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Coluna do Fábio Fabato O MITO DA TÉCNICA E A PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA DAS ESCOLAS Depois de longo e tenebroso inverno, cá estou a escrever novamente. A correria e o trabalho estão enormes, assim como a quantidade de obras chinfrins escolhidas pelos pseudo-sambistas que comandam o carnaval. Vamos combinar: o que fizeram na final da Grande Rio merecia uma intervenção judicial na escola. Estou certo... Ou estou certo? (Nossa... Como sou democrático...) Brincadeiras à parte, simplesmente, pegaram a melhor das obras e varejaram-na, impiedosamente, no lixão de Caxias. Pois bem, resolvi dividir esta coluna em dois temas para que possa me redimir do tempo de afastamento. Ia centrar minha análise na questão das escolhas dos hinos para o próximo carnaval, e a sem-vergonhice imperante em alguns grêmios, mas... Ficarei só mesmo na minha citação acima ao descabido resultado final lá na escola da Baixada. Achei por bem, primeiramente, voltar a uma discussão que reinou absoluta por grande parte da década de 90, e nos primeiros carnavais deste século. Um amigo escreveu, recentemente, em um famoso fórum de discussão, que as escolas que criticavam o tal do tecnicismo dos desfiles da Imperatriz Leopoldinense, o estariam copiando e também abocanhando títulos ou belas posições desta maneira, como, por exemplo, a atual tri-campeã, Beija-Flor de Nilópolis. Ou seja, os macacos adestrados e à beira de uma LER (Lesão por Esforço Repetitivo) da Unidos da Tijuca, assim como o campeonato da velha Manga de 2002, enfim, todos os desfiles pós-reinado de Ramos, estariam inseridos em uma nova práxis "técnica" de fazer carnaval, como se isto existisse de fato. Discordo de tudo. E discordo, sobretudo, desta característica tecnicista que agregaram à escola da Professor Lacê. A história de colocarem a Imperatriz como uma agremiação "técnica", "marchante", "perfeita", é muito mais uma visão criada pela mídia, e sua mania de estereotipar até a vovozinha da comadre da madrinha, do que qualquer outra coisa. No bafafá pós-apuração de 1994, apesar de bem novinho e entre um salto mortal e outro na piscina da casa de meu tio, recordo-me bem que foi o então presidente, Marquinhos Drummond, filho do Luizinho, quem, pela primeira vez, proferiu esta pérola de... "Imperatriz, a escola que faz desfile técnico". Foi o que soltou na entrevista após a leitura das notas. A imprensa, sem nada melhor para fazer da vida, e com tudo pronto para anunciar o bi-campeonato do Salgueiro, lançou mão daquele discurso como símbolo, e criou um mito para a verde-branco de Ramos. Estava feita a desgraça! E aí... Com o bi em 95, e aquela loucura impensável de tricampeonato anos mais tarde, fixaram no imaginário coletivo que o modelo ideal de apresentação deveria tanger o que a Imperatriz levava para a avenida, ou seja, a tal da "técnica", como se a escola repetisse o mesmo script todo ano. O mais engraçado é que, em alguns carnavais, a "certinha" cometeu erros grosseiros, como em 95, 97 e 99, mas... Quase nunca acabou sendo penalizada. Afinal de contas... Era "perfeita", "paradigmática", "modelo de carnaval da nova era", enfim... Essas bobagens próprias de comentaristas de televisão, frustrados por terem de avaliar carnaval naquele cubículo de metro e meio. Na minha visão, foi a mídia quem criou este factóide sem embasamento que muitos ainda ousam exaltar. E, como resultado, encharcaram o imaginário coletivo, além do corpo de julgadores, de idéias acerca de uma espécie de condução militar para desfile de escola de samba. O resultado é que a Imperatriz acabou beneficiada e também prejudicada neste imbróglio: ganhou títulos, mas perdeu popularidade. As vitórias da Beija-Flor, da Mangueira, Viradouro, Mocidade, enfim, as que vieram depois da "chegada" da "técnica", (quase um AT e DT - "Antes da Técnica" e "Depois da Técnica") além dos vices da Unidos da Tijuca e tudo mais, são TOTALMENTE diferentes entre si, e também dos campeonatos abocanhados pela Imperatriz Leopoldinense. Existem sim quesitos a serem julgados mas... Em um festejo regido pela emoção e subjetividade, não há definição para "técnica". Ou seja, esta é apenas um conceito midiático castrador para estereotipar grêmios, gerar polêmica e vender jornal. Só isso. Um diagnosticar folião e
