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Sambas eliminados
Sambas eliminados

Confira as avaliações sobre sambas-enredo derrotados nas eliminatórias

Anos 70 a 90
2001 a 2010
2011 a 2015
2016 a 2020
2022

Dói Dói Dói Dói Dói (Salgueiro 2016 - Parceria de Antônio Gonzaga) - Talvez o concorrente mais polêmico dos últimos tempos. É uma obra que teve o intuito de representar o novo, oferecendo uma proposta assumidamente vanguardista por parte dos compositores. Afinal, pra uma escola diferente: um samba diferente. O jovem Antônio Gonzaga conseguiu sua segunda final consecutiva no Salgueiro, eliminando na semifinal da Copa do Samba estabelecida pela Academia a obra de ninguém menos do que o veteraníssimo David Corrêa. O hino tem uma estrutura diferenciada de um samba-enredo, muitas vezes se assemelhando a um pagode em sua parte inicial e não apresentando um refrão principal. A obra procura se distanciar da sinopse ao inserir trechos inspirados em canções, como o tão referido refrão Dói dói dói dói dói/um amor faz sofrer/dois amor faz chorar, citação de um ponto de pomba-gira mantendo o erro de concordância original pra justificar a referência umbandista, representando o amor do malandro. Jorge Aragão também é citado em Malandro eu ando querendo falar com você. Até Silas de Oliveira é homenageado no verso Agora eu quero ver quem é malandro não pode correr, retirado de seu samba "Rádio Patrulha. Por fim o versoSalgueiro tem um jeito assim de chegar tão mansamente e tomar conta de mim é uma referência a Chico Buarque, autor de "A Ópera do Malandro", que na canção "O Meu Amor" (que compõe a trilha da peça) canta O meu amor tem um jeito manso que é só seu. A bela obra ganhou muitos simpatizantes (e também bastantes críticos) e de imediato já sinalizou um possível retorno a uma tradição salgueirense, de inovar historicamente no estilo dos sambas-enredo, tal qual ocorreu com Zuzuca em 1971 ("Festa para um Rei Negro") e em 1993 com o "Ita". Esteve muito próximo da vitória na Academia, que não quis arriscar e optou pelo samba da parceria de Marcelo Motta, do estilo que a escola vem apresentando desde 2007. Após a final, Antônio Gonzaga afirmou que continuará fazendo sambas diferentes nas próximas disputas. Jovem talentoso, tem muito futuro pela frente. Nota do samba : 9,7 (Marco Maciel). Letra do samba



Laroyê Laroyê (Salgueiro 2016 - Parceria de Xande de Pilares) - Outrora favorito na disputa do Salgueiro, acabou eliminado na semifinal da Copa do Samba pelo hino que viria a ser o vencedor. Numa opinião particular, era o melhor da eliminatória, embalado por dois refrães que seriam os melhores do ano. O principal é embalado pela repetição da saudação exu "Laroyê", que proporciona uma excelente variação melódica e forte explosão, apesar de ter despertado algumas críticas devido a questões religiosas. Já o central apresenta uma das mais belas melodias da temporada, começando para trás em tom grave em Ê meu camarada pela madrugada, pra na virada subir o tom no mesmo verso, dando outro ótimo efeito. As duas partes são pra cima, do estilo que o Salgueiro se acostumou a trazer nos últimos anos. Destaco a melodia de O rei da noite o barão da ralé/Já chamou quem tem fé/pra sambar no terreiro além de A luz que ilumina é o luar.O único porém da obra no meu entendimento é o começo da segunda, onde a melodia não me agrada. Na gravação, Ito Melodia e Luizinho Andanças mostram uma grande sintonia, com direito a impagáveis gargalhadas do intérprete da União da Ilha ao longo da faixa, encarnando o verdadeiro malandro. São três passadas que não cansam nunca, numa audição deliciosa. Nota do samba: 9,8 (Marco Maciel). Letra do samba


Agora quem dá Bola é o Povo da Baixada (Grande Rio 2016 - Parceria de Júnior Fragga) - Numa safra de gosto duvidoso para muitos, este samba praticamente destoava dos demais (à exceção do campeão, que aprecio). É mais um hino que tenta fugir dos padrões, com um segundo refrão próximo do principal e o restante da melodia se sustentando muito bem, sem um refrão central clássico. É impressionante a coesão do conjunto melódico da obra, de composição muito feliz e que recebeu mais um registro impecável de Wander Pires, um dos melhores intérpretes da história do Carnaval e que, após os problemas de saúde do ano passado, retornou com tudo e vive uma das melhores fases da carreira. São muitos os destaques do samba-enredo, gosto bastante da cabeça, do refrão Quem bebe..., da melhor parte da obra que são os seis versos a partir de No vai-e-vem da maré... (com direito à inversão no penúltimo verso para No vem e vai da maré, boa sacada), além de curtir também o trecho paraíso pra viver/uma onda desaguou dentro do meu coração/encontrei o meu amor, alvinegro campeão. O samba tem uma leve queda de qualidade na última parte, que compreende as citações a Pelé e Neymar, mas nem de longe este belo samba-enredo perde seu brilho. Estranhamente ficou de fora da final, preterido por vários sambas bem inferiores. Nota do samba: 9,8 (Marco Maciel). Letra do samba


