto e
Maria Augusta, também souberam tirar proveito da presença da tevê para impor a
marca de seu trabalho: Arlindo levava enredos históricos com um apuro nas
alegorias e sofisticação nas fantasias; Fernando Pinto imprimiu a estética
tropicalista no carnaval, e Maria Augusta levou os temas cotidianos para a
avenida, os chamados “enredos abstratos”. Em 1978, Hilton Gomes (1924 - 1999) e Léo Batista
iniciaram uma dobradinha na narração, através de revezamento, que marcou a
história dos carnavais da Globo. Gomes foi um dos principais apresentadores da
emissora, tendo estado na bancada da primeira edição do Jornal Nacional, junto
com Cid Moreira. Dono de um bonito vozeirão grave, mas de estilo mais formal,
foi apresentador oficial do Festival Internacional da Canção, além de ter
narrado jogos de futebol e várias entrevistas como enviado internacional. Já
Léo Batista tinha um estilo completamente oposto ao de Hilton Gomes: narrador e
noticiarista esportivo, se destacava pelo estilo descontraído. Nos anos 70 era
apresentador dos programas Globo Esporte, Gols da Rodada do Fantástico, Esporte
Espetacular e ainda informava os resultados semanais da Loteria Esportiva,
acompanhado pela Zebrinha, uma personagem criada pelo desenhista Borjalo.
Júri
Oficioso, ou... “Júri
da Globo” Em 1976, a TV Globo
fez com que seus comentaristas atribuíssem – de forma não oficial – notas aos
quesitos, fazendo uma apuração paralela. Estava instituído o Júri Oficioso, ou
simplesmente, o “Júri da Globo”, como ficou conhecido. Os especialistas foram
os mesmos do Carnaval Colorido do ano
anterior. Para a transmissão de
1978, a Globo convidou mais dois grandes nomes ligado à música para fortalecer
o júri oficioso: o produtor e pesquisador Ricardo Cravo Albim para falar sobre
evolução e harmonia, e o maestro e compositor Guio de Moraes – que substituiu
Mozart de Araújo – para analisar samba e bateria. O expediente de
utilizar o “Júri da Globo” na transmissão se manteve até o carnaval de 1988.
Após isso, a emissora continuou com os comentaristas, mas sem atribuir notas.
Rede Tupi – “Cobertura total” Na cobertura do carnaval de 1979 as vinhetas da
Tupi eram produzidas com direito a marchinhas carnavalescas, uma delas gravada
por Moacyr Franco. Era o básico que se podia fazer naquela época – a transmissão
de bailes carnavalescos e os desfiles das escolas de samba com uma inovação: a
Tupi ousou em transmitir simultaneamente os desfiles do carnaval de São Paulo e
do Rio de Janeiro mobilizando oito equipes de reportagem, sendo quatro para
cada cidade. A transmissão teve o comando do teatrólogo Plínio Marcos (1935 - 1999)
e teve a direção de jornalismo de Heitor Augusto (1932 - 2013) e direção
artística de Antonino Seabra (1933 - 2010). A última transmissão televisiva da folia pela Rede
Tupi aconteceu em 1980. Com o slogan “Cobertura Total”, a emissora transmitiu
os desfiles das dez escolas do Grupo Especial na passarela da Rua Marquês de
Sapucaí no dia 17 de fevereiro (domingo). Foram elas – pela ordem de desfile: Império
Serrano; Unidos de São Carlos; Unidos de Vila Isabel; Acadêmicos do Salgueiro; Beija-Flor;
Mocidade Independente de Padre Miguel; Estação Primeira de Mangueira; Portela;
União da Ilha do Governador e Imperatriz Leopoldinense. A estação televisiva inovou ao transmitir também o
desfile das Campeãs, naquele ano realizado no dia 23 de fevereiro.
A
narração do primeiro carnaval dos anos 80 foi com
o locutor esportivo José Cunha (1940), mineiro que fez
história nos anos 70 e
80, narrando os jogos do campeonato carioca de futebol pela TVE-RJ.
