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TOP 10 SAMBARIO – MÃES DO SAMBA, MÃES NO SAMBA
  
 
TOP 10 SAMBARIO – MÃES DO SAMBA, MÃES NO SAMBA


8 de maio de 2024, nº 68



Salve, salve, senhoras e senhores. Maio é um mês muito especial, além de lírico e poético: é o mês das mães, mês de Maria, mês das noivas e, claro, é o mês do aniversário do Sambario.


O Top 10 Sambario ingressa nos corações maternos dos nossos apaixonados internautas e apresenta uma lista de sambas enredos dedicados às mães. Entre nessa viagem e não banque o filho desnaturado.


10º lugar:
“ALÔ MAMÃE” – Imperatriz Leopoldinense 1984


Agnaldo Timóteo posa com sua mãe, Dona Catarina, para uma reportagem da Revista Intervalo em 1970.

O cantor carioca Agnaldo Timóteo já tinha uma carreira musical consolidada de mais de duas décadas quando resolveu entrar na vida política. O artista usou de sua popularidade e de seu carisma alimentado por posições polêmicas para se eleger deputado federal pelo PDT nas eleições de 1982.

Em seu primeiro discurso na Câmara dos Deputados Agnaldo simulou um telefonema à sua mãe, Dona Catarina. Para um plenário quase lotado e em silêncio, o parlamentar subiu na tribuna, tirou um aparelho de telefone sem fio do bolso do terno azul-claro e abriu sua oratória: “Alô, mamãe. Aqui é o Agnaldo. Estou lhe telefonando para pedir a bênção”. Advertido pelo presidente da Casa, Flávio Marcilio, de que não iria tolerar brincadeiras na sessão, Timóteo prontamente rebateu: “Isso não é uma brincadeira. Não sorriam por favor. É um dos momentos mais sérios desta casa”.

Antes de continuar o discurso, Agnaldo comentou: “Parece que aqui não se tem um respeito muito grande pelas mães. Mas quero dizer, meus nobres colegas e companheiros, que este momento é da maior importância, não para o Agnaldo Timóteo, mas para as pessoas simples como Agnaldo Timóteo”.

A partir daí, passou a contar sua vida como menino pobre, que trabalhou desde os nove anos de idade, criticou a lei que impede as crianças trabalharem antes dos 14 anos e o custo da educação e do material escolar, condenou as discriminações (principalmente a racial) que sofreu no início e as atuais, falou que se arrependeu por ter sido simpático ao golpe de 1964 e finalizou comemorou a realização das eleições livres para governador, deputados e senadores em 1982. Palmas no plenário.

O fato inusitado inspirou as carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda a criarem o enredo da Imperatriz Leopoldinense para o carnaval de 1984, ano da inauguração do Sambódromo da Sapucaí. O enredo chamava-se “Alô, Mamãe!” frase de abertura do histórico discurso exercido por Timóteo. 

O cantor/deputado foi pra avenida com a Imperatriz “na esperança de um dia melhorar”. Foto: Reprodução/YouTube.

As carnavalescas apostaram num tema bem-humorado sobre as mazelas da política econômica brasileira: o apelo de socorro de um filho que telefona para sua mãe explicando porque não lhe mandou o dinheiro combinado. A justificativa é de que o rapaz está passando um sufoco já que suas reservas financeiras foram sugadas por “vampiros”, pelos pacotes econômicos do governo, pela desvalorização do cruzeiro (então moeda corrente nacional) e pela disparada da inflação e do dólar elevado.

O próprio cantor/deputado desfilou triunfante no carro abre-alas, em cima de uma escultura gigante em forma de telefone. Durante a transmissão do desfile pela TV Manchete, um repórter da emissora entregou o microfone a Timóteo, que cantou ao vivo um trecho do samba-enredo dos compositores Tuninho Professor, Velha, Guga e Alvinho. É o que pode ser visto no vídeo abaixo a partir de 19:44.

