PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna do Marcelo Guireli

1987: UM DESFILE DOS MAIS EQUILIBRADOS

O primeiro carnaval após a criação do mal sucedido Plano Cruzado trouxe um desafio a mais para os carnavalescos: a falta de materiais. Poucas semanas antes do desfile, algumas escolas não tinham como acabar a decoração dos carros devido à escassez de tecidos, plumas, lantejoulas e outros elementos decorativos tão usuais em nosso carnaval.

Nos barracões a apreensão era grande, mas ninguém duvidava da capacidade criativa que os carnavalescos têm de inventar novas soluções. Ney Ayan, por exemplo, resolveu fazer um carro alegórico todo ornamentado com mariscos e conchas, enquanto Joãosinho Trinta substituiu algumas esculturas por bonecos infláveis.

Outro fato a causar discussão às vésperas do desfile, foi a revolta de Anísio Abrão David, então presidente da LIESA, com as intrigas feitas por seus colegas de outras escolas. Irritado, ele pediu afastamento de dez dias.

O desfile voltou a ter a participação de dezesseis escolas, mais uma vez, divididas em dois dias de desfile, mas a novidade maior ficou por conta da forma de julgamento: quatro jurados para cada quesito, sendo que a maior e a menor nota seriam eliminadas.

Pelo segundo ano consecutivo, o público poderia acompanhar a cronometragem oficial através dos relógios digitais instalados ao lado da pista. O tempo máximo para cada escola continuou sendo 90 minutos e, o mínimo, 75 minutos. O desfile de domingo começou exatamente no horário marcado: às 20:30.

UNIDOS DO JACAREZINHO – Com aproximadamente 2500 componentes, a escola entrou na avenida para defender o enredo “Lupicínio Rodrigues – Dor-de-Cotovelo”, de autoria do carnavalesco Flávio Tavares. Privilegiando o rosa e o branco de sua bandeira, a escola passou sem grandes surpresas. O samba era bom, mas foi mal cantado no dia do desfile. Os componentes desfilaram sem muita empolgação e de forma desordenada, já que muitos foram os problemas que a escola enfrentou na pista. Nos figurinos e também nos carros, os elementos mais freqüentes eram as estrelas, a lua, o coração flechado pelo cupido e tudo que pudesse refletir os motivos de inspiração do grande compositor gaúcho. Sem dúvida, as fantasias mais bonitas foram apresentadas pelos componentes da bateria, que também tocaram bem, mantendo a cadência durante toda a apresentação. A quebra de um dos carros ainda no Setor 1, acarretou um enorme buraco até a altura do Setor 5, causando prejuízos fatais a três quesitos: conjunto, evolução e harmonia. Apesar de toda a boa vontade da diretoria, a simpática escola do Jacarezinho não repetiu a apresentação correta do ano anterior, quando ganhou o direito de estar entre as Grandes. Terminou seu desfile com um problema a mais: a queda de uma escultura em frente à cabine dos jurados. 

A alegria dos passistas do Império da Tijuca

IMPÉRIO DA TIJUCA – A morte de Marinho da Muda, um dos autores do samba, abalou os componentes da escola às vésperas do desfile. Marinho da Muda era autor de vários sambas do Império e foi homenageado por inúmeros sambistas de outras escolas durante todo o desfile do grupo 1-A. “Viva o Povo Brasileiro”, inspirado no livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro, foi o enredo da escola no Carnaval 87. A tradicional agremiação do Morro da Formiga começou seu desfile com um atraso de 22 minutos, pois o segundo carro, denominado “Poleiro das Almas”, teve seu pneu furado e só conseguiu desfilar puxado pelo guincho da Riotur. Outro problema foi o atraso dos chapéus da bateria, que chegaram em cima da hora. O carnavalesco José Félix optou pelo multicolorido e se deu muito mal, pois o visual ficou bastante pesado, agravado pelo excessivo número de carros. Também houve um certo exagero com relação aos componentes, pois a escola nunca tinha desfilado com 3000 pessoas. O grande destaque do desfile foi, sem dúvida, a excelente bateria, que imprimiu uma cadência maravilhosa ao samba, que apesar de ter melodia agradável e letra pertinente ao enredo, não era tão bom quanto o do ano anterior. As baianas evoluíram muito bem, trajando bonitas fantasias brancas, ornamentadas com acetato dourado. O carro da Antropofagia, a meu ver, era o mais bonito, mas todo o conjunto visual se perdeu, devido à falta de unidade cromática. Como começou seu desfile com atraso, a escola estourou o tempo e acabou perdendo preciosos pontos.

