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AS ORIGENS DO CARNAVAL DE MAQUETE
  
AS ORIGENS DO CARNAVAL DE MAQUETE

10 de novembro de 2022, nº 21

Amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo, do canal TR - Sambas de Enredo. Nesta nova coluna irei apresentar o trabalho cultural de dois carnavalescos, que muito antes do advento das Ligas de Carnaval de Maquete, já faziam suas criações, sejam por lazer, para exposições e/ou para nortear a preparação de uma escola real. Os artistas aqui ilustrados são Renato Cabral e William Aniceto Ferreira, que fazem Carnaval em Maquete desde, respectivamente, 1978 e 1984. Ambos possuíam 14 anos quando começaram nessa arte.


Conforme explica o Carnavalesco Renato Cabral, nascido em 24/01/1964, suas criações destinavam-se a treinar e aprender a fazer Carnaval. A foto a seguir, registrada em 1978, é apontada por ele como o start inicial para seu engajamento com o Carnaval, para aquilo que ele queria para sua vida. Trata-se de uma foto da concentração do Arranco do Engenho de Dentro para o Carnaval 1978.


No mesmo dia, Renato iniciou a construção de sua primeira maquete: “Aí eu cheguei em casa depois de ter fotografado os carros na concentração e tudo… ver o Arranco se armando pra entrar… e queria começar a fazer alguma coisa, fiquei pilhado no 220. O quê que eu fiz? Eu estava na casa da minha vó, me lembro, porque eu não cozinhava e iria passar a noite inteira acordado. Ela fez uns quitutes pra mim e assisti [os desfiles] lá [mesmo pela TV]. Então coitada, eu peguei duas chapas de acrílico branco e fiz dela a pista do desfile. E eu queria fazer as alegorias, queria fazer tudo que eu via ali. Só que eu não tinha nada… então o quê que eu tinha em casa, por causa do colégio, essas coisas… tinha um pouco de isopor, papel chumbo, dourado, prata… aí eu comecei a pegar papel rochedo da minha vó, acabei com o estoque dela. Lá tinha também tintas, caixas de fósforo pra fazer a decoração do poste da avenida. Aí como é que eu ia fazer a decoração? Eu resolvi desenhar no papel e colorir com lápis de cor mesmo, foi o jeito. E os componentes, como eu iria fazê-los em um feriado de Carnaval, sem nenhuma loja aberta? Peguei palitos de fósforos e comecei a encapar eles com papel alumínio. A cola que eu tinha era aquela colinha branca polar mesmo e fui montando essa minha primeira maquete. E foi assim, entendeu? Eu queria montar… e a iluminação era pisca de luz de árvore de natal…era muito hilário!!!”. Veja a maquete na foto abaixo, extraída de seu acervo pessoal:


No ano de 1979, outra maquete, já com mais experiência:


Em 1980 já é possível notar uma avenida bem imponente:


Em 1981, mais uma vez, nota-se a exuberante decoração da avenida.


Em 1982, o luxo toma conta da passarela:


E vem 1983:


Com a carreira no Carnaval real se consolidando, Renato Cabral faz em 1984 sua última maquete, antes de uma pausa. Depois disso, só voltaria a essa arte de maquete em 2016.


“Essa de 1984 também teve uma história: infelizmente [o material que eu vou te falar] foi embora junto a fita de vídeo do Grupo de Acesso de 1984. Bem na inauguração do Sambódromo, a TV Manchete veio aqui em casa, quis fazer a matéria aqui, mas aqui como é muito apertado, não tinha ângulo pra filmar, então eles mesmo pegaram, vieram com uma van, pegaram a maquete inteira, com tábua e tudo, com duas chapas de compensado, e levaram lá pra Marquês de Sapucaí e eu fiz um programa chamado Acredite Se Quiser, em que eu vinha caminhando pela Sapucaí até chegar na Apoteose e a maquete estava armada na Apoteose. Puseram de modo que no fundo tava o arco da Apoteose, entendeu? Como se a minha escola estivesse desfilando no contrassenso… ficou muito bonito o negócio!!! Infelizmente eu não tenho esse vídeo mais…”, comenta Renato Cabral.

Renato destaca que quando virou carnavalesco nas agremiações reais, teve de parar com o carnaval de maquete, tendo sido inclusive aconselhado por Tárcio Santos e Rubem Confete a tomar essa decisão: “Olha você vai ter que parar com a maquete, você não vai conseguir fazer carnaval de verdade e maquete. Eu sinto muito, mas você vai ter que escolher entre uma coisa e outra”.
 
