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Coluna do João Marcos

UM PAPO BOM A BESSA

Nas últimas semanas, estive envolvido na produção do CD da LIESV que, pela primeira vez, terá a grande maioria de seus sambas gravados em estúdio. Das 20 faixas, 16 foram produzidas no Estúdio Méier, sob comando de Léo Bessa, que também é responsável pelo CD de sambas enredo dos Grupos de Acesso A e B do Rio de Janeiro.

Enquanto as faixas eram mixadas e remasterizadas, Bessa e eu começamos a conversar sobre minhas críticas, um tanto quanto negativas, sobre o CD do Acesso aqui no SAMBARIO. Entretanto, e isto tem de ser bastante ressaltado, ao contrário de grande parte dos fãs de “Candaces”, Bessa foi extremamente educado e contra-argumentou.

Falou que os CDs dos Grupos de Acesso têm um público específico, diferente do Grupo Especial. É um público que freqüenta as quadras e quer ouvir os sambas naquela pegada. E que, geralmente, esse público critica bastante a produção do CD do Grupo Especial. A gravação do CD dos grupos de acesso, ao vivo na quadra da Curicica, é complicada - segundo ele, seria até muito mais fácil contratar músicos, montar as partituras e gravar as faixas em estúdio. E talvez os resultados fossem musicalmente superiores, mas que não agradariam ao público dos CDs.

Algumas observações são pertinentes – a produção do CD do Grupo Especial está longe de ser uma maravilha. Para mim, a sonoridade que mais chega a que eu considero ideal para um CD de sambas-enredo é aquela dos LPs do final dos anos 80, em especial o LP de 89, que, não por acaso, é o que tem a maior vendagem entre todos.

Acho que os LPs gravados nos anos 90 no Teatro de Lona muitas vezes têm um som carregado demais e que isto foi uma das razões do declínio das vendagens (juntamente com a queda de qualidade dos sambas e a pirataria). O som dos LPs começou a ficar distante demais do som das músicas que tocam nas rádios. Tanto isso foi percebido pelos produtores do CD que, a partir de 1999, a sonoridade dos CDs se modificou brutalmente. Porém, qual seria a ideal? Durante anos, os produtores bateram cabeça. Em 1999, fizeram aquela produção bizarra, com bases frias, participação de pagodeiros mauricinhos, tecladinhos e fru-frus que hoje estão terrivelmente datados.

De 2000 a 2004, a produção dos CD deixou os sambas do Grupo Especial monótonos. A partir de 2005, tivemos uma boa evolução, mas a coisa ainda está LONGE do ideal. A gravação continua muito padronizada e fria. Eu gostaria de ouvir baterias no CD que tivessem maior ligação com as características específicas de cada bateria. Porém, gostaria de uma produção musicalmente diversificada. Por exemplo, estava ouvindo o LP de 1971 outro dia e comecei a prestar atenção nos arranjos de violão das faixas da Vila Isabel e, principalmente, na da Unidos de São Carlos – são lindos, fantásticos. O LP de 1971, aliás, é o exemplo da simplicidade e diversidade que poderiam ser revividas nos CDs, claro que com uma roupagem mais moderna.

Com relação ao CD do Acesso, a produção de Léo Bessa quase atinge seus propósitos. Provavelmente pelo volume da voz dos intérpretes, muito alto, um pouco da energia das apresentações se perde. E essa energia não é proporcional a velocidade dos sambas – tanto que o LP de 1968, apesar da produção precária e da lentidão dos sambas, esbanja energia.

Agora, uma coisa tem de ser destacada – em comparação os LPs do Grupo de Acesso dos anos 90, quase todos pavorosos, os CDs produzidos pelo Bessa são uma maravilha. A evolução na qualidade de gravação é assombrosa, sem sombra de dúvidas. Só que a crítica carnavalesca não pode deixar de apontar suas impressões, até para que a produção do CD, analisando os comentários, possa melhorar ainda mais.

Aliás, o Bessa me falou algo alarmante – muitas vezes, em estúdio, ele tem de diminuir a velocidade das faixas tamanha a fúria das baterias. Portanto, as baterias das escolas precisam puxar o freio nas gravações e valorizar mais os sambas. Caso contrário, pegam um samba como “O Amanhã” e o derrubam totalmente, como foi feito pela Boi da Ilha há dois anos.