Alô mamãe como eu queria

Tentar mais uma vez

Mostrar o Carnaval ao povo

Ir pra avenida a Imperatriz de novo

Lá vou eu

Vou pulando sem parar

Na esperança

De um dia melhorar

(Alvinho, Guga, Tuninho Professor e Velha)


9º lugar:
“VIRADOURO DE ALMA LAVADA” – Unidos do Viradouro 2020 

As Ganhadeiras de Itapuã no 26° Prêmio da Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 2015. Foto: Roberto Filho/Divulgacão.

Um desfile apoteótico da Unidos do Viradouro no carnaval de 2020, que à escola rendeu um justíssimo campeonato. A vermelho e branco de Niterói apresentou o enredo “A Viradouro de Alma Lavada”, que contou a história das Ganhadeiras de Itapuã, grupo musical baiano que canta a saga de mulheres que lutaram por sua alforria e pela liberdade de seu povo. O enredo ainda conquistou o prêmio de Melhor Enredo pelo júri do Estandarte de Ouro, promovido pelo jornal O Globo.

As antigas lavadeiras de roupas da Lagoa do Abaeté, em Itapuã, faziam trabalho de ganho vendendo frutas, condimentos e peixes trazido por seus maridos, comprando a alforria de escravizados da região quando conseguiam juntar dinheiro. Para ajudar a sustentar a família, essas mulheres – muitas delas ex-escravizadas – faziam trabalhos manuais e vendiam cestos de palha, colares e adereços, como as chamadas joias de crioula – adornos geralmente de prata usados por africanas.

Foi durante a lavagem de ganho que muitas ganhadeiras se tornaram compositoras, pois a música fazia do trabalho um momento de partilha e, ao mesmo tempo, um gesto de apoio mútuo entre aquelas mulheres, nascendo o samba de mar aberto, que mescla características com as cirandas nordestina.

Essas verdadeiras mães baianas inspiraram a formação do grupo musical das Ganhadeiras. Elas já haviam conquistado o Prêmio da Música Brasileira no ano de 2015, na Categoria Regional, recebendo os troféus de Melhor Álbum e Melhor Grupo.

O samba é recheado de termos que remetem às qualidades da maternidade: “balaio do tamanho do suor do seu amor” (esforço que as mães não medem para seus filhos), “mainha” (tratamento que baianos e nordestinos em geral dão às mães), “Maria” (nome típico de mãe), “Oxum” (orixá da fertilidade e da maternidade). O refrão que se tornou famoso é inspirado nas cantigas das lavadeiras: 

Ó, mãe

Ensaboa, Mãe

Ensaboa

Pra depois quarar

(Cláudio Russo, Paulo César Feital, Diego Nicolau, Júlio Alves, Dadinho, Rildo Seixas, Manolo, Anderson Lopes e Carlinhos Fionda)

 

8º lugar: “SUBLIME MÃE SENHORA” – Turma do Quinto 1984

Turma do Quinto, escola de samba de São Luís, cujos enredos quase sempre tratam sobre a cultura maranhense — Foto: Biné Morais/O Estado

Vem de São Luís do Maranhão a escola de samba Turma do Quinto. Criada em 1940, como bloco carnavalesco, seu nome é uma alusão ao 5º Batalhão Naval localizado na cidade.

Em 1981 é registrada juridicamente como Sociedade Recreativa e Cultural Escola de Samba Turma do Quinto. Com as cores azul e branco, é a escola que detém mais títulos de campeã, totalizando quinze triunfos, entre 1975 e 2016. Seus enredos quase sempre tratam sobre a cultura maranhense.

Em 1984, com o enredo “Sublime Mãe Senhora”, a Turma do Quinto obteve o vice-campeonato fazendo uma homenagem às mães brasileiras, à padroeira Nossa Senhora de Aparecida, e também à região onde a agremiação está localizada: o bairro da Madre Deus, considerado o mais cultural de São Luís, concentrando dezenas de grupos como blocos carnavalescos, bumba-boi, tambores de crioula, escolas de samba, dentre outras manifestações artísticas.

Ê mãe, ê mãe, ê mãe

Sublime mãe senhora vem (ora se vem)

Abençoar teu filho

Maior riqueza que a vila tem

(Bulcão, Sapo e Godão)

7º lugar: MÃE ZULMIRA, O AMANHECER DE UMA RAÇA” – Reino Unido da Liberdade 1989

Axé, mãe preta: a ialorixá amazonense Mãe Zulmira, homenageada pela Reino Unido em 1989.