sambista de verdade caminha por vias como a que se segue: a
qualidade da maior das festas deste planeta, em termos essenciais
e ligados aos mais nobres ideais do samba brasileiro, há muito
tempo vem decaindo. Isto é um fato. Aliás, já devassado por
colunas anteriores. E, vamos combinar, toda esta perda está
longe de ter a ver com a Imperatriz realmente. As coisas são
muito maiores... Não há maior valor do que construir o hoje e o amanhã, estabelecendo conexão com processos históricos formadores, com as experiências bem-sucedidas que residem lá no passado. As escolas surgiram da atuação de pessoas humildes, de sonhos aos quais foram dadas asas, e que muitos, certamente, julgaram meros devaneios inconseqüentes. Estes sonhos representam histórias de lutas, de bravos, de conquistas, de preconceitos vencidos, de tradições formadas, de nomes que ergueram e ajudaram a divulgar a bandeira do samba como símbolo de representação cultural de uma nação. Por isso, é revoltante ter conhecimento que a quase totalidade das escolas, simplesmente, ignora suas histórias de formação. Ou seja, conforma-se em restringir este importante departamento a empoeiradas salas de quinquilharias, destruindo seus registros, suas páginas de vitória, suas origens, além de, muitas vezes, permitir que grande parte de seus bambas acabem falecendo sem o devido reconhecimento. Algumas escolas ainda chegam ao cúmulo de combater ou fechar os olhos para a seriedade de belos trabalhos que determinados grupos de torcedores realizam. Estes grupos, seja com a construção de sites ou acervos, seja com belos trabalhos sociais, fazem aquilo que deveria competir aos departamentos culturais, mas que não é realizado porque alguns dirigentes encontram-se deitados na inconcebível inércia dos acomodados. Trocando em miúdos: sem perceber, claramente, a criminosa destruição da história das escolas que comandam. No meio de tamanha falta de sensibilidade, grêmios como Império Serrano, Acadêmicos do Salgueiro, União da Ilha e Estácio de Sá, entre outros, merecem o nosso respeito porque passaram desenvolver a consciência de preservação do passado, com a sua conseqüente divulgação para as novas gerações. Como não destacar o trabalho antológico de Rachel Valença e Paulo Rezende à frente do portal imperioserrano.com? Uma pérola não só para os amantes da escola da Serrinha, como também para todos os sambistas de verdade. É maravilhoso, recompensador, "perder" algumas horas navegando naquela beleza de projeto, que simboliza, sobretudo, o quanto a folia tem de estar antenada com as novas possibilidades oferecidas pelo desenvolvimento tecnológico, mas sem, com isso, deixar as origens de lado. O site do Império Serrano é um exemplo a ser COPIADO por todas as co-irmãs, sem que esta cópia seja qualquer demérito. Muito pelo contrário. E por saber da sensibilidade com que foi feito o portal, além de ter ciência da seriedade de seus responsáveis, que acredito não estar pregando ao vento ao apontar um esquecimento que merece ser corrigido. A não-menção à escola mirim Império do Futuro, que liderou o processo que fez com que as crianças tivessem um dia de folia só para elas, me soa como uma ausência muito sentida. Afinal de contas, o trabalho que inspirou, por exemplo, a Mangueira do Amanhã, é a concretização do eterno desejo de formação das novas gerações de sambistas. Além disso, o idealizador do projeto desta primeira escola para a criançada, uma das figuras mais importantes vivas do samba e do Império Serrano, o grande Arandir Cardoso dos Santos, o Careca, é a própria representação do espírito de preservação, aliado à construção de um belo presente para o mais brasileiro dos ritmos. Sem sombra de dúvida, merecia uma grande homenagem junto à escola mirim que ajudou a criar. Fábio Fabato
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