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Nilce Fran - A Filha de Iansã (Rosa de Ouro - 2020)
Nilce Fran - A Filha de Iansã (Rosa de Ouro - 2020)

Para o carnaval de 2020, o GRES Rosa de Ouro levará para a Intendente Magalhães a história da maior passista de todos os tempos do carnaval. Nilce Fran.

Na “favela de planície”, onde tudo começou…

Nascida em Oswaldo Cruz, mas criada no mundo. Filha do lendário mestre Vanderlei Francisco, integrante da histórica ala dos impossíveis da Portela e fundador, em 1970, da agremiação Rosa de Ouro. O samba, a Portela e o Rosa de Ouro estão na raiz de Nilce Fran. Em 2020, agremiação que seu pai fundou completa 50 anos de existência.

Nilce viu o Rosa de Ouro nascer e crescer, com muito custo e com muita luta de seu pai, que chegou, em um certo carnaval, a sair sozinho, tocando um surdo, pelas ruas de Oswaldo Cruz marcando a presença da agremiação em tempos de “vacas magras”. No chão de nossa quadra está marcado os pés de Vanderlei e de Nilce Fran.

Negra, mulher, suburbana e sambista. Nilce Fran é filha de Iansã com Oxossi. A herança afro está presente na sua vida, na sua religião e na sua cultura. É candomblé, é samba e é gueto. Ela valoriza e exalta sua ancestralidade.

Eparré Oyá!!! Oké aro!! Com suas bênçãos, sua filha vai descer a Cataguases e conhecer o mundo!!

Devota de Maria Padilha, que te protege nas noites de samba e nas dificuldades que a vida imprime, Nilce vai crescer com seu charme e sua leveza, com a força do povo de rua.

Trazia uma rosa em suas mãos…Um feitiço no olhar.

Levada por seu pai, Nilce, ainda criança, conhece o maior sentimento que se pode ter, o amor. Um amor sincero, de uma Nilce Fran ainda criança, sob as bênçãos de São Cosme e Damião e da Ibejada, protetores do Rosa de Ouro.

Sob a batuta do lendário mestre Tijolo, como porta bandeira mirim, a menina Nilce desfila pela primeira vez em 1976 na Portela com o enredo “O homem do Pacoval”, que falava sobre a Ilha de Marajó.

“Vaquejada, boi-bumbá

Vem gaiola, vou viajar”

Seu primeiro título na Portela ocorreu em 1980, com o enredo “Hoje tem marmelada”, que homenageava o povo circense. Nilce veio dentro da gaiola das motos.

“Ó raia o sol o dindin

Suspende a lua dindin

Salve o Palhaço que está lá no meio da rua”

Em 1984, na inauguração da Sapucaí, nossa filha de Iansã comemora mais um título da sua Portela. O enredo foi o lendário “Contos de areia”.

Bahia, um encanto a mais…

Nilce já era passista da Portela, dominava a arte de sambar quando, em 1991, recebeu sua primeira oportunidade como dançarina profissional. Isso ocorreu na boate Plataforma 1, na zona sul. Começava ali a Nilce Fran dançarina e não somente sambista.

No ano seguinte, nossa filha de Iansã parte para a Europa, para trabalhar e aprimorar sua dança. O primeiro destino, Espanha. Nilce ainda dançaria na Itália.

Falando em Europa, uma passagem emblemática, a convite do bamba Marquinhos de Oswaldo Cruz, foi sua participação na trem do samba em Paris.

O mundo começa a conhecê-la, e ela começa a conhecer o mundo. Oswaldo Cruz ficou pequeno para ela.

Nossa passista reencontra e se emociona com suas origens afros quando aporta em Angola. Ali entende a importância da luta negra e a resistência de seu povo.

Os anos passam e nossa querida Coca cresce enquanto artista, ganha títulos, ganha nome no mundo da dança e muitas pessoas passam por sua vida. Umas vem e vão e outras chegam e ficam. Um notório que surge e caminha lado a lado é Valci Pelé. Sambista, dançarino e portelense que assume, ao lado de Nilce, a responsabilidade de conduzir a ala das passistas da Portela e modificar o jeito de uma escola de samba tratar o dançarino. A dupla Nilce e Valci entram para a história do samba e transcendem Oswaldo Cruz e Madureira.

O reconhecimento da artista e da figura histórica para a cultura do Rio de Janeiro é tão grande, que Nilce Fran carrega a tocha olímpica nos jogos do Rio de Janeiro em 2016.

O ano de 2017 é também um marco na história de nossa homenageada. Coca reassume a semente que seu pai plantou em 1970 e passa a participar mais de perto da nossa querida Rosa de Ouro. Nilce agora tem a responsabilidade de honrar o nome de Vanderlei Francisco.

Sua Portela é campeã após 33 anos de jejum! A felicidade volta em seu coração! Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar heim?

Cantam pastoras e lavadeiras, pra esquecer a dor

Tristeza foi embora, a correnteza levou

A história continua, não termina por aqui. Temos um mito vivo, trabalhando e continuando a trilhar sua trajetória. Até por aqui, a cinquentenária Rosa de Ouro tem muito orgulho de sua “Coca”. Filha do Vandeco, pés descalços na Cataguases e que a gente bate no peito e diz com muito orgulho que “a fábrica de mulatas” é nossa!

Autor: Ruan Morais de Lucena