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Ó abre alas que eu quero passar...
ENREDO 2013

Ó abre alas que eu quero passar...

SINOPSE

Pegando carona na célebre marchinha de carnaval composta em 1899 por Chiquinha Gonzaga, a vocês vou me apresentar. Viajando nas asas do abutre, que alça voo numa história milenar para contar a minha origem e minhas manifestações, desde a Antiguidade, onde danças e cânticos em volta de uma fogueira celebravam a chegada da primavera e do sol após catastróficas enchentes e o inverno rigoroso. Atravessarei, no Velho Mundo, as trevas da Idade Média e da Inquisição, chegando ao Renascimento, que me teatralizou. Cruzando o mar vindo de terras lusitanas, cheguei ao Novo Mundo, por conta da vinda da família real portuguesa, fugida pelo temor da invasão de um certo Napoleão Bonaparte. O Rio de Janeiro, capital tropical da nova corte, necessitava de cultura, e com a inserção de costumes europeus ao elemento negro, mesclados aos crescentes ideais republicanos e abolicionistas, fui me fortalecendo e criei uma identidade própria. Espalhei-me pelo país e incorporei características de cada região desse imenso torrão. O espírito jocoso e festeiro do brasileiro me fez crescer tanto que hoje arrasto multidões de norte a sul desse país. Ganhei ares de espetáculo, cheguei ao mundo virtual e hoje sou considerado o maior espetáculo da terra.

Os primórdios

As minhas origens remontam aos cultos pagãos dedicados à agricultura na Antiguidade, verdadeiras festas do povo, onde as convenções sociais eram superadas pela alegria e delírio coletivos. Assim ocorria na Grécia com as dionisíacas, festas regadas a muito vinho, que levavam multidões às ruas, todos os anos; em Roma, ocorriam as Saturnálias, festejos em honra ao deus Saturno - que de acordo com a lenda, ensinou a agricultura aos romanos -, nos quais a população saía às ruas celebrando o término das convenções sociais e os escravos, neste período, eram considerados homens livres e, como homens livres, podiam falar o que quisessem, e diziam poucas e boas aos seus donos; em Mênfis, por sua vez, minha essência já se fazia presente nos gigantescos cortejos que exaltavam Ísis, a deusa da agricultura e o Boi Ápis, animal sagrado, no qual encarnava o deus Ptah.

O fortalecimento do carnaval no Velho Mundo

Durante a Idade Média, o cristianismo não fez desaparecerem por completo as tradições pagãs, embora muitos teólogos cristãos me condenassem veementemente. Os Concílios de Niceia e de Trento discutiram e decidiram meu rumo, porém, não condenaram as festas populares de origem pagã por acharem que elas não tinham essência pecaminosa, pois representavam "o espírito sadio da festa". E assim minha alegria foi incorporada ao calendário oficial pelo papa Gregório XIII. Passei, então, a ser visto como um momento de entrega aos excessos antes do período de privações da Quaresma. Fui chamado de "Folia dos Loucos" e, quem diria, organizado por elementos do próprio clero. As portas que foram abertas pela igreja ajudaram a me fortalecer na Europa, onde, sem a objeção da Igreja, ganhei mais brilho em cidades monumentais como Veneza, Nuremberg e Nice. Na Itália, já no fim da Idade Média, os ideais renascentistas me influenciaram de tal modo, que, através do teatro, a Companhia Italiana Comédia Dell’Arte me proporcionou grandes personagens, como o arlequim, a colombina e o pierrô, estilizados nos famosos bailes de máscaras de Veneza. Ainda inspirei o entrudo, conjunto de festas populares que ocorria em vários países da Europa, muitas vezes através de manifestações de violência retratadas em batalhas de gesso e de água, com destaque para Portugal, de onde cruzei o mar, sendo trazido ao Brasil, ainda na época colonial.

Aportando em terras brasileiras

Aqui chegando, principalmente por meio do entrudo, fui logo abraçado pelo povo, já que desde a época da colônia, procurava-se por estas terras criar grandes festas e eventos para distrair a população. Foliões fantasiados, principalmente escravos e as camadas mais pobres, se divertiam com água, farinha e limões de cheiro. Com a vinda da família real portuguesa em 1808, os portugueses trouxeram também outras práticas carnavalescas para a cidade do Rio de Janeiro, nova residência da corte imperial. Assim, brinquei na Serração da Velha, semente embrionária do carnaval carioca, o qual, por sua vez, se confunde com a própria história do carnaval brasileiro, e mais tarde se torna um dos maiores símbolos da identidade nacional. O Zé Pereira introduziu uma batida de bumbos e tambores:

- "E viva o Zé Pereira, viva o Zé Pereira, viva o Zé Pereira, que não faz mal a ninguém! Viva a bebedeira, Viva a bebedeira, Viva a bebedeira, Nos dias de Carnaval!"

