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Coluna do Ostelino

MAIS UM CARNAVAL E QUEM VAI SEGURAR A VILA?

23 de março de 2012, nº 17, ano VIII

Todo ano a passarela acaba colocando em evidência algumas teorias e joga por terra tantas outras. Por mais previsível que o resultado possa parecer, sempre há o elemento surpresa, aquilo que só acontece no momento do desfile e acaba deixando grande parte do público surpreendida. Não se trata da espetacularização, o que se efetivou e não tem mais retoro. Falo daquilo que se faz presente em momentos cada vez mais raros e tem haver com o que de mais essencial é um desfile de escola de samba.

O ápice que uma produção carnavalesca pode atingir só acontece pleno no diálogo face a face. A TV, o rádio ou internet não podem registrar isso em sua totalidade, pois o processo acontece num espaço delimitado e se configura na relação entre os interlocutores principais, onde um terceiro modifica completamente o processo. 2012 foi regado a algumas doses disto, na surpreendente passagem da São Clemente, que apropriou do novo espaço do sambódromo enchendo seu gigantismo com balões alegres; a ousada bateria da Mangueira que silenciou as caixas de som da Sapucaí na tentativa de construir uma unidade para uma plateia até então amorfa e o encanto da Bahia vestida nas cores da Portela. Mas a arte da Vila Isabel, o tão desejado acontecer de Rosa Magalhães, encheu olhos e corações de muita emoção.

O povo de Noel promoveu uma comunicação plena com a plateia, da comissão de frente a última alegoria, ali foi estabelecido um sincronismo de energia, um esforço espontâneo das partes envolvida.

O entregar-se ao momento momesco, como se ali tudo fosse terminar e o auge necessitava acontecer. Era arte musical, visual, abstrata e popular, um experimento alucinógeno que nos remetia a Kizomba, um momento diferente na sua forma e contexto, mas não no sentir. Veio Salgueiro, Tijuca e Mocidade, deram também contribuição e terminou mais um carnaval. Ficaram as cinzas e as lembranças do que se efetivou no palco da folia naquela manhã da segunda-feira de carnaval. Ficou a lembrança, a fé de poder reviver isto numa outra ocasião que não sabemos quando. Se ela ainda agradece com carinho, fica a questão: quem vai segurar a Vila?


Alessandro Ostelino
ostelino@hotmail.com