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Coluna do Rixxa Jr

O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA

 . 1º Capítulo: Os Primórdios (Anos 60)
 . 2º Capítulo: Do Preto e Branco o Homem Coloriu (Anos 70)
 . 3º Capítulo: A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte - 1980-1983)
 . 4º Capítulo: Aconteceu, virou Manchete – Anos 80 (2ª Parte: 1984-1987)
 . 5º Capítulo: Na Tela da TV no meio desse povo (Virada Anos 80/90)
 . 6º Capítulo: O Canto dessa Cidade é meu! (Anos 90)
 . 7º Capítulo: Enfim, o carnaval da liberdade (Anos 2000)

29 de agosto de 2020, nº 44

CAPÍTULO 7 – ENFIM, O CARNAVAL DA LIBERDADE (Anos 2000)
por Gerson Brisolara

Desperta Brasil
Eu quero é paz, tristeza nunca mais
Se alguém cuidar da juventude,
Oh, Pátria mãe gentil
Outros 500 serão nos anos 2000

“Carnaval à vista – Não fomos catequizados, fizemos carnaval” (Pedrinho, J. Mendonça, Messias e Mingau) – Samba-enredo da GRES Acadêmicos do Grande Rio 2000

P

ode parecer um título um pouco ufanista. E certamente é. Mas como esperança é a profissão do brasileiro, era esse o sentimento que corria no país para a chegada do ano 2000. Comemoravam-se os 500 anos do descobrimento e começava a contagem regressiva para a chegada do século 21 e do esperado terceiro milênio. O refrão do samba da Grande Rio tentava retratar essa sensação de virada de chave, de “agora vai”.

No lado carnavalesco televisivo, as coisas paravam de acontecer e de virar manchete. A Globo se tornaria definitivamente a detentora exclusiva dos direitos de transmissão do grupo especial.

O carnaval do grupo de acesso tinha resgatado a sua valorização com a CNT. E o patrão do SBT acaba gerando a maior audiência à principal concorrente justamente durante um desfile de carnaval. 

O canto do cisne e a permanente Quarta-feira de Cinzas da Manchete 

Desde seu inicio, a TV Manchete passou por crises que foram provocadas por altos gastos em produção de conteúdo. Em 1992, como vimos no capítulo 6 desta série, o canal passou por sua primeira grande crise, que resultou na venda das empresas do grupo Bloch com a Indústria Brasileira de Formulários (IBF) e, no ano seguinte, na devolução da Rede Manchete de Rádio e Televisão ao empresário Adolpho Bloch.

A Rede Manchete entra no ano de 1998 com os primeiros sinais de desgaste: a novela Mandacaru dava baixos lucros e os programas jornalísticos estavam desgastados. Aliada a isso, a situação econômica do Brasil e do mundo não era estável desde a crise asiática de outubro de 1997, com as taxas de juros em alta. As dívidas da emissora aumentavam cada vez mais à medida que não eram pagas.

Ainda assim, a Manchete ainda teria fôlego profissional e financeiro para transmitir mais um carnaval – o último de sua trajetória. Porém, com uma formatação e personagens bem diferentes daqueles que reinaram na era de ouro da emissora.

Em 1997, com o slogan “Rede Manchete, Estação Primeira do Carnaval”, a empresa tentava deixar clara a superioridade na cobertura. Os preparativos já eram mostrados desde outubro de 96, quando começaram a ir ao ar os já esperados boletins “Esquentando os Tamborins” e “Feras do Carnaval”.

O multifacetado agitador cultural Oswaldo Sargentelli (1923 - 2002) ancorou o Botequim da Manchete, um programa com os sambas de enredo do Carnaval 97 que reuniu os intérpretes de 12 das 16 escolas da primeira divisão do Rio.

Estiveram presentes: Alexandre D’Mendes (Acadêmicos da Rocinha), Claudio Tricolor (Acadêmicos de Santa Cruz), David do Pandeiro (1959 - 2020, Estácio de Sá), Dominguinhos do Estácio (Viradouro), Eraldo Caê (Mangueira), Ito Melodia (União da Ilha), Nego (Grande Rio), Neguinho (Beija-Flor), Preto Joia (Imperatriz), Serginho do Porto (Unidos da Tijuca), Wander Pires (Mocidade) e Wantuir (Porto da Pedra).

As ausências: Gera e Jorge Tropical (Vila Isabel), Jorginho do Império (Império Serrano), Quinho (Salgueiro) e Rixxa (Portela). O acompanhamento musical ficou a cargo do conjunto Barato Maior.

O Botequim do Samba teve ainda a participação mais do que especialíssima das “mulatas que não estão no mapa” – grupo de passistas que trabalhavam nos shows de Sargentelli.


Botequim da Manchete 1997: David do Pandeiro (ao microfone) junto com Wantuir, que se embala com as “mulatas que não estão no mapa”.

E ainda houve uma eleição para escolher a Musa do Carnaval naquele ano. O telespectador telefonaria e optaria entre uma mulata, uma morena e uma loira, e ainda concorria a vários carros 0km do modelo Fiat Palio e um automóvel importado na final.

A vencedora da disputa foi a loira Marcela Leite, 18 anos à época, e que adotou o nome artístico Marcela Milk. Em 96, ela vencera o concurso Garota de Ipanema, título esse que, segundo ela, não lhe abriu as portas para nenhum trabalho.

Logo após vencer a eleição de Musa do Carnaval 97 da Manchete, a jovem foi capa da revista Ele & Ela. Marcela se formou em jornalismo, tornou-se empresária do ramo da moda e de calçados, e foi casada com Jayder Soares, patrono da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio. Atualmente, a loira identifica-se como designer de festas.


A loira Marcela Leite (Marcela Milk), musa do Carnaval da TV Manchete em 1997, estampou a capa da revista Ele & Ela.

Além da escolha da musa do Carnaval 97, a Manchete trouxe como novidade também o retorno da transmissão do desfile das escolas de samba de São Paulo, que já fizera em 1991, ano da inauguração do Sambódromo do Anhembi.

No início de fevereiro de 1998 estrearam as chamadas do Carnaval 98, com a loira Simara Marques e a mulata Franci Mourão, que dançavam ao som do samba “Aconteceu, virou Manchete”, de Neguinho da Beija-Flor. A vinheta trazia a inscrição “Carnaval da Copa”, marca da cobertura daquele ano.


Vinheta da derradeira cobertura de carnaval da TV Manchete




Vinheta do Carnaval 98, o “Carnaval da Copa”, o último da história da TV Manchete. No destaque, as musas Simara Marques (a loira) e Franci Mourão (a mulata).

Enquanto isso, Martinho da Vila apresentava Botequim do Samba Especial. O programa contou com a presença de Dona Ivone Lara (1922 – 2018), Lecy Brandão e do grupo Molejo, entre outros.

A exemplo do ano anterior, uma edição do Botequim do Samba reuniu novamente os cantores das 14 escolas do Grupo Especial do Rio. O grupo Fundo de Quintal foi convidado para fazer o acompanhamento musical. Desta vez, todas as escolas se fizeram representadas pelos seus intérpretes titulares ou não: Gilson Bakana (Beija-Flor), Jackson Martins (1972 – 2004, Caprichosos de Pilares), Nego (Grande Rio), Preto Joia (Imperatriz), Eraldo Caê (Mangueira), Wander Pires (Mocidade), Rogerinho (Portela), Wantuir (Porto da Pedra), Quinho (Salgueiro), Taroba (Tradição), Rixxa (União da Ilha), Serginho do Porto (Unidos da Tijuca), Gera (Vila Isabel) e Dominguinhos (Viradouro).


Botequim da Manchete 1998: Dominguinhos, ao microfone, com Gustavo Clarão ao cavaco (sentado, à direita). Os integrantes do Grupo Fundo de Quintal, Bira Presidente e Ademir Batera, estão sentados à esquerda. Em pé, ao fundo: Wander Pires, Taroba da Tradição, Jackson Martins e Serginho do Porto.

No sábado, dia 21 de fevereiro, com início às 21 horas, a emissora exibiu os desfiles do Grupo A, ao vivo, com exclusividade, direto da Sapucaí:

1ª) Acadêmicos do Cubango (“Nausicaa – A odisseia cubanga nos verdes mares”)

2ª) Lins Imperial (“Búzios : o paraíso da humanidade”)

3ª) Acadêmicos da Rocinha (“Tá na ponta da língua”)

4ª) Império da Tijuca (“Elymar superpopular”)

5ª) São Clemente (“Maiores são os poderes do povo! Se liga na São Clemente!”)

