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O Samba

O Samba

Pixinguinha e João da Baiana

Transplantado da Bahia no princípio do século XX, o samba comunicou seus ritmos e seu nome à canção popularesca em sua forma urbana, que é o samba do Rio de Janeiro, o samba carioca, que, antes de se requintar através da dança social que lhe corresponde, apresentou seus primeiros redutos nas proximidades da Central do Brasil, com as baianas, vindas da Guerra dos Canudos, que se fixaram no Morro da Favela. O ritmo era praticado também na Casa da Tia Ciata, na Rua Visconde de Itaúna, 117, conhecido como centro de reunião de sambistas e macumbeiros e freqüentado por pioneiros do cancioneiro carioca como Pixinguinha, Sinhô e Ernesto dos Santos (Donga), autor do primeiro samba impresso, Pelo Telefone (1917). A esta modalidade de samba seguiram-se as que hoje conhecemos: samba de morro, de partido alto, samba corrido, samba-batucada, de rancho, de breque, samba-choro e samba-canção. Já nos morros, subúrbios e bairros da Zona Norte, com predominância nas escolas de samba, das quais a primeira foi a Deixa Falar, o samba se apresenta como dança de roda, com forma responsorial, com solo e coro: só este tem forma fixa, podendo o solo ser improvisado ou tradicional. Agenor de Oliveira (Cartola), Ismael Silva e Alcebíades Barcelos (Bide) e o sambista Brancura, são alguns pioneiros desta modalidade.

Dizem os estudiosos que o samba feito até então era muito influenciado pelo maxixe em sua estrutura formal, só ganhando a estrutura com a qual viria a ser conhecido e apreciado nos anos subseqüentes quando entraram em cena Ismael Silva e o grupo de boêmios do bairro carioca do Estácio, do qual faziam parte seu parceiro Nílton Bastos, Rubem Barcelos, Bide, Baiaco, Brancura e Mano Edgar. Esse grupo também foi o responsável pela criação da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, a Deixa Falar (1928), que só desfilou em três carnavais, mas serviu como fonte de inspiração para Cartola, de um lado, e Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres, de outro, a criarem, respectivamente, a Mangueira e a Portela.

Alguns autores classificam o samba como dança brasileira originária do batuque africano, cuja área se estende do Maranhão a São Paulo com pequenas interrupções, apresentando-se em diversas modalidades e coreografias (coco, baião, jongo e etc), todas com melodia em compasso binário, acompanhadas exclusivamente por instrumentos de percussão. Sua etimologia é controvertida e apresenta várias versões, a saber: à palavra “semba”, isto é, a vênia, a umbigada com a que o dançarino faz o convite a um dos componentes da roda; à origem tupi, significando “cadeia feita de mãos dadas”; à existência da palavra em dialetos africanos, significando “culto através da dança”; ou ainda a que deriva de muçumba, instrumento africano em forma de chocalho, ou maracá.

FONTE: Enciclopédia Barsa

Monarco e João Nogueira

Introdução

Do tradicional samba dos escravos, passando pelo primeiro samba brasileiro Pelo Telefone (1917), aos ícones Cartola e Assis Valente, isso sem contar com o samba de breque de Moreira (Morengueira) da Silva, muita coisa aconteceu. Música para diversão (muitas vezes romântica também), que por muitas vezes serve como um aquecimento para os sambões do subúrbio do Rio de Janeiro, o pagode é um dos ritmos mais populares do Brasil. Das rodas de samba e pagode, surgiram grandes artistas da música nacional, tais como Alcione, Clara Nunes e Beth Carvalho. Do grupo Fundo de Quintal, vieram os compositores Arlindo Cruz e Sombrinha, isso sem falar nos mestres Jorge Aragão e Almir Guineto.

Quer mais? Dessas rodas vieram ainda Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Jovelina Pérola Negra, sempre presentes nos shows e apresentações do gênero. E como esquecer as letras irreverentes de Bezerra da Silva? Daí por diante outros estados brasileiros também aderiram ao pagode, mas dando a sua própria sonoridade. Foi o caso das bandas paulistas, que, no início da década de 90, conquistaram o Brasil, a exemplo do Raça Negra e do Negritude Júnior. De Minas Gerais veio o Só Pra Contrariar, que virou sensação na voz de Alexandre Pires, vocalista da banda.