Carreira de Renato Cabral como Carnavalesco: Bloco Vai se Quiser 1983; Canários das Laranjeiras 1984 e 1985; Acadêmicos do Vidigal 1996; Corações unidos de Bonsucesso 1987/92; União de Rocha Miranda  1989; Canários das Laranjeiras  1992/98; Engenho da Rainha 1996 (não assinou, mas fez os desenhos); Florianópolis: Protegidos da Princesa  1987 e 1990; Unidos da Coloninha 1995, 1999 e 2006; Embaixada Copa Lord 1996; Consulado do Samba 2001. Fui comentarista pela Band (TVBV - TV Barriga Verde - Florianópolis/SC) entre 2001 e 2006; São Paulo: Mocidade Alegre 1991 e 1992; Leandro 1993; Três Rios/RJ: Independentes do Triângulo (não lembrai os anos); Tombos/MG: 1990, 1991 e 1996; Biguaçu/SC: 2014 e 2015; São José/SC: 2007; Recife e Manaus só desenhei. Não acompanhei.

Inspirações em: Arlindo Rodrigues e Viriato Ferreira.

De volta a arte do Carnaval em maquete no ano de 2016, Renato Cabral tem se dedicado a replicar os desfiles antigos, com montagens de Blocos de Enredo, Escolas do 1º e 2º Grupo. Renato destaca que reeditou alguns de seus trabalhos em formato de maquete, como por exemplo Canários das Laranjeiras 1985 “Boêmia”, bem como desfiles que ele viu ao vivo, por exemplo Cubango 1981 “Fruto do Amor Proibido”, só que este último de forma re-imaginada. Outra iniciativa de Renato Cabral, é reeditar suas próprias maquetes antigas, feitas de 1978 a 1984.

Confira a reedição de Canários das Laranjeiras 1985: https://youtu.be/GZQwcV9JOTY

Confira duas fotos da reimaginação de Cubango 1981:


Confira mais fotos das maquetes do Renato Cabral:
https://drive.google.com/drive/folders/1NEmrULxuHETkenCLmxgmfxGP7sO-L9gF?usp=sharing

Agora, caros amigos, vamos exaltar o Carnavalesco e Compositor William Ferreira, nascido em 24/01/1970. Negro, amente do Carnaval e com ideais democráticos, William tem em suas obras um forte apelo cultural e social. Era 1984 e o Carnaval Carioca encantava o jovem menino. De início o foco era meramente de lazer. Com o tempo, seu lindo trabalho em maquete, foi atraindo os olhares da mídia e William conseguiu levar suas criações para diversas Exposições, sejam em escolas, encantando os estudante, seja em eventos públicos/privados, inclusive na Cidade do Samba. Com um forte apelo pela preservação de nossas raízes, William Ferreira fez de seus sambas verdadeiros relicários, às vezes até gravado pelo amigo Jovaci, bem como fez de seus desfiles em maquete o retrato dos tempos de ouro do Carnaval, cercado de nostalgia.

Escute o relato do William Ferreira, feito no programa Arte em Exposição, da Rádio Rio de Janeiro, em Junho de 2010: https://youtu.be/8_-jEYgEQxA


A reportagem acima é de 2008. Voltando a 1990, este mesmo Jornal, o conhecido O Globo, fez uma reportagem mostrando o trabalho do William. Confira:


Olhem estas fotos, e me diga, não bate aquela nostalgia? Parece aqueles desfiles antológicos que marcaram nossas vidas…


A seguir fotos de exposições do William, pra vocês entenderem a dinâmico do trabalho dele:


Em parceria com o meu canal TR - Sambas de Enredo, estão sendo resgatados os sambas enredo feito para as Exposições. Confira a playlist neste link:
https://youtube.com/playlist?list=PLSzoCD9ApSc5XxPeJQMy9ovukgUBQpv4C

Carreira de Willam Ferreira em Exposições: Galeria de Artes Ligação Suburbana – Riachuelo, RJ / Novembro a dezembro de 1998; Movimento Cultural, “Cem anos sem Van Gogh” – Zona Norte, RJ/ Julho de 1990; Movimento cultural, “Semana da Árvore” – Zona Norte, RJ/ Setembro de 1990; Igreja Nossa Senhora da Consolação, Engenho Novo, RJ/ Setembro a Outubro de 1990; Iate Clube da Urca – RJ/ 1990; Sala do Artista Popular – Catete, RJ/ Janeiro a Fevereiro de 1991; Hotel Glória – RJ/ Agosto de 1991; Prêmio Categoria desenho no 40º Salão de Artes Plásticas do Clube Militar – CentroRJ/ Agosto a Setembro de 1991; Casa de Cultura e Filosofia Nova Acrópole – Ingá, Niterói/ Fevereiro de 1992; Cursos e atividades culturais no Espaço Cultural AMAIS – Botafogo, RJ/ 1993; Prêmio Menção de Honra no 42º Salão de Artes; Plásticas do Clube Militar – Centro-RJ/; Setembro de 1994; Oficina Itinerante do CENPES – Ilha do Fundão, RJ/ 1995 e 1998; Espaço Cultural Nova Acrópole – Ingá, Niterói/ 1998; Calouste Gulbenkian – Centro, RJ/ Março a Junho de 2007; Cidade do Samba – Gamboa, RJ/ Julho a Dezembro de 2007; Centro Cultural José Bonifácio – Gamboa, RJ/ Setembro a Novembro de 2007; Shopping Tijuca – Tijuca, RJ/ Fevereiro de 2008; West Shopping – Campo Grande, RJ/ Fevereiro de 2008; Santa Cruz Shopping – Santa Cruz, RJ/ Março de 2011.