Abre-alas da Estácio

ESTÁCIO DE SÁ – Com o enredo “O Tititi do Sapoti”, das carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, a Estácio nos brindou com um desfile muito agradável. O enredo passeou pelos diversos países onde o fruto era apreciado até virar goma de mascar nos EUA. No abre-alas, o símbolo da escola apareceu como o Leão da Metro (MGM), cercado de belas mulatas. A partir daí, o enredo visitou o Império Asteca, a Corte de Dom João VI, a Tailândia (representada por alas e adereços de rara beleza), a Índia (simbolizada pelos tradicionais elefantes e pelos bem vestidos componentes da bateria) e os Estados Unidos. A ala das baianas veio vestida de Estátua da Liberdade e, com ousadas saias, acabou não agradando. O samba, apesar da alegria passada pelo refrão principal, era bastante marcheado e deixava a desejar em relação aos sambas anteriores da escola. Mesmo assim, devo confessar que foi um grande prazer assistir a passagem da Estácio, que desfilou com seus 2800 componentes sem deixar buracos, mas deixando saudade.

CAPRICHOSOS DE PILARES – Depois de um desfile não muito bem sucedido, a escola optou por trazer um carnaval um pouco mais luxuoso, porém sem perder o seu espírito crítico característico. Com o enredo “Ajoelhou, Tem que Rezar”, a Caprichosos fez uma crítica aos políticos que prometem tudo antes da eleição, mas que se esquecem do povo após serem eleitos. O carnavalesco Luis Fernando Reis foi buscar inspiração nos ideais iluministas e na Inconfidência Mineira para ilustrar melhor seu enredo, que começou abordando a Democracia Grega. A comissão de frente era formada por 15 homens representando Justo Veríssimo, político personagem de Chico Anísio, que detesta o povo. No abre-alas, a escultura do personagem dava as costas para o povo enquanto discursava para as elites. Apesar do acabamento dos carros e fantasias ter sido mais elaborado, ainda faltou um melhor cuidado na divisão das cores. Outro problema foi o samba, mais uma vez marcheado e sem o apelo popular do “samba” da Estácio. A bateria esteve bem e pela primeira vez eu vi o que se convencionou chamar de máquina de tamborins, com a qual o batedor toca 8 ou 10 tamborins de uma só vez. Foi nesse desfile que houve a estréia de Luma de Oliveira, como rainha de bateria, uma bobagem que, com o decorrer dos anos, passou a ser muito incentivada pela mídia, mas que só atrapalha a vida das escolas, além de contribuir para a descaracterização dos desfiles.

Carro das pirâmides energéticas (Salgueiro)

