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Samba Paulistano
 
19 de novembro de 2021, nº 53

SAMBA-ENREDO IMPÉRIO DE CASA VERDE 2022
A Império de Casa Verde, depois de muito suspense, anunciou seu tema. A agremiação da Zona Norte optou por um caminho pouco convencional para contar a história da comunicação. Através do influenciador digital Carlinhos Maia, o Tigre Guerreiro conta a comunicação ao longo da história. A viagem que começa nos primórdios dos tempos ancestrais, passando pelo sinal de fumaça, rádio e TV, no fim, desembarca na internet e na Vila Primavera, lugar de onde surgiu o comunicador nordestino, para trazer a mensagem no século XXI.

Enredo: O poder da comunicação — Império, o mensageiro das emoções
Carnavalescos: Mauro Quintaes e Leandro Barboza

Sinopse do Enredo

Comunicação é a troca de emoção. A comunicação une o homem e evolução em proclame inventivo. Está no ar, a própria história da humanidade. A partir desse momento, o G.R.C.S.E.S. Império de Casa Verde debruça seu olhar sobre a comunicação e suas múltiplas formas, se faz mensageiro das emoções históricas que envolvem o dom e o poder inventivo do ser humano em se comunicar e tem o prazer de comunicar ao grande público seu enredo para o Carnaval 2022:

A abertura do desfile

Contempla a comunicação não-verbal, a organização do homem primitivo e o domínio do fogo, a transformação do couro em tambor e suas finalidades. O corpo em movimento, a expressão da dança e dos sons como forma de comunicação.

Início da verbalização

Em pedra, a codificação de leis, a palavra ganha poder. Os primeiros alfabetos, epopeias heroicas e bíblicas são registradas para ensino e posteridade. A simbologia da Torre de Babel para justificar as diferentes línguas do mundo. Aprimoramento dos meios de registro com papiro e papel. Advento do serviço de postagem e de guerra com pombo correio. Hermes e a crença da comunicação entre homens e deuses. Copistas na Europa, reprodução do conhecimento nos livros. A prensa de Gutemberg como meio de evolução e a dinamização da tipografia.

A telecomunicação

Eletricidade possibilitando mensagens via telégrafo. A relação do telefone e Dom Pedro II. Nas ondas do rádio, a música e também o episódio norte-americano de Guerra dos Mundos como alerta contra a informação falsa e desencontrada. Por fim, a televisão. Caixa dos sonhos que cria e exibe estrelas.

A comunicação virtual

O mundo conectado em rede, a informação que circula sem barreiras. A edição da realidade, o real e o fake. O mundo na palma da mão. A rede como ferramenta ampliadora e propagadora de ideias. Carlinhos Maia como exemplo de influenciador digital conectando o Nordeste ao mundo. O encontro do comunicador Carlinhos Maia e a Império de Casa Verde, mensageiros das emoções, que dizem ao mundo que eles são do tamanho dos seus sonhos e para nunca deixarem de acreditar neles.

Carnavalescos: Mauro Quintaes e Leandro Barboza
O poder da comunicação — Império, o mensageiro das emoções.

Samba-Enredo

Gravação do Estúdio



Samba ao vivo



Compositores: André Diniz, Cláudio Russo, Darlan Alves, Diego Nicolau, Fabiano Sorriso, Marcelo Casa Nossa e Samir Trindade
Intérprete: Carlos Júnior

Letra do samba

Sou eu, sim, a voz da Casa Verde
Vou assim, balançando a rede
A cara do Brasil, um povo vencedor
Orgulhoso “donde” vim, Imperiano eu sou

Vá buscar o meu amor
Ou um amigo pra contar a boa nova
Um alerta do perigo
Na mensagem que encontrei
Dos meus ancestrais
Lágrimas no tempo, fogo dos rituais
E segui por esse fio pelo som que se propala
Pois ardia o pavio, este é meu lugar de fala
O couro esticado por tantas gerações
Sinais de fumaça, me levam por aí
Meu Deus, que saudade, tempo que não vivi

Ergui minha perdição, tentei encostar no céu
Em busca da salvação, vi torres de Babel
Pra se entender, sigo o olhar
Mil pergaminhos e caminhos a trilhar

Vento, mensageiro de ilusões
Sereno, deslizando nos papéis
São asas seduzindo corações
Palavras conduziam os fiéis
O ar que trouxe a lua pra você, ô flor
Que faz a vida renascer no alô
Grafia linhas geniais, vias digitais
Abro a janela da grande viagem
O mundo na palma da mão
Vila Primavera, influência maior
Se avexe não!


Análise

Mistério e desconfiança cercaram a Império de Casa Verde desde o fim do último Carnaval. Tão logo surgiu a notícia de que existia a possibilidade de um enredo que homenagearia Carlinhos Maia, brotaram comentários negativos que já idealizaram um enredo e samba trágico que prejudicaria a agremiação. Com o passar do tempo, muita coisa mudou, mas a expectativa seguia sendo grande e, de certo modo, negativa. Nesse cenário, é difícil, acredite, fazer uma análise exatamente distante do que o resultado da trilha sonora do Tigre traz. No entanto, é seguro dizer que, primeiro, é um samba que está longe de corresponder o cenário de caos estipulado inicialmente. Assinado por um grupo de estrelas da composição, a obra de André Diniz, Cláudio Russo, Darlan Alves, Diego Nicolau, Fabiano Sorriso, Marcelo Casa Nossa e Samir Trindade cumpre o seu papel e tem tudo para trazer um fim de noite que, mesmo longe de brilhantismo, diverte.

