Salve, salve, senhoras e senhores. Maio é um mês
muito especial, além de lírico e poético: é
o mês das mães, mês de Maria, mês
das noivas e, claro, é o mês do aniversário do
Sambario.
O Top 10 Sambario ingressa nos corações maternos dos
nossos apaixonados internautas e apresenta uma lista de sambas enredos
dedicados às mães. Entre nessa viagem e não banque o filho desnaturado.
Agnaldo Timóteo posa com sua mãe, Dona Catarina, para uma reportagem da Revista Intervalo em 1970.
O cantor carioca Agnaldo
Timóteo já tinha uma carreira musical
consolidada de mais de duas décadas quando resolveu entrar na vida política. O
artista usou de sua popularidade e de seu carisma alimentado por posições
polêmicas para se eleger deputado federal pelo PDT nas eleições de 1982.
Em seu primeiro discurso na Câmara dos Deputados
Agnaldo simulou um telefonema à sua mãe, Dona Catarina. Para um plenário quase
lotado e em silêncio, o parlamentar subiu na tribuna, tirou um aparelho de
telefone sem fio do bolso do terno azul-claro e abriu sua oratória: “Alô, mamãe.
Aqui é o Agnaldo. Estou lhe telefonando para pedir a bênção”. Advertido pelo
presidente da Casa, Flávio Marcilio, de que não iria tolerar brincadeiras na
sessão, Timóteo prontamente rebateu: “Isso não é uma brincadeira. Não sorriam
por favor. É um dos momentos mais sérios desta casa”.
Antes de continuar o discurso, Agnaldo comentou:
“Parece que aqui não se tem um respeito muito grande pelas mães. Mas quero
dizer, meus nobres colegas e companheiros, que este momento é da maior
importância, não para o Agnaldo Timóteo, mas para as pessoas simples como
Agnaldo Timóteo”.
A partir daí, passou a contar sua vida como menino
pobre, que trabalhou desde os nove anos de idade, criticou a lei que impede as
crianças trabalharem antes dos 14 anos e o custo da educação e do material
escolar, condenou as discriminações (principalmente a racial) que sofreu no
início e as atuais, falou que se arrependeu por ter sido simpático ao golpe de
1964 e finalizou comemorou a realização das eleições livres para governador,
deputados e senadores em 1982. Palmas no plenário.
O fato inusitado inspirou as carnavalescas Rosa
Magalhães e Lícia Lacerda a criarem o enredo da Imperatriz Leopoldinense para o
carnaval de 1984, ano da inauguração do Sambódromo da Sapucaí. O enredo
chamava-se “Alô, Mamãe!” frase de abertura do histórico discurso exercido por
Timóteo.
O
cantor/deputado foi pra avenida com a Imperatriz “na
esperança de um dia melhorar”. Foto:
Reprodução/YouTube.
As carnavalescas apostaram num tema bem-humorado
sobre as mazelas da política econômica brasileira: o apelo de socorro de um
filho que telefona para sua mãe explicando porque não lhe mandou o dinheiro
combinado. A justificativa é de que o rapaz está passando um sufoco já que suas
reservas financeiras foram sugadas por “vampiros”, pelos pacotes econômicos do
governo, pela desvalorização do cruzeiro (então moeda corrente nacional) e pela
disparada da inflação e do dólar elevado.
O próprio cantor/deputado desfilou triunfante no
carro abre-alas, em cima de uma escultura gigante em forma de telefone. Durante
a transmissão do desfile pela TV Manchete, um repórter da emissora entregou o
microfone a Timóteo, que cantou ao vivo um trecho do samba-enredo dos
compositores Tuninho Professor, Velha, Guga e Alvinho. É o que pode ser visto
no vídeo abaixo a partir de 19:44.
Alô mamãe como eu queria
Tentar mais uma vez
Mostrar o Carnaval ao povo
Ir pra avenida a Imperatriz de novo
Lá vou eu
Vou pulando sem parar
Na esperança
De um dia melhorar
(Alvinho, Guga, Tuninho
Professor e Velha)
9º lugar:“VIRADOURO DE ALMA LAVADA” – Unidos do Viradouro 2020
As
Ganhadeiras de Itapuã no 26° Prêmio da Música
Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 2015. Foto:
Roberto Filho/Divulgacão.