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Fernando Pamplona, salgueirense tradicional, disse, dias antes do carnaval, que o público gostaria que o desfile do Salgueiro durasse umas três horas, só para poder ficar cantando o delicioso samba de Didi, Bala e Cezar Veneno. Com 3800 componentes a escola entrou na pista por volta das 3 horas da madrugada com o enredo “E Por Que Não?”, de autoria de Renato Lage e Lilian Rabelo. Houve momentos de muita tensão no início do desfile, pois o carro da nave interestelar bateu numa caixa de som na entrada da Sapucaí, mas, felizmente, foi só um grande susto, sem danos à alegoria. O enredo era super positivo e a mensagem era de que o sonho é fundamental para um futuro melhor: “o que era sonho no passado, agora é realidade”, diziam os carnavalescos. E por que não acabar com as guerras? E por que não transformar usinas atômicas em usinas harmônicas? E por que não ver o Salgueiro novamente campeão? Aliás, o Salgueiro completava 12 anos sem título nesse carnaval e talvez por isso os carnavalescos tenham decidido trazer uma grande homenagem à própria escola no abre-alas, que reuniu seus dois principais destaques: Júlio Machado (Xangô do Salgueiro) e Isabel Valença. O carro era lindo e trazia elementos que lembravam o Salgueiro antigo, tais como pompons, máscaras e espelhos. O toque de modernidade ficou por conta do letreiro que trazia o nome da escola, todo iluminado em néon. O conjunto visual do Salgueiro foi eletrizante, do mais puro bom gosto. Era difícil apontar qual era a alegoria ou a fantasia mais bonita, pois todos os elementos tinham uma harmonia fantástica, tanto em termos de forma, quanto em relação às cores. Além da beleza, havia bom-humor, como foi visto na passagem do carro “Polvo no Poder”, que trazia o presidente dos EUA e o presidente do Brasil nos tentáculos do “polvo”. No final do desfile, uma enorme pomba da paz, decorada com plumas brancas e espelhos, deu uma emoção a mais à apresentação da escola. Atrás do carro, vieram as belas baianas, muito elogiadas pela crítica especializada. O único senão ficou por conta da equipe de intérpretes, nitidamente cansada no quarto final da apresentação salgueirense. Não posso encerrar meus comentários sem fazer um elogio especial à bateria de Mestre Louro, que esteve excelente. O Salgueiro fechou seu desfile aplaudido pelo público e com a certeza de que tinha cumprido muito bem o seu papel. Foi, sem dúvida, a melhor exibição de domingo.

Detalhes do exuberante abre-alas da Beija-flor

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – Depois de dois desfiles de grande sucesso, a Beija-flor entrou na pista como uma das favoritas a vencer aquele carnaval. Passava das 4:30 quando o deslumbrante abre-alas começou a se movimentar rumo a Apoteose. A história do teatro foi ricamente contada através do enredo “As Mágicas Luzes da Ribalta”, de Joãosinho Trinta. Com mais de 4500 componentes, a escola fez uma passagem correta, porém deixando a desejar na qualidade da sua evolução. O samba era razoável, mas não conseguiu empolgar o público e nem mesmo alguns componentes da escola, que pareciam ser “turistas” em meio aos verdadeiros componentes da Beija-flor. Achei que houve um exagero no volume dos microfones das cantoras do Conjunto Vocal “As Gatas”, pois, em alguns momentos do samba, mal conseguíamos ouvir o Neguinho. Apesar desses problemas, não posso deixar de elogiar a beleza plástica que foi mostrada naquele ano. O luxo era exuberante e a combinação de cores bastante ousada: lilás e laranja em meio ao azul e ao branco tradicionais. No primeiro setor do enredo, nada mais bonito que o carro abre-alas, referente ao deus indiano Brahma, do qual, segundo Joãosinho Trinta, originou-se a palavra DRAMA. O carro era o mais alto já visto na avenida até então e trazia o destaque Jésus Henrique com uma fantasia deslumbrante. Eu gostei muito do carro em homenagem ao Padre José de Anchieta: primeiro homem de teatro no Brasil, segundo Joãosinho. Pinah apareceu no carro em homenagem ao Teatro de Revista, que era composto por uma enorme escadaria espelhada e cheia de luzes, além de armações decoradas com plumas que se movimentavam na parte de trás da alegoria. Não faltaram homenagens a Martins Pena, Nelson Rodrigues e Maria Clara Machado, que foi lembrada através do carro “Pluft, o Fantasminha”. Aliás, esse foi um dos carros em que Joãosinho optou por trazer bonecos infláveis ao invés das tradicionais esculturas de isopor. O desfile terminou com o “Teatro das Escolas de Samba”, representado por alas em azul e branco, com destaque para as maravilhosas baianas, ricamente vestidas.

