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Coluna do João Marcos

BEIJA BEIJA BEIJA BEIJA

19 de agosto de 2010, nº 39, ano V

A Beija-Flor de Nilópolis resolveu, finalmente, tirar da gaveta aquele enredo especulado todo ano, sobre o cantor Roberto Carlos. Até aí, nada demais. Só que, no meio dos 3 trilhões de sambas inscritos nas eliminatórias da escola, está lá um do maior parceiro do rei, o sr. Erasmo Carlos.


Erasmo, de certa forma, também é um dos homenageados do enredo na medida que é autor de praticamente todos os sucessos de Roberto. Quando ele bota no samba "eu vivo esse momento lindo", da canção Emoções, uma das citadas na letra, pode ser, simplesmente, que o verso seja dele!

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Agora, o grande barato é que ele é mais um samba de melodia e estrutura nostálgicas, só que, diferente de tantos que apareceram por aí, e diferente até dos sambas modernos de letras complicadas, os Neo-Sambas-do-Crioulo-Doido que infestam as escolas hoje em dia, o samba de Erasmo é uma recriação das obras da metade dos anos 70.

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Sim, o samba de Erasmo nada mais é do que a volta da estrutura do "Tengo Tengo", "Pega no Ganzê", daqueles sambas de ole lele ola lala que, ou cairam na boca do povo ou foram tragados para os porões da história e hoje são citados como exemplos de insucesso de obras que tentaram comunicação com o público.

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O grande problema é que, diferentemente dos sambas que tentam recriar os anos 60, como o samba do Tantinho e cia. na Mangueira (peço desculpas aos demais autores por não citá-los - infelizmente a rídicula regra de ocultação do nome dos compositores só serve para isso, para não dar crédito a quem de direito), o samba de Erasmo vem sendo ridicularizado e tratado como lixo.

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Evidentemente, se o João Marcos assinasse o samba, ele cairia de cara. É óbvio que no esquema atual, um samba desses só se sustenta no nome dos compositores. Mas dizer que o samba é ruim apenas pela estrutura é preconceito. Infelizmente, muitos dos comentaristas da atualidade não conseguem ir além da posição ideológica, de uma falsa idéia de como o samba-enredo pode ser. Samba-enredo pode ser qualquer coisa, desde que seja samba e sua letra passe pelo enredo. Precisa ter letra rebuscada? Não. Precisa ter refrão? Não. Precisa falar o nome da escola? Não.

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Os comentaristas ideológicos apenas julgam conforme noções pré-concebidas e preconceitos. O que está na fórmula é bom, o que não está não é. Música não se julga assim. Muitas vezes, a simplicidade é mais genial do que a complexidade. Quem já tentou compor um dia, pode atestar -  é mais fácil complicar do que simplificar. Fazer um samba fácil, que fique na memória, que seja gostoso de cantar e ainda passe alguma coisa do enredo é uma das coisas mais difíceis para o compositor de samba-enredo. A maioria dos que tentam passa vergonha.

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Na maioria dos demais estilos musicais, a questão também é colocada. No rock, p.ex., o punk foi uma reação à complexidade crescente do rock progressivo. Os roqueiros do final dos anos 70 buscaram resgatar a simplicidade e atitude dos primórdios do estilo e chutaram para escanteio as bandas que, cada vez mais, apostavam em longos e complexos solos, citações de música clássicas, canções divididas em suítes e movimentos e etc. E quem estava com a razão, quem era melhor, o pessoal do rock progressivo ou os três acordes do punk? Nenhum dos dois - houve boa música feita pela galera do progressivo e boa música feita pelos punks. A preferência é mais ideológica do que avaliação da qualidade da música.

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O que acontece é que a música simples é mais fácil para o público digerir. P.ex., na música erudita mesmo, todo mundo conhece o iniciozinho da Quinta Sinfonia do Beethoven, ou as Quatro Estações do Vivaldi. São obras com melodias que pegam pelo ouvido. Difícil é alguém conhecer algo de Charles Ives ou Stravinsky, que não possuem obras assobiáveis e, muitas vezes, quebram até as noções de tonalidade e tem noções rítmicas difíceis. E os quatro são respeitados e admirados pelos especialistas e estudados de acordo com as suas características, sem discussões de caráter ideológico. 

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Eu decorei o samba do Erasmo na segunda passada. Isso é fundamental para a popularização de uma música. Eu acho que os sambas atuais, muitas vezes, pecam e se distanciam do público justamente por serem muito prolixos, com letras sem sentido por terem de resumir sinopses difíceis.

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Não tenho dúvidas que o samba do Erasmo faria um belo sacode na Sapucaí por causa de sua simplicidade. É um samba genial? Não, não é, longe disso, mas cumpre seu objetivo com perfeição. E só assim ele pode ser avaliado. Ele joga o jogo conforme suas próprias regras, e não a dos escritórios ou comentaristas atuais. Se deve ou não ser escolhido, é outra história, mas gostei muito de ouvir algo diferente, mesmo que seja fruto de compositores que, provavelmente, não escutem um samba-enredo há 30 anos e, por isso, estão completamente por fora da realidade.

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Para os amigos que querem o samba do Erasmo em boa qualidade, coisa que nenhum site ainda teve capacidade de fazer, segue o link:

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Link: http://www.4shared.com/audio/iODznnlo/22_-_Beija-Flor_-_Erasmo_Carlo.html

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Baixe também a irresistível versão remixada, com toda a potência da bateria. Você não conseguirá parar de ouvir, garanto!

Link: http://www.4shared.com/audio/bi8QYKFh/Beija-Flor_-__2011__Erasmo_Car.html


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Para quem não conhece os compositores e estilos musicais que eu citei ao longo do texto, exemplos direto do Youtube:

Punk: Ramones


Rock Progressivo: Yes


Quinta Sinfonia de Beethoven:


Vivaldi:


Charles Ives:

 

Sravinsky:


Abraços a todos!

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br