6ª) Em Cima da Hora (“Quem é você, Zuzu Angel? Um anjo feito mulher”)

7ª) Império Serrano (“Sou o ouro negro da Mãe África”)

8ª) Acadêmicos de Santa Cruz (“O exagerado Cazuza nas terras de Santa Cruz”)

9ª) Unidos da Ponte (“Quem pode, pode. No pagode se sacode”)

10ª) Estácio de Sá (“Cem anos de cultura – Academia Brasileira de Letras”)

 

Desfile do Império Serrano, campeã do Grupo A (1998) pela TV Manchete

No período de carnaval, a programação da Manchete que por anos foi de dedicação exclusiva à folia, reduziu drasticamente seus espaços para a festa. Para exemplificar, eis abaixo a grade da TV Manchete no Domingo de Carnaval, dia 22 de fevereiro de 1998:

07h00 - As Campeãs da Sapucaí

08h00 - Debate de Carnaval

10h00 - Olimpíadas de Inverno - Nagano 98: Cerimônia de Encerramento (VT completo)

12h30 - LBV

13h00 - Domingo Milionário: Domingo no Palco

14h45 - Domingo Milionário: Perdidos na Tarde

16h30 - Domingo Milionário: Programa J. Silvestre

18h30 - Domingo Milionário: Corrida Milionária

19h00 - Programa de Domingo Especial

19h30 - Carnaval da Manchete: Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (ao vivo) 

Vinheta dos desfiles de domingo Rio Carnaval 1998 – Rede Manchete

A ordem de desfile do domingo no Grupo Especial foi esta:

1ª) Caprichosos de Pilares (“Negra origem, negro Pelé, negra Bené”)

2ª) Acadêmicos do Salgueiro (“Parintins, a ilha do boi-bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido”)

3ª) Unidos de Vila Isabel (“Lágrimas, suor e conquistas no mundo em transformação”)

4ª) Acadêmicos do Grande Rio (“Prestes, o cavaleiro da esperança”)

5ª) Unidos do Porto da Pedra (“Samba no pé e mãos ao alto, isto é um assalto”)

6ª) Mocidade Independente de Padre Miguel (“Brilha no céu a estrela que me faz sonhar”)

7ª) Portela (“Os olhos da noite”)

Na segunda-feira de Carnaval, dia 23, a Manchete alcançou 13 pontos no Ibope em São Paulo e 12 no Rio, conquistando o segundo lugar em audiência. A ordem de desfile foi a seguinte:

1ª) Tradição (“Viagem fantástica ao pulmão do mundo”)

2ª) Estação Primeira de Mangueira (“Chico Buarque da Mangueira”)

3ª) Imperatriz Leopoldinense (“Quase no ano 2000”)

4ª) Unidos do Viradouro (“Orfeu, o negro do carnaval”)

5ª) Beija-Flor de Nilópolis (“O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu”)

6ª) Unidos da Tijuca (“De Gama a Vasco, a epopeia da Tijuca”)

7ª) União da Ilha do Governador (“Fatumbi, a ilha de todos os santos”)

O início do segundo dia de desfile foi transmitido apenas pela Manchete, a partir das 20 horas, já que a Globo ainda exibia a novela “Por Amor”. Os desfiles da Tradição e da Mangueira – que se sagrou campeã, terminando empatada com a Beija-Flor –, só a emissora do Grupo Bloch transmitiu integralmente. 

Desfile da Mangueira, em homenagem a Chico Buarque, pela TV Manchete (1998).

A apoteose, na quarta-feira de Cinzas, realizada na transmissão do Baile Gala Gay, levou a Manchete ao primeiro lugar no horário das 23h às duas horas da madrugada, ficando 13 contra 8 pontos da Globo em São Paulo (no Rio, a concorrente ganhou por 11 a 10).

A última transmissão carnavalesca da TV Manchete foi enxuta em termos de equipe: Paulo Stein na ancoragem e mais os comentários de Haroldo Costa, Roberto Barreira e de Luiz Lobo, jornalista egresso da Rede Globo e que trabalhou em diversas coberturas de desfiles de carnaval pelo Plim-Plim nos anos 70 e 80. 

MANCHETE

Narração: Paulo Stein.
Comentários: Haroldo Costa, Roberto Barreira e Luiz Lôbo.
Reportagens: Tarlis Batista, Solange Bastos, Débora Gelwan, Eliane Peixoto, Felipe Pena, José Ilan, Márcia Prado e Nathércia Mota.

Reportagens Especiais: Eduardo Barazal (com entradas ao vivo do Anhembi, no sábado, durante o carnaval de São Paulo) e Andrea Guerra (com entradas ao vivo diretamente dos bailes de salão no Rio).

Em 1998 já não havia mais o convívio tradicional de Fernando Pamplona, José Carlos Rêgo, Maria Augusta ou de Adelzon Alves. Ou as presenças de Sérgio Cabral e Albino Pinheiro, que se revezavam de emissora, ora na Manchete ora na Globo. E nem a participação de convidados eventuais, como a presidente da Unidos da Cabuçu, Therezinha Monte, ou a cantora Beth Carvalho, como houvera em 1991.

A própria reportagem durante a transmissão teve que contar com um número reduzido de profissionais, apesar de ter mantido ainda as vozes características de veteranos como Tarlis Batista (1940 - 2002) e Solange Bastos.

Carioca de Pilares, Tarlis Batista foi um jornalista que construiu quase toda sua carreira na Editora Bloch, como jornalista esportivo. É dele todo o trabalho de pesquisa do documentário “Pelé Eterno”, de Aníbal Massaini Neto, lançado em 2004. Para a revista Manchete, Tarlis cobriu as Copas da Argentina (1978) e Espanha (1982). Escreveu nas revistas Gente, da Argentina; Sétimo Céu, Fatos & Fotos e Amiga, dos Bloch. Era uma figura muitas vezes folclórica, um repórter obstinado. Seus companheiros na Manchete diziam que tinha a fama de se enredar em matérias fáceis e de conseguir reportagens impossíveis.

Tarlis Batista conseguira uma façanha que nenhum outro repórter brasileiro obtivera: a de se aproximar do cantor Frank Sinatra (1915 - 1998), em janeiro de 1980, quando o astro aqui desembarcou para uma lendária apresentação no estádio do Maracanã.

Sinatra, que reconhecidamente não era figura fácil para jornalistas, gostou tanto do bom papo e da cara de pau de Tarlis que, além de abrir seu camarim, posou para várias fotos a seu lado, que foram devidamente autografadas pelo “The Voice”. Of course.

O jornalista acompanhou Frank Sinatra em vários outros momentos durante a temporada carioca e fez matérias exclusivas no hotel que hospedou o norte-americano e seu staff.


Tarlis Batista ganhou a simpatia de Frank Sinatra, quando o astro esteve no Brasil em 1980. A equipe da Revista Manchete, com o próprio Tarlis e os fotógrafos Frederico Mendes e Paulo Scheunsthul, foi recebida no camarim, com exclusividade, após o histórico do cantor show do Maracanã

Também na TV Manchete, Tarlis Batista criou o programa “Amigos” e data desse tempo seu bom relacionamento com Pelé, Zico e outros craques do futebol, além de entrevistas com cantores famosos, como Julio Iglesias. Mais tarde, tornou-se assessor de imprensa da Beija-Flor de Nilópolis.


O repórter Tarlis Batista (ao microfone) entrevista o carnavalesco da Tradição, Orlando Júnior, momentos antes de a escola iniciar o desfile, em 1998

Solange Bastos também era bastante identificada com o Grupo Bloch enquanto esteve na empresa. Nascida em 1952, no Rio de Janeiro, começou a carreira nos Diários Associados em 1971, já formada em jornalismo.

Por motivos políticos, na época da ditadura, Solange saiu do Brasil em 1973 e refugiou-se no Chile, em seguida na Argentina e na França. Regressou ao Brasil cinco anos depois, às vésperas da anistia, e retornou ao jornalismo em Maceió, como repórter e apresentadora de TV.

Ao voltar para o Rio de Janeiro, esteve na fundação da TV Manchete, em 1983, onde foi repórter da “Operação Antártica III”. Em decorrência desse trabalho, Solange Bastos foi convidada para integrar a equipe do programa “Globo Repórter”, da Rede Globo, onde permaneceu até 1987. Retornou à Manchete, a convite do diretor Jayme Monjardim, para ajudar a reestruturar o “Programa de Domingo”, que passou a adotar uma linguagem de cinema, ao gosto de Jayme, como ele o fez na novela Pantanal.

De 1993 a 1994, Solange Bastos foi âncora do programa “Bate- Boca”, um talk-show em rede nacional, marcado por variedade de temas e espontaneidade da apresentadora e dos participantes. Em 1998, a jornalista colaborou com a cobertura da Copa do Mundo de futebol, na França.