No final da década de 90, os artistas do chamado “samba de raiz” voltaram a ter grande destaque, trazendo à mídia nomes como o de Dudu Nobre e valorizando as Velhas Guardas de grandes escolas de samba do Rio de Janeiro, como as tradicionais Mangueira e Portela.

A Bahia não ficou de fora, dando (como sempre) o seu próprio tempero ao pagode. Grupos como o É o Tchan e o Terra Samba, agregaram o batuque dos sambas de roda, resgatando as raízes do Recôncavo Baiano. Dessa nova sonoridade surgiram bandas como o Harmonia do Samba, que, liderada pelo vocalista Xanddy, logo ganhou projeção nacional.

História do samba

Nei Lopes e Nélson Cavaquinho

Gênero básico da MPB, o samba tem origem afro-baiana de tempero carioca. Ele nasceu nas casas das "tias" baianas da Praça Onze, no centro do Rio (com extensão à chamada "pequena África", da Pedra do Sal à Cidade Nova), descendente do lundu, nas festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão. Embora antes de Pelo Telefone, assinada por Ernesto dos Santos, o Donga (com Mauro de Almeida) em 1917, outras gravações tenham sido registradas como samba, foi esta que fundou o gênero – apesar da autoria discutida e da proximidade com o aparentado maxixe. Também nesse estilo ambíguo são as principais composições de José Barbosa da Silva, o Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que junto com Heitor dos Prazeres, Caninha e outros pioneiros estabelece os primeiros fundamentos do setor, que ganharia uma feição mais definitiva com a chamada "turma do Estácio".

Formada por Alcebíades Barcellos, o Bide, Armando Marçal, Newton Bastos e Ismael Silva e mais os malandros/sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem (uma brodagem bem anterior aos manos do hip hop), essa corrente injeta uma cadência mais picotada no samba e tem o endosso de filhos da classe média como o ex-estudante de medicina Noel Rosa e o ex-estudante de direito Ary Barroso, que redimensionam o estilo através de obras memoráveis. Com a explosão da era do rádio a partir dos anos 30, o samba ganha enorme difusão através de cantores como Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Mário Reis, Carmen Miranda - que consegue projetá-lo internacionalmente a partir do cinema - e mais adiante Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, entre outros.

Novas adesões como a do refinado baiano Dorival Caymmi, além das harmonias elaboradas de Custódio Mesquita, o molejo de Pedro Caetano, o figurino tropicalista de Assis Valente, a sobriedade de Sinval Silva, o populismo luxuoso de Herivelto Martins e o sotaque interiorano arrastado de Ataulfo Alves conduzem o samba para outros caminhos já ao sabor da indústria musical. A ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas contamina o cenário e do malandro convertido (O Bonde São Januário, de Ataulfo e Wilson Batista) chega-se ao samba-exaltação cujo carro-chefe, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, torna-se o primeiro hino brasileiro no exterior.

Reconhecimento

Nélson Sargento e Sinhô

Empurrada pela especulação imobiliária, a Pequena África já se espalha por diversos morros e primitivas favelas de onde brotam novos bambas como Cartola, Carlos Cachaça e posteriormente Nelson Cavaquinho e Geraldo Pereira, na Mangueira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé e Chico Santana, na Portela, Molequinho e Aniceto do Império Serrano, entre inúmeros outros. O samba ganha status de identidade nacional através do reconhecimento de intelectuais como Villa-Lobos, que organiza uma histórica gravação com o maestro erudito americano Leopold Stokowski no navio Uruguai, em 1940, de que participam Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Zé da Zilda.

Depois da fundação da Deixa Falar por Ismael em 1928, a partir da reunião de blocos do Estácio, o fenômeno das escolas de samba toma conta do cenário. E propulsiona subgêneros, do partido-alto cantado como desafio nos terreiros ao samba-enredo, trilha para desfile das agremiações. Iniciadas nos moldes dos ranchos, as escolas – Mangueira, Portela, Império e Salgueiro e depois Mocidade Independente, Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense – cresceriam até dominar o carnaval transformando-se em show bizz, com forte impacto no movimento turístico.

As concentrações urbanas que provocaram o aparecimento das primeiras danceterias populares, as gafieiras, também produzem seu estilo próprio, o samba-choro ou samba de gafieira, crivado de síncopas. Viceja ainda desde a década de 30, o samba de breque – com pausas preenchidas por falas – que consagraria o personagem malandro criado por Moreira da Silva e o samba canção, mais lento, a partir de Ai Ioiô (Linda flor) por Araci Cortes, em 1929, posteriormente influenciado pelo bolero com enredos sentimentais de que seria expoente o gaúcho Lupicínio Rodrigues. Em outras praças, como São Paulo, onde pontificaria o satírico Adoniran Barbosa, ou Bahia, terra dos enredos tristes de Batatinha, o samba incorporava sotaques regionais.

