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Samba Paulistano
    
1º de maio de 2020, nº 40
SE VOCÊ NÃO CONHECE, VENHA CONHECER - PARTE 1
por Bruno Malta

Nessa série de quatro partes, o SAMBARIO apresenta um pouco da história do Carnaval de São Paulo. Falaremos dos desfiles, palcos e pavilhões da capital paulistana. Trazendo histórias, personagens, curiosidades, desfiles notáveis, sambas marcantes e o momento atual de cada uma das principais agremiações da cidade.

O desfile das escolas de samba de São Paulo já tem mais de cinquenta anos de oficialização. Nesse período, o que não faltaram foram mudanças. Mudou-se o palco por duas vezes, mudaram as agremiações, as campeãs, os dirigentes, os modelos de desfile, os julgamentos, os intérpretes, os carnavalescos… tudo ou quase tudo, mudou. Apesar disso, há algumas histórias que não se apagam e delas que trataremos nessa série. A intenção dessa “espécie de guia” é apresentar cada um dos principais pavilhões da capital paulista com todas as suas peculiaridades, seus momentos, seus desfiles, seus sambas e tudo que o cercam. Portanto, seja bem-vindo, vem conhecer o Carnaval de São Paulo!

Nenê de Vila Matilde


Pavilhão da Nenê de Vila Matilde e suas onze estrelas do Grupo Especial (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 1º de Janeiro de 1949

Madrinha: Portela

Títulos: 11 no Grupo Especial: Seis foram conquistados antes da oficialização (1956, 1958, 1959, 1960, 1962 e 1965) e cinco após a oficialização da folia pelo Prefeito Faria Lima (1968, 1969, 1970, 1985 e 2001) e 2 no Grupo de Acesso (2010 e 2012)

Cores: Azul e Branco

Bairro: Vila Matilde

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=QFW9vfCOypc

A história

A Nenê surgiu no fim da década de 40, já como escola de samba. Oriunda da Zona Leste, conquistou onze títulos do Grupo Especial, sendo seis deles antes da oficialização da folia por parte do prefeito Faria Lima. Até então, tinha uma imensa rivalidade com o Unidos do Peruche e com a Lavapés, para saber quem era a maior da cidade. Após a oficialização da folia, conseguiu um tricampeonato entre 1968 e 1970, mas com a chegada de outras entidades oriundas dos blocos e de cordões, como Mocidade Alegre, Vai-Vai e Camisa Verde e Branco, a Nenê não teve a mesma força de outros tempos.

A azul e branco conquistou nove de seus onze títulos fora da Avenida Tiradentes e do Sambódromo do Anhembi, mas as duas conquistas isoladas nesses palcos foram bem marcantes. Em 1985, com o enredo “O Dia Que o Cacique Rodou a Baiana Ai Ó”, além de conquistar a taça, garantiu o direito de ser a única escola paulistana a desfilar na Marquês de Sapucaí. Já em 2001, com o enredo “Voei, Voei, na Vila Aportei, Onde Me Deram a Coroa de Rei” quebrou um jejum que já durava dezesseis anos, o maior de sua história até então.

Após o último título, a Nenê ainda se manteve forte nos anos seguintes, mas teve como derradeira participação, via Grupo Especial, no desfile das campeãs no ano de 2004 em um carnaval temático sobre os 450 da cidade de São Paulo. Com o enredo “A Águia Voa Para o Futuro, Que Legal, É a Bienal no Carnaval! São Paulo 450 anossobre a bienal do livro, a azul e branco ficou em quarto lugar, perdendo o título por um ponto. Depois disso, o declínio foi acentuando e culminou no inédito rebaixamento ao Grupo de Acesso em 2009, ano em que a agremiação completou sessenta anos. Desde então, acumulou outros três rebaixamentos (2011, 2017 e 2020) e seis desfiles fora da elite do Carnaval (2010, 2012, 2018, 2019, 2020 e 2021).