Um desfile apoteótico da Unidos do Viradouro no
carnaval de 2020, que à escola rendeu um justíssimo campeonato. A vermelho e
branco de Niterói apresentou o enredo “A Viradouro de Alma Lavada”, que contou
a história das Ganhadeiras de Itapuã, grupo musical baiano que canta a saga de
mulheres que lutaram por sua alforria e pela liberdade de seu povo. O enredo
ainda conquistou o prêmio de Melhor Enredo pelo júri do Estandarte de Ouro,
promovido pelo jornal O Globo.
As antigas lavadeiras de roupas da Lagoa do Abaeté,
em Itapuã, faziam trabalho de ganho vendendo frutas, condimentos e peixes
trazido por seus maridos, comprando a alforria de escravizados da região quando
conseguiam juntar dinheiro. Para ajudar a sustentar a família, essas mulheres –
muitas delas ex-escravizadas – faziam trabalhos manuais e vendiam cestos de
palha, colares e adereços, como as chamadas joias de crioula – adornos
geralmente de prata usados por africanas.
Foi durante a lavagem de ganho que muitas
ganhadeiras se tornaram compositoras, pois a música fazia do trabalho um
momento de partilha e, ao mesmo tempo, um gesto de apoio mútuo entre aquelas
mulheres, nascendo o samba de mar aberto, que mescla características com as
cirandas nordestina.
Essas verdadeiras mães baianas inspiraram a formação
do grupo musical das Ganhadeiras. Elas já haviam conquistado o Prêmio da Música
Brasileira no ano de 2015, na Categoria Regional, recebendo os troféus de Melhor
Álbum e Melhor Grupo.
O samba é recheado de termos que remetem às
qualidades da maternidade: “balaio do tamanho do suor do seu amor”
(esforço que as mães não medem para seus filhos), “mainha” (tratamento
que baianos e nordestinos em geral dão às mães), “Maria” (nome típico de
mãe), “Oxum” (orixá da fertilidade e da maternidade). O refrão que se
tornou famoso é inspirado nas cantigas das lavadeiras:
Ó, mãe
Ensaboa, Mãe
Ensaboa
Pra depois quarar
(Cláudio Russo, Paulo
César Feital, Diego Nicolau, Júlio Alves, Dadinho, Rildo Seixas, Manolo, Anderson
Lopes e Carlinhos Fionda)
8º lugar:“SUBLIME MÃE SENHORA” – Turma do Quinto 1984
Turma
do Quinto, escola de samba de São Luís, cujos enredos
quase sempre tratam sobre a cultura maranhense — Foto:
Biné Morais/O Estado
Vem de São Luís do Maranhão a escola de samba Turma
do Quinto. Criada em 1940, como bloco carnavalesco, seu nome é uma alusão ao 5º
Batalhão Naval localizado na cidade.
Em 1981 é registrada juridicamente como Sociedade
Recreativa e Cultural Escola de Samba Turma do Quinto. Com as cores azul e
branco, é a escola que detém mais títulos de campeã, totalizando quinze
triunfos, entre 1975 e 2016. Seus enredos quase sempre tratam sobre a cultura
maranhense.
Em 1984, com o enredo “Sublime Mãe Senhora”, a Turma
do Quinto obteve o vice-campeonato fazendo uma homenagem às mães brasileiras, à
padroeira Nossa Senhora de Aparecida, e também à região onde a agremiação está
localizada: o bairro da Madre Deus, considerado o mais cultural de São Luís, concentrando
dezenas de grupos como blocos carnavalescos, bumba-boi, tambores de crioula,
escolas de samba, dentre outras manifestações artísticas.
Ê mãe, ê mãe, ê mãe
Sublime mãe senhora vem (ora se vem)
Abençoar teu filho
Maior riqueza que a vila tem
(Bulcão, Sapo e Godão)
7º lugar:MÃE ZULMIRA, O AMANHECER DE UMA
RAÇA” – Reino Unido da Liberdade 1989
Axé, mãe preta: a ialorixá amazonense Mãe Zulmira, homenageada pela Reino Unido em 1989.