A Imperatriz relembra o tempo dos cassinos na homenagem a Dalva de Oliveira


IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE - A escola entrou na Sapucaí com o dia claro para homenagear a cantora Dalva de Oliveira, através do enredo “Estrela Dalva”, do carnavalesco Arlindo Rodrigues. Lila, irmã de Dalva, havia sonhado com a cantora alguns dias antes do carnaval; no sonho, Dalva contava a ela que a Imperatriz faria um desfile emocionante, independentemente de ser campeã ou não. O desfile, de fato, emocionou, embora a escola tenha cometido alguns pecados em evolução e harmonia. O enredo de Arlindo Rodrigues começou com o nascimento de Dalva de Oliveira, representado pelo abre-alas, que trazia um berço cercado por delicados anjos. À frente do abre-alas, uma comissão de frente formada por cantoras, com uma coreografia simples e não muito bem sincronizada, arrancou aplausos do público. Aliás, os tradicionais componentes que integravam a comissão de frente ficaram bastante magoados com a decisão do Arlindo de substitui-los pelas cantoras. Mesmo assim, a maior parte deles aceitou desfilar um pouco mais atrás, após muita reclamação. O desfile mostrou a infância de Dalva, seus primeiros trabalhos, seu casamento com Herivelto Martins, seus grandes sucessos, além de vários momentos importantes de sua carreira. A maior parte dos carros alegóricos trouxe manequins ao invés de destaques; segundo o carnavalesco, essa era uma medida para dar mais realidade aos quadros. Num dos momentos de exceção a essa regra, foi apresentado um belíssimo carro referente ao Teatro de Revista, todo espelhado e com destaques muito bem fantasiados. Foi notável o desempenho da bateria, que cadenciou o samba e contagiou o público com seus maravilhosos tamborins. O momento mais emocionante do desfile foi guardado para o final, com a passagem das lindíssimas baianas mostrando bandeiras brancas. Um belo momento da Imperatriz Leopoldinense!

 

O desfile simples e bonito da Estação Primeira


ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – O sol já estava bem forte quando a campeã de 86 iniciou seu desfile. O enredo “No Reino das Palavras” era uma homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Mais uma vez, o carnavalesco Júlio Matos utilizou-se de fantasias e alegorias bastante simples para passar sua idéia. O problema é que, em 87, a falta de bom acabamento foi ainda mais nítida, principalmente nos carros alegóricos. Vários poemas de Drummond foram lembrados na Sapucaí. O enredo passeou por Itabira (terra natal do homenageado), pelo “Rio de Janeiro dos Antigos Carnavais”, pelo Rio São Francisco e por vários outros lugares, motivos de inspiração do poeta. Os componentes estavam muito empolgados e cantaram bastante o samba, que era mediano, mas que acabou crescendo na avenida. A Mangueira foi muito prejudicada pela invasão de pista, um fato não muito comum no Sambódromo, mas que chegou a atrapalhar a passagem de carros e alas. A harmonia da escola não soube organizar muito bem algumas alas, que por vezes se misturavam com outras. Além disso, houve uma certa correria no final da apresentação da escola, pois o tempo estava ficando curto. As baianas estavam bonitas, num tom de rosa bem suave e com panos da costa verdes, mas estavam muito emboladas, sem poderem evoluir à altura da tradição mangueirense. Foi um desfile alegre e bonito, mas não tão bom quanto o do ano anterior.

SÃO CLEMENTE – O segundo dia de desfiles começou com a simpática agremiação de Botafogo, que apresentou o enredo “Capitães do Asfalto”, inspirado no livro “Capitães de Areia”, de Jorge Amado. O enredo tratava, com muita seriedade, do problema do menor abandonado no país. Muita gente vai ficar chateada comigo, mas eu não faço parte do entusiasmo geral em relação a esse desfile; achei um desfile de altos e baixos, principalmente em termos de visual. O samba era bonito, mas, feito em tom menor, passava uma certa melancolia. O desfile foi aberto por uma comissão de frente integrada por ex-meninos de rua, que apresentaram a escola e o enredo muito bem. Em seguida, vinha o belo abre-alas, que representava as praças públicas, onde os menores abandonados passam as noites. A ala das baianas evoluiu muito bem, com fantasias referentes ao jogo: segundo os carnavalescos, muitos pais ricos abandonam seus filhos em “gaiolas de ouro” e vão para os cassinos e bares a procura de diversão. Apesar de ter achado emocionante o encerramento do desfile com os verdadeiros menores abandonados, não consigo entender como os dois carnavalescos, Roberto Costa e Carlinhos Andrade, cometeram o equívoco de colocar uma alegoria tão ruim como aquela que representava o “He-Man Brasileiro”. Aquilo foi de péssimo gosto, sem falar num carro que tinha passado anteriormente e que trazia armas muito mal feitas. Acho que esses deslizes, entre outros, prejudicaram muito o visual da escola, que foi muito bem nos quesitos técnicos, pois passou com boa harmonia e sem abrir buracos.

