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Ave Maria no Morro: Uma oração de Fé para o Povo do Brasil
SINOPSE ENREDO 2017

Ave Maria no Morro: Uma oração de Fé para o Povo do Brasil



Justificativa

“Para o povo, Deus não é um problema mas uma solução de seus problemas e o sentido derradeiro de seu viver e de seu morrer. Ele sente Deus acompanhando seus passos (…)” (LEONARDO BOFF)

A palavra “Fé”: Dentre os seus mais diversos significados, existe um que se destaca, e é justamente o mais antigo deles – na Bíblia, no capítulo de Hebreus, é dito que: “A fé é a certeza de que as coisas que acreditamos irão acontecer”.

O povo brasileiro é marcado pela fé. Mesmo os primeiros habitantes, os índios, ainda que não tivessem um conceito claro de divindade, menos ainda o de cultuar publicamente um deus único, certamente tenderam a um monoteísmo implícito na figura de um Ser Superior.

Ao longo da história do Brasil, vemos diversos exemplos da força do povo brasileiro. Os pobres, oprimidos e segregados, ampararam-se na fé para vencer todas as barreiras que iam aparecendo, seja o negro escravizado, vindo da África, seja o nordestino buscando na fé forças para lutar contra o chão árido, seja a voz do favelado buscando nas grandes cidades uma vida melhor.

Salve, Nossa Senhora dos Morros!

Nosso enredo é uma história de fé. Uma história de superação e emoção!

Amém!

SETOR 1 – A FÉ DO ÍNDIO

Tupi e Guarani, segundo uma lenda antiga, eram dois irmãos que chegaram ao Brasil e com seus filhos povoaram o território. No entanto, com o passar do tempo, os dois irmãos desentenderam-se por culpa de um papagaio falador. Tupi ficou no litoral e Guarani emigrou para o Sul, desbravando o Paraguai.

Os antropólogos, no entanto, defendem que esta movimentação humana, na verdade, ocorreu porque os Tupis acreditavam num “Paraíso”, numa terra-sem-mal. Segundo um mito recolhido entre os Apapocuvas, Nyanderuvusu criou o mundo junto a sua mulher, Nyandesy, que foi devorada por uma onça.

Nyandesy, no entanto, continuaria a viver na ‘terra-sem-mal’. Como já se vê, mesmo antes da chegada do homem-branco, já havia a concepção do paraíso e a existência de um ser superior, criador – no caso, Nyanderuvusu.

E por conta desta fé, os Tupi povoaram todo o litoral brasileiro, em busca desta ‘terra-sem-mal’.

SETOR 2 – A CHEGADA DO HOMEM BRANCO E DO NEGRO

Os portugueses chegaram ao Brasil e quatro dias depois, em 26 de abril de 1500, rezaram a primeira missa. Durante a colonização, construíram as missões, onde jesuítas disseminaram a fé católica.

No entanto, a formação do povo brasileiro não seria tão simples. Apesar dos ensinamentos de paz e amor do cristianismo, a injustiça e a opressão por parte dos poderosos fez com que os índios fossem subjugados. Além disso, trouxe de além mar seres humanos para serem escravos – os negros, vindos de África distante, que chegaram com sua fé como escudo contra a dor e o sofrimento.

Nas senzalas, diante do açoite, da dor e do sofrimento, os negros nunca desistiram da sua luta. Contra as mais cruéis formas de tortura, os escravos se ajoelhavam todos os dias pedindo mais força para seguir naquela batalha. Trazidos em porões de navios, acorrentados e sem água ou comida, nunca deixaram de acreditar. Havia esperança e fé! Eles sabiam que a luta de cada dia não seria em vão. Esta fé nunca foi abalada, e a vitória foi amparada pela força de acreditar! Acreditar que era possível um futuro melhor!

SETOR 3 – A FÉ POPULAR

“Cada ser humano pode ser um incorporador eventual da divindade em benefício dos outros. Negados socialmente, desprezados politicamente, perseguidos religiosamente, as religiões afro-brasileiras devolveram auto-estima à população negra, ao afirmar que os orixás africanos os enviaram a estas terras para ajudar os necessitados e para impregnar de axé (energia cósmica e sagrada) os ares do Brasil. Apesar de escravos cumpriam uma missão transcendente e de grande significação histórica.