Desfiles notáveis

Com nove dos onze campeonatos conquistados antes de 1977, a Nenê tem apenas dois títulos1985 (O Dia Que o Cacique Rodou a Baiana Ai Ó) e 2001 (“Voei, Voei, na Vila Aportei, Onde Me Deram a Coroa de Rei)nos últimos cinquenta anos, mas ainda, sim, tem grandes desfiles. Em 1997, com o enredo Narciso Negro”, a apresentação da azul e branco foi a melhor na Era Anhembi até então, e o terceiro lugar conquistado marca o início da última grande fase da Águia da Zona Leste. Em 1998, falando sobre a Mangueira no enredo “Sementes do Samba. União de Gente Bamba, fez outro grande desfile e foi vice-campeã. Por fim, em 2003, o enredo (É Melhor Ler. O Mundo Colorido de um Maluco Genial) sobre o escritor Ziraldo, também marca mais uma passagem marcante da Nenê na Era Anhembi e foi corado com um honroso quarto lugar.

Curiosidade

A Nenê é a única escola de samba paulistana, até os dias de hoje, que desfilou na Marquês de Sapucaí. Em 1985 a UESP, então organizadora dos desfiles do Grupo Especial, conseguiu uma parceria com a Liesa e garantiu vaga para a campeã de São Paulo no desfile das campeãs do Rio de Janeiro. A Nenê venceu a disputa naquele ano e representou o Carnaval da cidade.

O atual momento e o último desfile

Desfile de 2015 foi uma rara exceção positiva em meio ao pior momento da história da Nenê (Foto: Lucas Lima/UOL)

Desde 2009, a Nenê vive uma fase tenebrosa. A escola não conseguiu se estabelecer como força no Grupo Especial nos últimos anos e acumulou rebaixamentos no período. No próximo ano, vai desfilar, pela primeira vez em sua história, no Grupo de Acesso IIterceira divisão do Carnaval Paulistano. No último Carnaval, a azul e branco fez uma apresentação tímida na defesa do enredo O Presente da Deusa e o brinde da Águiae sem a tradicional força da comunidade. Com muitos erros no quesitos de chão e uma plástica bem limitada, o resultado foi um desastroso sétimo e último lugar no grupo, culminando no descenso da agremiação.

Sambas marcantes

A Nenê é uma das escolas mais ligadas as temáticas africanas em São Paulo. Seu último grande samba na elite foi falando de Moçambique, no enredo “MoçambiqueA Lendária terra do Baobá sagrado!”, em 2015. Outra vertente que merece citação é a das críticas sociais como a de 2002, do enredo “Em Não Se Plantando, Tudo Nos Dão?… Não!!!” que tratava da reforma agrária. No entanto, duas obras memoráveis, que ecoam até hoje, foram de outras temáticas. Em 1999, com o enredo “Voa Águia, Voa que Sampa é Toda Tuasobre a cidade de São Paulo, levantou o Anhembi com uma composição de fácil assimilação e de raríssima felicidade em letra e melodia. Apesar do rebaixamento, 2009 marca mais uma trilha de grande qualidade da azul e branco; Com o enredo “60 AnosCoração Guerreiro, A Grande Refazenda Do Samba, o fantástico samba foi o ponto mais alto de uma conturbada apresentação.

Unidos do Peruche

Pavilhão do Unidos de Peruche e suas cinco estrelas do Grupo Especial (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 4 de janeiro de 1956

Madrinha: Lavapés

Títulos: 5 no Grupo Especial todos foram conquistados antes da oficialização (1957, 1962, 1965, 1966 e 1967) e 3 no Grupo de Acesso (1981, 2008 e 2015)

Cores: Verde, Amarelo, Azul e Branco

Bairro: Parque Peruche/Limão

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=QFW9vfCOypc

A história

Fundada em 1956, a Filial do Samba, como é conhecida, é uma das escolas que mais perdeu força ao longo das décadas, mas ainda mantém inegável contribuição para o Carnaval Paulistano. Tem cinco títulos, todos antes da oficialização da folia em 1968.

Até aquele momento, o Peruche disputava com a Nenê, o posto de maior da cidade. As duas, junto da Lavapés, se revezaram como campeãs do Especial Paulistano entre 1950 e 1968, período da pré-oficialização. A partir da década de 70, a agremiação foi perdendo sua força. Com resultados cada vez mais modestos, amargou o primeiro rebaixamento para o Grupo de Acesso em 1980. Era o primeiro sinal de alerta na Filial.