Após trajetória como repórter de TV, Solange Bastos está à frente de uma empresa cultural de produções, atuando com livros e produção cinematográfica

Desde 2002, Solange está à frente da “Família Bastos Produções”, empresa cultural de produções, que já publicou vários livros e produziu documentários, curtas e médias-metragens, com abordagens ligadas ao ecoturismo e aos direitos humanos. Em setembro de 2015, lançou seu segundo livro-reportagem de divulgação científica, “Na Rota dos Arqueólogos da Amazônia, 13 Mil Anos de Selva Habitada”.

A Manchete ainda transmitiu o Desfile das Campeãs, em 1998, quando se apresentaram, pela ordem, na Marquês de Sapucaí:

1- São Clemente (vice-campeã do Grupo A, com 178 pontos)

2- Império Serrano (campeã do Grupo A, com 180 pts)

3- Viradouro (5º lugar do Grupo Especial, com 262,5 pts)

4- Portela (4º lugar do Grupo Especial, com 264 pts)

5- Imperatriz (3º lugar do Grupo Especial, com 269,5 pts)

6- Beija-Flor (campeã do Grupo Especial, com 270 pts)

7- Mangueira (campeã do grupo Especial, com 270 pts).

Enfim, a falência

Após o carnaval de 1998, a situação da TV Manchete se tornou ainda mais crítica. A emissora tentou mudanças (a primeira delas consistiu em uma grande reformulação dos noticiários da Rede) e novidades na programação, como a contratação de nomes como Claudete Troiano, Salomão Schvartzman (1931 - 2019), Celso Russomanno, Magdalena Bonfiglioli, Otávio Mesquita, Virgínia Novick e Sérgio Malandro. A ex-carioquíssima Manchete dava lugar a uma televisão com nomes e cara paulistana, além de uma programação com apelo mais popular, nitidamente para concorrer com Record e SBT.

Mesmo com essas mudanças na programação – algumas até bem-sucedidas – os juros das dívidas cresciam a tal ponto que a mesma superou o patrimônio da própria emissora.

Processos judiciais conturbados envolvendo a direção da emissora, a Igreja Renascer em Cristo, o Banco Pactual e o Grupo DCI, de Hamilton Lucas de Oliveira, também marcaram este momento da história da emissora, que estava em dívida crescente e cada vez mais atrasava os pagamentos de seus funcionários.

Vários protestos e greves eclodiram, ao passo de cortes de transmissão fossem impostos diretamente pelos funcionários. Vários interessados pela compra da rede surgiram no ano de 1998. Entretanto, nenhum se concretizou. O Jornal da Manchete, marca da emissora desde o ano de inauguração, deixou de ser exibido durante algum tempo devido à grave crise que assolou o Grupo Bloch.


Grupo de funcionários da geradora da TV Manchete em São Paulo interrompeu a programação da emissora no dia 11 de dezembro de 1998 para protestar contra a falta de pagamento dos salários



Cartazes escritos à mão reclamavam do impasse entre a direção da emissora e seus parceiros para saldar os compromissos com os trabalhadores

Protesto dos funcionários da TV Manchete em dezembro de 1998.

No início de 1999, Pedro Jack Kapeller (o “Jaquito”, sobrinho de Adolpho Bloch), presidente do Grupo Bloch e dono da Rede Manchete de Televisão, surpreende a todos os envolvidos e os que acompanham a crise da Rede Manchete, afirmando que assinou contrato com a produtora Renascer Gospel Comunicação Produções Ltda., pertencente à Fundação Renascer, administrada pela igreja evangélica Renascer em Cristo, tornando-se a parceira da Rede Manchete.

Em 9 de janeiro, é anunciado que apenas a Rede Globo irá transmitir o Carnaval carioca de 1999. Uma transmissão pela Manchete iria contrariar os princípios da igreja que agora era a sua controladora. Por este mesmo motivo, a Manchete deixa de transmitir o evento que virou símbolo da rede.

A TV do ano 2000 que morreu em 1999

O aparente sucesso inicial da parceria entre a Manchete e a Renascer em Cristo deu lugar a um grande fracasso, com polêmicas e calote por parte da Igreja. Com a situação totalmente fora de controle, a TV Ômega, de Amílcare Dallevo, presente na programação da emissora, tramitou com o Grupo Bloch o processo de compra da rede e se comprometeu a regularizar toda a sua situação até o momento, desde a saudação das dívidas até o pagamento de salários atrasados. Era o fim da Rede Manchete de Televisão.

Em 10 de maio de 1999 a emissora transmitia pela última vez como Rede Manchete. No dia 11, no horário do Jornal da Manchete, foi lida uma carta oficializando a venda das operações da rede para a TV Ômega LTDA. Alguns meses depois, em novembro, a fase de transição termina e a Rede Manchete encerra definitivamente as suas operações e dá lugar à RedeTV!, de Amílcare Dallevo, inaugurada oficialmente em 5 de novembro de 1999.

Ironicamente, a TV Manchete não conseguiu chegar aos anos 2000, do qual tanto falou em seu início – seu slogan era “A televisão do ano 2000”, em 1983.

Último encerramento da Rede Manchete transmitido em 10 de maio de 1999.

       O Carnaval do Povão 

Os desfiles do Grupo A não foram exibidos pela TV aberta em 2000 e em 2001. Inexplicavelmente. Quando tudo daria a crer que a Band iria abraçar em definitivo a transmissão do grupo de acesso, a emissora paulista recua e torna a voltar suas forças para o carnaval nordestino.

Foi uma pena nenhum canal ter se interessado em cobrir o Grupo A, pois essa divisão contou com desfiles bem interessantes nos dois anos em que ficou “invisível” aos olhos da audiência televisiva.

Em 2000, por exemplo, a Sapucaí viu o surgimento da Inocentes de Belford Roxo, o ótimo desfile campeão do Império Serrano – com “Os Canhões de Guararapes”, – retornando com seus tradicionais enredos épicos sobre a História do Brasil (ou temas “capa-e-espada”, como diria Fernando Pamplona), e a surpreendente apresentação da Paraíso do Tuiuti, que encerrou os desfiles do Grupo A naquele ano. Mesmo empatando com o mesmo número de pontos com a Em Cima da Hora (195,5 pontos), a escola do bairro de São Cristóvão garantiu o vice-campeonato e a segunda vaga para o Especial no carnaval seguinte.

Já em 2001, a Passarela do Samba viu o ex-bloco Boi da Freguesia desfilar como a escola de samba Boi da Ilha do Governador com “Orun-Ayiê”, um dos mais belos hinos da primeira década do século 21, merecedor legítimo do prêmio Estandarte de Ouro.

Percebendo uma ótima oportunidade para valorizar um carnaval que ainda guardava resquícios de espontaneidade, autenticidade e com sambas de qualidade artística muitas vezes superior aos do Grupo Especial, o radialista e apresentador Jorge Perlingeiro resolveu apostar no carnaval do Grupo A. Foi uma das maneiras encontradas de ajudar a evitar a decadência da divisão de acesso.

CNT   

Narração: Jorge Perlingeiro e Arlênio Lívio Gomes.
Comentários
: Elke Maravilha, Maria Augusta, Marlene Paiva, Max Lopes, Milton Cunha, Miro Ribeiro e Jorge Aragão.
Reportagens
: Bárbara Campelo, Hilton Abi-Rihan e Paulo Corrêa.

Após acertar uma parceria com a CNT, que estava de fora do carnaval desde 1997, Perlingeiro capitaneou a transmissão do Acesso do Rio de Janeiro de 2002 a 2008, numa cobertura intitulada “Carnaval do Povão”, que fazia valer o seu nome, afinal, tratava-se de uma cobertura bastante informal – formato que a Globo tenta implementar há alguns anos e claramente bastante inspirado no formato que a Manchete levava, com sucesso, ao ar e que a consolidou no mundo do carnaval.

Parafraseando o Salgueiro, a transmissão da CNT não era nem melhor, nem pior. Era apenas bastante “original” (diferente). Na primeira transmissão do Carnaval do Povão, em 2002, estiveram presente Marlene Paiva (1935 - 2015), uma das mais premiadas destaques do carnaval brasileiro; a carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, a atriz e eterna jurada de programas de calouros Elke Maravilha (1945 - 2016), e o radialista Arlênio Lívio Gomes (1942 - 2003), coapresentador da transmissão junto com o próprio Jorge Perlingeiro. 


