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Guerras do Brasil - O voo da fênix sobre os campos de batalha
SINOPSE ENREDO 2020

Guerras do Brasil - O voo da fênix sobre os campos de batalha

Sinopse: Thiago Gonçalves Tartaro

Introdução

É bem capaz que o folião que nos lê já tenha ouvido de um avô, tio, professor ou vizinho: “o Brasil é um país abençoado. Não temos desastres naturais nem guerras.” Secularmente construímos sobre nós mesmos a imagem benéfica, do bom anfitrião, do cidadão pacífico. Desde Pedro Vaz de Caminha em sua carta inicial, passando por José de Alencar em obras como O Guarani e Iracema, até a sociologia do início do século passado, especialmente nas figuras de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, há uma romantização, uma higienização da história. Inspirada pelo documentário “Guerras do Brasil.doc”, a X9 vem para contestá-la. A história brasileira foi rechada de conflitos que podem ser compreendidos como guerras. Tomaremos cinco desses conflitos e faremos com que a fênix carioca nos mostre nossa verdade. Eis, portanto, algumas das Guerras do Brasil.

Guerra 1 – A Conquista do Território

"A historia da colonização é a história da conquista contínua, da guerra contínua, pora povoar a terra e escravizar os indígenas. Isso começou em 1530 e vem até hoje." Pedro Puntoni.

Guaranis, Caiapós, Carajás, entre muitos outros ... Pindorama era povoada e interligada. O intercâmbio cultural se dava livremente por mais de mil povos e seus centenas de idiomas. Os Tupinambás da costa viviam a busca de sua terra sem males, até que o que é típico de guerra acontece: a invasão Caraíba!

De sarcófagos navegantes saem seres maltrapilhos, desnutridos, fedidos e quase loucos. A cultura indígena, na sua ingenuidade, acolhe os novos. O europeu, no entanto, não enxerga no outro um semelhante, mas sim um potencial escravo e/ou inimigo. Frustradas as tentativas de domínio pacífico, via escambo, doutrinação e persuasão, começa a guerra de conquista para domínio das terras. Nela vale tudo: a guerra biológica, que matou muitos de gripe, varíola e sífilis, a guerra justa, pautada na justificativa religiosa de que indígenas não eram huanos e mesmo a noção de guerra total, extermínio deliberado para avançar ao interior. Uma antiga profecia indígena se concretizara: Jurupari, o demônio indígena, chegara para liderar um processo secular de destruição e morte. A guerra da dominação sobre os indígenas nunca acabou. Xawara, outro demonio corporificado pelo branco, aterroriza nos dias de hoje, na forma da tentativa da tomada de guerras para lucro do invasor.

Guerra 2 – O Quilombo dos Palmares

"Todos os negros fugirão para Palmares com todo seu cabedal, que não é outro senão seu próprio corpo." Padre Antônio Vieira.

No meio do séc. XVII a colônia portuguesa no atual estado do Pernambuco fora invadida pelos holandeses de Maurício de Nassau. Engenhos foram derrubados, conflitos marcaram a atual cidade de Recife, mortos e feridos se viam frequentemente pelas ruas. Com a confusão nos engenhos, negros escravizados aproveitavam e escapavam. Na Serra da Barriga, fundou-se o Quilombo dos Palmares.

Em seu auge, o Quilombo dos Palmares contou com mais de 30 mil escravos refugiados que ali tentavam reconstruir a vida. O Quilombo era fortificado por uma muralha e os arredores do lugar eram monitorados. Uma verdadeira fortaleza. A Cultura predominante era a Banto, inclusive com a organização religiosa e política.

A metrópole deseja sitiar e destruir Palmares. Organiza-se uma enorme expedição que contara inclusive com os sanguinários bandeirantes de São Paulo. Até canhões foram usados. O conflito derrubou o muro e uma violenta batalha começõu. Entre soldados dos engenhos e quilombolas, morreram mais de 20 mil pessoas, inclusive Zumbi, cuja cabeça fora arrancada e exibida em um poste em Recife para mostrar o que aconteceria em caso de novas rebeliões.

Guerra 3 – A Guerra do Paraguai

“Para vencer esse povo, teremos que matar o último paraguaio no ventre de sua mãe.”  Duque de Caxias.

No Paraguai do meio do séc. XIX imperou por muito tempo um cruel ditador: Solano Lopez. Ele tinha boas relações com o governo liderado pelo Partido Blanco, no nosso outro vizinho, o Uruguai. O Brasil exercia imperalismo sobre o Uruguai e não gostava dos blancos. Queria seus adversários, os colorados, no poder. Lopez afirma que se o apoio brasileiro aos colorados continuar, ele declarará guerra. O Brasil paga para pra ver.

Inicialmente o contingente de paraguaios, muito por causa do belicismo de Lopez, é muito maior. O governo brasileiro, liderado por D. Pedro II, lança a campanha dos Voluntários da Pátria, que apesar do nome bonito, era uma forma de alistamento compulsório em desfavor dos nossos jovens. Um outro importante reforço nessa peleja é a tríplice aliança, firmada entra Brasil, Argentina e Uruguai (nesse meio tempo, os colorados, apoiados pelo Brasil, tomaram o poder por lá), uma cooperação militar entre os três países para vencer o Paraguai de Lopez.