Dono de uma
voz rouca e forte, Cunha foi criador de diversos e divertidos
jargões esportivos,
como por exemplo, em vez de gritar “gol”, Cunha gritava
“tá láááá...”. O
narrador dizia que não gritava gol, “porque o
telespectador não é cego, pô!” E
dê-lhe frases como “Taí o Zanatta”,
“Taí o Cláudio Adão”, “tá
aí o abafa”, “Tá
láááá (na hora da feitura do gol de uma das
duas equipes)... Din-na-mi-te! Vasco da Gama TRÊS. Flamengo UM”. Assim mesmo, com essa
entonação no placar. Essa irreverência José Cunha levava também ao narrar um
desfile de carnaval: - “É, minha gente. Tá aí a Portela!”. Além de José Cunha, o radialista e ator Osmar
Frazão se revezavam na ancoragem da transmissão. Nas reportagens e eventuais
comentários, um rapaz chamado Jorge Perlingeiro, jovem comunicativo,
enlouquecido por samba e carnaval e que apresentava um quadro em um programa de
TV (como veremos mais à frente no capítulo), e que usava como bordão a
expressão “só se for agora”.
O carnaval de 1980 aconteceu de 16 a 19 de
fevereiro e o desfile das campeãs foi realizado no sábado seguinte, dia
conhecido como “enterro dos ossos”. Dias antes, os funcionários da TV Tupi
estavam em greve – do dia 11 até 16 de fevereiro. Os profissionais encerraram a
greve exatamente no sábado de carnaval. O desfile das campeãs contou com a participação de
seis escolas: as três que ao final da apuração empataram com o mesmo número de
pontos e foram declaradas vice-campeãs (Mocidade Independente de Padre Miguel,
Unidos de Vila Isabel e União da Ilha do Governador) e as três que empataram em
primeiro lugar e foram promulgadas campeãs (Beija-Flor, Imperatriz
Leopoldinense e Portela). Pela ordem, se apresentaram três tiveram seus
desfiles televisionados União da Ilha, Vila Isabel, Mocidade, Portela,
Imperatriz (que desfilou sem alegorias) e Beija-Flor. Os gresilenses ficaram tão
emocionados com o primeiro título da Rainha de Ramos que depenaram as alegorias
e adereços dos carros alegóricos para levar como lembrança do campeonato. Mal
eles teriam ideia de que na década seguinte, vencer o carnaval se tornaria algo
rotineiro.
Por esta época, ainda havia na TV Tupi dois
programas dedicados ao samba: o Rio Dá
Samba, apresentado pelo músico e compositor João Roberto Kelly (retratado na
Coluna do Rixxa #21) e que logo em seguida migrou para a TV Bandeirantes. O segundo programa dedicado ao samba, na verdade,
começou como um quadro do Programa Aérton
Perlingeiro, um “show” de auditório exibido nas tardes de sábado pelo
apresentador e radialista Aérton Perlingeiro (1921 - 1992). O programa era
dividido em seções, sendo que uma delas, voltada ao samba, era apresentada por
seu filho, Jorge Perlingeiro. Este quadro posteriormente deu origem ao programa
Samba de Primeira. Em 18 de julho daquele ano, a concessão da
emissora foi cassada por problemas financeiros e administrativos e a Tupi
fechou as portas. A década seguinte inicia com quatro emissoras de
alcance nacional interessadas em transmitir os desfiles de escolas de samba e
ainda dedicavam generosas parcelas da programação aos eventos de carnaval. E também
viu o nascimento daquela que é considerada a maior e a melhor televisão que
cobriu a folia neste país e fez os brasileiros sonharem carnaval durante 14
anos. Mas isso é assunto para o próximo capítulo... CLARK, Walter; PRIOLLI, Gabriel. O campeão de audiência. Uma autobiografia.
São Paulo: Summus Editorial. 1991. 400 páginas. LEITE, Willian
Tadeu Melcher Jankovski. O
narrar da escola de samba e o narrar da televisão: perspectivas para o uso da
transmissão televisiva de carnaval como fonte histórica.
Artigo científico apresentado no 10º Alcar – Encontro Nacional de História da
Mídia. Porto Alegre. Ufrgs. 2015. CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar,
1996. 79. OLIVEIRA SOBRINHO, José Bonifácio de. O livro do Boni. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011. Gerson
Brisolara (Rixxa Jr.)
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