Zulmira Gomes (1923 – 2007) nasceu em Manaus, no bairro de Cachoeirinha, às margens do igarapé e, ainda criança, mudou-se com a família para o local onde mais tarde veio a se chamar Morro da Liberdade, e que viria a ser o berço da escola de samba Reino Unido da Liberdade. Tornou-se filha de santo do Terreiro de Santa Bárbara tendo sido iniciada no culto aos ancestrais pelas mãos de Mãe Joana Gama.

Dona Zulmira Gomes tornou-se a ialorixá Mãe Zulmira do Terreiro de Santa Bárbara em 1959. A sacerdotisa acompanhou todo o crescimento do Morro da Liberdade e da cidade de Manaus, assistindo o nascimento de movimentos sociais dos mais variados matizes.

Em 1989, com “Mãe Zulmira, o Amanhecer de uma Raça (Axé Mãe Preta)”, a Reino Unido prestou uma homenagem colossal à renomada líder espiritual, com a própria estando presente no desfile. De tão magnífica, a escola foi campeã e até os dias atuais o samba e a lembrança daquele desfile comove qualquer amante da cultura carnavalesca.

Mãe Zulmira é para os manauenses resumo da força espiritual, cultura, bondade, sabedoria, energia positiva, poesia, tema de alegria, lembrança feliz, beleza negra, irmã querida, mulher ecumênica, fonte de inspiração, símbolo de fé, lição de vida e deusa dos “Meninos do Morro”, como é conhecida a Reino Unido da Liberdade. Ela é a Senhora do Morro e a Rainha da Liberdade. Tanto é verdade que a quadra da Reino Unido hoje leva seu nome.

Prestem atenção na obra-prima que é o samba da Reino Unido e na interpretação magistral de Grillo, o eterno intérprete da Unidos da Ponte, então no seu auge. Até meados dos anos 90, os discos do carnaval de Manaus eram gravados por produtores, arranjadores, músicos e intérpretes das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Axé Mãe Preta dê felicidade

Em seu palácio mostre a liberdade

Me dê amor, carinho e proteção,

Eparrei é Mãe Zulmira

O amanhecer desta nação

(Gilson e Almeron)



6º lugar:
“MÃE, MINHA HEROÍNA” – Unidos de São Miguel 1996 

A Unidos de São Miguel retratou o amor materno no carnaval de 1996 e tornou o samba antológico. Foto: Felipe Araújo/Liga-SP

A Unidos de São Miguel é uma escola de samba cuja sede fica na região de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade de São Paulo. Fundada por integrantes de um time de futebol que, ao final de cada partida promovia uma roda de samba, logo pensaram que poderiam fundar uma escola de samba para se divertirem na época do carnaval.

Em 1977 seus integrantes oficializaram a fundação e passaram a participar dos desfiles da União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP). Desfilou pelo Grupo Especial de São Paulo uma única vez: foi no ano de 1994, com o enredo “Encontro das Nações Africanas no Brasil”.

Pelo carnaval de 1996, já pelo Grupo 2 (terceira divisão), a Unidos de São Miguel apresentou o enredo “Mãe, Minha Heroína”. Com um belo samba, no qual abordou todas as nuances do amor materno, a escola de cores amarelo, preto e branco obteve a 9ª colocação e transformou o hino em antológico.

Meu coração está em festa

Explode o peito em emoção

São Miguel fala do amor de mãe

E mostra o seu samba pé no chão

(Mauro Pirata e Só Pra Variar)

5º lugar: “UM CULTO ÀS MÃES PRETAS ANCESTRAIS” – Tom Maior 2023 

A força da figura da mãe na religiosidade afro-brasileira foi a temática da Tom Maior no carnaval de 2023. Foto: Fábio Martins.

O enredo da Tom Maior no carnaval de São Paulo de 2023, “Culto às Mães Pretas Ancestrais”, teve como temática a força da figura da mãe na religiosidade afro-brasileira, através do que há de comum entre a experiência das pessoas com a figura materna pessoal nas diferentes religiões.