Foram os negros e os indígenas que conferiram e conferem uma marca mística à alma brasileira. Todos se sabem acompanhados pelos santos e santas fortes, pelos orixás, pelo Preto Velho (umbanda) e pela mão providente de Deus que não deixa que tudo se perca e se frustre definitivamente. Para tudo há jeito e existe uma saída benfazeja. Por isso há leveza, humor, sentido de festa em todas as manifestações populares.” (LEONARDO BOFF)

E foi a partir disso, das trocas entre índios, brancos e negros, que surgiu esta fé genuinamente brasileira, que os especialistas chamam de “cristianismo popular”. Por exemplo, e talvez o mais conhecido caso de sincretismo, é a fé em São Jorge, que corresponde a Ogum, nas religiões de matriz africana.

Câmara Cascudo em sua “Literatura oral no Brasil” esclarece que, das festas portuguesas vieram os “santos e romeiros”. A Folia de Reis representa a visita que o menino Jesus recebeu dos três reis magos, Melchior, Baltasar e Gaspar, um dia após seu nascimento. Os donos das casas recebem os integrantes da folia, que executam modas de viola e danças como a catira e o cateretê.

A Festa do Divino celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e a Virgem Maria. As festas Juninas celebram São João, São Pedro e Santo Antonio. Não se esquecendo nunca de Nossa Senhora Aparecida, que emergiu das águas, ganhou devotos, e se tornou a padroeira do Brasil.

SETOR 4 – A FÉ NO NORDESTE

O Brasil, mais especificamente o Nordeste, é um santuário de procissões e louvores. Terra de gente sofrida, do solo rachado, das mãos calejadas!

Inúmeras são as procissões em agradecimento. Cada gota de chuva que rega o chão, merece um agradecimento, uma oração. A comida que é servida, vem sempre acompanhada de uma reza.

De joelhos, em um altar da igreja, ou em louvação nas praças, o povo do Nordeste é sempre muito agradecido aos seus santos. No Nordeste, outras manifestações de fé estão presentes como o Círio de Nazaré, a festa do Bom Jesus dos Navegantes e a Lavagem do Senhor do Bonfim. E não poderia deixar de ser assim. No chão rachado, seco do Sertão, só a fé leva adiante. Os pagadores de promessas, como o do filme de Dias Gomes, são figuras facilmente encontráveis. O nordestino confia no “Padim Ciço” para a vida melhorar.

SETOR 5 – A FÉ NAS FAVELAS E O AVE MARIA À NOSSA SENHORA DO MORRO

Foi no Nordeste também que ocorreu a Guerra de Canudos, onde a fé levou milhares a seguir Antônio Conselheiro numa batalha louca contra o Império. Os soldados que combateram em Canudos foram para os centros do Sul e acabaram criando as favelas, onde retirantes, em busca de uma vida melhor, chegavam e se instalavam.

Para simbolizar a fé do povo do morro, Herivelto Martins criou a música “Ave Maria no Morro”.

Subindo os morros e favelas, sempre veremos a força e a vontade de sobreviver, a luta diária contra as mais diversas formas de perigo que rodeiam essa gente tão sofrida. Mas essa gente sempre leva um sorriso no rosto, um bom humor invejável e muita fé na vitória! Quantas histórias de esperança e vitória contaríamos em meio aos barracos de zinco de um morro?

E a Fazendo Arti acredita nisso! Acredita que há e sempre haverá uma fé dentro do coração de cada um.

Por isso, no aniversário de 300 anos da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, tão louvada e venerada no nosso país, apresentamos a nossa santa e a de todos aqueles que têm fé em um amanhã melhor.

Negra, descalça, com sua coroa de zinco e seu manto sagrado da favela, um salve para Nossa Senhora dos Morros, a padroeira deste desfile.

A nossa procissão seguirá para a eternidade, mostrando a luta, a força, a vitória e a FÉ. A mais pura forma de se acreditar que haverá sempre um ponto final mais bonito em cada nova história.

Amém, Nossa Senhora dos Morros.
Ave Maria.
Fé.

Autor do Enredo: Thiago Morganti