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Coluna do Cláudio Carvalho

E O SAMBA ATRAVESSOU...

22 de julho de 2014, nº 33, ano XI

O vexame protagonizado pela seleção brasileira na Copa do Mundo deste ano, dentro de casa, me “motivou” a buscar correlatos nos desfiles das escolas de samba. Assim como fiz na coluna “Clássicos do Samba” transcrevo aqui verdadeiros “micos” e tragédias protagonizados pelas principais agremiações do carnaval carioca ao longo da história recente dos desfiles. Ei-los:

Beija-Flor: Depois de 22 anos frequentando assiduamente o desfile das campeãs, sete deles como grande vencedora da festa, a escola de Nilópolis optou por um enredo confuso em 2014, que misturava uma homenagem à José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, com a história da comunicação. O samba escolhido foi eleito por muitos como o pior da escola, e um dos piores do Grupo Especial em todos os tempos. O resultado foi uma sétima colocação,  considerada baixíssima para quem se acostumou a brigar décimo a décimo pelo título. Se não chega a ser um mico colossal, foi bola fora da Beija, que pulou fora do sábado das campeãs depois de tanto tempo.

Caprichosos: A escola de Pilares, que nos tempos de Fernando Leandro sempre fez desfiles aguerridos e conseguia se manter no Grupo Especial, sofreu durante a gestão de Paulo de Almeida. De 2006 a 2011, protagonizou apresentações paupérrimas plasticamente, e acabou caindo para o terceiro grupo. Atualmente, está na Série A e luta para voltar ao desfile principal.

Estácio de Sá: Os anos 1990 foram um verdadeiro divisor de águas para a escola do bairro onde se originou o samba. Campeã em 1992, a vermelha e branca se deixou ludibriar pela “ilusão da onipotência” nos anos seguintes. Em 93, trouxe um samba belíssimo, que continha bruxas, Satanás e Sabá na letra. Mau agouro à parte, houve problemas no sistema de som do Sambódromo, o que fez com que o belo hino atravessasse na avenida, e comprometesse a qualidade de todo o desfile. Luxuosíssima, a Estácio parece ter “secado a fonte” naquele ano. Em 94, homenageou o SAARA, centro comercial das adjacências, mas o tão esperado dinheiro de árabes e judeus, donos da maioria das lojas, não pingou na conta da escola. Como se não bastasse, houve problemas com alegorias, cronômetro, e o presidente Acyr ordenou que fosse fechado o portão do Setor 3 durante o desfile, para não estourar o tempo, deixando muita gente do lado de fora. Minutos depois, o presidente da LIESA, Paulo de Almeida, ordenou que o mesmo fosse aberto, e uma “segunda escola”, composta por desfilantes já sem fantasia, misturados como num bloco, se juntasse à “primeira”. O caos na avenida era prenúncio de rebaixamento certo, mas a Estácio acabou salva pelo regulamento. Já sem crédito na praça, a agremiação seguiu a linha de homenagens (Flamengo, Teleporto), até a queda em 1997, quando falou sobre perfume e trouxe até patrocínio da linha de cosméticos Boticário em uma das alegorias.

Grande Rio: Como jogar um carnaval fora. Este pode ser o título do desfile de 2008 da Grande Rio, que fazia uma apresentação perfeita, até que uma das onças do abre-alas ficou presa na grade que separa a arquibancada da pista de desfiles. O imbróglio demorou cerca de dez minutos para ser resolvido, comprometeu a evolução da escola e abriu caminho para a Beija-Flor conquistar o bi. Em 2011, a escola foi a maior prejudicada pelo incêndio que atingiu a Cidade do Samba, e desfilou com apenas quatro alegorias, sem concorrer.

Imperatriz: A escola de Ramos foi campeã em 1989, mas teria sido rebaixada no ano anterior, após um desfile melancólico. Se salvou pela mudança no regulamento. No final dos anos 2000, a escola, que abrira a década como campeoníssima, alternou-se entre a oitava e nona colocações, numa queda brusca de rendimento.

Império Serrano: Uma das grandes do carnaval carioca, a verde e branca da Serrinha já enfrentou sete rebaixamentos e foi por três vezes a última colocada. Em uma dessas ocasiões, mais precisamente em 1994, não caiu, mas protagonizou um verdadeiro desastre em forma de desfile, com cerca de quatro alegorias quebradas, comprometendo todo o conjunto da obra, que já não era dos melhores. Pra piorar tudo, a Imperatriz Leopoldinense, escola afilhada e vizinha do Império, terminou na outra ponta da tabela, como primeira colocada e com enredo muito parecido.