A canção era uma paródia a uma marchinha francesa e é vista como a primeira tentativa de canção do carnaval carioca. No final do século XIX, os ideais abolicionistas e republicanos afloravam a mil e influenciaram as grandes sociedades, que surgiram em 1855 e foram anunciadas por José de Alencar no jornal Correio Mercantil. O luxo e a riqueza das sociedades encantaram inclusive o imperador D. Pedro II e fizeram brotar um carnaval mais alegre e bem-humorado no seio da sociedade. E assim foram surgindo ranchos, blocos, cordões e bailes, caracterizando diversas manifestações populares que se desenvolveram entre o fim da monarquia e o início da república. Na antiga Avenida Central, o Corso, um desfile de automóveis em que seus motoristas e passageiros faziam verdadeiras batalhas de confetes, serpentinas e lança-perfumes, foi a minha maior atração já no início do século XX.

A influência do negro populariza a festa

No Rio de Janeiro, meus aspectos tipicamente europeus se mesclaram com os costumes do negro, os quais, desde a época da escravidão, nunca deixaram de preservar as suas tradições culturais como o semba, que, misturando-se com tipos musicais característicos do meio urbano carioca, como a polca e o maxixe, deram origem ao samba, que se espalhou pelo país por meio de sucessos como "Pelo Telefone", de Donga e Mauro de Almeida, considerada a primeira composição classificada como samba e que marca o início do reinado da canção carnavalesca. Os blocos, cordões e o surgimento do samba carioca nesta época, com a participação de negros, mulatos e brancos humildes me deixaram com uma feição bastante popular. Em 1927, o bloco da "Deixa Falar", fundado no bairro do Estácio de Sá, gerou o formato de samba-enredo a ser cantado pelas ruas da cidade. Para serem mais respeitados, os blocos evoluíram e se transformaram em escolas de samba, dentre as quais destacamos Mangueira, Vai como Pode (Portela), Vizinha Faladeira e Unidos da Tijuca, campeãs na década de 1930, quando foram realizados os primeiros desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Com o passar dos anosos desfiles evoluíram e este gênero musical, tão influenciado pelo batuque do negro vindo de além-mar,se estabeleceria como símbolo da cultural nacional.

A consagração da festa popular pelo país

De norte a sul do país, me espalhei e me adaptei de acordo com as características de cada região. Todos os anos milhões de brasileiros e de estrangeiros tomam as ruas das grandes cidades onde arrasto multidões durante os dias de folia. Em Pernambuco, as ruas de Olinda fervem ao som do frevo, dos bonecos gigantes, dos quais se destaca o Homem da Meia-Noite, e o maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada, arrasta 1,5 milhão de pessoas para o centro de Recife.Na Bahia, os trios elétricos criados pelos amigos Dodô e Osmar arrastam dois milhões de foliões que desfilam como "pipocas" ou com seus abadás na cidade de Salvador, ao som de muito axé e afoxé. No Rio de Janeiro, a festa popular que toma as ruas do centro é o Cordão da Bola Preta, o bloco carioca mais tradicional, cujos foliões se vestem com roupas brancas e bolas pretas. Mas de norte a sul, seja no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Florianópolis, Brasília ou até em Uruguaiana, a festa que mais atrai foliões e turistas e me deu a fama de maior espetáculo da terra é o desfile das escolas de samba e que tem na Avenida Marquês de Sapucaí o seu ponto alto.Mas, como tudo evolui, eu também me rendi à modernidade e ultrapassei as barreiras da realidade, embarcando no mundo virtual, e há uma década desfilo criatividade e alegria na passarela virtual, num carnaval democrático e popular, que pode ser vivido o ano inteiro. Muito prazer, eu sou o carnaval! E hoje me visto de azul, vermelho e branco, as cores do Cupincha de Campo Grande, que esta noite me presta a sua homenagem na Passarela João Jorge Trinta.

SINOPSE AOS COMPOSITORES

O abutre alça vôo numa história milenar
Onde o sol e a primavera faziam o povo delirar
Viva Ísis, o Boi Ápis, a fertilidade agrária!
Viva o vinho, Dionísio e as Saturnálias!

No Velho Mundo, na Idade Média,
Nem a inquisição me calou
Antes da quaresma até o Papa
À "Folia dos Loucos" se entregou

Personagens, mascarados, nesta onda de folia
Ideais renascentistas, a Comédia dell’Arte consagrou
Arlequins, pierrôs e colombinas
Nuremberg, Nice e Veneza, o carnaval imortalizou

Na magia do intrudo, brinquei e inspirei
E o período colonial atravessei
Na Serração da Velha a semente aqui plantei
Cruzando o mar aqui cheguei

Confete, serpentina e limão de cheiro
A corte cai na brincadeira
Blocos, corsos e cordões
Viva o Zé Pereira! Viva a bebedeira!

Da cultura européia com o batuque do negro
A voz do morro simboliza essa cultura
"Pelo telefone", "Deixa Falar"
O samba se originou dessa mistura

Em Pernambuco tem o frevo
E o Galo da Madrugada
No Rio a "Bola é Preta"
Salvador tem Timbalada

Na Marquês de Sapucaí, ou de norte a sul deste país
O desfile das escolas de samba é o ponto alto do carnaval
Nesta noite de alegria o Cupincha de Campo Grande
Também presta sua homenagem ao carnaval virtual
 
GRESV CUPINCHA DE CAMPO GRANDE - DIREÇÃO DE CARNAVAL