Após sangrentas batalhas, como a do Riachuelo, vencida pelo Brasil aos trancos e barrancos à beira de rios e a do Humaitá, um descampado gélido, batalha de exércitos maltrapilhos e miseráveis paraguaios e brasileiros vencida pelos paraguaios, o Brasil vê necessidade de um novo comando. Vem daí a fama de Duque de Caxias, que assume o exército brasileiro e, após conseguir a tomada de assunção, se demite por conta do caráter mais que desumano que a guerra assumira. Lopez ordenara inclusive o recrutamento de crianças de 12 anos para a luta. Após a saída de Caxias do posto de comandante, a guerra dura mais alguns anos, termina com a vitória do Brasil e Lopez é  morto. Em cinco anos de conflitos ao todo, um total de 370 mil mortos.

Guerra 4 – A Revolução de 30

“Há um avanço do país no sentido da modernização, mas há também um avanço nos procedimentos autoritários.” Angela de Castro Gomes.

Década de 20 do século passado. A Política do Café Com Leite, na qual os estados de São Paulo e Minas Gerais se revezavam na Presidência da República, sempre colocando nela oligarcas corruptos, começava a incomodar generais de baixa patente, oligarcas de outras partes do Brasil e parte da opinião pública. Nesse contexto nasce o tenentismo, uma série de revoltas de tenentes contra esse sistema fraudulento de representação. Os tenentes tentam tomar o poder a força, inclusive invadindo algumas cidades. Muitos foram mortos de forma cinematográfica, inclusive na batalha do forte de Copacabana e no bombardeio de 1924 em São Paulo. Trata-se da luta de uma elite autoritária versus um militarismo de baixa patente golpista.

O imbróglio continua até a eleição presidencial de 1930, quando a situação é representada por Júlio Prestes e a oposição (ligada aos protestos que se arrastavam por anos) pelo militar gaúcho Getúlio Vargas. De forma escusa (como em todas as eleições), Prestes vence. Não apenas isso. O vice de Vargas na chapa, João Pessoa, é violentamente assassinado em um restaurante pouco depois das eleições. Ambos acontecimentos deixam as revoltas pelo país completamente fora de controle. O quebra quebra se generaliza pelo país. Nesse contexto, Vargas viaja de trem do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro. Nesse caminho, é aclamado pelo povo. Toma o poder a força em 30 e tem início o Getulismo no país, com toda sua modernização e também marcas autoritárias.

Guerra 5 – Universidade do Crime

“Paz entre nós. Guerra ao sistema.” Lema do PCC.

Rio de Janeiro, virada dos anos 60 para os 70. O governo decide transferir presos para uma colônia penal na Ilha Grande. Lá, os novos detentos encontram condições de vida difíceis, como falta de alimentos, doenças e conflitos internos entre apenados. Tem-se então a ideia de organizar-se a si mesmos e a vida no presídio, mediante a paralisia do estado em fazê-lo. Nasce aí o Comando Vermelho. A vida na cadeia ensinara na marra como administrar e gerir. Essa expertise sai da cadeia, se aloja nos morros cariocas e, desde então gere o tráfico de drogas e armas na cidade, muitas vezes em conflitos com outras facções, com a sociedade civil no fogo cruzado. O Rio de Janeiro já foi, algumas vezes, considerado a cidade mais violenta do país.

São Paulo, período do regime militar. Ao contrário do que a propaganda oficial alardeia, casos de homicídio crescem exponencialmente na cidade. A resposta do poder público é um processo de captura e prisão dos meliantes sem o menor planejamento e sem condições de o sistema admitir mais gente. A mesma novela do RJ se repete em SP. Os presos organizam sua própria vida carcerária e fundam, na virada dos anos 90 para os 2000, o PCC. O comando passa a gerir o tráfico de entorpecentes e armas em todo estado. Em 2006, promoveram ataques nas ruas de SP contra agentes de segurança. Desde então, suspeita-se que haja um “acordo de cavalheiros” entre governo e PCC, pois ao mesmo tempo em que desde então o número de homicídios em SP cai, o tráfico não é fortemente inibido. A guerra entre facções, bem como entre facções e forças de segurança são responsáveis pela maior parte dos atuais 60 mil homicídios / ano no Brasil. Números maiores que os de uma guerra declarada.

Epílogo

Que a Guajupiá perdida renasça, que a negritude retome seus lugares e tome novos lugares, que a paz reine na América Latina, que a democracia seja respeitada no Brasil e que todos nós possamos viver em paz. Mesmo mostrando a guerra, clamamos fervorosamente pela paz. Que ela renasça como a fênix quantas vezes forem necessárias.

Referência bibliográfica
GUERRAS do Brasil.doc. Luiz Bolognesi.  Netflix, 2018.