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Sinopse Gaviões Imperiais 2011
Deixe passar na avenida os versos de um caboclo sonhador


Autor do Enredo:
Murilo Duarte


Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é minha busca.
(Miguel de Cervantes Saavedra)

Os dias de calor passam serenos, sem transpirar nenhuma emoção.

Rezas de chuva, preces aos santos. A espera de um céu escuro no dia de São Sebastião é tortura infinita que dá alegria ano sim, ano não.

E os filhos que o caboclo tanto sonhou em ter... e o pouco gado leiteiro... e a pequena plantação... perecem todos: gente, animal, planta, sob os fortes raios do sol no brejal.

“O Rio de Janeiro continua lindo!”, ouvia-se quase sempre da velha televisão. Ela, que era talvez, uma janela para o mundo.

Talvez. Talvez valha a pena ir pra lá.

(Linguagem de cordel e repente)
A partida sonhada, de te ver feliz, meu Rio de Janeiro, foi tudo o que eu quis. Se sou gente pobre, reúno “meus cobre”, coração tão nobre deseja chegar.

Tão longo o caminho, cruzeiro na estrada, deixaram o brejinho pra não mais voltar. E agora meu canto, de dor e de pranto, reflete a saudade dos que lá deixei; aqui tem maldade, sem tom de irmandade, sou menos, sou nada, se sou eu não sei.

E o bicho da fome, nem pergunta o nome, assola esse homem, que quer trabalhar; de novo a maldade, quer ser caridade, tal facilidade eu não quero aceitar... com honestidade e simplicidade a minha verdade é crescer sem matar.

A voz que eu escuto, sotaque matuto, mas sempre astuto, do filho que é meu, pelo telefone, menino que é homem, fez rolar o choro da dor que me deu.

Tão grande o lugar, meu barraco uma mansão, mesmo que o sol brilhe, é escuridão. E eu pego o tercinho, rezo pu pradrinho, que por caridade, me ajude a viver!
(Calam-se os violões)

Tum!

Tum!
(batidas de um surdo)

O anúncio no jornal dizia: precisa-se se trabalhadores - Procurar o barracão da escola de samba.

Um mundo novo, por assim dizer.

Sempre fui operário desempregado de uma fábrica de sonhos, mas não sei dizer se o sonho era de ferro, de fibra ou de isopor.

Sei somente que fantasiei cavalos rampantes, em devaneios daqueles dos mais delirantes com quadrilhas de São João. Ser rei dessa gente, que samba contente, das penas do galo fazer um cocar.

Se o forró é bamba, sanfona de samba, muita gente do carnaval veio foi de lá.

(Na noite, acendem-se as luzes da João Jorge 30)
(Ecoam um, dois, três, dez, incontáveis tamborins)

Povo nordestino que se congrega no desfile das multidões.

Povo nordestino que sonha também.

Este desfile é pros que vieram de tão longe, plantar esperança de melhorar no meio do chão de um barracão, nascedouro desta festa popular.

“Sou um caboclo sonhador
Meu sinhô, viu?
Não queira mudar meu verso
Se é assim não tem conversa
Meu regresso para o brejo
Diminui a minha reza

Coração tão sertanejo
Vê como anda plangente o meu olhar
Mergulhado nos becos do meu passado
Perdido na imensidão desse lugar
Ao lembrar-me das bravuras de neném
Perguntar-me a todo instante por Bahia
Neca e Quinha, como vão? Tá tudo bem?
Meu canto é tanto quanto canta o sabiá.

Sou devoto do Padre Ciço Romão
Sou tiete do nosso rei do cangaço
Em meu regaço culminado em pensamento
Em meu rebento sedento eu quero chegar

Deixe que eu cante cantigas de ninar
Abram alas para o novo cantador
Deixem meu verso passar na avenida
Um forró fiado tão da bexiga de bom.”
(Maciel Melo)