No entanto, a partir da segunda metade da década de 80, o Peruche importou artistas cariocas como Joãozinho Trinta e Laíla e impôs sua força de novo. Mesmo sem a taça, que teimou em escapar, desfiles inesquecíveis em 1989 (Os Sete Tronos dos Divinos Orixás) e 1990 (De Roma Pagã ao Esplendor da Paulicéia) são considerados marcantes até hoje pelos sambistas da cidade. Nas décadas seguintes, voltou a se tornar uma escola de meio para fim de tabela. Apesar da força inegável no chão, os desfiles eram frágeis plasticamente e a agremiação não se estruturou para o boom dos anos 2000. Rebaixamentos em 2000 (Cara e Coroa, as Duas Faces de um Império), 2004 (São Paulo é Como Coração de Mãe… Sempre Cabe Mais Um), 2007 (Com Mauricio de Sousa, a Unidos do Peruche, Abre-Alas, Abre-Livros, Abre-Mentes e Faz Sonhar), 2009 (Do ventre da Terra à indomável cobiça do homem) e 2011 (Abram as cortinas, o espetáculo vai começar! 100 anos do Teatro Municipal de São Paulo, Peruche vai apresentar. Bravo! Bravíssimo!) marcam o período.

Desfiles notáveis

No segunda metade da década de 80, o Peruche contou com a forte e revolucionária administração de Walter Guariglio que, inspirado no que fez Eduardo Basílio, presidente do Rosas de Ouro, transferiu a escola para o bairro de Limão em 1984 e deu outra cara para a agremiação. Com uma quadra cheia e bons segmentos, conseguiu realizar grandes desfiles naquele período. Em 1985, com o enredo Águas Cristalinas, a Filial terminou em quarto lugar e entrou para a história com mais um clássico samba-enredo. Em 1989 (Os Sete Tronos dos Divinos Orixás) e 1990 (De Roma Pagã ao Esplendor da Paulicéia), atingiu o ápice com duas apresentações que entraram pra história da Avenida Tiradentes. Com Joãozinho Trinta, Laíla, Jamelão e Eliana de Lima, saiu da pista aclamada nos dois anos, mas não conseguiu vencer o campeonato. No primeiro ano, uma polêmica nota de Dona Zica impediu a conquista, no ano. seguinte, um mísero ponto impediu o tríplice empate com o Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro.

Curiosidade

A atual quadra do Unidos do Peruche fica na mesma ruana mesma calçada, literalmenteque a da Mocidade Alegre. Ambas estão situadas na Rua Samaritá, no bairro da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo desde 2013, quando a Morada do Samba se mudou de endereço.

O atual momento e o último desfile

O Peruche vive uma fase de declínio, acumulando dois rebaixamentos em três anos (Foto: SASP)

Em 2015, depois de um quase rebaixamento no Grupo de Acesso no ano anterior, a Filial acordou. Com um lindo samba, dominou o grupo e conseguiu subir para elite, graças ao talento do carnavalesco Murilo Lobo, de suma importância entre 2015 e 2017. Com a saída do carnavalesco naquele ano, o Peruche voltou a entrar em curva descendente. De lá pra cá, foram dois rebaixamentos consecutivos e a inédita participação no Grupo de Acesso IIterceira divisão dos desfiles paulistanos. Buscando voltar ao Acesso I, houve uma considerável renovação em seu time no último Carnaval. Casal, cantor, bateria…tudo mudou. Apesar de um bom samba e de um bom desfile, a escola teve problemas na organização de sua pasta, perdendo décimos preciosos antes mesmo da apuração, e ficou longe do Acesso.

Sambas marcantes

A Filial é uma das escolas mais ligadas às temáticas de raiz africana, apesar de alguns temas exóticos como o de 1999 (Bill Gateso Cérebro do Futuro) sobre o gênio norte-americano da tecnologia. Com isso, seus sambas se destacam por melodias de muita força. Ademais, merece ser lembrado que também revelou intérpretes femininas e chamou atenção por isso. Eliana de Lima e Bernardete são os principais casos. Os destaques principais são os sambas do último período de ouro que se deu entre 1985 (Águas Cristalinas) e 1990 (De Roma Pagã Ao Esplendor da Pauliceia). Em 1988, com o enredo “Filhos da Mãe Preta”, mais uma obra inesquecível sobre o negro. Além deste, é possível citar obras desse período mais recente como o de 2016 sobre o centenário do samba (Ponha um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem o samba… 100 anos de samba, minha vida, minha raiz) e 2017 sobre a cidade de Salvador (A Peruche no maior axé exalta Salvador, cidade da Bahia, caldeirão de raças, cultura, fé e alegria) que reforçam a tradição de grandes trilhas sonoras da Filial.