UNIDOS DA PONTE – O enredo ”Grêmio Recreativo Escola de Samba Saudade”, de Gibi, compositor da Mocidade Independente, foi desenvolvido pelo carnavalesco Orlando Pereira. Era uma homenagem muito bonita aos saudosos sambistas que marcaram época nos desfiles. A Ponte passou com apenas 1800 componentes, divididos em 26 alas. Abriu seu desfile com a elegante velha-guarda na comissão de frente. Atrás, vinham enormes esculturas de baianas, que giravam cercadas por uma corda, para lembrar o tempo em que foram criadas as primeiras escolas. A opção por trazer apenas quatro carros alegóricos e alguns tripés facilitou a vida da escola, que passou bem, sem abrir nenhum espaço. A homenagem aos sambistas era feita através de troféus, montados sobre tripés. Tia Ciata, Clara Nunes, Paulo da Portela, Mestre André, Evandro Castro Lima, Silas de Oliveira, entre outras personalidades dos desfiles, foram lembrados pela Ponte. A maior parte dos instrumentos da bateria tinha pele sintética, mas isso não comprometeu o som. Apesar de eu considerar o samba da Ponte agradável, esperava que tivesse um rendimento muito melhor na avenida. Também me decepcionei um pouco com as fantasias, que, na minha opinião, não contaram o enredo com clareza. Mesmo com esses problemas, foi um desfile digno de uma verdadeira ESCOLA DE SAMBA.

UNIDOS DO CABUÇU – Apesar de eu ter uma grande simpatia pelo cantor Roberto Carlos, acho que ele não tem nada a ver com as escolas de samba e, a princípio, não simpatizei muito com o enredo ”Roberto Carlos na Cidade da Fantasia”, que foi até bem desenvolvido pelo carnavalesco Ilvamar Magalhães. Os grandes sucessos do cantor foram transformados em alegorias. As fantasias eram bastante simples, mas passavam bem a idéia do carnavalesco. O carro alegórico mais bonito foi, sem dúvidas, o abre-alas, que trazia cavalos alados na carruagem de Apolo, que teria tocado Roberto Carlos com sua lira. Outro carro que chamou a atenção foi o alusivo aos “caracóis do seu cabelo”, que estava bonito e bem criativo. O homenageado desfilou no último carro, sendo muito aplaudido pelo público.Várias personalidades desfilaram na escola, inclusive a mãe do cantor. Foi muito bonita a presença dos amigos da Jovem Guarda, que desfilaram sobre um calhambeque que lembrava os desfiles de corsos. O samba não me agradou muito, mas ele foi bastante cantado pelos componentes, que passaram bem.

 

A homenagem do Império Serrano a Chacrinha


IMPÉRIO SERRANO – A escola da Serrinha entrou na pista prometendo um grande desfile; a idéia era repetir o sucesso de 82 e abocanhar o título. O enredo “Com a Boca no Mundo, Quem Não se Comunica se Trumbica”, de autoria de Fernando Pamplona, foi desenvolvido pelo carnavalesco Ney Ayan, e contou a história da comunicação no Brasil. O samba era um dos mais cantados na fase pré-carnavalesca e prometia levantar as pessoas nas arquibancadas, o que, de fato, acabou acontecendo. Era um samba muito alegre e que me agradou, apesar de ser um pouco marcheado; foi acompanhado pela sempre excelente bateria da escola, que teve uma ótima performance e acabou ganhando o cobiçado Estandarte de Ouro. Abrindo o desfile, o Império apresentou a figura do pequeno jornaleiro, ladeado pelas coroas imperiais, símbolos da escola. A partir daí, o verde e o branco tomaram conta da Sapucaí. Na primeira metade do desfile, o carnavalesco foi mais feliz, apresentando, principalmente nas alegorias, bastante criatividade e beleza. O carro que trazia Pero Vaz de Caminha era lindo, todo ornamentado com conchas e mariscos muito bem espalhados pelo carro. Do meio para o final do desfile, começou a haver uma certa irregularidade, principalmente quando passou um carro muito simplório em homenagem ao Correio Aéreo Nacional, quebrando completamente o conjunto visual da escola. Os carros que representavam os meios de comunicação também não me agradaram muito, apesar de serem bem melhores que o do Correio Aéreo. Muito criativas estavam as baianas, com jornais e revistas plastificadas formando a saia. O desfile terminou com uma bela homenagem ao apresentador Chacrinha, autor da frase que deu título ao enredo. Foi um belo e empolgante desfile, mas o Império, a meu ver, não foi tão bem quanto em 86.