Após a Segunda Guerra, a influência cultural americana motiva o aparecimento da bossa nova, um modo diferente de dividir o fraseado do samba, agregando influências do impressionismo erudito e do jazz, inaugurado por João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, após precursores como Johnny Alf, João Donato e músicos como Luís Bonfá e Garoto. O gênero teria toda uma geração de discípulos-cultores como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira e grupos como Tamba Trio, Bossa 3, Zimbo Trio e os pioneiros vocais Os Cariocas. Na mesma época um ramal popular turbinado conhecido por sambalanço projetava o teleco-teco de Elza Soares, Miltinho, Luis Bandeira, Ed Lincoln, Luis Antonio, Djalma Ferreira e vários. Dissidências internas na bossa geraram os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Além disso, parte do movimento (re)aproximou-se do samba tradicional, revalorizando sambistas ditos "de morro" como o portelense Zé Kéti, Cartola, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros e mais adiante Candeia, Monarco, Monsueto e o iniciante Paulinho da Viola.

O show Rosa de Ouro, do produtor Hermínio Bello de Carvalho, revela, além da dama do teatro de revista Araci Cortes, Clementina de Jesus, elo perdido das origens afro do samba. A exemplo de seu xará Paulo Benjamim de Oliveira da mesma escola Portela – que intermediou as relações do morro com a cidade quando o samba era perseguido – Paulinho da Viola, com sua pegada autoral mesclada ao choro, se transformaria num embaixador do gênero tradicional diante do público mais vanguardista, incluindo os tropicalistas. Também no interior da bossa apareceria um modificador do samba, Jorge Ben com seu estilo "misto de maracatu" e uma inclinação para o rhythm & blues americano, que mais adiante suscitaria o aparecimento de um subgênero apelidado suíngue.

Hora da revalorização

Velha Guarda da Portela e Candeia

A princípio afastado do foco principal na era universitária dos festivais, o gênero teria sua revanche num certame específico, a Bienal do Samba e veria no final dos 60 o aparecimento do divisor de águas Martinho da Vila. Além de popularizar o partido-alto (Casa de Bamba, Pequeno Burguês), este fluminense de Duas Barras compactou o samba-enredo – forma consagrada por autores como Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola – ampliando sua potencialidade no mercado. No começo dos 70, novo surto de revalorização do samba projetaria com altas vendagens três divas Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes, além do cantor Roberto Ribeiro e dos compositores João Nogueira, Nei Lopes e Wilson Moreira. Descendente dos estilos de violão de Gilberto Gil (que endereçou o petardo Aquele Abraço para a ditadura) , Baden Powell e Dorival Caymmi, João Bosco em dupla com o poeta Aldir Blanc, renovaria o samba tradicional (inclusive o de enredo), algo que Aldir continuaria a fazer com novos parceiros como Guinga e Moacyr Luz, na década de 90. Ainda no fim dos 70, Beth Carvalho começaria a freqüentar rodas de samba do bloco Cacique de Ramos, onde descobriria o emergente movimento do pagode, desvelado em seu disco De Pé no Chão, de 1978.

Este ramal do samba, movido a partido-alto, pontuado pelo banjo e pela percussão  do tantan, seria uma resposta ao ocaso do samba no início dos 80 que obrigaria os participantes a reunirem-se em fundos de quintal para mostrar suas novas composições diante de uma platéia de vizinhos. Os primeiros discos solos desses pagodeiros saíram em plena redistribuição de renda do Plano Cruzado e projetaram de imediato as artes de Zeca Pagodinho (o único que se firmaria ao fim da onda inicial), Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra e o Grupo Fundo de Quintal, que revelaria ainda a dupla Arlindo Cruz e Sombrinha. Também partideiro, o pernambucano Bezerra da Silva nesse mesmo período emplacaria seus sambandidos com enredos que documentam a guerra civil da sociedade partida.