Marlene Paiva (à esq), Maria Augusta, Jorge Perlingeiro (com os braços cruzados), Arlênio Lívio Gomes e Elke Maravilha (de óculos escuros), na cabine da CNT, na primeira transmissão do Carnaval do Povão, em 2002

No dia 9 de fevereiro (sábado), a CNT transmitiu ao vivo e com exclusividade direto da Marquês de Sapucaí a apresentação do Grupo A. Os desfiles estavam previstos para começar às 19h, mas em decorrência da forte chuva que caiu na cidade do Rio de Janeiro, houve um atraso de cerca de meia hora, mas a equipe do Carnaval do Povão iniciou a cobertura pontualmente no horário previsto.

Pela ordem, foram estas as escolas que entraram na Passarela do Samba, com seus respectivos enredos: União de Jacarepaguá (“Asas: sonho de muitos, privilégio de poucos, tecnologia de todos”); Acadêmicos da Rocinha (“Na Rocinha, O Povo é sempre notícia”); Leão de Nova Iguaçu (“Do Esplendor Diamantino aos Sonhos Dourados de Juscelino”); União da Ilha do Governador (“Folias de Caxias: de João a João... É o carnaval da União”); Unidos de Vila Isabel (“O glorioso Nilton Santos... Sua bola, sua vida, nossa Vila”); Unidos da Villa Rica (“Sou Rio, sou Grande, sou Villa Rica do Norte”); Estácio de Sá (“Nos braços do povo, na passarela do samba... 50 anos de O Dia”); Boi da Ilha do Governador (“Boi da Ilha é Holambra, a Tulipa Brasileira”); Império da Tijuca (“Vossa excelência: feijão com arroz”); Unidos da Ponte (“De Minas para o Brasil, o Mártir da Nova República”); Acadêmicos de Santa Cruz (“Papel – Das origens à folia – história, arte e magia”) e Paraíso do Tuiuti (“Arlindo, Arlequins e Querubins: um carnaval no Paraíso”).

A transmissão dos desfiles de 2003 reuniu Jorge Perlingeiro na apresentação com comentários dos carnavalescos Max Lopes e Milton Cunha, além de Elke Maravilha e Miro Ribeiro, que fez a cobertura do SBT em 2012.

Em 2005, contou com o sempre presente Jorge Aragão, que, àquela altura, chegava à quarta emissora diferente, já tendo participado das transmissões carnavalescas da Globo, Manchete e Bandeirantes, em anos anteriores.

Perlingeiro sempre convidava estrelas carnavalescas para participação especial nas transmissões. Em 2008, durante o desfile da Estácio de Sá (“A história do futuro”), a consagrada porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso, por exemplo, deu a honra de sua presença na transmissão e aproveitou para falar um pouco sobre o período em que ela ficou na vermelho e branco do Morro de São Carlos (ganhando, inclusive, o título, em 1992).

No entanto, o Carnaval do Povão também pecava em muitos aspectos técnicos. Do samba-enredo das agremiações, por exemplo, pouco ou quase nada era ouvido. Muito por conta do próprio apresentador e dos comentaristas, que não paravam de falar um só minuto. Outro aspecto: a imagem, em comparação com Globo e Bandeirantes, era bem precária.

E não foram poucas as vezes que Perlingeiro “esquecia” que estava acontecendo um desfile de carnaval para fazer demoradas entrevistas com autoridades políticas e patrocinadores. Sabemos que é sempre bom e aconselhável fazer uma média com o prefeito do Rio, com o secretário municipal de Turismo e apoiadores comerciais, mas em plena transmissão, causava muita irritação insistir com conversas longas e enfadonhas em vez de mostrar o espetáculo na avenida.

Esse desprazer sentido pela audiência foi observado pelo jornalista Marco Maciel, responsável pelo site Sambario, no editorial nº 11, de 12 de fevereiro de 2008.

A sensação de quem ligou a TV para acompanhar a já tradicional transmissão da CNT dos desfiles das escolas do Grupo A certamente foi de um vazio no ar: cadê o samba? Ouvia-se apenas um abafado sussurro do carro de som, enquanto a equipe do Carnaval do Povão, principalmente Jorge Perlingeiro e Milton Cunha, falava pelos cotovelos. O volume do samba só aumentava e melhorava consideravelmente quando Perlingeiro anunciava a letra na tela. Aí o samba-enredo era ouvido perfeitamente. Porém, era só Perlingeiro reassumir o microfone para o som do samba diminuir. Evidente que a intenção de Perlingeiro é boa, mas a transmissão da CNT também em termos de imagem deixa muito a desejar em relação à Globo e até à Bandeirantes. E depois, o fato da cabine do Carnaval do Povão ser filmada inúmeras vezes com convidados e patrocinadores puxando o saco do apresentador dá a impressão de que o próprio Perlingeiro quer ser o dono do espetáculo, e não as escolas na Marquês de Sapucaí. Vale lembrar da enfadonha entrevista com o prefeito César Maia no desfile de 2007, que perdurou durante quase uma hora. Tanto que o desfile da Cubango no ano passado só passou a ser mostrado da metade pro final (...) Que a Jorge Perlingeiro Produções deixe o som do samba mais audível no próximo ano, se não for pedir muito.

O carnaval da Lesga e a volta de Paulo Stein à narração dos desfiles

2009 foi o último ano que a CNT exibiu os desfiles do Grupo A. No entanto, sem o comando de Jorge Perlingeiro e também sem a marca “Carnaval do Povão”. Depois de anos de parceria com o apresentador e locutor oficial da apuração do carnaval da Liesa, a transmissão mudou de mãos.

A Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso (Lesga), entidade fundada em 2008 para gerenciar os desfiles do Grupo A, assumiu o comando da transmissão, mas não fechou com Perlingeiro. Para a cobertura dos desfiles desse grupo, foram chamados jornalistas que estavam no imaginário do público que acompanha o trabalho jornalístico dos desfiles.

Para a narração, foi chamado ninguém mais ninguém menos do que Paulo Stein, que durante 14 anos (1984 -1998) foi a voz do carnaval da lendária Rede Manchete. O locutor retornou a uma transmissão carnavalesca depois de 11 anos.

Nas reportagens, lá estava a voz inconfundível de Ronaldo Rosas, apresentador de jornais da mesma Rede Manchete, que durante vários anos participou da cobertura dos desfiles nos noticiários da emissora.

A Lesga comprou o horário da CNT para mostrar os desfiles das dez escolas do Grupo A, cuja intenção era ter 16 câmeras e quatro comentaristas. A direção da transmissão foi de outro nome ligado à Manchete: Mauro Costa (1939 - 2011), que era diretor de jornalismo da emissora dos Bloch na época de Paulo Stein e dirigia o carnaval da mesma.

Na quinta-feira anterior ao desfile, no dia 19 de fevereiro, a CNT exibiu um programa de uma hora de duração, também apresentado por Stein, com os preparativos das escolas – pequenas reportagens, de três a quatro minutos, pré-gravadas, para cada escola. A emissora não transmitiu a apuração, pois isso não estava no contrato assinado entre a Lesga e a CNT.

No entanto, as coisas não saíram exatamente do jeito combinado. Em vez de estar dentro de uma cabine no Sambódromo com a visão para a passarela, como é de praxe nesses casos, Paulo Stein fez a transmissão inteira dos desfiles dentro do caminhão da externa da emissora, em uma espécie de off tube (quando o locutor não está no local do evento, e sim, no estúdio, vendo as imagens a partir de um monitor).

“Não era para ter sido desse jeito”, explicou o narrador em entrevista ao site GGN. “O presidente da Lesga (Reginaldo Gomes, que também fora presidente da Inocentes de Belford Roxo) tinha acertado uma cabine, segundo ele, num camarote. Só sei que quando cheguei lá não tinha a tal cabine e o jeito foi fazer dentro do caminhão de externa. Não teve o mesmo espaço e conforto de um estúdio, mas na televisão a narração e os comentários têm que ser feitos em cima das imagens que estão sendo mostradas. Quando estamos no local trabalhamos com um olho na tela e o outro na pista. Quando acontece um fato expressivo fora do que está sendo mostrado você tem que explicar e dizer por que não está sendo mostrado”.

A CNT exibiu o Grupo A na noite do dia 21 de fevereiro, no sábado de Carnaval, ao vivo e com exclusividade, direto da Sapucaí, as seguintes escolas (pela ordem): São Clemente (“O beijo moleque da São Clemente”); Estácio de Sá (“Que chita bacana”); Inocentes de Belford Roxo (“Do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro a Inocentes canta: Brizola, a voz do povo brasileiro”); Paraíso do Tuiuti (“O Cassino da Urca”); Império da Tijuca (“O mundo de barro de Mestre Vitalino”); União da Ilha do Governador (“Viajar é preciso – viagens extraordinárias através de mundos conhecidos e desconhecidos); Acadêmicos da Rocinha (“Tem francesinha no salão. O Rio no meu coração!”); Renascer de Jacarepaguá (“Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?”); Acadêmicos de Santa Cruz (“S.O.S. Planeta Terra – Santuário da Vida”) e Caprichosos de Pilares (“No transporte da alegria. Me leva Caprichosos a caminho da folia”).