 

Verão, filho preferido de Arapiá, representado por uma linda alegoria (Vila)

UNIDOS DE VILA ISABEL – Passava das duas horas da madrugada quando as cinco malocas da “terra Kaapor” entraram na avenida para ilustrar o enredo “Raízes”, de autoria de Max Lopes. A grande novidade era o samba muito poético, mas sem rimas, dos autores Martinho da Vila, Ovídio Bessa e Azo. Os 2800 componentes, sob o comando de Jaburu (experiente diretor de harmonia), evoluíram de forma coesa e sem indecisões. Eu considero o enredo de Max Lopes um dos mais bonitos da história dos desfiles. A lenda indígena começa com o Deus Maíra, criador do universo e pai de Arapiá, que vivia num templo cercado por sete deusas de pedra. Numiá, uma das deusas, ganha vida e torna-se a “Mãe dos Peixes”. Como “por ela Arapiá sentiu paixão”, segue para o fundo do mar, onde é recebido pela Corte de Polvos de Numiá. Aliás, esse setor do desfile era especialmente bonito. A ala das baianas estava lindíssima e compunha muito bem com as alas que simbolizavam o mar, enfeitadas com acetato e plástico, com a intenção de passar a idéia de escamas. Voltando ao enredo, a lenda diz que Arapiá e Numiá tiveram quatro filhos: Verão, Outono, Inverno e Primavera. A luta pelo poder universal entre Arapiá e Numiá fez com que “Vovô Maíra” lançasse os dois para o céu, transformando-os em sol (Guaraci) e lua (Jaci). Assim, cada neto de Maíra passaria a governar o universo durante três meses a cada ano: estavam criadas as quatro estações. Além de toda a beleza plástica apresentada e do belo samba-enredo, a Vila contou com sua ótima bateria, que, mesmo sem precisar de convenções ousadas, apresentou um ritmo fantástico, que teve o comando de Mestre Ernesto, Mug e do filho do Mestre Marçal: Marçalzinho. Foi um dos mais belos desfiles da Vila Isabel, sem sombra de dúvidas!

Segunda alegoria do desfile da União da Ilha


UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – O enredo “Extra, Extra”, do carnavalesco Alexandre Louzada, pretendia contar a história da imprensa escrita, desde a chegada das caravelas de Cabral até as mais recentes manchetes de jornais. Na verdade, a Ilha abriu na avenida um grande jornal, com suas várias partes: as notícias, o caderno b, os passatempos, os esportes, etc. As notícias de grande repercussão na época ganharam destaque através de carros e alas referentes ao Plano Cruzado, ao desastre de Chernobyl, entre outros acontecimentos. O carnavalesco caprichou no acabamento dos carros e das fantasias, mas exagerou um pouquinho na quantidade de cores, assim como excessiva foi a quantidade de componentes: 6000 figurantes. O samba, apesar de marcheado, foi muito bem acompanhado pela bateria de Mestre Paulão, que sempre colocava tocadores de prato à frente dos demais ritmistas, o que me agrada muito. Gostei muito do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Bagdá e Jujú Maravilha, que além de uma boa apresentação, estavam ricamente vestidos. O setor que representava os signos do Zodíaco também me agradou bastante, principalmente pelas belas tonalidades de azul, utilizadas pelo carnavalesco. Também achei bem interessante a crítica feita à “imprensa marrom”, que foi muito bem representada por uma enorme bruxa. Apesar dos bons momentos, a escola foi prejudicada pelo gigantismo; teve que acelerar consideravelmente para encerrar seu desfile a tempo.