Mocidade Alegre

Mocidade Alegre possui dez campeonatos no Grupo Especial de São Paulo (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 24 de Setembro de 1967

Madrinha: Império do Samba

Títulos: 10 no Grupo Especial (1971, 1972, 1973, 1980, 2004, 2007, 2009, 2012, 2013 e 2014) e 1 no Grupo de Acesso (1970)

Cores: Verde, Vermelho e Branco

Bairro: Limão

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=Oiws_JKizCY

A história

A Mocidade Alegre tem origem no Bloco das Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro e foi fundada em 1967. Sua localização original é no Bairro do Limão. Tem dez títulos do Grupo Especial. Seu início como escola de samba foi avassalador. Após um primeiro ano de experiência em 1968, acumulou cinco títulos seguidos entre 1969 e 1973, sendo três deles de forma consecutiva. Depois de um começo tão forte, a Morada só voltaria a vencer em 1980. Com o enredo “Embaixada de Sonho E Bamba”, encerrou um jejum que já durava mais de sete anos. Era o quarto campeonato em apenas dez anos na elite, mas, após o quarto título veio o maior jejum de sua história.

Entre 1980 e 2004, a Mocidade acumulou decepções, equívocos e muitas tentativas frustradas. O início da retomada de sua força aconteceu em 2003 (OmiO Berço da Civilização Iorubá) com mais um tema de matiz africana. Após o primeiro vice-campeonato em quinze anos, a Morada entrou em 2004 querendo mostrar que o renascimento era pra valer. E conseguiu… Com um lindo samba, se reafirmou e conquistou mais uma taça e traçou de vez seu retorno aos dias de glória.

Reestruturada, arrebatou mais vitórias nos anos seguintes. Foram mais cinco campeonatos (2007, 2009, 2012, 2013 e 2014), incluindo um tricampeonato consecutivo, o que fez da Morada, a escola ser batida no século. Além dos títulos, chamou a atenção por sua imensa competitividade. De 2003 pra cá só ficou fora do desfile das campeãs em três oportunidades (2011, 2017 e 2019), mostrando acima de tudo sua regularidade no período.

Desfiles notáveis

Entre a mudança da Tiradentes para o Anhembi, a Mocidade passava por um longo período, onde teve muita dificuldade para conquistar grandes resultados. Apesar disso, um dos grandes momentos na Tiradentes aconteceu em 1988 (O Cientista PoetaPaulo Vanzolini) na homenagem a Paulo Vanzolini, quando conquistou o vice-campeonato. A partir dali, a agremiação só voltaria a deixar sua marca registrada em 2003 (OmiO Berço da Civilização Iorubá) consagrando um novo estilo de apresentação. Após esse desfile, passou a ser uma das mais aguardadas. Com grandes desfiles em 2004 (Do Além-Mar à Terra da Garoa… Salve Esta Gente Boa), 2007 (Posso Ser Inocente, Debochado e Irreverente… Afinal, Sou o Riso dessa Gente), 2009 (Da Chama da Razão ao Palco das Emoções… Sou Máquina, Sou Vida… Sou Coração Pulsando Forte na Avenida), 2010 (Da criação do universo ao sonho eterno do criador … Eu sou espelho e me espelho em quem me criou), 2012 (OjuobáNo Céu, os Olhos do Rei Na Terra, a Morada dos Milagres No Coração, Um Obá Muito Amado!), 2014 (Andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar), 2015 (Nos palcos da vida… Uma vida no palco: Marília) e 2020 (Do canto das Yabás renasce uma nova Morada) a rubro-verde, sem dúvidas nenhuma é um dos grandes nomes da Era Anhembi no século XXI.

Curiosidade

A Mocidade Alegre passou por uma revolução em sua história nos últimos vinte anos. Nesse período, ficou no pódio em quinze oportunidades. Foram seis títulos (2004, 2007, 2009, 2012, 2013 e 2014), cinco vices (2003, 2008, 2010, 2015 e 2018) e quatro medalhas de bronze (2005, 2006, 2016 e 2020). Para se ter uma ideia, nos treze desfiles anteriores a esse período, jamais tinha conseguido ficar em primeiro ou segundo lugar.

