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Sinopse Caprichosos 2011
Gente Humilde (Caprichosos - 2011)

Bota - Abaixo e Passa - Fora!

Final do século XIX, fim da escravidão no Brasil: cada negro livre, porém sem trabalho e sem moradia.

O cenário do centro da cidade do Rio de Janeiro era de superpopulação, com ruas estreitas e muito trânsito vindo do porto.

O Poder Público, com o apoio Federal, (já naquela época) sem saída para os problemas desse caos urbano e, junto a isso, um surto de epidemias... O que fazer? A solução encontrada foi demolir as moradias. "Cabeças de porco", cortiços, oficinas de fundo de quintal, ou seja, afastando a classe menos favorecida do Centro para uma reforma sanitária e urbana (inspirada na arquitetura e urbanismo Franceses); dando início, assim, ao famoso "bota abaixo".

Surge, então, a ocupação das Freguesias que, pouco a pouco, vão se transformando em bairros urbanos com a extensão das linhas ferroviárias para a locomoção dos trabalhadores ao Centro da Cidade. E nasce assim o subúrbio carioca, com uma identidade própria, dentro de uma cidade considerada a capital cultural do país.

Cada um no seu quadrado

Hoje, na mesma ferrovia, voltando do trabalho, comecei a imaginar como as coisas no subúrbio mudaram ou se perderam com o passar dos anos. Sou suburbano sim, moro logo ali, num lugar para onde Cristo ficou de costas. Por que será? Por que não projetaram também um giratório nele? Deixaram-no olhando para o lado de lá, mas... Tudo bem, isso não vem ao caso, sei que Ele também olha por nós. Do outro lado, lugar onde vivo, existe um povo feliz e que luta como se o amanhã só dependesse dele mesmo. "É... Lá a chapa é quente... E que futuro pode ter toda essa gente?" (Como dizia o poeta). Será que o mapa anda meio desbotado justamente na parte onde moro?

Onde moro não tem turistas, não tem famosos, e nem sai fotos nas revistas... Mas nos jornais sim, ah isso sai e muito... Também, da forma que a violência vem crescendo!!! Precisamos combate-la, e isso é fato! Mas será que o tal "carro de aço" que sobre o morro para extinguir o mal, não poderia ter também um acoplado a reboque que levasse educação, saúde e alimentação? Poderíamos ter menos foras da lei.

"Para suburbano, pouca comida, e de sobremesa bala perdida"

As coisas por aqui estão muito diferentes. Os cinemas eram as grandes salas dos bairros, pomposas por sinal, com cadeiras aveludadas, grandes escadarias e a famosa lojinha de pipoca na entrada. Hoje são nos shoppings e as antigas são usadas para "outros fins"... E com direito a "sacolinhas"!

Mas hoje existem também os "sacolões", forma carinhosa que chamamos os hortifrutis. Em todo canto tem um. Comerciantes vão ao Ceasa e compram produtos para revender em seus estabelecimentos. É a necessidade dando lugar à criatividade que invade o mercado.

E por falar em mercado, o de Madureira hoje é considerado o "Shopping da fé". Atualmente, ele é responsável pela maior venda de produtos religiosos da cidade. Uma promessinha aqui, uma macumbinha ali... Afinal, aqui vive um povo que, apesar de esquecido, traz em sua crença a esperança de construir um futuro melhor.

"... Esqueceram de mim"

Já que foram construídas vias de tudo que é cor, cavaram túneis, encurtaram distâncias, mas tudo isso só serviu para vermos mais de perto o que não temos. Não poderiam ter construído mais caminhos que nos levassem à igualdade social?

A originalidade está sendo posta de lado. Não posso mais sair pelas ruas sem a preocupação de encontrar os ditadores de tendências de moda pelas esquinas. As crianças não brincam mais pelas calçadas, não soltam pipas, quase não jogam mais futebol e não sonham mais em ser um craque da bola. Hoje não temos mais aquele famoso festival de pelada com direito a raspa-raspa de groselha, onde nasceram grandes craques internacionalmente conhecidos. Quantas seleções formaríamos só com os craques revelados do subúrbio?

Muita coisa mudou. Nos almoços de domingo era sagrada aquela galinha caipira preparada com tanto carinho pela minha mãe. Lembro que os vizinhos se reuniam para conversar até altas horas, amigos jogavam dominó ou sueca pelos bares, enquanto "molhavam a palavra numa boa". Mas criaram uma lei que secou do lado de cá, pois ninguém bebe no subúrbio morando na Zona Sul. Certas coisas só aconteciam no subúrbio como, por exemplo, pintar a casa no natal, usando o 13º salário. Existia um certo orgulho do lugar onde morávamos. Eram "casas simples, com cadeiras na calçada, e na fachada escrito em cima que é um lar".

... Mas o sol brilha para todos!

Na luz do amanhecer, nasce também a esperança de cada dia de uma gente forte e que, apesar de tudo, continua alegre e festeira, "sacudindo a poeira suada da luta e fazendo a brincadeira"! Esse é o povo que sempre buscou em coisas aparentemente simples uma forma de ser feliz. Inventou ou preservou festas, descobriu também nos blocos carnavalescos de rua que a desorganização era a tônica da coisa e, com fantasias e instrumentos improvisados, mostravam a marca do nosso humor.

E hoje grandes Escolas de Samba, também oriundas do subúrbio, fazem parte de uma cultura das maiores festas do mundo. Afinal, o nosso carnaval faz parte do patrimônio cultural do Rio de Janeiro e isso nunca pode acabar! Vamos resgatar o que perdemos e preservar o que nos resta de bom. Pois vejo raiar o sol de dias melhores...

... E eu que creio peço a Deus por minha gente, é gente humilde!

Enredo: Amauri Santos e Paulinho do Ouro
Pesquisa: Luiz Carlos Máximo