Atividades: Diretor da AMME (Associação dos Moradores do Morro do Encontro); Diretor da AMEN (Associação dos Moradores e amigos do Engenho Novo); Coordenador do projeto de artesanato do CENPLA (Centro de Estudos, Pesquisa e Planejamento).; Entrevistador de pesquisas sociais nas comunidades do Morro do Encontro, Morro da; Lagartixa e Morro do Sapê, situados no Engenho Novo, Acari e Pendotiba no Rio e Niterói.; Educador Social de Esporte e de Arte, no CEMASI Morro do Encontro e Stella Maris da atual SMAS – RJ de 1994 a 1997.; Instrutor de Trabalhos com sucatas, CENPES – Ilha do Fundão, RJ de 1995 a 1998.; Instrutor Projeto Final Feliz – Anchieta, RJ em 2004 e 2005.; Instrutor do Programa Escola Aberta, da Secretaria Estadual de Educação do RJ, 2007 a 2008.; Aderecista do G.R.E.S. Tradição – 1994 a 1997.; Aderecista do S.R.E.S. Lins Imperial – 2002; Carnavalesco do G.R.B.C. Do Barriga – 2000/ 2001 e 2008; Carnavalesco do G.R.E.S. Independentes de Petrópolis – 2001 a 2002.; Carnavalesco do G.R.C.E.S.M. Petizes da Penha – 2010 e 2011.; Compositor de dezenas de músicas, Intérprete; Intérprete no Congresso de Filosofia – Hotel Glória, Abril de 1993.; Co-autor do samba do G.R.E.S. Unidos da Ponte de 2004.; Co-autor do samba do G.R.E.S. Unidos da Vila Kennedy de 2004.; Finalista no Império Serrano para 2005.; Intérprete de sambas concorrentes na Vizinha Faladeira para 2005 e 2007.; Intérprete de samba concorrente no Canários das Laranjeiras para 2007.; Co-autor do samba do G.R.C.E.S.M. Petizes da Penha de 2010.

Temas de Exposições: Vai a Luta Brasil! Preserve o que é nosso.; Palcos do Rio.; Amor a Natureza.; Morros do Meu Brasil.; Horóscopo, Caminhos da vida.; Alô Brasil! É Folia! É Tempo de Sonhar…; Pecados, os Excessos das Virtudes.; Clara, a Estrela Guerreira.; Além do Arco-Íris.; A Caminho do Século 21.; As Virtudes Fundamentais, Evoluindo o Brasil, através das Regiões.; Guardiões do Universo.

Títulos de Exposições: William Ferreira e Suas Escolas de Sambas; ArteSamba; Unidos da Imaginação; Outros trabalhos não citados.

Desfiles Reais:
Benedita, a Cinderela do Rio. – Bloco do Barriga – 2000

Novo Ano, Novo Século, Novo Milênio, Uma nova Era. – Bloco do Barriga 2001
O Nosso circo está aí! – Independentes de Petrópolis – 2001
Uma Paixão Mundial. – Independentes de Petrópolis – 2002
Progresso Verde! Todos Nós queremos! – Petizes da Penha – 2010

Inspirações em: Em nenhum exatamente. Eu nunca mirei seguir perfis. Faço tudo por intuição e se algo ficou parecido, foi mero acaso! Mas destaco aqui o trabalho de Max Lopes, Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Fernando Pinto e Renato Lage.

Confira mais fotos das maquetes do William Ferreira:

Hoje, temos as Ligas de Carnaval Virtual e de Maquete. Ao meu ver, o que Renato Cabral e William Ferreira faziam, já naquelas épocas, merecem o reconhecimento pelo pioneirismo. É lógico que pode ter havido mais gente que fazia isso naquela época. Mas temos conhecimento, realmente é desses dois grandes gênios, que merecem nossas homenagens.

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Túlio Rabelo

Twitter: @EnredoTR
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