Além de Paulo Stein, a cobertura do “Carnaval da Lesga” também teve a participação de Miro Ribeiro, Max Lopes e de Fernando Ribeiro, o “Cabeção”, da Rádio FM O Dia, nos comentários.

CNT / LESGA

Narração: Paulo Stein

Comentários: Max Lopes, Miro Ribeiro e Fernando “Cabeção” Ribeiro.
Reportagens: Ronaldo Rosas, Bárbara Campelo, Fernando Reski e Miguel Ângelo.


Paulo Stein, Cabeção (com a camiseta da FM O Dia) e Miro Ribeiro (de óculos) no início da transmissão do grupo A de 2009

Em 2010, os direitos de transmissão do grupo de acesso voltaram às mãos da Band, como veremos no próximo capítulo desta série. 

Jorge Perlingeiro é Samba de Primeira 

Após ter saído da TV Tupi devido ao fechamento da estação (como vimos no capítulo 2 e no capítulo 3 desta série), Jorge Perlingeiro peregrinou com seu programa “Samba de Primeira” de forma independente e com variações de horários e de formatos, por várias emissoras, como a TV Corcovado e a TV Bandeirantes carioca até aportar na CNT, em 2002. Em determinado período, o programa atingiu um certo status cult, como símbolo do trash televisivo.

Perlingeiro apresentou o programa, aos sábados, às 23h, até fevereiro de 2015, quando a atração foi retirada da grade da CNT. Foram 43 anos comandando o “Samba de Primeira”, sempre alugando o horário na emissora e bancando o programa todo.

O motivo da parada, segundo o apresentador, foi a dificuldade em arrumar parceiros comerciais. “Não estou parando porque quero. Estou sendo obrigado. Atualmente, eu estou pagando para trabalhar”, afirmou ao Jornal Extra, em dezembro de 2014. Jorge chegava a desembolsar mais de R$ 70 mil por programa.


Jorge Perlingeiro (ao centro, com o microfone) no “Samba de Primeira”, em 2014. Ao lado, Selminha Sorriso (segurando a bolsa e o buquê de rosas), que era assistente de palco do programa. Foto: Camilla Maia/Agência O Globo

Assumidamente torcedor da Unidos de Vila Isabel, Perlingeiro, que tem uma agência de produção artística – a Jorge Perlingeiro Produções, – segue fazendo eventos (“Até batizado de cachorro!”, brinca). Nascido em 1945, nunca parou de trabalhar. E, claro, prossegue até hoje comandando a apuração do carnaval carioca, a cada Quarta-Feira de Cinzas.

De novembro de 2015 a abril de 2017, o apresentador esteve contratado pela Rádio Globo, onde levou seu programa no horário entre 15h e 16h. Devido a mudanças no formato da emissora, acabou dispensado.

Quase dois anos depois, em janeiro de 2020, Jorge Perlingeiro voltou ao rádio pela Rádio Mania FM, indo ao ar todos os sábados, das 12h às 14h. O locutor reestreou o “Samba de Primeira” durante a abertura oficial do Carnaval de Rua do Rio de Janeiro com a entrega da chave da cidade ao Rei Momo. A apresentação do programa em estúdio foi interrompida em março de 2020 devido à pandemia do novo coronavírus.

O “glossário” de Jorge Perlingeiro:

Elegante que nem filho de alfaiate: Diz-se do convidado que está bem vestido. Pode ser usada a variação “Mais cheiroso do que filho de barbeiro” ou “Mais bonito do que dinheiro novo”.

Me engana que eu gosto: é o microfone usado para o artista cantar em playback.

Não viu o Dilúvio, mas pisou na lama: Expressão usada por Perlingeiro para brincar com os amigos que já conhece há muitos anos.

Só se for agora: Principal bordão do apresentador. A expressão é usada em diversos momentos para anunciar uma atração que vai se apresentar ou algo que será feito imediatamente. Equivale a “Vamos nessa” ou “Bora lá”.

       Carnaval dos 500 anos

Em 2000, as escolas de samba do Rio fizeram um carnaval temático. A direção da Liesa e as agremiações decidiram que todos os 14 enredos do Grupo Especial teriam ligação com algum período da história brasileira, em homenagem aos 500 anos do Descobrimento.

A Liesa organizou uma lista de 21 temas históricos, atendendo a um pedido da Prefeitura do Rio, que ofereceu R$ 7,5 milhões (R$ 500 mil de ajuda extra para cada agremiação) para a confecção dos desfiles, caso as escolas concordassem em incluir o desfile da Sapucaí no calendário das comemorações dos 500 anos. Proposta aceita prontamente pelos sambistas. Das 21 sugestões, nove foram aproveitadas nos enredos.

A Globo reformulou sua equipe de transmissão, com a narração sendo dividida entre Pedro Bial (pela primeira e única vez) e Glória Maria. Os comentários foram de Ricardo Cravo Albin e Haroldo Costa. 

Globo e o Carnaval no Terceiro Milênio

Um sofisticado estúdio foi construído no Sambódromo para os narradores do desfile carioca, em 2001. A estrutura suspensa por cima dos camarotes era transparente, facilitando a visão que Glória Maria e o estreante em cobertura carnavalesca, Cléber Machado, tinham do espetáculo e permitindo que eles fossem vistos pelo público.

Em 2002, um segundo estúdio foi construído, no nível do chão da avenida, onde ficaram os comentaristas Haroldo Costa, Ivo Meirelles e Leci Brandão, enquanto Cleber Machado e Maria Beltrão (estreando como âncora) ficaram no estúdio suspenso. No mesmo ano foi criada a “Esquina do Samba”, um estúdio onde o apresentador Luciano Huck e o sambista Dudu Nobre faziam entrevistas com personalidades de destaque no Sambódromo.

Em 2003, Maria Augusta volta à transmissão de carnaval pela TV, formando o time de comentaristas com Haroldo e Ivo. Em 2004, troca-troca entre Ivo Meirelles e Dudu Nobre. O mangueirense se torna repórter na Esquina do Samba enquanto Dudu estreia na função de comentarista.


Time de comentaristas que marcou época nas transmissões de carnaval da TV Globo na primeira década do século 21: Ivo Meirelles (de óculos escuros), Maria Augusta e Haroldo Costa

Em 2006, uma alteração na estrutura na transmissão: além das cabines transparentes abrigando locutores e comentaristas, um estúdio no início da passarela, ao lado da concentração e em frente ao Setor 1, foi montado para servir de base à cobertura jornalística durante os desfiles, sob o comando de Márcio Gomes.

Para a cobertura Globeleza do ano seguinte, Maria Beltrão e Cléber Machado estiveram acompanhados dos comentaristas Haroldo Costa, Maria Augusta, Dudu Nobre e do estreante Chico Spinoza durante a transmissão do Rio de Janeiro. A humorista Cláudia Rodrigues e o ator André Marques participaram da festa na Esquina do Samba e no camarote especial.

Os telejornais de rede e os locais fizeram ampla cobertura dos dias de folia. O Jornal Nacional exibiu também, de 5 a 9 de fevereiro, uma série de cinco reportagens sobre os tambores do Brasil. O repórter Maurício Kubrusly percorreu vários estados brasileiros em busca de aspectos comuns às diferentes manifestações regionais. A série mostrou a identidade nacional no carnaval, sem desprezar as particularidades da festa em cada região.

Carnaval ganha nova tecnologia na TV Globo

Uma câmera suspensa a 17 metros do chão, para cobrir praticamente toda a extensão da avenida, foi uma das novidades na transmissão dos desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro no Carnaval 2008. A camcat percorreu toda a Marquês de Sapucaí, presa a cabos sustentados por guindastes, para mostrar ao público as escolas de samba desde o início dos desfiles até a apoteose. A tecnologia possibilitou ao telespectador uma visão geral do desfile, como nunca foi mostrado antes. A câmera dava giros de 360 graus e também destacou detalhes das alegorias em diferentes ângulos, segundo explicou à época Aloysio Legey, diretor geral das transmissões do Rio e de São Paulo.

A captação dos desfiles foi toda feita com câmeras HD. Isso quer dizer que em São Paulo – onde o sistema digital já tinha começado a operar –, o telespectador assistiu à primeira transmissão de Carnaval em alta definição da TV brasileira. No total, 1.600 pessoas – entre engenheiros, jornalistas, técnicos etc. – estiveram envolvidas nas transmissões das duas cidades.