Uma coisa que importante citar antes de analisar verso a verso, é que o enredo não é, exatamente, o Carlinhos Maia. E por incrível que possa parecer, é um problema por isso também. Com uma história extremamente longa — contar a comunicação num enredo sem um recorte bem feito é complexo —, o tema fica sem uma conexão bem amarrada. Mesmo com o artista sendo uma espécie de personagem fio condutor, fica difícil de digerir que o homem da pedra evoluiu para chegarmos ao mundo moderno na rede social do influenciador. Posto isso e feita a explicação, vamos ao samba.

Como já dito, o enredo começa lá atrás com a comunicação não verbal e a organização do homem primitivo com o domínio do fogo e a transformação do couro em tambor. Tudo isso é traduzido pelo samba na primeira estrofe que explora, exageradamente, esse pedaço do tema. Todavia, os primeiros versos são meio deslocados disso. O início com “Vá buscar o meu amor ou um amigo pra contar a boa nova, um alerto do perigo na mensagem que encontrei” não consegue a conexão adequada se tornando um tanto deslocado do restante da composição. (-0,1 fid.).

A tentativa de contar o enredo do começo é mais bem sucedida depois com “Dos meus ancestrais // lágrimas no tempo, fogo nos rituais // e segui por esse fio // pelo som que se propala” que já constrói, de fato, a história. Porém, esse trecho tem um pequeno problema melódico. “Por esse fio”. “Pelo som”. Tudo muito próximo, tudo muito colado causa sensação de atropelo, dificultando o canto (-0,1 div. mel). A sequência ainda ganha versos insólitos como “pois ardia o pavio, este é meu lugar de fala // o couro esticado por tantas gerações, sinais de fumaça me levam por aí // meu Deus, que saudade, tempo que não vivi” que apesar de bem encaixados melodicamente pela construção de alto nível das células não conseguem encantar poeticamente (-0,1 riq. poé).

O refrão começa com “Ergui minha perdição, tentei encostar no céu // em busca da salvação, vi torres de Babel” que faz menção ao trecho do enredo da verbalização. Esse pedaço é complementado com “Pra se entender, sigo o olhar // mil pergaminhos e caminhos a trilhar”. Tudo isso é bem construído melodicamente, se não fosse a incômoda sensação de repetição. Apesar do balanço, com o passar das audições fica evidente o problema com tantas palavras de mesmo final sonoro muito próximas “perdição/salvação”, “céu/Babel”, “entender/olhar/trilhar”, “pergaminhos/caminhos”. (-0,1 div.mel). A segunda estrofe tenta resumir a evolução da comunicação em poucos versos e não é exatamente feliz. Com “vento, mensageiro das ilusões // sereno, deslizando nos papéis // são asas seduzindo corações // palavras conduziam os fiéis” muitos trechos do tema como a evolução da verbalização são resumidos sem a devida explicação. Tudo isso torna a mensagem de difícil entendimento, já que não há aprofundamento do assunto tratado (-0,1 adeq.).

Na chegada ao trecho mais “moderno” da proposta, tudo fica ainda mais difícil. “O ar que trouxe a lua pra você, ô flor // que faz a vida renascer no alô // grafia linhas geniais, vias digitais” simplesmente não faz nenhuma menção mais explícita da parte da telecomunicação em rádio e televisão. No máximo, no máximo mesmo, cita superficialmente a parte do telefone com o alô. É tudo muito confuso e mal amarrado (-0,1 adeq.). Nos últimos versos da segunda estrofe, surge a revelação do narrador e o tema no século XXI. Com “abro a janela da grande viagem // o mundo na palma da mão // Vila Primavera, influência maior // se avexe não” o samba já se encaminha para revelar seu fio condutor. Afinal, a Vila Primavera citada faz referência ao maior sucesso do grande homenageado, transformado, inclusive, em programa de TV pelo canal a cabo Multishow, mas é no refrão principal que ele realmente aparece.

No “Sou eu, sim, a voz da Casa Verde // vou assim, balançando a rede”, Carlinhos assume seu papel, de fato, narrativo. Mas perceba como tudo é muito frágil. Na proposta, o influenciador é um narrador que se mistura com a história da comunicação. Não dá, só pela letra, para entender quem é quem ao longo da trilha. (-0,1 fid.). O samba é encerrado com os bons versos “A cara do Brasil, um povo vencedor // orgulhoso donde vim, imperiano eu sou” que concluem a composição com correção. No conjunto, é um resultado mais problemático por conta da estrutura temática adotada do que pela qualidade dos compositores já que a trilha, mesmo com as ressalvas apresentadas, é gostosa de ouvir e detém uma sensação de conforto para ouvinte. É como se tudo fosse embalado numa caixa bonita e que traz uma sensação de felicidade mesmo que o presente dentro dela não seja o mais refinado do mundo.

Nota: 9,3

Falhas:

⦁    Fidelidade: -0,2

⦁    Riqueza Poética: -0,1

⦁    Divisão Melódica: -0,2

⦁    Adequação: -0,2

Bruno Malta
Twitter: @BrunoMalta_