O rótulo pagode seria usado também na década seguinte para denominar uma espécie de samba-pop inspirado na balada romântica que geraria – a partir do sucesso de grupos como o Raça Negra, Negritude Jr., Art Popular e Só Pra Contrariar – o aparecimento de um número incalculável de clones com diferentes graduações de proximidade com o samba de raiz. O tronco principal, no entanto, sobrevive alimentado pela revalorização de antigos bambas ainda em atividade como Nelson Sargento, Monarco, Noca da Portela, Wilson das Neves, Walter Alfaiate e as Velhas Guardas da Portela (vide o recente disco Tudo Azul produzido por Marisa Monte) e Mangueira, além do trabalho persistente de ativistas como Nei Lopes, Luis Carlos da Vila e Wilson Moreira.

O Primeiro Samba

Cartola e Noca da Portela

 

PELO TELEFONE
(Ernesto dos Santos e Mauro de Almeida)

 

O chefe da folia
Pelo telefone
Manda me avisar
Que com alegria
Não se questione
Para se brincar
Ai, ai, ai
É deixa mágoas para trás,
oh rapaz
Ai. ai. ai
Fica triste se é capaz e verás
Tomara que tu apanhes
Pra não tornar a fazer isso
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço
Ah, se a rolinha
Sinhô, sinhô
Se embaraçou
Sinhô, sinhô
É que a vizinha
Sinhô, sinhô
Nunca sambou
Sinhô, sinhô
Porque este samba
Sinhô, sinhô

De arrepiar
Sinhô, sinhô
Põe perna bamba..
Sinhô, sinhô
Mas faz rodar
Sinhô, sinhô
O peru me disse
Se morcego visse
Não fazer tolice
Ou então saísse
Dessa esquisitice
De disse, não disse
Ai, ai, ai
A estátua do ideal triunfal
Ai, ai, ai
Viva o nosso carnaval sem rival
Ninguém tira amor do poço
Por Deus foste castigado
O mundo estava vazio
E o inferno habitado
Queres ou não
Sinhô, sinhô
Ir pro cordão
Sinhô, sinhô
É ser folião
Sinhô, sinhô
De coração
Sinhô, sinhô

 

Definições de Samba

 

Clara Nunes e Roberto Ribeiro

 

Samba: Bailarino popular - Dança de salão, aos pares, com acompanhamento de canto, em compasso 2/4 e ritmo sincopado - Dança de roda.

Lundu: Canto e dança populares no Brasil durante o séc. XVIII, introduzidos provavelmente pelos escravos de Angola.

Maxixe: Dança e canto populares em voga no Brasil a partir do século passado. Fusão da habanera, pela ritmica, e da polca, pela andadura, com adaptação da síncopa afro-lucitana.

Modinha: Canto de salão, urbano, conhecido Brasil e Portugal.

Choro: Conjunto musical livre, de função puramente musical, composto de pequeno grupo de instrumentos solistas, exercendo o resto do conjunto uma função acompanhante, antipolifônico, de caráter puramente ritmico-harmônico.

 

Grandes Sambistas

 

  José Barbosa da Silva. o Sinhô
Nasceu nos subúrbios do Rio de Janeiro em 1888, ano da abolição da escravatura. Foi um dos principais divulgadores do novo gênero, ajudando a consolidá-lo junto a emergente massa urbana. Recebeu por isso o titulo de rei do samba. Morreu em 1930, aos 42 anos.
 
     
 

  Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha
Nascido no Rio, em 1898, era chamado pela avó de Pizindim e pela molecada de Bexiguinha (este por conta das marcas que a varíola deixara em seu rosto).
Da fusão dos dois apelidos surgiu Pixinguinha, um dos maiores compositores e instrumentista da MPB. Entre vários clássicos, é autor de Carinhoso. Morreu em 1973. 
     
 

  Ernesto dos Santos, o Donga
Carioca, nascido em 1891. Freqüentador da roda de baianos da casa da Tia Ciata, reuniu sob o nome de samba um arranjo de motivos populares e registrou como Pelo Telefone. Em seus últimos dias, aposentado como funcionário da Justiça, doente e quase cego, morava em subúrbio do Rio. Morreu em 1974. 
     
 

  João Machado Guedes, o João da Baiana
Filho da Baiana Perciliana de Santo Amaro (o que lhe rendeu o apelido), o carioca João veio ao mundo em 1887. Ele e Donga, dentre os nomes daquela época, tiveram grande longevidade, seguindo como representantes do samba até a década de 70. Quando morreu, em 1974 (mesmo ano que o companheiro), estava recolhido a Casa dos Artistas, em Jacarepaguá-RJ.

FONTE: Sambando