No Rio de Janeiro, 52 câmeras foram distribuídas pela Marquês de Sapucaí. Entre elas, o Globocop, o trilho que percorre os prédios dos camarotes, uma grua que, pela primeira vez, ficou no segundo recuo da bateria, e as câmeras do jornalismo.

Na tela, os recursos criados pela editoria de arte do jornalismo e pela direção artística da transmissão serão mais uma vez temáticos. Foram produzidos personagens em 3D, de acordo com o enredo de cada agremiação, para apresentar as escolas e entrar em replays durante o desfile de cada uma. No total, 26 bonecos – 14 em São Paulo e 12 no Rio de Janeiro. Outros grafismos foram usados em demonstrações de batimentos cardíacos e na apresentação das letras dos sambas, além das inserções virtuais, como os fogos de artifício e os nomes das escolas.

Para o carnaval 2009, a Globo teve uma equipe de 2.200 profissionais envolvidos nas transmissões dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio, a jornalista Glenda Kozlowski fez sua estreia na narração da festa, estando na bolha de vidro, ao lado de Cléber Machado. Os desfiles foram todos captados e exibidos em alta definição. No Rio de Janeiro, o jornalismo mobilizou cerca de duzentas pessoas na cobertura do Sambódromo carioca.


Desfile do Império Serrano, primeira escola a se apresentar na Sapucaí no Carnaval de 2009. 

GLOBO   RIO DE JANEIRO (equipes de 2000 a 2009)

Narração: Pedro Bial, Glória Maria, Cléber Machado, Maria Beltrão, Glenda Kozlowski.

Comentários: Ricardo Cravo Albin, Haroldo Costa, Ivo Meirelles, Leci Brandão, Maria Augusta, Dudu Nobre, Chiquinho Spinoza.

Reportagens: Ana Luiza Guimarães, Ana Paula Araújo, André Luiz Azevedo, Arnaldo Duran, Ari Peixoto, Bette Lucchese, Edimílson Ávila, Edney Silvestre, Eduardo Tchao, Flávia Jannuzzi, Flávio Fachel, Gabriela de Palhano, Hélter Duarte, Isabela Scalabrini, Leilane Neubarth, Lília Teles, Maria Paula Carvalho, Mariana Gross, Mila Burns, Mônica Sanches, Renata Capucci, Roberto Kovalick, Sandra Moreyra, Tatiana Nascimento e Vinícius Dônola.

Estúdio de jornalismo na Concentração: Márcio Gomes.

Esquina do Samba: Luciano Huck, Dudu Nobre, Ivo Meirelles, André Marques, Cláudia Rodrigues e Danielle Suzuki.

Camarote Vip (2008): Sarah Oliveira

O livro de história da Pauliceia

Em São Paulo, o ano de 2000 também prometia ser um marco na história do Carnaval da Pauliceia. E não só pela realização do desfile temático sobre os 500 anos do Descobrimento. Pela primeira vez, os desfiles do Grupo Especial seriam realizados em duas noites, como já acontecia no Rio de Janeiro desde a inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, em 1984.

A divisão principal paulistana seria formada pelo número – recorde, até então – de 14 agremiações. Até o dia do sorteio da ordem dos desfiles, não havia se chegado a um consenso sobre quais seriam exatamente os dias do Grupo Especial. A ideia inicial era de que fossem no sábado e no domingo, batendo de frente, assim, com a primeira noite do primeiro grupo do Rio de Janeiro. Essa proposta era levada em conta porque uma corrente dentro da Liga-SP acreditava que colocar os desfiles na sexta-feira provocaria o caos na Marginal Tietê, ao lado do Sambódromo do Anhembi. Além de ser um dia útil, é um dia onde muitos paulistanos resolvem sair para o litoral para aproveitar o feriado.

Por fim, optou-se por fazer os desfiles na sexta e no sábado, colocando a abertura no primeiro dia para as 22h30, evitando assim maiores transtornos no horário de pico, e garantindo o televisionamento da TV Globo em rede nacional, como vinha ocorrendo desde 1994.

A Liga-SP também resolveu intervir na questão dos enredos. A imposição de temas, porém, não se limitou a obrigar as agremiações a falar sobre os 500 anos de Brasil. A história do Brasil foi dividida em 14 partes e caberia a cada uma das escolas contar uma parte. Mais do que isso: os desfiles seriam cronológicos, como se fosse um livro. Ou seja: a agremiação que abrisse o Carnaval ficaria com a primeira parte, a que viesse em seguida com a segunda e assim sucessivamente.

Em 3 de março de 2000 (sexta-feira), o livro da história do Brasil enfim foi aberto com o desfile da campeã do Grupo de Acesso de 1999, a Tom Maior. A escola, no entanto, teve que esperar vinte minutos para iniciar o desfile “Brasil… Amor à primeira vista”. O motivo: as apresentações estavam marcadas para as 22h30, mas a Globo só abriu a sua transmissão às 22h50. Quando a emissora carioca enfim entrou com imagens diretas do Anhembi, o cronômetro foi disparado e o Carnaval de 2000 de São Paulo teve início.

Assim, a Tom Maior ficou encarregada de falar sobre os primeiros anos após a chegada dos portugueses, de 1500 a 1520. O Camisa Verde e Branco pegou o período de 1520 a 1580; a Mocidade Alegre, de 1580 a 1654; a Águia de Ouro falaria dos anos entre 1654 a 1700; a Leandro de Itaquera de 1700 a 1730 – o ciclo do ouro – e a X-9 sobre o ciclo do café, de 1730 a 1770. Encerrando a primeira noite de desfiles, por escolha própria, a Gaviões da Fiel contaria os anos que antecederam a chegada da Família Real, de 1770 a 1807.

Na noite de sábado, dia 4, o Morro da Casa Verde ficou com o período de 1807 a 1840, enquanto a Unidos do Peruche contaria o que ocorreu no Brasil de 1840 a 1889, ano da proclamação da República. A Imperador do Ipiranga contou a história da República Velha (1889-1930), enquanto a Nenê de Vila Matilde falou sobre a Era Vargas nos anos entre 1930 e 1945. A Rosas de Ouro ficou com os anos anteriores ao Golpe Militar (1945-1964), ao passo que a Tucuruvi contaria a história dos anos de chumbo, que duraram de 1964 a 1984. Por fim, também escolhendo sua posição de desfile, a outra campeã de 1999, Vai-Vai, falaria sobre os anos mais recentes, no período entre 1984 e 2000. 

Equipes de transmissão na terra da garoa

Cleber Machado comandou as transmissões na TV Globo no ano 2000, que pela primeira vez transmitiu as apresentações de São Paulo na íntegra. Ele foi acompanhado por Mariana Godoy, enquanto os comentários ficaram a cargo de Maurício Kubrusly. Nas reportagens, o destaque ficou por conta da irreverência de Márcio Canuto que, na arquibancada, representou personagens históricos contados nos desfiles, de Pedro Álvares Cabral a Getúlio Vargas.

Em São Paulo, Britto Júnior foi o apresentador nos anos de 2001 e 2002 juntamente com a jornalista Mariana Godoy, com comentários de Maurício Kubrusly.

No ano de 2003, mudança na dupla de narradores. Assumem a transmissão dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, o carismático Chico Pinheiro e a talentosa jornalista Renata Ceribelli, formando um dos casais mais afinados que a transmissão televisiva de carnaval já teve. Chico e Renata narraram juntos os desfiles paulistanos até 2009. Para os comentários, Kubrusly ganhou a companhia da cantora e compositora Leci Brandão.

Chico Pinheiro (esq.) narrou os desfiles de SP com Renata Ceribelli durante sete anos, formando uma das duplas de apresentadores mais afinadas que a transmissão de carnaval já teve

GLOBO  SÃO PAULO (equipes de 2000 a 2009)

Narração: Cléber Machado, Mariana Godoy, Britto Júnior, Chico Pinheiro e Renata Ceribelli.

Comentários: Maurício Kubrusly e Leci Brandão.

Reportagens: Alberto Gaspar, Britto Júnior, César Tralli, Ernesto Paglia,  Fabiana Scaranzi, Flávia Freire,  Graziela Azevedo, Kelly Varraschim, Márcio Canuto, Mariana Kotscho e Rodrigo Vianna.