Zulmira Gomes (1923 – 2007) nasceu em Manaus, no
bairro de Cachoeirinha, às margens do igarapé e, ainda criança, mudou-se com a
família para o local onde mais tarde veio a se chamar Morro da Liberdade, e que
viria a ser o berço da escola de samba Reino Unido da Liberdade. Tornou-se
filha de santo do Terreiro de Santa Bárbara tendo sido iniciada no culto aos
ancestrais pelas mãos de Mãe Joana Gama.
Dona Zulmira Gomes tornou-se a ialorixá Mãe Zulmira
do Terreiro de Santa Bárbara em 1959. A sacerdotisa acompanhou todo o
crescimento do Morro da Liberdade e da cidade de Manaus, assistindo o
nascimento de movimentos sociais dos mais variados matizes.
Em 1989, com “Mãe Zulmira, o Amanhecer de uma Raça (Axé
Mãe Preta)”, a Reino Unido prestou uma homenagem colossal à renomada líder
espiritual, com a própria estando presente no desfile. De tão magnífica, a
escola foi campeã e até os dias atuais o samba e a lembrança daquele desfile
comove qualquer amante da cultura carnavalesca.
Mãe
Zulmira é para os manauenses resumo da força
espiritual, cultura, bondade, sabedoria, energia positiva, poesia, tema
de
alegria, lembrança feliz, beleza negra, irmã querida,
mulher ecumênica, fonte
de inspiração, símbolo de fé,
lição de vida e deusa dos “Meninos do Morro”,
como é conhecida a Reino Unido da Liberdade. Ela é a
Senhora do Morro e a Rainha
da Liberdade. Tanto é verdade que a quadra da Reino Unido hoje
leva seu nome.
Prestem atenção na obra-prima que é o samba da Reino
Unido e na interpretação magistral de Grillo, o eterno intérprete da Unidos da Ponte, então no
seu auge. Até meados dos anos 90, os discos do carnaval de Manaus eram gravados
por produtores, arranjadores, músicos e intérpretes das escolas de samba do Rio
de Janeiro.
Axé Mãe Preta dê felicidade
Em seu palácio mostre a liberdade
Me dê amor, carinho e proteção,
Eparrei é Mãe Zulmira
O amanhecer desta nação
(Gilson e Almeron)
6º lugar:“MÃE, MINHA HEROÍNA” – Unidos de São
Miguel 1996
A
Unidos de São Miguel retratou o amor materno no carnaval de 1996
e tornou o samba antológico. Foto: Felipe Araújo/Liga-SP
A Unidos de São Miguel é uma escola de samba cuja
sede fica na região de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade de São
Paulo. Fundada por integrantes de um time de futebol que, ao final de cada
partida promovia uma roda de samba, logo pensaram que poderiam fundar uma
escola de samba para se divertirem na época do carnaval.
Em 1977 seus integrantes oficializaram a fundação e
passaram a participar dos desfiles da União das Escolas de Samba de São Paulo
(UESP). Desfilou pelo Grupo Especial de São Paulo uma única vez: foi no ano de
1994, com o enredo “Encontro das Nações Africanas no Brasil”.
Pelo carnaval de 1996, já pelo Grupo 2 (terceira
divisão), a Unidos de São Miguel apresentou o enredo “Mãe, Minha Heroína”. Com
um belo samba, no qual abordou todas as nuances do amor materno, a escola de
cores amarelo, preto e branco obteve a 9ª colocação e transformou o hino em
antológico.
Meu coração está em festa
Explode o peito em emoção
São Miguel fala do amor de mãe
E mostra o seu samba pé no chão
(Mauro Pirata e Só Pra
Variar)
5º lugar: “UM CULTO ÀS MÃES PRETAS ANCESTRAIS” – Tom Maior 2023
A
força da figura da mãe na religiosidade afro-brasileira
foi a temática da Tom Maior no carnaval de 2023. Foto:
Fábio Martins.
O enredo da Tom Maior no carnaval de São Paulo de
2023, “Culto às Mães Pretas Ancestrais”, teve como temática a força da figura
da mãe na religiosidade afro-brasileira, através do que há de comum entre a
experiência das pessoas com a figura materna pessoal nas diferentes religiões.