Mangueira: Supercampeã, a verde e rosa protagonizou momentos delicados, como o melancólico desfile de 1980 (com Garrincha entorpecido por psicotrópicos em cima de um carro), e o décimo primeiro lugar, em 1990. Em 2008, a escola fez uma apresentação abaixo da crítica, após saírem nos jornais notícias de influências do tráfico em seu cotidiano. Os desfiles da gestão Ivo Meireles, paupérrimos em alegorias, fantasias e confusos em enredos, harmonia e evolução, fizeram a comunidade clamar por mudanças. Acreditou-se que a administração Chiquinho da Mangueira faria diferente. No entanto, em 2014, um problema idêntico ao do ano anterior, quando uma alegoria se espatifou diante da torre de TV do Sambódromo, trouxe apreensão à nação verde e rosa.

Mocidade: Em 1999, a escola fazia o maior desfile de sua história, até que um problema envolvendo uma de suas alegorias abriu um buraco gigantesco da avenida, que lhe rendeu uma nota 7,5 em evolução. Nada disso, porém, chega perto do vexame protagonizado durante o melancólico desfile de 2009, quando houve incêndio no abre-alas, que chegou até a atropelar o carnavalesco da escola.

Portela: Após duas décadas comandando a escola, Carlinhos Maracanã deu lugar à Nilo Figueiredo. No primeiro desfile sob o comando da nova gestão, em 2005, houve incêndio do abre-alas no barracão, a águia entrou na avenida sem asas, e a Velha Guarda não desfilou, pois a escola, gigantesca, estouraria o tempo caso o presidente não ordenasse que o portão da concentração fosse fechado. Nilo Figueiredo se recuperou nos anos de 2008 e 2009, quando a Portela ficou em quarto e terceiro lugar, respectivamente, mas voltou a “mandar mal” de 2010 em diante. Em 2011, a escola desfilou simbolicamente, como hors concours, devido ao incêndio na Cidade do Samba, que também atingiu União da Ilha e Grande Rio.

Salgueiro: Em 2006, a escola da Tijuca foi a primeira a se apresentar, e passou fria, além de plasticamente muito abaixo de seu “padrão de qualidade”. Acabou em décimo primeiro lugar, pior colocação de sua história. Em 2011, a escola, linda e favoritíssima ao título, teve problemas com três alegorias e excedeu em 11 minutos o tempo de desfile.

Tijuca: A escola do Borel tinha um grande samba em 2003, que atravessou devido ao cavaco desafinado. Pra piorar, a atriz Neuza Borges sofreu grave acidente após cair do alto de uma das alegorias.

União da Ilha: Em 2001, a escola acabou rebaixada após um desfile problemático, e demorou oito anos para retomar o convívio com as grandes. Apresar de também ter sido atingida pelo incêndio na Cidade do Samba, em 2011, a Ilha fez um grande carnaval naquele ano e chegou a ser premiada com o Estandarte de Ouro de melhor escola.

Vila Isabel: Pródiga em enfrentar problemas com alegorias, fantasias e até mesmo clima (calor de 40° ou temporal), a Vila sempre tentou driblar as intempéries, mas nem sempre conseguiu. Em 1998, entrou na avenida como favorita ao título, e após a quebra de várias alegorias, que comprometeram diretamente a evolução, harmonia e conjunto do desfile, rezou pra não cair. Em 2000, se apresentou com muita garra, mas abaixo da crítica. A comissão de frente era o retrato do desfile confuso, com um entra e sai maluco de índios em ocas, que arrancou risos do público na avenida. Acabou rebaixada, como em 78 (neste ano, junto ao Império). Ambas as escolas ficaram novamente nas últimas colocações em 1981, mas foram salvas pelo júri, que as poupou do rebaixamento em virtude do dilúvio que desabou sobre a avenida quando a escola de Noel desfilava.

Viradouro: A maior tragédia do Sambódromo se deu quando o “carro do gelo” pegou fogo, no desfile da Viradouro de 1992. Reza a lenda que teria sido maldição de uma cigana niteroiense, após os componentes da escola não seguirem os conselhos dados por ela para fazer um bom desfile. Se não fosse o incidente, a vermelho e branca, luxuosíssima, teria terminado a apuração em terceiro lugar, e não em nono. Mas o vexame de fato foi protagonizado no desfile de 2010, quando a escola homenageou o México e se apresentou fria e paupérrima. 

Cláudio Carvalho
clau25rj@hotmail.com