Por fim, Bessa me adiantou algumas das novidades para os CDs do acesso deste ano. Sabendo que o fator surpresa é importante para valorizar o produto, deixo os senhores imaginando o que vem por aí. E adianto logo - vai ser bem bacana.

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Falando no CD da LIESV, temos, pela primeira vez, um CD do Carnaval Virtual em que mais de 90% das faixas foi feita estúdio. E com participações muito especiais. Ao longo das próximas colunas, falarei dos papos que eu tive com alguns dos grandes intérpretes do nosso carnaval, dentre eles, o próprio Léo Bessa, Igor Vianna, Carlinhos da Paz e Anderson Paz. Alguns tiveram detalhes e histórias curiosas de bastidores e de eliminatórias de samba enredo. Quanto ao CD da LIESV, baixem de graça em www.liesv.com.

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Recebi um email de um amigo leitor falando sobre o mp3 do LP “Escolas de Samba em Desfile”, que foi colocado para download com exclusividade pelo SAMBARIO.

Na coluna anterior, jogamos uma dúvida no ar – qual seria a escola “Padre Miguel”, responsável por quatro faixas do LP? Seria a Mocidade Independente ou a Unidos? Segundo o leitor, nenhuma das duas... e eu tendo a concordar com ele.

Parece que, na verdade, a escola representada no LP é a Unidos de Bangu. Isso mesmo, a Unidos de Bangu! A escola teve um samba sobre os bandeirantes em 1961, quando foi a terceira colocada do Grupo 2. Em 1967, com “os Precursores da Abolição”, foi a 19ª do Grupo 3.

Entretanto, quanto ao samba sobre o “Guarani”, apesar da escola ter levado este enredo em 1971, não é o da Unidos de Bangu. Como eu sei disso? Porque eu tenho o LP de sambas enredo do Grupo 3 de 1971, que disponibilizo agora para os amigos do SAMBARIO.

Para muitos, o LP do grupo de acesso (ou grupo 2) de 1971 é o mais raro de todos. Não é. Na verdade, em 1971, tivemos cinco LPs para os três grupos. Para o Grupo 1, hoje chamado especial, tivemos o Festival do Samba e o de capa amarelo alaranjado, a minha versão preferida. Tivemos o do Grupo 2 e este do Grupo 3. Ambos, no entanto, não trazem todos os sambas de cada grupo. Foi feito um quinto LP, com os sambas do Grupo 2 e 3 que ficaram de fora dos LP dos respectivos grupos. Esse LP tem capa verde-escura e uma foto em preto e branco, tem a inscrição “gravado ao vivo” e é, sem dúvidas, o mais raro dos LPs de Samba Enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Uma vez, numa feira na Praça XV, eu tive esse LP nas mãos, sendo vendido por cinqüenta centavos. Deixei de comprar pelo estado realmente lastimável da bolacha, provavelmente irrecuperável. Fiquei arrependido e nunca mais vi o LP. Inclusive, acho que até os maiores colecionadores desconhecem a existência desse LP.

O LP do Grupo 3, que está sendo disponibilizado pelo SAMBARIO, talvez seja o segundo mais raro. Além de possuir faixas de inúmeras escolas extintas, dentre elas a própria Unidos de Bangu, o LP tem também os sambas de Caprichosos de Pilares e Unidos da Ponte.

Peço desculpas pela qualidade ruim de algumas faixas, mas o que vale é o registro. Eis o link:

http://www.4shared.com/file/19108613/82bf203b/Sambas_de_Enredo_do_Grupo_3_1971.html

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Em breve, estarei em jornada dupla, comentando sobre sambas enredo no site Carnaval de Campos (www.carnavaldecampos.com.br), do meu amigo Marcelo Sampaio. É muito importante prestar atenção no trabalho realizado pelos sambistas do interior do Rio e do resto do Brasil, descobrindo e revelando valores que estão escondidos pelos limites geográficos ou, o que é mais triste, financeiros e políticos.

Abraços a todos!

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br