Enredos
de temática afro tendem a ser de leitura
complexa da parte do público, mas o carnavalesco Flávio
Campello conseguiu
criar uma linha narrativa fluída e com soluções
criativas. A mensagem do enredo
foi facilmente transmitida através das alas, que entregaram para
cada carro
alegórico finalizarem os setores de forma muito bem sintetizada.
Durante a
apresentação, destaque para as Yabás – as
orixás Obá, Oxum, Oyá, Iemanjá e
Nanã
– (representando as mães da força), Odu, como
mãe criadora, e Nossa Senhora Aparecida,
mãe de amor e respeito.
A Tom Maior chegou na 6ª posição do Grupo Especial
paulistano.
Agora
sou filho de Mãe Preta
Que
batizou meu tambor
Herdeiro
dessa força ancestral
Oduduá...
Oduduá
Em
Tom Maior abençoe meu caminhar
(Gui Cruz,
Turko, Portuga, Rafa do Cavaco, Vitor Gabriel, Fabio Souza, Imperial, Junior
Fionda, Willian Tadeu e Anderson)
4º lugar: “CANDACES” /
“SENHORAS DO VENTRE DO MUNDO” – Acadêmicos do Salgueiro 2007 / 2018
O
Salgueiro no carnaval de 2007 abordou a história das
rainhas-mães do continente africano, as Candaces.
Crédito: Liesa.globo.
No carnaval de 2007 o Salgueiro pretendeu desvendar
em seu enredo a história das Candaces, dinastia de rainhas da África Oriental
que comandaram, antes da era cristã, um dos mais prósperos impérios do
continente, o Império Meroe. O título de Candace significa rainha-mãe.
De acordo com a sinopse da escola, “mais do que uma
linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a força da
mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que
venceu o tempo e as distâncias”.
O samba enredo utilizou uma série de adjetivos que
corroboram com o destaque que as Candaces e outras mulheres da realeza africana
possuíam. Termos como “mães feiticeiras”, destaca o papel religioso que elas tinham.
Outras figuras foram abordadas pelos carnavalescos salgueirenses Renato e
Márcia Lage. Isto fica ressaltado tanto no samba escolhido, que cita as yabás
Nanã, Oyá, Oxum, Iemanjá e Obá, quanto nas outras partes do enredo, que
utilizam figuras como Nefertiti (a Rainha de Sabá), Luiza Mahin, Tia Ciata, a
princesa Aqualtune (mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares) e a
Rainha Nzinga de Angola.
Apesar do enredo bastante atraente e uma
apresentação exuberante, o Salgueiro ficou em 7º lugar e não voltou no Desfile
das Campeãs naquele ano.
Mães de santo, mães do samba
Pedem proteção
E nesse canto de fé
Salgueiro traz o axé
E faz a louvação
Odoyá, Iemanjá
Saluba Nanã
Eparrei Oyá
Orayê yê o, Oxum
Oba xi Obá
(Dudu Botelho, Luiz Pião,
Marcelo Motta e Zé Paulo)
Em
2018 o Salgueiro evidenciou a importância das mulheres negras
desde o início da humanidade até os dias atuais. Foto:
Gabriel Monteiro/Riotur
Em 2018 o Salgueiro de certa forma ampliou o tema
proposto em 2007. A começar pelo nome do enredo, retirado de um verso do samba
das Candaces: “Senhoras do Ventre do Mundo”. Foi a estreia do carnavalesco Alex
de Souza, que.
A escola recuperou a história de rainhas negras que
tiveram grande importância há milhares de anos. Ao longo das alas, deusas e
deuses cultuados em terras africanas foram evidenciados.
Com um foco no Brasil, o Salgueiro mostrou também as
“mães pretas” — matriarcas que unem os negros e que foram as primeiras
empreendedoras do Brasil, como as quituteiras e as doceiras. Explorou, ainda, a
parte espiritual das mulheres descendentes da África, retratou as negras que
perpetuaram os valores culturais por meio dos livros e homenageou as mulheres
que fizeram história no Salgueiro, neste caso, sendo elas negras ou não.
Com um belíssimo carnaval, o Salgueiro obteve a 3ª
colocação.