Enredos de temática afro tendem a ser de leitura complexa da parte do público, mas o carnavalesco Flávio Campello conseguiu criar uma linha narrativa fluída e com soluções criativas. A mensagem do enredo foi facilmente transmitida através das alas, que entregaram para cada carro alegórico finalizarem os setores de forma muito bem sintetizada. Durante a apresentação, destaque para as Yabás – as orixás Obá, Oxum, Oyá, Iemanjá e Nanã – (representando as mães da força), Odu, como mãe criadora, e Nossa Senhora Aparecida, mãe de amor e respeito.

A Tom Maior chegou na 6ª posição do Grupo Especial paulistano.

Agora sou filho de Mãe Preta

Que batizou meu tambor

Herdeiro dessa força ancestral

Oduduá... Oduduá

Em Tom Maior abençoe meu caminhar

(Gui Cruz, Turko, Portuga, Rafa do Cavaco, Vitor Gabriel, Fabio Souza, Imperial, Junior Fionda, Willian Tadeu e Anderson)


4º lugar:
“CANDACES” / “SENHORAS DO VENTRE DO MUNDO” – Acadêmicos do Salgueiro 2007 / 2018

O Salgueiro no carnaval de 2007 abordou a história das rainhas-mães do continente africano, as Candaces. Crédito: Liesa.globo.

No carnaval de 2007 o Salgueiro pretendeu desvendar em seu enredo a história das Candaces, dinastia de rainhas da África Oriental que comandaram, antes da era cristã, um dos mais prósperos impérios do continente, o Império Meroe. O título de Candace significa rainha-mãe.

De acordo com a sinopse da escola, “mais do que uma linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a força da mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que venceu o tempo e as distâncias”.

O samba enredo utilizou uma série de adjetivos que corroboram com o destaque que as Candaces e outras mulheres da realeza africana possuíam. Termos como “mães feiticeiras”, destaca o papel religioso que elas tinham. Outras figuras foram abordadas pelos carnavalescos salgueirenses Renato e Márcia Lage. Isto fica ressaltado tanto no samba escolhido, que cita as yabás Nanã, Oyá, Oxum, Iemanjá e Obá, quanto nas outras partes do enredo, que utilizam figuras como Nefertiti (a Rainha de Sabá), Luiza Mahin, Tia Ciata, a princesa Aqualtune (mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares) e a Rainha Nzinga de Angola.

Apesar do enredo bastante atraente e uma apresentação exuberante, o Salgueiro ficou em 7º lugar e não voltou no Desfile das Campeãs naquele ano.

Mães de santo, mães do samba

Pedem proteção

E nesse canto de fé

Salgueiro traz o axé

E faz a louvação

Odoyá, Iemanjá

Saluba Nanã

Eparrei Oyá

Orayê yê o, Oxum

Oba xi Obá

(Dudu Botelho, Luiz Pião, Marcelo Motta e Zé Paulo)

 

Em 2018 o Salgueiro evidenciou a importância das mulheres negras desde o início da humanidade até os dias atuais. Foto: Gabriel Monteiro/Riotur

Em 2018 o Salgueiro de certa forma ampliou o tema proposto em 2007. A começar pelo nome do enredo, retirado de um verso do samba das Candaces: “Senhoras do Ventre do Mundo”. Foi a estreia do carnavalesco Alex de Souza, que.

A escola recuperou a história de rainhas negras que tiveram grande importância há milhares de anos. Ao longo das alas, deusas e deuses cultuados em terras africanas foram evidenciados.

Com um foco no Brasil, o Salgueiro mostrou também as “mães pretas” — matriarcas que unem os negros e que foram as primeiras empreendedoras do Brasil, como as quituteiras e as doceiras. Explorou, ainda, a parte espiritual das mulheres descendentes da África, retratou as negras que perpetuaram os valores culturais por meio dos livros e homenageou as mulheres que fizeram história no Salgueiro, neste caso, sendo elas negras ou não.

Com um belíssimo carnaval, o Salgueiro obteve a 3ª colocação.