Globo News na cobertura carnavalesca

Em 2006, a Globo News passou a dar mais atenção à folia. Na semana do Carnaval, de sexta (dia 24 de fevereiro), a segunda (dia 27), os jornais Em Cima da Hora e Jornal das Dez tiveram entradas ao vivo dos camarotes da Globo News, montados nos sambódromos carioca e paulista. A festa em outros estados, como Bahia e Pernambuco, também foi mostrada através das equipes de reportagem espalhadas pelo Brasil.

Para a cobertura, as edições noturnas do Em Cima da Hora tiveram 30 minutos de duração das 18h até às 02h da madrugada de sexta e de sábado, e até às 03h da madrugada de domingo e de segunda.

Em São Paulo, Veruska Donato ancorou a transmissão com entrevistas ao vivo e entrada da reportagem nas áreas de concentração e dispersão do sambódromo paulista.

No Rio de Janeiro, a cobertura ficou a cargo dos jornalistas Sidney Rezende e Luciana Ávila, que estiveram em contato com os repórteres distribuídos pela Marquês de Sapucaí. Logo após o carnaval daquele ano Sidney estreou seu site de notícias, o Portal SRZD.

Na terça-feira, dia 28, pela manhã, a Globo News transmitiu ao vivo a apuração dos desfiles das escolas de samba de São Paulo. A apuração carioca também foi exibida ao vivo no dia seguinte, quarta-feira, à tarde.

GLOBONEWS SP  

Apresentação: Veruska Donato

Reportagens: Carla Lopes, Elizabeth Pacheco, Heloísa Torres, Renata Ribeiro e Ricardo Lessa.

GLOBONEWS RJ  

Apresentação: Sidney Rezende e Luciana Ávila.

Reportagens: Ana Paula Campos, Fernanda Grael, Leila Sterenberg, Marina Araújo, Rafael Coimbra e Raquel Novaes. 

Silvio Santos vem aí... 

O SBT ficou de fora da folia por cerca de uma década e meia. Mas foi a partir da homenagem que a escola de samba Tradição fez ao empresário Silvio Santos em 2001 que a emissora da Anhanguera ressuscitou ao carnaval.

A Rede Globo foi obrigada a conviver com a figura de seu maior concorrente por 80 minutos no domingo de Carnaval, durante o primeiro dia de apresentação do Grupo Especial. A “Caçulinha” apresentou o enredo “O Homem do Baú – Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e cantar”. No desfile, entretanto, não foi mostrado o logotipo do SBT justamente para evitar possíveis atritos com a Globo, responsável pela transmissão do evento. “Nós estamos contando a história do Silvio Santos, e não da emissora. Mostrar o símbolo significaria fazer propaganda do SBT”, afirmou à época o carnavalesco Orlando Júnior.

Pelo contrato de transmissão do Carnaval, a Globo pagaria cerca de R$ 8 milhões ao ano às escolas de samba até o ano de 2004.

A logomarca da emissora concorrente não foi exibida, mas a figura de Sílvio Santos esteve presente em mais de um carro alegórico. As estrelas do SBT também foram destaque no desfile da Tradição, como os apresentadores Gugu Liberato (1959 - 2019), Hebe Camargo (1929 - 2012), Carlos Massa, o Ratinho, e o elenco do programa humorístico “A Praça é Nossa”. O folclórico locutor Lombardi (1940 - 2009) deu o grito de guerra da agremiação do Campinho (“Isto sim é a Tradição!”) no início do desfile. 


Sílvio Santos no carro abre-alas da GRES Tradição no Carnaval de 2001

Em programa gravado e levado ao ar no dia 25 de fevereiro (domingo de Carnaval), Sílvio Santos confirmou que desfilaria na Sapucaí. No domingo seguinte, no dia 04 de março, o apresentador agradeceu à Tradição e ao público que prestigiou e torceu pelo sucesso do desfile.

O SBT Repórter exibiu um programa especial mostrando os bastidores do desfile da Tradição 2001

No período pré-carnavalesco de 2001, a Globo não contemplava com a devida frequência a exibição do samba da Tradição em horário nobre nas vinhetas do carnaval Globeleza. No entanto, o clip com o samba assinado por Lourenço (1959 - 2017) e Adalto Magalha (1945 - 2016) era mostrado constantemente nos intervalos da programação do SBT nos meses anteriores ao carnaval. Na hora do desfile, o povo já conhecia muito bem a letra, o que certamente ajudou bastante a Tradição. 

Programa “SBT Repórter” com os bastidores do desfile da Tradição, em homenagem a Sílvio Santos em 2001.

Além do samba da Tradição, o SBT também passou a exibir trechos das diversas marchinhas de carnaval gravadas por Sílvio Santos ao longo dos tempos. A execução acontecia às vésperas e também no período de Carnaval, sempre nos intervalos comerciais.

Sucessos como “Transplante de Corinthiano” (1968), “A bruxa vem aí” (1971), “Marcha da Furunfa” (1982), dos célebres versos “Furunfar é muito bom / furunfar é bom demais / quem furunfou, furunfou / quem não furunfou não furunfa mais”; “Pipoca” (década de 80) e “A pipa do vovô não sobe mais”, eleita como a 8ª Melhor Marchinha de Carnaval de Todos os Tempos pela Revista Veja em 2011.

A maioria das músicas foi composta pelo casal Manoel Ferreira (1930 – 2016) e Ruth Amaral. Autores das marchinhas, Manoel e Ruth foram casados durante 55 anos e juntos fizeram mais de 200 canções de estrofes curtas e frases bem-humoradas.


Ruth Amaral (esq.) e Manoel Ferreira (à dir.) compuseram a maioria das marchinhas de carnaval gravadas por Sílvio Santos

Dez anos depois do apoteótico desfile em homenagem a Sílvio Santos o SBT passou a ter uma cobertura específica carnavalesca. O SBT Folia começou a mostrar inicialmente o carnaval de Salvador. Em 2012, a emissora paulista passou a transmitir o desfile das campeãs de São Paulo e do Rio de Janeiro. Mas isso é assunto para o próximo capítulo desta série.

        Sábado das Campeãs é na tela da Band

 Depois de ter retomado o gostinho pela transmissão dos desfiles das escolas de samba em 1999, a TV Bandeirantes manteve o bloco na rua em 2000. Ou melhor, o bloco na Sapucaí.

Por força de contrato, a TV Globo passou a ser a detentora dos direitos exclusivos de transmissão ao vivo nos dois dias de Grupo Especial no sambódromo do Rio. Coube então à Band a transmissão dos Desfiles das Campeãs, no sábado posterior ao Carnaval, no encerramento da cobertura Bandfolia – caracterizada desde 1993 em apresentar o Carnaval de Salvador.

O Desfile das Campeãs foi instituído na década de 1980, no Rio de Janeiro, onde as seis melhores escolas de samba do Grupo Especial desfilam novamente no sambódromo, no final de semana seguinte ao carnaval. Este desfile não possui caráter competitivo, é apenas uma espécie de festa para coroar as melhores escolas do ano, na qual os foliões podem desfilar mais despreocupados com os quesitos. Durante a década de 90 e a primeira década do século XXI, também participava do desfile das campeãs na Marquês de Sapucaí como convidada a sociedade carnavalesca italiana Cento Carnevale D'Italia. A entidade ficou famosa por jogar ursos de pelúcia de seu carro alegórico para as arquibancadas do sambódromo carioca, desfilando ao som de músicas carnavalescas italianas.

Por treze anos, entre 1999 e 2011, a Band transmitiu o Desfile das Campeãs do Rio de Janeiro. O locutor Fernando Vannucci, contratado pela emissora paulista depois da demissão da Globo, foi o âncora da transmissão entre os anos de 2000 a 2002, dividindo a narração com Astrid Fontenelle, que permaneceu no canal até o carnaval de 2005.

Além de Vanucci e Astrid, também ancoraram o desfile das campeãs pelo Bandfolia os narradores Luciano do Valle (em 2003 e 2006) e José Luiz Datena (2007 a 2009).


Desfile das Campeãs 2000: a beldade Viviane Araújo ainda novata (esq.) e Kiko Xavier, o “descobridor de musas do Carnaval” (1966 - 2015), entrevistados por Astrid Fontenelle no camarote Bandfolia. Reprodução: Canal Historia da Mocidade Independente/Youtube

Entre os comentaristas convidados, participaram da cobertura os jornalistas e escritores Alexandre Medeiros (2000 a 2003) e Roberto M. Moura (2005); os cantores e compositores Jorge Aragão (2000, 2001 e 2005) e Arlindo Cruz (2006 e 2009); a jornalista Márcia Peltier (2001); os carnavalescos Milton Cunha (2002, 2003, 2005, 2006 e 2009), Fernando Pamplona (2004) e Mario Borriello (2004), e a dançarina e apresentadora Adriana Bombom (2005).

