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Resistência
ENREDO 2020

Resistência

Ideias iluministas no ar, au revoir idade das trevas! Igualdade, liberdade, fraternidade passa a ser o lema na França de Luiz XVI, Rei que vivia luxuosamente, com sua corte se lambuzando em altos banquetes sustentados pelo povo miserável, massacrado pelos impostos. O povo exausto disso tudo, se une, toma-se a Bastilha ( prisão para onde eram enviados os opositores do Absolutismo francês e símbolo do Antigo Regime),iniciam a Revolução e por um período de 10 anos, lutam, resistem e conseguem derrubar o Rei, este sendo decapitado, assim como acabam com os privilégios da nobreza e do clero.

Reis, Rainhas, povo africano, tirados covardemente de suas terras, atravessam o mar, massacrados e açoitados para servirem aos senhores de terras brasileiros. Esse povo, com um histórico de luta, força e resistência não aceita calado a escravidão e resiste muito a ela, utilizando formas como fugas coletivas ou individuais, revoltas contra senhores ou feitores (por vezes eram assassinados), desobediência, incêndio nas plantações, criação dos Quilombos, salve o Quilombo dos Palmares, salve Zumbi dos Palmares! Por essa resistência africana em nossas terras, hoje temos a capoeira, pratos de nossa culinária, festas populares, crenças religiosas, instrumentos musicais. A transmissão de seus valores culturais talvez seja a mais importante forma de resistência dos africanos, que não se renderam aos padrões que lhes foram impostos. Esse povo ajudou a construir nossa nação, nossa gente e não podemos pensar em nossa cultura hoje em dia sem reverenciá-los.
 
Nessa terra em que tudo da, vemos muita resistência desse povo guerreiro e aguerrido, nossos primeiros habitantes, os índios, que não resistiram pacificamente ao domínio europeu como muitos pensam, utilizando fugas, guerras e a manutenção de sua cultura como forma de resistência.

Na Conjuração baiana, em 1798, a população pobre sofria com o aumento do custo de vida, com a escassez de alimentos e com o preconceito racial, assim se revolta contra o governo, saques foram feitos, a forca (símbolo do poder colonial) é queimada. Reivindicavam respeito às pessoas independentemente da cor, libertação dos escravos, a instauração de uma República na Bahia com um governo igualitário.

Também em solo baiano, em 1835, ocorre a Revolta dos Malês, onde escravos islâmicos lutam contra o governo local, reivindicando o fim da escravidão e a imposição da religião católica.

A Cabanagem ocorreu na província do Grão-Para, onde compreende ou atuais Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia. Ocorreu entre 1835 e 1840 e tinha como objetivo a independência da Região e melhores condições de vida da população.

A Balaiada foi uma reação e uma luta do povo maranhense contra injustiças praticadas por elites políticas e as desigualdades sociais que assolavam o Maranhão do século XIX, a luta popular por melhores condições de vida, durou entre 1838 e 1841 e contou com a participação de vaqueiros, escravos e outros desfavorecidos.

Com isso destacamos algumas lutas que tivemos no período colonial e imperial, que surgiram por reivindicações do povo por melhores condições de vida e liberdade, e mesmo no fim não tendo tido êxito, devido o poderio da coroa, a luta e resistência por seus ideais do povo e lideranças nos combates, merecem destaque.

Novos tempos, chega a República! E com ela floresce a luta e resistência do povo por suas reivindicações.

Temos na Guerra de Canudos, Antônio Conselheiro como seu grande líder, ele lutou pelas injustiças sociais no sertão da Bahia, pregando palavras de fé e justiça, atraindo assim, muitos sertanejos que se identificavam com a mensagem por ele proferida. Com o aumento de seus seguidores e sua mensagem de fé e resistência se espalhando pela região, ele leva seus seguidores para uma comunidade chamada Belo Monte, às margens do Rio Vaza-Barris, em 1893, por ser um lugar livre dos mandos do poder vigente, Canudos, nome dado pelos opositores, passa a ser um incomodo para os mesmos e o povo de canudos vai resistir e lutar contra o governo por liberdade e melhores condições de vida, a Guerra de Canudos durou entre os anos de 1893 e 1897.

A Revolta da Vacina foi uma rebelião popular contra a vacina anti-varíola, ocorrida no Rio de Janeiro, em novembro de 1904. As ruas do Rio de Janeiro na época eram tomadas por lixo e ratos, a cidade era insalubre e diversas doenças como a peste bulbônica e febre amarela se instalaram. Pereira Passos prefeito da cidade e Oswaldo Cruz diretor da Saúde Pública dão inicio a uma série de mudanças na Cidade para por fim a essa situação caótica, cortiços são demolidos, com isso os trabalhadores são expulsos das cidades, iniciando a formação das favelas. A vacinação era obrigatória, casas passam a ser invadidas, para descontentamento da população, esse fato sendo somado aos problemas de moradia e ao elevado custo de vida, resultaram na Revolta da Vacina. Entre 10 e 16 de novembro de 1904, as camadas populares do Rio de Janeiro saíram ás ruas para enfrentar os agentes da Saúde Pública e a polícia. O centro do Rio de Janeiro foi transformado numa praça de guerra com bondes derrubados, edifícios depredados e muita confusão na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco). Por fim, a vacinação passou a ser facultativa.
 