A preta que me faz um cafuné

Ama de leite do senhor

A tia que me ensinou a comer doce na colher

À bênção, mãe baiana rezadeira

Em minha vida, seu legado de amor ôô

Liberdade é resistência

E à luz da consciência

A alma não tem cor

(Xande de Pilares, Demá Chagas, Dudu Botelho, Renato Galante, Jassa, Leonardo Gallo, Betinho de Pilares, Vanderley Sena, Ralfe Ribeiro e W Corrêa)


3º lugar:
“UM DEFEITO DE COR” – Portela 2024

Um dos pontos altos do desfile da Portela em 2024 foi a homenagem às mães de vítimas da violência no Rio de Janeiro. Crédito da Foto: site Alma Preta

O enredo da Portela para o Carnaval 2024, “Um Defeito de Cor” pretendeu ser uma grande exaltação ao matriarcado negro brasileiro. A inspiração veio do livro homônimo da escritora mineira Ana Maria Gonçalves. A obra conta a história de Kehinde (Luísa Mahim), uma mãe africana que viaja ao Brasil em busca do filho (o advogado abolicionista Luiz Gama), de paradeiro incerto.

De acordo com os carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, o objetivo foi cantar a história das “mães negras de todos nós”, que lutam para sobreviver e construir essa nação.

Um dos pontos altos do desfile da Portela foi a homenagem às mães de vítimas da violência no Rio de Janeiro. A escola fechou a sua passagem pela Marquês de Sapucaí com 16 mulheres no último carro, entre elas Marinete Franco, mãe da vereadora Marielle Franco (1979 – 2018), e Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu (1997 – 2021) — jovem que estava grávida e foi assassinada pelas forças policiais em 2021.

Todas elas levaram objetos como camisetas com fotos que lembram os filhos e exibiram durante o desfile. A apresentação foi tão emocionante que Portela conquistou os prêmios de melhor escola e de melhor enredo do Grupo Especial no Estandarte de Ouro 2024. Na apuração, a Portela chegou em 5º lugar.

O samba genuinamente preto

Fina flor, jardim do gueto

Que exala o nosso afeto

Me embala, oh! Mãe, no colo da saudade

Pra fazer da identidade nosso livro aberto

(Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Wanderley Monteiro, Bira, Jefferson Oliveira, Hélio Porto e André do Posto 7)


2º lugar:
“MÃE MENININHA DO GANTOIS” – Mocidade Independente de Padre Miguel 1976 / “NO XIRÊ DO ANHEMBI, A OXUM MAIS BONITA SURGIU. MENININHA, MÃE DA BAHIA – IALORIXÁ DO BRASIL” – Vai-Vai 2017

Alegoria com a reprodução perfeita de Mãe Menininha, sustentada pela mão doce de Oxum. Foto: Luiz Pinto/Agência O Globo.

Esse foi um dos raros enredos de temática afro da Mocidade Independente. A escola de Padre Miguel homenageou a famosa ialorixá Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986) no carnaval de 1976.

O carnavalesco Arlindo Rodrigues (1931 - 1987), com sua genialidade, apresentou um enredo sobre a mãe de santo baiana com um belo samba puxado por Elza Soares e Ney Vianna.

Naquela manhã de segunda feira de carnaval, a passarela se transformou em um grande terreiro, com pais de santo legítimos, defumadores, ervas e fantasias e alegorias referentes aos orixás.

Mãe Menininha não pôde desfilar pois foi proibida por seus cardiologistas. A sacerdotisa assistiu ao desfile da Mocidade pela TV em sua casa, em Salvador. Ao ser consultada sobre o enredo, Mãe Menininha concordou.

Porém, determinou algumas observações: que os ritmistas raspassem as cabeças e jogassem os cabelos no mar, que a escola levasse uma alegoria com cavalos e pediu uma revoada de pombos brancos.

A parte da raspagem dos cabelos e da alegoria com os equinos foi cumprida. No entanto, esqueceram os cabelos na quadra e a revoada das aves não aconteceu.

Coincidência ou não, o carro de Xangô, orixá da justiça, emperrou durante todo o percurso. E não entrou na avenida de jeito nenhum. Contam que foram chamados 40 homens para puxá-lo e ele não saía do lugar. Desolados os diretores de harmonia, deixaram o carro alegórico para lá e foram desfilar. Na volta, o susto: a alegoria, que estava empacada no mesmo lugar há horas e não saía de lá por nenhuma força no mundo, estava andando sozinha. “Tá vendo? Não fizeram as obrigações da Mãe Menininha...”, alguém alegou.

