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Tire sua Mordaça do Caminho... Que eu quero Gritar a minha Cor... (Unidos do Cabuçu - 2014)
Tire sua Mordaça do Caminho... Que eu quero Gritar a minha Cor... (Unidos do Cabuçu - 2014)

SINOPSE

Por volta de 2000 a.c., os primeiros povos chamados de Bantus partiram do sudeste da atual Nigéria e se expandiram por todo o sul da África. Eram povos agricultores, cultivando plantas de origem africana como melancia, jiló, feijão fradinho, dendezeiro e maxixe, além de caçadores, pescadores, coletores e criadores, como exemplo, de galinha d´angola, além de profundos conhecedores da metalurgia do ferro. Assim o Império Bantu surgia na bacia do Rio Congo. À partir do século 18, a África negra começou a ter contato com os navegadores europeus. Inicialmente com os portugueses, seguidos pelos espanhóis. A escravidão dos negros africanos começava na própria África, com as disputas entre as tribos. Os perdedores eram aprisionados e se transformavam em mercadoria para serem trocados com os comerciantes. As potências européias procuravam riquezas na África, mas a principal riqueza que encontraram revelou-se cruel para os povos nativos: era o tráfico de escravos. Era o Reino do Congo o principal alvo dos portugueses, que falava a língua Banta Quicongo e era governado por um rei Bantu Galanga e toda uma numerosa família real. Desse rei Galanga traficado junto com a sua família real, mais tarde viria à ser no Brasil, o Chico Rei.

Assim começa nossa história, foi no ano de 1740, o qual toda essa família real de Galangas e guerreiros Bantus, chega na cidade do Rio de Janeiro num navio negreiro de nome "Madalena", que vinha da África com este carregamento de negros Bantus, originários do Congo, para serem vendidos como escravos em nosso país e que estavam também, entre centenas de negros capturados, a rainha Delmira, que viria à ser mãe da escrava Anastácia. Delmira era uma jovem formosa e muito atraente pelos seus encantos pessoais e, por seus atributos, ainda no cais no porto africano, foi arrematada e violentada durante a viagem no navio negreiro, por um homem branco de olhos azuis e vendida grávida ao chegar aqui, no mercado de escravos para Joaquina Pompeu. A mãe de Anastácia deu luz a uma menina, ainda no mesmo ano, no dia 12 de maio de 1740.

Cultuada no Brasil como santa e heroína, considerada uma das mais importantes figuras femininas da história negra, a saga da escrava Anastácia tem o poder de nos emocionar. A história nefanda de sua mãe se repete. Anastácia por ser muito bonita, terminou sendo, também, sacrificada pela paixão bestial de um dos filhos de um feitor, sem antes haver resistido bravamente o quanto pode à tais assédios. O rapaz fazia de tudo para ter a moça e por nunca ter permitido a aproximação, foi perseguida.

Apesar de toda circunstância adversa, Anastácia não deixou de sustentar a sua costumeira altivez e dignidade, sem jamais permitir que lhe tocassem, o que provocou ódio dos brancos dominadores, que resolveram castiga-la ainda mais colocando no rosto uma máscara de Flandes de ferro, a mesma que era usada nos escravos das minas de ouro para não engolir as pepitas, que só era retirada na hora de se alimentar, além de prender no pescoço, um colar de escravo fujão que evitava a fuga, tudo com uma suposta acusação de ladra criada pelo feitor, suportando este instrumento de supremo suplício por longos anos de sua dolorosa, mais heróica existência. As mulheres e as filhas dos senhores de escravos eram as que mais incentivavam a manutenção de tal máscara, porque sentiam ciúmes e inveja da beleza da negra Anastácia.

Coisas do destino, o filho do fazendeiro cai doente sem que ninguém conseguisse curá-lo e em desespero, recorrem a escrava Anastácia, por saberem de seus poderes para os males da alma e corpo. A escrava realiza a cura, para espanto de todos.