O atual momento e o último desfile

Mocidade Alegre se reencontrou em 2020; Desfile anima torcida e comunidade (Foto: Cesar R. Santos/SRZD)

Após a conquista em 2014, a Mocidade Alegre vem num pequeno longo jejum de títulos. Em carnavais recentes, tomou duas fortes pancadas, em 2017 e 2019 e parecia trilhar um caminho de fim de domínio, após mais de quinze anos entre as três mais fortes da cidade. Mas um fantástico desfile em 2020 animou sua comunidade e torcida. Afinal, com o canto das Yabás, a Morada renasceu. Dona do melhor samba do ano e com uma plástica arrebatadora a Morada terminou credenciada ao campeonato. Mesmo sem a taça o desfile trouxe a sensação de de alma lavada e dever cumprido.

Sambas marcantes

A Mocidade sempre se conectou fortemente com as obras de temática africana, especialmente nos primeiros campeonatos. Tanto em 1973 (Odisseia de Uma Raça), 1980 (Embaixada de Bambas e SambaA Festa do Povo) e 1981 (Visungo, Canto de Riqueza), a agremiação trouxe enredos afros que geraram sambas marcantes para a época. Só que no século XXI, com o ressurgimento, o estilo também mudou. Os sambas afros se mantiveram com destaque como em 2003 (OmiO Berço da Civilização Iorubá), 2012 (OjuobáNo Céu, os Olhos do Rei Na Terra, a Morada dos Milagres No Coração, Um Obá Muito Amado!) e 2020 (Do canto das Yabás renasce uma nova Morada), mas também trouxe composições competentes com enredos lúdicos como em 2007 (Posso Ser Inocente, Debochado e Irreverente… Afinal, Sou o Riso dessa Gente) e 2009 (Da Chama da Razão ao Palco das Emoções… Sou Máquina, Sou Vida… Sou Coração Pulsando Forte na Avenida). Biro-Biro, vencedor da disputa interna em nove vezes, é um destaque da caneta na Morada do Samba.

Camisa Verde e Branco

Pavilhão do Camisa Verde e Branco com suas nove estrelas do Grupo Especial (Foto: Guilherme Queiroz/SRZD)

Fundação: 4 de Setembro de 1953

Madrinha: Estação Primeira de Mangueira

Títulos: 9 no Grupo Especial (1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993) e 1 no Grupo de Acesso (1997)

Cores: Verde e Branco

Bairro: Barra Funda

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=Y0tdt5GYVsU

A história

Originário do cordão carnavalesco e fundado pela família Tobias, o Camisa Verde e Branco tem nove títulos do Grupo Especial, sendo o último deles conquistado em 1993. Apesar disso, jamais venceu sozinho na elite paulistana na Era Anhembi, mas é, até hoje, um dos principais expoentes do samba de São Paulo. Muito de sua enorme tradição vêm da antiga pista de desfiles, na Avenida Tiradentes, onde a verde e branco é a mais dominante.

O Camisa venceu quatro campeonatos em catorze desfiles no palco antecessor do Anhembi, sendo campeão no primeiro ano (1977 com Narainã, A Alvorada Dos Pássaros) e no último (1990 com Dos Barões do Café a Sarney, Onde Foi Que Eu Errei), além de ter realizado inúmeros desfiles inesquecíveis, como na homenagem a madrinha Mangueira realizada em 1987 (Barra Funda Estação Primeira). Além desse domínio, o Camisa é, até hoje, a única agremiação tetracampeã do Carnaval Paulistano sem qualquer divisão de seus campeonatos. O Trevo, que estreou como escola de samba em 1972, conquistou entre 1974 e 1977, quatro títulos consecutivos de forma isolada. É um feito jamais igualado até o presente momento.

A última passagem do Camisa no Grupo Especial foi em 2012. Falando de amor (É o Amor…) e tendo Agnaldo Amaral como intérprete, a verde e branco fez um desfile acima das expectativas, mas acabou rebaixada na confusa apuração. Desde então, já são nove anos no Grupo de Acesso. A última colocação notável na elite, no entanto, já faz bastante tempo. Em 2002, com enredo “Quatro: Vamos Pensar… Isso Vai Dar o Que Falar!, a alviverde foi vice-campeã. Foi a última vez, que a escola desfilou nas campeãs por um resultado conquistado no Grupo Especial.