A preta que me faz um cafuné
Ama de leite do senhor
A tia que me ensinou a comer doce na
colher
À bênção, mãe baiana rezadeira
Em minha vida, seu legado de amor ôô
Liberdade é resistência
E à luz da consciência
A alma não tem cor
(Xande de Pilares, Demá Chagas, Dudu Botelho, Renato
Galante, Jassa, Leonardo Gallo, Betinho de Pilares, Vanderley Sena, Ralfe
Ribeiro e W Corrêa)
3º lugar: “UM DEFEITO DE COR” – Portela 2024
Um
dos pontos altos do desfile da Portela em 2024 foi a homenagem
às mães de vítimas da violência no Rio de
Janeiro. Crédito da Foto: site Alma Preta
O enredo da Portela para o Carnaval 2024, “Um
Defeito de Cor” pretendeu ser uma grande exaltação ao matriarcado negro
brasileiro. A inspiração veio do livro homônimo da escritora mineira Ana Maria
Gonçalves. A obra conta a história de Kehinde (Luísa Mahim), uma mãe africana
que viaja ao Brasil em busca do filho (o advogado abolicionista Luiz Gama), de
paradeiro incerto.
De acordo com os carnavalescos Antônio Gonzaga e
André Rodrigues, o objetivo foi cantar a história das “mães negras de todos
nós”, que lutam para sobreviver e construir essa nação.
Um dos pontos altos do desfile da Portela foi a
homenagem às mães de vítimas da violência no Rio de Janeiro. A escola fechou a
sua passagem pela Marquês de Sapucaí com 16 mulheres no último carro, entre
elas Marinete Franco, mãe da vereadora Marielle Franco (1979 – 2018), e
Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu (1997 – 2021) — jovem que estava
grávida e foi assassinada pelas forças policiais em 2021.
Todas elas levaram objetos como camisetas com fotos
que lembram os filhos e exibiram durante o desfile.A apresentação foi tão emocionante que Portela
conquistou os prêmios de melhor escola e de melhor enredo do Grupo Especial no
Estandarte de Ouro 2024. Na apuração, a Portela chegou em 5º lugar.
O samba genuinamente preto
Fina flor, jardim do gueto
Que exala o nosso afeto
Me embala, oh! Mãe, no colo da saudade
Pra fazer da identidade nosso livro aberto
(Rafael Gigante,
Vinicius Ferreira, Wanderley Monteiro, Bira, Jefferson Oliveira, Hélio Porto e
André do Posto 7)
2º lugar: “MÃE MENININHA DO GANTOIS” – Mocidade Independente de Padre
Miguel 1976 / “NO XIRÊ
DO ANHEMBI, A OXUM MAIS BONITA SURGIU. MENININHA, MÃE DA BAHIA – IALORIXÁ DO
BRASIL” – Vai-Vai 2017
Alegoria
com a reprodução perfeita de Mãe Menininha,
sustentada pela mão doce de Oxum. Foto: Luiz Pinto/Agência
O Globo.
Esse foi um dos raros enredos de temática afro da
Mocidade Independente. A escola de Padre Miguel homenageou a famosa ialorixá Mãe
Menininha do Gantois (1894 – 1986) no
carnaval de 1976.
O carnavalesco Arlindo Rodrigues (1931 - 1987), com
sua genialidade, apresentou um enredo sobre a mãe de santo baiana com um belo
samba puxado por Elza
Soares e Ney
Vianna.
Naquela manhã de segunda feira de carnaval, a
passarela se transformou em um grande terreiro, com pais de santo legítimos,
defumadores, ervas e fantasias e alegorias referentes aos orixás.
Mãe Menininha não pôde desfilar pois foi proibida
por seus cardiologistas. A sacerdotisa assistiu ao desfile da Mocidade pela TV
em sua casa, em Salvador. Ao ser consultada sobre o enredo, Mãe Menininha concordou.
Porém, determinou algumas observações: que os
ritmistas raspassem as cabeças e jogassem os cabelos no mar, que a escola
levasse uma alegoria com cavalos e pediu uma revoada de pombos brancos.
A parte da raspagem dos cabelos e da alegoria com os
equinos foi cumprida. No entanto, esqueceram os cabelos na quadra e a revoada
das aves não aconteceu.