Já na revolta da chibata, membros do baixo escalão da marinha, geralmente formado por negros e mestiços eram chibatados por seus superiores, como forma de punição. Podemos a considerar como uma revolta estimulada além dos castigos físicos, pela luta contra a desigualdade social e racial, exercida pela marinha e pela sociedade como um todo. A Revolta da Chibata iniciou-se no dia 22 de novembro de 1910, liderados por João Cândido, conhecido como o almirante negro, os marujos lutam e resistem bravamente contra o governo. A revolta teve fim no dia 26 de Novembro do mesmo ano.

A guerra do contestado ocorreu na região localizada entre os Estados de São Paulo e Santa Catarina, chamada Contestado. Era uma região rica em madeira, sendo assim os grandes proprietários expulsavam os agregados e roceiros para exploração da terra, para piorar, construiu-se na região uma ferrovia interligando os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, dessa forma houve mais desapropriações e milhares de famílias ficaram sem suas terras. Com essa situação, diversos profetas, beatos e “monges” apareceram pregando ideais de justiça, paz e comunhão que seriam estabelecidos em um movimento de inspiração religiosa, além de pregarem contra os mandos e desmandos do governo. Um famoso beato e líder na região foi José Maria, criando a comunidade de quadrado santo, onde praticavam agricultura e roubavam gado. O governo preocupado com isso inicia uma série de batalhas contra os sertanejos, que resistiram bravamente, a guerra durou de 1912 a 1916.

Mais uma vez, o poderio do governo faz com que tenha maior êxito nas batalhas, mas a luta por seus ideais, garra e resistência do povo, merece nossos aplausos e reconhecimento.

Já o período militar foi marcado por ser um período no Brasil em que houve os atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar. Nesse período que durou entre 1964 e 1985, grupos armados se formaram em repressão ao governo, estudantes e membros da sociedade iam às ruas lutarem por seus direitos, sendo reprimidos, foi um período de tortura e morte aos opositores, mas graças à resistência e força de quem foi de aço nos anos de chumbo, hoje vivemos em democracia, cada sangue e suor derramados, valeram a pena!

O movimento “Diretas Já” foi um movimento político de cunho popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil. Contou com a participação de partidos políticos, representantes da sociedade civil, artistas e intelectuais. O movimento começou em Maio de 1983 e terminou em 1984, mobilizando milhões de pessoas em comícios e passeatas. Nele o povo mostrou sua vontade pela volta da democracia e eleição direta para presidente, mesmo esse direito só tendo retornado em 1989, 29 anos depois da escolha do último presidente por voto popular, a pressão do povo em mostrar sua vontade, resistindo em favor da democracia fez efeito.

No fora Collor, o Presidente da República Fernando Collor de Mello havia sido acusado de corrupção e esquemas ilegais em seu governo e a cada dia que passava surgia a revelação de novos escândalos, isso faz com que os jovens vão ás ruas reivindicar a saída do Presidente, com os rostos pintados e o slogan “Fora Collor”. Pressionado pela população e sem o apoio do congresso, ele renuncia ao cargo.

Passeando pelo mundo, vemos grandes líderes e lideranças que demostraram muita garra e resistência a fim de lutarem pelo seu povo.
Mahatma Gandhi foi um notável ativista indiano que contribuiu para a independência da Índia e participou da luta contra o fim do colonialismo inglês. Utilizou a resistência pacífica como forma de reivindicação, conseguindo mudanças sem o uso da violência.

Martin Luther King Jr. foi um pastor batista e um dos principais líderes negros na luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos. Também não utilizou de violência para reivindicar os direitos civis dos negros dos EUA, tendo Mahatma Gandhi como inspiração, resistindo de forma pacífica.
Nelson Rolihlahla Mandela foi o principal líder político da história da África do Sul e um dos grandes nomes mundiais na luta contra a opressão racial. Ele lutou durante grande parte de sua vida contra o regime racista e segregacionista do apartheid na África do Sul. Em decorrência dessa luta, foi preso e mantido em cárcere por 27 anos. Resistiu e com uma linda mensagem de esperança ao mundo, depois de ser preso por esse longo período, se torna o Presidente da República da África do Sul.
Marielle Franco, política brasileira que virou símbolo de resistência mundial, brutalmente assassinada por defender e lutar pelas minorias e pelos direitos humanos.

Hoje aqui no Brasil, temos aqui a resistência do nosso dia a dia.
O negro com sua mancha de sangue após mais de 400 anos de escravidão, resistindo diariamente ao preconceito, humilhações e mostrando sua força e poder.

As mulheres que dia após dia devem mostrar que ter o sexo diferente dos homens não diminui sua capacidade.

Os LGBTs, que resistem e lutam todos os dias para serem aceitos e respeitados, não sendo julgados por sua sexualidade.

Ao pobre, morador de comunidade, que acorda cedo, dando seu suor para garantir o sustento de sua família, resistindo ao preconceito e exploração.

Ao carnaval, que após diversos anos, volta a mostrar em peso seus enredos destinados a crítica e resistência ao governo vigente, no ano de 2020.
Vamos voltar para um tempo e lugar distantes, nos unir, lutar, resistir e esbravejar: Igualdade, liberdade, fraternidade!

Thiago Henrique