Não resistiu por muito tempo a tortura que lhe foi imposta, com gangrena no pescoço devido à gargantilha de ferro, veio a falecer. Seu senhor levado pelo remorso providenciou-lhe um enterro como escrava liberta depois de morta, coberta por camélias brancas, sendo mais tarde, essas flores, símbolo da Confederação Abolicionista. Foi sepultada na igreja construída pelos seus irmãos de dor e acompanhada por dezenas de escravos.

Foi a união de confrarias de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, ambas fundadas por negros alforriados, que fundou a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Através de doações, os escravos construíram a sua igreja na rua Uruguaiana, antiga rua da Vala, visando o culto aos padroeiros e ao enterro de seus mortos, onde se acredita que Anastácia tenha sido enterrada. Ainda hoje a igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito centraliza um dos cultos à escrava Anastácia mais fortes no Brasil. Anastácia é considerada milagreira por cerca de 28 milhões de fiéis.

"A Santa", assim é cultuada dentro da religião Afro-Brasileira, cuja imagem e postura de mártir e heroína, ao mesmo tempo, fez nascer grande devoção. A devoção pela Santa Anastácia do Brasil, mantém viva a questão da negritude e da luta anti-racista. Os devotos de Anastácia interpretam a sua história de tortura e morte, como combate à inveja, ciúmes e injustiça.

Uma escrava que virou santa reverencia a força feminina que nos faz refletir em suas atitudes formadas por amor, respeito, lealdade, pureza, carinho e afeto. Sua realeza e seus princípios contribuíram na busca pela liberdade e se manteve presente perante as leis de um mundo escravista durante anos.

Mas seu sacrifício não foi em vão. Em tom de clamor, Cabuçu vem reivindicar: Tire sua mordaça do caminho... que eu quero gritar a minha cor.


Prece à Santa Anastacia:

"Vemos que alguns algozes fizeram de tua vida um martírio, violentou tiranicamente a tua mocidade, vemos também no teu semblante macio, no teu rosto suave e tranqüilo, a paz que o sofrimento não conseguiu perturbar. Isso quer dizer que era pura, superior, tanto assim que Deus levou-te para as planuras do céu e deu-te o poder de fazeres curas. Graças e milagres mil, Anastácia pedimos-te... Roga por nós, protege-nos no teu manto. Dê graças e com teu olhar bondoso firme e penetrante, afasta de nós os males e os maldizeres do mundo".

Roteiro de desfile:

Comissão de Frente: Guerreiros Bantus.
Ala 1: Povo Bantu.
Alegoria 1 (Abre Alas): Reino do Congo

Primeiro Setor: HERANÇA BANTU.

Ala 2: Família Real de Galangas.
Ala 3: Criadores de Galinha D´Angola.
Ala 4: Caçadores.
Ala 5: Mestres da Metalurgia do Ferro.
Ala 6: Escravidão na Própria África.
Tripé e Ala 7: Madalena Negreiro.

Segundo Setor: A SAGA DA ESCRAVA ANASTACIA

Ala 8 (Baianas): Rainha Mãe de Santa.
Primeiro Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira: Herança Galanga
Ala 9 (Bateria): Rei Galanga é Chico Rei, Símbolo da Resistência de Anastácia.
Ala 10 (Passistas): Resistência ao Assédio.
Ala 11: A Inveja Na Máscara de Ferro.
Ala 12: Curar Sem Olhar a Quem.
Ala 13 (Crianças): Camélias Brancas da Liberdade.

Terceiro Setor: RELIGIOSIDADE E SUPLICIO NO CAMINHO DA SANTIDADE.

Ala 14 (Velha guarda): Irmandade de Nossa. Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos.
Ala 15: Construção da Igreja.
Ala 16: Curandeira Afro-Brasileira.
Ala 17: Heroína Contra o Racismo.
Ala 18: Devotos de Anastácia.
Alegoria 2: Santuário de Anastácia, a Escrava Santa do Brasil.
Ala 19: Legado de Anastácia.
Ala 20 (Compositores): Romeiros.