 

A beleza do desfile da Portela


PORTELA – Com mais de 4000 sambistas, a Portela pisou forte na avenida, disposta a conquistar seu 22º título. Mais uma vez, a escola desfilaria no mágico horário do alvorecer. Sua entrada na Sapucaí foi triunfal, tamanho foi o entusiasmo da platéia e a nítida emoção proporcionada pelo belíssimo samba, que contou o enredo “Adelaide, a Pomba da Paz”, desenvolvido pelo carnavalesco Geraldo Cavalcante. O samba, de autoria de Neném, Mauro Silva, Isaac, Arizão e Carlinhos Madureira, tinha uma melodia muito bonita e uma letra bastante poética. A opção da direção de harmonia, em desprezar as caixas de som espalhadas pela pista, fez com que o coro da escola fosse ouvido com clareza, o que aumentava a emoção de quem assistia o desfile. A bateria, apesar da ausência de Mestre Marçal, que havia deixado a escola para comandar a bateria da Unidos da Tijuca, manteve-se muito firme durante toda a apresentação. Muitas pessoas criticaram o carnavalesco pelo excesso de cores utilizadas na primeira metade do desfile, mas esse “excesso” era pertinente ao enredo, na minha opinião. O primeiro setor do desfile trouxe os animais e os perigos da noite, que tanto assustaram a pombinha Adelaide. A águia da Portela veio batendo asas, ladeada por duas corujas, montadas sobre tripés. Na comissão de frente, os tradicionais componentes da velha-guarda abriram o desfile, fantasiados de arautos da paz. As fantasias, ao contrário dos anos anteriores, eram bastante leves: a maioria delas era muito bonita, mas algumas, como a apresentada pela ala dos tucanos, deixavam a desejar. As alegorias eram leves e de fácil compreensão. Eu adorei o carro do pavão, que trazia vários destaques que formavam sua cauda. O enredo da Portela também era muito bonito: contava a história da pombinha Adelaide que, perdida na floresta, acaba encontrando o significado da palavra AMOR e se torna a mensageira da paz. O público ficou tão empolgado com a passagem da escola, que começou a jogar para o alto as ventarolas publicitárias distribuídas nas arquibancadas. Apesar de pequenas falhas na concepção visual do desfile, a Portela terminou sua apresentação como uma das melhores escolas do ano, sem dúvidas.

 

O cassino de Tupinicópolis


MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – Faltando alguns minutos para as sete horas da manhã de terça-feira, a Mocidade entrou na Sapucaí para mostrar o brilhante carnaval preparado por Fernando Pinto, que retornava à escola. O enredo era dos mais criativos: “Tupinicópolis”. O desfile foi aberto por um conjunto de carretas que dava uma visão panorâmica da metrópole indígena. Nada que existe numa grande cidade faltou à “avançadíssima” metrópole tupinicopolitana. O “Shopping Boitatá” foi representado por uma grande alegoria, com direito a fonte artificial e a vários produtos muito apreciados pelos tupinicopolitanos. Mais uma vez, as cores predominantes no conjunto foram o verde, o amarelo, o azul e o branco, sempre salpicados de outras cores para salientar os detalhes. As baianas vieram vestidas de “oncinhas” e evoluíram lindamente. Eu adorei os carros referentes às Forças Armadas Tupinicopolitanas. Nesse setor, apareceram o “Tatu Guerreiro”, representando o Exército; o “Marreco Bélico”, representando a Marinha e o “Aero Gaviavião”, representando a Aeronáutica. Na verdade, o desfile todo foi cheio de surpresas e de criações geniais. Faltou um samba de melhor qualidade, mas a escola deu seu recado com competência, com seus 5000 componentes evoluindo muito bem ao som da Bateria Nota 10. Com certeza, a Mocidade disputaria o título com muita força e com uma grande dose de favoritismo.

Terminado o desfile, o problema era apontar apenas uma escola como a grande favorita. Desde a apresentação do Salgueiro, no domingo, até a apresentação da última escola de segunda, a Mocidade, várias escolas tinham chances. Na minha opinião, quatro escolas eram as favoritas absolutas: Salgueiro, Vila Isabel, Portela e Mocidade. Mas, além delas, eu acreditava nas possibilidades do Império Serrano e de remotas chances para a Imperatriz e para a Beija-flor. 

