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Cerveja: de Pão Líquido a Paixão Nacional (Império de Petrópolis - 2018)
Cerveja: de Pão Líquido a Paixão Nacional (Império de Petrópolis - 2018)

Por Laerte Gulini

APRESENTAÇÃO:

A cerveja é uma das bebidas alcoólicas mais antigas do mundo. Há indícios de que ela já era produzida desde 6000 a.C. pelas civilizações antigas do Egito, da Mesopotâmia e dos Sumérios. Não era necessariamente feita de trigo ou cevada, mas era fermentada com outros grãos. A bebida chegou no Brasil junto com a família real e a corte portuguesa, em 1808. Dizem que Dom João VI gostava muito de tomar cerveja e não podia ficar sem bebe-la.

JUSTIFICATIVA:

No Brasil, esse país tropical com clima tão perfeito, nós achamos que sabemos tudo sobre cerveja. O país do futebol também tem como tradição a bebida servida gelada em finais de semana de calor. Mas ainda existe muita história para contar acerca da cerveja. Depois da água e do chá, é a terceira bebida mais consumida do mundo e a mais popular entre as bebidas alcoólicas. Tanto que tem o Dia Mundial da Cerveja comemorado toda primeira sexta feira de agosto. A comemoração foi criada por Jesse Avshalomov e Evan Hamilton, dois amigos de San Francisco, na Califórnia (EUA), com o propósito de “unir o mundo para celebrar a cerveja”.

SINOPSE:

Abra uma cerveja que lá vem a história da bebida. Hoje paixão nacional, provas arqueológicas que iluminam a história da cerveja foram encontradas na Mesopotâmia, região onde os Sumérios formaram uma das mais antigas civilizações que cultivavam grãos. Produzidas pelos Gregos, que aprenderam com os Egípcios, é levado pelo Império Romano para a Gália, atual França. O Faraó Ramsés II tinha cervejarias enormes. Diz-se até que em textos egípcios existem cerca de 100 prescrições médicas pedindo cerveja. Esse povo sabia que uma cerveja por dia podia manter o sistema imunológico melhor. Sábios os egípcios, que tinham remédios muito melhores do que os que temos hoje. O Império Mesopotâmio nos deixou vários sinais da importância social da cerveja, particularmente no “Código de Hamurábi” escrito em 1730 ac: Os adulteradores de cerveja serão afogados em seus tonéis e obrigados a beber goela a baixo tanta cerveja até que sufoquem.

A cerveja parece ter sido acidentalmente descoberta por uma fermentação espontânea de cereais ou da própria massa do pão em contato com a água. Nesta época as mulheres eram responsáveis pela fabricação e distribuição da cerveja, consumida e valorizada na antiguidade. Bebida divina era oferecida aos Deuses como Ninkasi, a escolhida para referenciar a arte suméria de produzir cerveja.

Durante a Idade Média, a produção da cerveja se expandiu pelas mãos dos monges, que as produziam e distribuíam nos mosteiros para os hóspedes que por lá passavam, além de utilizarem-na como alimento durante o jejum, em que somente podiam consumir líquidos, daí uma das origens do termo “pão líquido”. Nessa época surge os Santos cervejeiros: São Patrício, São Lucas, São Nicolau, São Wenceslau e São Gallo. Mas Santo Agostinho é oficialmente considerado o Padroeiro dos cervejeiros. Também nessa época o cervejeiro que fizesse três cervejas boas em sequência era morto acusado de bruxaria.

A produção da cerveja no Brasil somente começou a tomar corpo com a fuga da Família Real Portuguesa para a Colônia e levou alguns anos para se popularizar. Mas tudo poderia ter sido diferente caso os holandeses não tivessem sido expulsos do país no século 17. Mauricio de Nassau chega ao Brasil com uma expedição holandesa a serviço da Companhia das Índias Orientais e desembarca no Nordeste. Sua comitiva trazia cientistas e artistas que abriram diversos empreendimentos na região de Pernambuco, entre elas a primeira cervejaria do Brasil. Quando os holandeses foram embora a cerveja foi com eles. Todos equipamentos e receitas foram levados pela expedição, o que apagou a bebida da história por cerca de 150 anos. Mas, com a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil, os portos da colônia são abertos e com isso as cervejas inglesas são importadas para o país.