Desfiles notáveis

Os principais desfiles da história do Camisa foram realizados na Avenida Tiradentes. Foi lá que a alviverde se consagrou e conquistou boa parte de seus campeonatos como em 1989 (Quem Gasta Tudo Num Dia, No Outro Assovia) e 1990 (Dos Barões do Café a Sarney, Onde Foi Que Eu Errei) e nos bons desfiles de 1987 (Barra Funda Estação Primeira) e 1988 (Boa Noite São PauloConvite Para Amar), mas em 2003 certamente foi a derradeira vez que pisou forte no Grupo Especial. Com um enredo sonegado pela ditadura militar, na década de 80, cantou com competência e emoção, a trajetória do Almirante Negro em A Revolta da Chibata. Sonho, Coragem e Bravura. Minha história: João Cândido, Um Sonho de Liberdade.

Vale também registrar o último título. O Trevo foi campeão com o enredo Talismã, pela última vez na elite. O título, no entanto, foi dividido com o Vai-Vai, mas sem grandes contestações, graças a um belíssimo acordo entre os presidentes Magali dos Santos (Camisa Verde e Branco) e Solón Tadeu Pereira (Vai-Vai) contado por Zulu, consagrado locutor da apuração paulistana, em 2010.

Curiosidade

Por anos, especialmente na década de 90, com a ascensão dos Gaviões da Fiel, o Camisa Verde e Branco foi associado ao Palmeiras, time de futebol rival do Corinthians, por conta das cores e da localização no bairro da Barra Funda. Nada disso, entretanto, fazia qualquer sentido. O Camisa, além de não ter nenhuma ligação com o alviverde, ainda é a madrinha da Torcida Que Samba

O atual momento e o último desfile

Homenageando Carlinhos Brown, não conseguiu o Acesso para a elite do Carnaval (Foto: Igor Cantanhede/SASP)

O Camisa passa pela pior fase de toda a sua gloriosa história. Além de estar desde 2013 no Grupo de Acesso, não fica entre os cinco primeiros do Grupo Especial desde 2002 e não conquista um título desde 1993. Todos os jejuns atuais são os maiores de sua trajetória. Em 2020 terminou em quinto lugar no Grupo de Acesso, sem brigar por uma vaga na elite. Homenageando o cantor Carlinhos Brown. Apesar do bom desempenho de seus quesitos de chão, a escola não conseguiu ter força plástica para brigar pelo acesso, frustrando mais uma vez a expectativa de suaaindanumerosa torcida.

Sambas marcantes

O Trevo tem uma discografia bem acima da média da cidade de São Paulo e ao contrário de algumas escolas que determinaram uma linha clara de temática, a alviverde sempre flutuou entre vários perfis como pode ser muito observado nas sequências 1987, 1988 e 1989 e 2001 (Sertanista e Indianista Sim, Mas Por Que Não? Orlando Villas Bôas), 2002 (Quatro: Vamos Pensar… Isso Vai Dar o Que Falar!) e 2003 (A Revolta da Chibata. Sonho, Coragem e Bravura. Minha história: João Cândido, Um Sonho de Liberdade). Além destes, as obras de 1977 (Narainã, A Alvorada Dos Pássaros), 1982 (Negros Maravilhosos “Mutuo Mundo Kitoko”), 1992 (Banho de Luz Que Me Seduz) e dois sambas sobre a capital paulista se destacam. Em 1988, com o enredo Boa Noite São PauloConvite Para Amar, a onde falou sobre a noite da capital. Já em 2011 foi a vez de falar da Avenida Paulista com o enredo Paulista viva, vista a Camisa. A mais Paulista das avenidas.

Vai-Vai

Pavilhão do Vai-Vai; Saracura tem quinze campeonatos no Grupo Especial e é, com folga, a maior da cidade (Foto: Fábio Capeleti)

Fundação: 1 de Janeiro de 1930

Madrinha: Império do Samba

Títulos: 15 no Grupo Especial (1978, 1981, 1982, 1986, 1987, 1988, 1993, 1996,1998, 1999, 2000, 2001, 2008, 2011 e 2015) e 1 no Grupo de Acesso (2020)

Cores: Preto e Branco

Bairro: Bela Vista

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=81ywzOxYaJc

A história

Fundado em 1930, o Vai-Vai surgiu como cordão carnavalesco e se tornou escola de samba em 1972. De lá pra cá, angariou títulos, histórias e personagens, que ajudaram a construir a mais vitoriosa das agremiações da cidade de São Paulo. A alvinegra tem quinze títulos no Grupo Especial.