Coincidência ou não, o carro de Xangô, orixá da
justiça, emperrou durante todo o percurso. E não entrou na avenida de jeito
nenhum. Contam que foram chamados 40 homens para puxá-lo e ele não saía do lugar.
Desolados os diretores de harmonia, deixaram o carro alegórico para lá e foram
desfilar. Na volta, o susto: a alegoria, que estava empacada no mesmo lugar há
horas e não saía de lá por nenhuma força no mundo, estava andando sozinha. “Tá
vendo? Não fizeram as obrigações da Mãe Menininha...”, alguém alegou.
Lindamente na avenida, a Mocidade não ganhou. A
verde e branco empatou em 2º lugar, com a Mangueira, e perdeu o desempate ironicamente
por ter um ponto a menos na nota da tão famosa bateria nota 10. O terceiro
lugar, até aquela data, foi a melhor colocação na história de Padre Miguel.
Oh, minha mãe
Menininha
Vem ver, como toda cidade
Canta em seu louvor com a Mocidade
(Tôco e Djalma Crill)
Vai-Vai
escolheu homenagear Mãe Menininha no carnaval de 2017 para
marcar os 30 anos de morte da matriarca do candomblé.
O ano era 2017. A escola de samba do Bixiga levou os
orixás para o Sambódromo do Anhembi para lembrar os 30 anos da morte de Mãe
Menininha. Um discurso emocionante do ator Milton Gonçalves deu início às
festividades enquanto o público balançava bandeiras brancas.
Segundo o carnavalesco da Vai-Vai, André Marins, o
objetivo foi fazer uma grande homenagem à eterna matriarca do Gantois, levando
para a avenida o legado de amor, a doçura, a história de vida com os orixás, em
vida e depois da morte. “Quando se lembra de Mãe Menininha, lembra-se de amor”,
afirmou o artista.
O lindíssimo samba-enredo da Vai-Vai levantou o
público e foi um dos pontos fortes da escola. A interpretação dos cantores Wander Pires e Grazzi
Brasil foi primorosa. A Vai-Vai ficou em
3º lugar no Grupo Especial naquele ano.
A linda
estrela está por lá
Ilumina o
terreiro do Gantois
Iaô ô
iaô...
Que lindo
arco íris que Oxumarê pintou
(Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa,
Dema da Vai-Vai, André Ricardo, Rodolfo Alves e Léo Rocha )
Versão de Grazzi Brasil & SP Ritmo, gravado na
Live Solidária SP em 7 de agosto de 2020.
1º lugar: “MÃE BAIANA MÃE” – Império Serrano 1983
“E
a baiana se glorificou”. Império Serrano desponta
exuberante na Sapucaí no carnaval de 1983. Foto: Luiz
Pinto/Agência O Globo
Na manhã de segunda-feira de carnaval de 1983, com o
dia totalmente claro, o Império Serrano despontou na Sapucaí em busca do
bicampeonato com o enredo “Mãe, Baiana Mãe”. De autoria de Fernando Pamplona e
executado pelo carnavalesco Renato Lage, que estreava na verde e branco da
Serrinha, o enredo teve como princípio contar a importância da cultura negra no
Brasil ao exaltar a mulher baiana.
O
desfile foi dividido em sete atos. Os setores eram
“A Mãe Negra da Baiana Mãe”, “A
Fé Negra da Mãe Baiana”, “O Homem da
Mãe
Baiana”, “A Comida da Mãe Baiana”, “A
Filha da Baiana”, “Baiana, Mãe do Samba”
e “A Mãe Nossa da Bahia”. Os quadros mostravam as
origens africanas, a
religiosidade, a culinária e, lógico, o samba.
O samba-enredo, assim como em 1982, foi antológico,
de autoria dos geniais compositores Beto Sem Braço e Aluísio Machado. E o povo
cantou com a escola desde que o puxador Quinzinho entoou os primeiros versos. Não por acaso, a obra
levou o troféu de Melhor Samba-Enredo do júri do Estandarte de Ouro do jornal O
Globo.
A última alegoria representou a glorificação da
baiana, na qual uma grande escultura de uma baiana vinha ladeada por um enorme
resplendor. O Império deixou a pista sob os gritos de “bicampeã”. Na apuração,
o Reizinho de Madureira terminou na 3ª posição do Grupo Especial.