Lindamente na avenida, a Mocidade não ganhou. A verde e branco empatou em 2º lugar, com a Mangueira, e perdeu o desempate ironicamente por ter um ponto a menos na nota da tão famosa bateria nota 10. O terceiro lugar, até aquela data, foi a melhor colocação na história de Padre Miguel.

Oh, minha mãe

Menininha

Vem ver, como toda cidade

Canta em seu louvor com a Mocidade

(Tôco e Djalma Crill)

 

Vai-Vai escolheu homenagear Mãe Menininha no carnaval de 2017 para marcar os 30 anos de morte da matriarca do candomblé.

O ano era 2017. A escola de samba do Bixiga levou os orixás para o Sambódromo do Anhembi para lembrar os 30 anos da morte de Mãe Menininha. Um discurso emocionante do ator Milton Gonçalves deu início às festividades enquanto o público balançava bandeiras brancas.

Segundo o carnavalesco da Vai-Vai, André Marins, o objetivo foi fazer uma grande homenagem à eterna matriarca do Gantois, levando para a avenida o legado de amor, a doçura, a história de vida com os orixás, em vida e depois da morte. “Quando se lembra de Mãe Menininha, lembra-se de amor”, afirmou o artista.

O lindíssimo samba-enredo da Vai-Vai levantou o público e foi um dos pontos fortes da escola. A interpretação dos cantores Wander Pires e Grazzi Brasil foi primorosa. A Vai-Vai ficou em 3º lugar no Grupo Especial naquele ano.

A linda estrela está por lá

Ilumina o terreiro do Gantois

Iaô ô iaô...

Que lindo arco íris que Oxumarê pintou

(Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, Dema da Vai-Vai, André Ricardo, Rodolfo Alves e Léo Rocha )

Versão de Grazzi Brasil & SP Ritmo, gravado na Live Solidária SP em 7 de agosto de 2020.


1º lugar: “MÃE BAIANA MÃE” – Império Serrano 1983
 

“E a baiana se glorificou”. Império Serrano desponta exuberante na Sapucaí no carnaval de 1983. Foto: Luiz Pinto/Agência O Globo

Na manhã de segunda-feira de carnaval de 1983, com o dia totalmente claro, o Império Serrano despontou na Sapucaí em busca do bicampeonato com o enredo “Mãe, Baiana Mãe”. De autoria de Fernando Pamplona e executado pelo carnavalesco Renato Lage, que estreava na verde e branco da Serrinha, o enredo teve como princípio contar a importância da cultura negra no Brasil ao exaltar a mulher baiana.

O desfile foi dividido em sete atos. Os setores eram “A Mãe Negra da Baiana Mãe”, “A Fé Negra da Mãe Baiana”, “O Homem da Mãe Baiana”, “A Comida da Mãe Baiana”, “A Filha da Baiana”, “Baiana, Mãe do Samba” e “A Mãe Nossa da Bahia”. Os quadros mostravam as origens africanas, a religiosidade, a culinária e, lógico, o samba.

O samba-enredo, assim como em 1982, foi antológico, de autoria dos geniais compositores Beto Sem Braço e Aluísio Machado. E o povo cantou com a escola desde que o puxador Quinzinho entoou os primeiros versos. Não por acaso, a obra levou o troféu de Melhor Samba-Enredo do júri do Estandarte de Ouro do jornal O Globo.

A última alegoria representou a glorificação da baiana, na qual uma grande escultura de uma baiana vinha ladeada por um enorme resplendor. O Império deixou a pista sob os gritos de “bicampeã”. Na apuração, o Reizinho de Madureira terminou na 3ª posição do Grupo Especial.

Mãe negra, sou a tua descendência

Sinto tua influência

No meu sangue e na cor

Iê, abará, acarajé

Capoeira, filho da mãe

Pregoeiro, homem da mulher

Okolofé mamãe

Kolofé lorum

Aieieu, aieieu Mamãe Oxum

(Beto Sem Braço e Aluísio Machado)




Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira 

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br