Desde a sua estreia entre as escolas de samba em 1973, a Saracura sempre se colocou como postulante ao título da elite. Não por acaso que é a única agremiação com títulos em todas as décadas desde os anos 70. Um outro fato marcante na trajetória da Escola do Povo é que, ela é a única tetracampeã na Era Anhembi. Entre 1998 e 2001, ganhou quatro campeonatos. Seu tetracampeonato no entanto, tem uma diferença em relação ao conquistado pelo Camisa entre 1974 e 1977. Entre três oportunidades (1999, 2000 e 2001), houve divisão do título entre o Vai-Vai e mais uma co-irmã.

Após o tetracampeonato, a Saracura amargou um período de sete anos sem conquistaso maior, até o presente momento, em sua história. Apesar da falta da taça, desfiles como o de 2005 sobre a imortalidade e o de 2006 sobre São Vicente são lembrados até hoje.

Desfiles notáveis

Apesar de já ter títulos marcantes na década de 80, como, por exemplo, em 1988 (Amado Jorge, a História de uma Raça Brasileira) quando falou de Jorge Amado, o Vai-Vai se consolidou como a maior agremiação da cidade na segunda metade dos anos 90. Durante esse período, a alvinegra se destacava como a mais forte do Anhembi e com desfiles que chamavam a atenção pela incrível comunicação com o público.

Apresentações em 1996 (A Rainha, a Noite tudo transforma), 1998 (Banzai! Vai-Vai) e 2000 (Vai-Vai Brasil) são marcos da consolidação popular do Vai-Vai no Anhembi. Além destes, é possível citar que todos os últimos três campeonatos na elite, também foram conquistados graças a essa ligação entre comunidade e arquibancada. Tanto 2008 (Vai-Vai acorda Brasil, a saída é ter esperança), 2011 (A Música Venceu) e 2015 (Simplesmente Elis. A Fábula de uma Voz na Transversal do Tempo), chamaram a atenção do público presente no sambódromo, devido a incrível facilidade na compreensão da mensagem, somada a uma temática popular.

Curiosidade

O atual mestre de bateria é o mesmo desde a estreia como escola de samba. Tadeu comandou “Pegada de Macaco” nos últimos 48 desfiles. Vindo do Lavapés em 1963, Tadeu, além dos quinze títulos como mestre, também venceu um título quando era ritmista nos tempos de cordão em 1970.

O atual momento e o último desfile

Vai-Vai passa por turbulências internas desde o último campeonato na elite em 2015 (Foto: Newton Menezes/Futura Press)

Desde seu último título na elite em 2015, a Saracura sofreu bastante em termos administrativos e de resultados. Com brigas internas, problemas financeiros, saída de presidente e rebaixamento, só teve um pouco de paz com o retorno à elite conquistado nesse ano. Pela primeira vez no Grupo de Acesso, mostrou que é a maior escola da cidade. Com um enredo sobre a própria história, mesmo com alegorias simplórias deu um sacode típico da alvinegra e traçou seu retorno ao Grupo Especial.

Sambas marcantes

O Vai-Vai é uma das escolas com a discografia mais particular. Mesmo sem letras refinadas, a Saracura consegue trazer o povo para junto de si com grandes sacadas e melodias de inegável força. Um dos grandes responsáveis por isso é a dupla Zé Carlinhos e Zeca do Cavaco, donos de mais de quinze sambas da alvinegra. Isso, fortaleceu o elo entre a alvinegra e o público ao longo das décadas.

Ainda nos tempos da Avenida Tiradentes, a Saracura já brindou o samba de São Paulo com dois clássicos em 1978 (Na Arca de Noel quem entrou não saiu mais) e 1982 (Orun AiyêO Eterno Amanhecer). Em seu tricampeonato nos anos 80, o samba de 1987 (A Volta ao Mundo em 80 Minutos) também merece um destaque por aqui. Por fim, já na Era Anhembi, apesar de não levar o campeonato nesses anos, sambas de 2005 (Eu também sou imortal) e 2017 (No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu… Menininha, mãe da BahiaIalorixá do Brasil) mostram a qualidade histórica da discografia da entidade.