As notas do saudoso Júri da Globo também mostravam equilíbrio: Vila e Portela (100 pontos); Salgueiro e Império Serrano (99 pontos); Mocidade (98); Imperatriz e Mangueira (97) e Estácio de Sá e Beija-flor (94). 

Como o critério de desempate não seria utilizado, muitos achavam que duas ou três escolas poderiam empatar com contagem máxima. Bira, da Mangueira, chegou a dizer que talvez ganhassem três ou quatro escolas, com duas ou três na segunda posição.

Abertos os envelopes, começaram a surgir as surpresas. No entanto, nada escandalizou mais do que as notas da julgadora Marina Montine (quesito conjunto). Ela deu notas “zero” e “um” para todas as escolas, exceto para a Mocidade, que foi agraciada com a nota máxima. A confusão estava formada: o que fazer se o regulamento previa somente notas entre “cinco” e “dez”? A solução mais óbvia, na minha opinião, seria o cancelamento de todas as notas da jurada, mas, para minha surpresa, a Riotur e a Liga decidiram transformar as notas “zero” em notas “cinco” e as notas “um” em notas “seis”. Por sorte, o regulamento, como já foi observado no início, previa a eliminação das notas mais baixas.

Vejamos a classificação final, que apontou a Mangueira, para a surpresa geral, como a campeã absoluta do Carnaval 87:

1º Mangueira – 224 pontos
2º Mocidade – 223 
3º Império Serrano e Portela – 221 
4º Estácio e Beija-flor – 219 
5º Salgueiro e Vila – 216 
6º Imperatriz – 203 
7º São Clemente e Cabuçu – 197 
8º Caprichosos – 196 
9º Ilha – 190 
10º Unidos da Ponte – 188
11º Jacarezinho – 170 
12º Império da Tijuca – 152 

No Desfile das Campeãs, houve a participação das duas escolas que subiram do Grupo 1-B: Tradição e Unidos da Tijuca (ambas com excelentes desfiles) e das três primeiras colocadas do Grupo 1-A. Como houve empate na terceira posição, desfilaram, pela ordem: Império Serrano, Portela, Mocidade e Mangueira. Aliás, além das injustas vaias que a Mangueira recebeu ao ser anunciada na Sapucaí (os mangueirenses têm culpa de terem sido campeões?), a escola foi, assim como no desfile oficial, muito prejudicada pela espantosa invasão de pista, que fez com que Jamelão, extremamente irritado, reclamasse bastante (em meio ao desfile) contra a desorganização da Riotur.

 

Marcelo Guireli

marguireli@uol.com.br

 

NOTAS DE 1987

por Denise

 

Tendo em vista que vi o desfile pelo vídeo, não vou analisar os quesitos EVOLUÇÃO, HARMONIA E BATERIA. Os quesitos MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA e COMISSÃO DE FRENTE somente vou julgar a fantasia e o seu contexto com o enredo. O quesito SAMBA-ENREDO será julgado pela gravação do LP. O quesito ENREDO será julgado pela representatividade no desfile.

 

1º) UNIDOS DO JACAREZINHO
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 6
FANTASIA: 6
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 8
COMISSÃO DE FRENTE: 7
CONJUNTO: 6
ENREDO: 7

2º) IMPÉRIO DA TIJUCA
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 7
ENREDO: 8

3º) ESTÁCIO DE SÁ
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 10
ENREDO: 9

4º) CAPRICHOSOS DE PILARES
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 9
ENREDO: 8

5º) SALGUEIRO
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

6º) BEIJA-FLOR
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

7º) IMPERATRIZ
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSAO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

8º) MANGUEIRA
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

9º) SÃO CLEMENTE
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

10º) UNIDOS DA PONTE
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 8

11º) UNIDOS DO CABUÇU
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 9
ENREDO: 8

12º) IMPÉRIO SERRANO
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

13º) VILA ISABEL
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

14º) UNIÃO DA ILHA
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIA E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

15º) PORTELA
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

16º) MOCIDADE
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10