Artistas também eram convidados para fazer reportagens “especiais” durante a transmissão, como Otávio Mesquita e Elke Maravilha (2001-2002) e Preta Gil (2004).



Beija-Flor no desfile das campeãs de 2001

O ano de 2004 foi o último que assistimos Fernando Pamplona (1926 - 2013) em uma cobertura de carnaval. Após ter se demitido no ar no encerramento do segundo dia de desfile do Grupo Especial do Rio no carnaval de 1997, ainda pela TV Manchete, o veterano carnavalesco foi se afastando cada vez mais da folia.

Pamplona se dizia cansado da “mesmice” dos desfiles, da excessiva mercantilização da festa, do marcheamento dos sambas-enredo e do formato da transmissão de carnaval pela televisão – o qual sempre foi um crítico contumaz – que, a seu ver, favorecia a exibição de mulheres nuas e de pseudocelebridades em detrimento dos verdadeiros sambistas. Quando questionado se ainda acompanhava os desfiles, afirmava que durante o período de carnaval preferia viajar para longe do Rio e, de preferência, sem nenhum televisor ligado por perto.

Mesmo tendo se tornado avesso à folia, topou participar da transmissão do desfile das campeãs pela Band, dividindo os comentários com o também carnavalesco (e igualmente salgueirense) Mario Borriello, sob a ancoragem de Astrid Fontenelle. Na transmissão, vimos e ouvimos o velho Fernando Pamplona de sempre, criticando sambas e o formato de desfile, além de enaltecer os artistas de sua geração, como Arlindo Rodrigues (1931 - 1987) e Joãosinho Trinta (1933 - 2011). No entanto, teceu generosos elogios ao nome que emergia naquele ano: o carnavalesco Paulo Barros, responsável por levar a até então inofensiva Unidos da Tijuca a um inédito e inesperado vice-campeonato.


Desfile das Campeãs 2004: o então carnavalesco da Mangueira, Max Lopes (de chapéu), visita a cabine da Band e conversa com Fernando Pamplona (de óculos), sob os olhares de Astrid Fontenelle (com o microfone) e Mario Borrielo (ao fundo)

     Em 2005, outro grande estudioso da cultura popular fazia sua derradeira participação em coberturas de carnaval. Roberto M. Moura (1947-2005) foi jornalista, crítico musical, produtor cultural, professor, escritor e mestre em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Integrou o grupo do Bandfolia no desfile das campeãs do Rio juntamente com Astrid, Milton Cunha, Jorge Aragão e Adriana Bombom.

Autor de várias obras sobre música e carnaval, Moura trabalhou no semanário O Pasquim nos anos 70 e foi morador da Praça Onze, no centro do Rio. Também fazia parte do júri do Estandarte de Ouro do jornal O Globo, além de ser comentarista da TVE e colunista do jornal Tribuna da Imprensa.

Grande estudioso de samba e comunicação, assuntos sobre os quais fazia conferências no Brasil e no exterior, Roberto Moura morreu em outubro, poucos meses depois da transmissão da Band, aos 58 anos, no Rio de Janeiro, de falência múltipla dos órgãos após ter contraído febre maculosa.


Bandfolia no Desfile das Campeãs 2005: Jorge Aragão (de camiseta amarela), Milton Cunha (de listrado), Astrid Fontenelle e Roberto M. Moura (apontando o dedo). A outra integrante da equipe, Adriana Bombom, não aparece na imagem

De 2007 a 2011, a Bandeirantes também mostrou o desfile das campeãs de São Paulo. Na terra da garoa, o evento acontecia entre a noite da sexta-feira seguinte ao Carnaval e a madrugada de sábado (para não competir com o desfile no Rio).

Além das cinco escolas com melhor colocação, participam do desfile das campeãs em São Paulo também as duas agremiações promovidas do Grupo de Acesso, algo que não acontece no Rio de Janeiro desde 1999.

O jornalista Fernando Vieira de Mello foi o apresentador do desfile das campeãs no sambódromo do Anhembi desde o primeiro ano da transmissão da Band em 2007. Participaram da cobertura como convidados o músico Oswaldinho da Cuíca, a passista Roberta Kelly (Rainha do Carnaval de SP em 2007 e Rainha de Bateria da Nenê de Vila Matilde), além da jornalista Silvia Poppovic, como comentarista.


Desfile das Campeãs SP 2008: o apresentador Fernando Vieira de Mello (ao centro, de azul) e os convidados Roberta Kelly (de blusa vermelha) e Oswaldinho da Cuíca (de camiseta preta).

BAND  DESFILE CAMPEÃS RJ (equipe de 2000 a 2009)

Narração: Astrid Fontenelle, Fernando Vanucci, José Luiz Datena e Luciano do Valle.

Comentários: Adriana Bombom, Alexandre Medeiros, Arlindo Cruz, Fernando Pamplona, Jorge Aragão, Márcia Peltier, Mario Borriello, Milton Cunha e Roberto M. Moura.

Reportagens: Otávio Mesquita, Elke Maravilha, Preta Gil, Aline Pacheco, Che Oliveira, Cristiana Gomes, Fábia Belém, Fábio Behrend, Jaqueline Silva, Krishma Carreira, Luciana do Valle, Mariana Procópio, Mônica Ferreira, Sandro Gama e Sérgio Costa. 

BAND  DESFILE CAMPEÃS SP (equipe de 2007 a 2009)

Narração: Fernando Vieira de Mello.

Comentários: Oswaldinho da Cuíca, Roberta Kelly e Sílvia Poppovic.

Reportagens: Eleonora Pascoal, Márcio Campos, Nadja Haddad e Ticiana Villas-Boas. 

No próximo e último capítulo da série, vamos abordar a folia televisiva entre os anos 2010 e 2020. Nesse período, o carnaval perdeu cada vez mais espaço na tevê aberta, mas ganhou fôlego na internet. Outros polos carnavalescos emergiram e passaram a ter vistos em rede nacional. A emissora que se especializou em cobrir os bastidores do carnaval. A “TV do Patrão” voltou a mostrar os festejos de Momo. Após três décadas, rede pública de televisão volta a fazer ampla cobertura do carnaval. E uma emissora musical que abordava o carnaval com muito humor dedicando até uma programação especial para o período. 

Referências:

BELMOK, João Paulo. A aventura carnavalesca do SBT. In: Site Carnavalize – Na tela da TV, em 01/02/2017. Disponível em <http://www.carnavalize.com/2017/01/na-tela-da-tv-aventura-carnavalesca-do.html>. Acesso em jun 2020.

_____________________. CNT e Band caem na folia. In: Site Carnavalize – Na tela da TV, em 01/02/2017. Disponível em:

<http://www.carnavalize.com/2017/02/na-tela-da-tv-cnt-e-band-caem-na-folia.html>. Acesso em jun 2020.

BRUNO, Leonardo. Jorge Perlingeiro se despede do 'Samba de primeira', que comanda há 43 anos. In: Jornal Extra, em 27/12/14. Disponível em < https://extra.globo.com/tv-e-lazer/roda-de-samba/jorge-perlingeiro-se-despede-do-samba-de-primeira-que-comanda-ha-43-anos-14904273.html> . Acesso em junho 2020.

CASTRO, Thell de. Em 2001, Globo mostrou desfile de Silvio Santos e bateu recorde de audiência no Carnaval. In: Site Notícias da TV, em 23/02/2020. Disponível em <https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/em-2001-globo-mostrou-desfile-de-silvio-santos-e-bateu-recorde-de-audiencia-no-carnaval-33744?cpid=txt>. Acesso em jun 2020.

CENTRAL GLOBO DE COMUNICAÇÃO. Transmissão do Carnaval 2006 na TV Globo. In: Imprensa Globo, em 16 de fevereiro de 2006. Disponível em <https://imprensa.globo.com/programas/carnaval-2006/textos/transmissao-do-carnaval-2006-na-tv-globo/>. Acesso em ago 2020.

FRANCFORT, Elmo. Rede Manchete: Aconteceu virou história. São Paulo: Coleção Aplauso Especial (1ª edição). Imprensa Oficial (IMESP). 2008.

PAMPLONA, Fernando. O encarnado e o branco. Rio de Janeiro: Ed. Nova Terra. 2013.

PRESTES FILHO, Luiz Carlos. O maior espetáculo da Terra: 30 anos de Sambódromo. Rio de Janeiro, Ed. Lacre, 2015.

SABINO, Fred. Paulo Stein, a voz do samba carioca. In: Site GGN, em 09/12/14. Disponível em <https://jornalggn.com.br/noticia/paulo-stein-a-voz-do-samba-carioca>. Acesso em jun 2020.

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br