O início da produção caseira/artesanal de cerveja no Brasil devemos aos imigrantes que aqui foram chegando no século 19. Neste período surgem as “Cervejas Marca Barbante”, produzidas no Brasil e comercializadas para o povo. O nome foi devido às garrafas possuírem um barbante que prendia a rolha, evitando que esta saísse com a alta pressão causada pela fermentação intensa, tal qual a “gaiola” na rolha da garrafa de champanhe.

Antes de 1850 a produção caseira era comum, mas atendia somente a família ou comunidade local e pequenas cervejarias artesanais surgiram neste período. Não demorou muito para que fusões acontecessem e cervejarias com escala industrial surgissem. A retomada da fabricação da cerveja no Brasil, foi registrada em 1830,com pequenas produções de imigrantes ingleses e alemães onde eram usados insumos como arroz, milho e trigo, já que era difícil conseguir cevada.

Até que o Alemão Kremer funda aquela que seria a primeira cervejaria imperial do Brasil, até hoje localizada na cidade imperial de Petrópolis, que consolida o gosto e faz acender a boemia na colônia.

Em 1888, surge quase que simultaneamente as duas maiores cervejarias do país. Uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo que começou como fábrica de gelo e passou a produzir cerveja em 1889.

Com as grandes guerras mundiais na Europa no início do século 20, a escassez de matéria-prima produzida no velho mundo atingiu também o país. Assim, os ingredientes locais que estavam à mão se tornaram ainda mais relevantes na produção das cervejas. Em 1967, uma nova cervejaria chega ao Brasil. Ela causou uma revolução em 1971, com a introdução das primeiras latas de cervejas, apesar de já ter no mundo desde 1935, primeiro em folhas de flandres, e depois introduziu as primeiras de alumínio em 1989. A década de 80 viu um boom econômico no Brasil que incentivou a indústria cervejeira, com o surgimento de micro cervejarias, choperias e aumento na oferta de estilos. Uma mudança significativa no mercado brasileiro e posteriormente mundial ocorreu em 1999 com a fusão das duas maiores e centenárias cervejarias do Brasil, criando a maior produtora de cerveja do país.

A cerveja também tem sua festa. O maior festival de cerveja do mundo, a OktobeerFest é realizada na cidade de Munique, na Alemanha. Mas a festa não começou por causa da bebida, e sim como uma celebração de casamento. Copiada em todo o mundo com imigrantes alemães, a festa tornou-se tradição e hoje é bem mais conhecida pelos milhões de litros de cerveja que são servidos a cada ano: 6 milhões, em média. As cervejas são classificadas por família e estilos. As famílias são Lagers, Ales e Sour. Dentro dessas três famílias existem mais de 150 estilos. A água representa praticamente 90% da base da cerveja e é essencial para o sabor da bebida. Tanto que muitas vezes é este o componente que caracteriza tipos de cerveja diferentes. A bebida é conhecida por proporcionar aos seus consumidores mais fieis a famosa “barriga de cerveja” ou “chopp”. Entretanto, estudos comprovam que a cerveja não é a responsável pela gordura localizada na região. Ela apenas interfere no aumento de gordura corporal total.

E assim, vamos bebemorar a cerveja, uma bebida milenar e uma das mais consumidas no mundo. Está na raiz da cultura ocidental, se mantendo relevante até hoje. Ela traz tradição, sabor, cultura, momentos de descontração, confraternização e encontro de pessoas. É uma bebida despretensiosa que pode ser consumida sem nenhuma pompa. A importância social da cerveja fez até surgir uma síndrome de nome engraçado e mais difícil de dizer para os cervejeiros, a Cenosilicafobia, a síndrome do medo de um copo vazio, que não suporta ouvir a palavra “saideira”. Portanto, na dúvida, que nossos copos estejam sempre cheios. Principalmente neste dia tão importante, de nosso desfile em dia de carnaval.