Laiá laiá pra colheita festejar (Unidos da Tijuca 2016 - Parceria de Sereno) - A safra da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2016 foi uma das mais marcantes dos últimos tempos no Carnaval Carioca. Foram muitos os sambas de qualidade, não é exagero afirmar que pelo menos uns cinco concorrentes superam todas as obras levadas pela escola do período entre 2004 e 2015, justamente o período mais vitorioso da longeva história da agremiação, que compreende a entrada de Paulo Barros para o rol dos carnavalescos históricos e revolucionários, deixando o samba-enredo em segundo plano. Curiosamente, a Unidos da Tijuca resolveu retomar o caminho interrompido desde o antológico "Agudás" (2003) com um enredo não muito original sobre a agricultura, patrocinado pela cidade mato-grossense de Sorriso, e que motivou inevitáveis comparações com o clássico "Festa no Arraiá" da Vila Isabel de 2013. E o que se viu foi as obras funcionais darem lugar a sambas refinados, densos e de excelente qualidade melódica. O maravilhoso samba-enredo da parceria de Dudu Nobre foi o justo vitorioso e será candidato ao Estandarte de Ouro no quesito. Dentre os vários ótimos sambas que ficaram pelo caminho na disputa tijucana, escolhi comentar o da parceria de Sereno, defendido por Nêgo e Gabby Moura. Os dois refrães são maravilhosos, o principal possui um laiá laiá que flui perfeitamente no canto e o do meio é mais valente. O conjunto melódico das demais partes é coeso e agradável, possuindo muitos belos momentos como A plantação pra semente dá fruto e raiz e te amar Tijuca sustenta o coração. Eliminado por volta da metade da disputa, também representaria muito bem o Pavão tijucano. Curioso o alusivo entoado por Gabby Moura, cuja melodia se assemelha a "Pra Frente Brasil", além do verso Este chão vou preparar do refrão dar uma sonoridade semelhante a "Exexão" vou preparar nas vozes de Gabby e de Nêgo. Nota do samba: 9,4 (Marco Maciel). Letra do samba


A Águia de Madureira voltou (Portela 2016 - Parceria de Luís Carlos Máximo) - Um belíssimo samba, que também poderia representar muito bem a Águia. Em relação aos anteriores da parceria de Máximo, Toninho Nascimento e cia, possui melodia mais pesada e o andamento é mais pra trás, mas repete a fórmula dos refrães espalhados ao longo da composição, além da excelente poesia que é característica. No primeiro refrão, há a ousadia de versos sem rimas. A sequência mantém o ótimo nível, até chegar no melhor trecho, tanto em termos de letra quanto de melodia: Deserto de gelo de areia/Floresta, planeta, onde for/Te trago uma flor de verdade/Se um dia eu voltar meu amor. O refrão seguinte é novamente de qualidade, utilizando o verbo "balangar" (sinônimo de "balançar") que causa um bom efeito. Por fim, o refrão principal de seis versos é bonito de se ouvir, com a boa sacada da repetição do verso A Águia de Madureira voltou, porém não acreditaria no seu bom funcionamento na avenida devido a uma tendência de arrastamento, já que não há muita explosão. Resumindo: é um samba-enredo de audição deliciosa, mas que dificilmente teria um bom desempenho na Sapucaí. Tanto que, na final portelense, foi o único que não obteve voto dos segmentos. Gilsinho prova na faixa sua profunda identificação com a Portela, escola que defendeu por oito carnavais seguidos, onde retornará em 2016. Nota do samba: 9,5 (Marco Maciel). Letra do samba


Pedrinha Miudinha de Aruanda (Mangueira 2016 - Parceria de Lequinho)- Na gravação, o samba não chama tanta atenção como no registro do samba campeão, além do de Tantinho. Mas na quadra funcionou muito bem, tanto que sua derrota na final deixou muitos simpatizantes órfãos. Se os dois hinos citados prezam mais pela emoção, este destila valentia do primeiro ao último verso, procurando dar ênfase maior à africanidade presente no enredo sobre Maria Bethânia. E os dois refrães centrais de quatro versos inseridos durante o samba inseriram mais ousadia à composição, que se assemelha mais a um samba de temática afro - que a Mangueira historicamente não tem tradição - do que uma homenagem a uma das maiores vozes de nossa MPB (tributos que a verde-e-rosa já se acostumou a fazer). Os destaques melódicos vão para o primeiro refrão Oia matamba de cacurucaia zinguê (da canção "Ponto de Iansã", gravada por Bethânia e também presente no samba da União da Ilha de 1974), além do final Hoje a pedrinha miudinha de Aruanda é o patuá da minha Estação Primeira(referente ao ponto de umbanda "Pedrinha", também registrada por Maria). Nota do samba: 9,4 (Marco Maciel). Letra do samba


Isso é Mangueira! (Mangueira 2016 - Parceria de Tantinho) - Uma nostalgia pura. Samba mais cadenciado e classudo, com uma gravação de uma leveza singular, conduzida de forma magistral por Tantinho, célebre integrante da Velha Guarda mangueirense. Dono de uma voz forte e firme, que lembra a do saudoso Jurandir, Tantinho abrilhanta a obra, que ao estilo de muitos sambas dos anos 80, tem no refrão principal um complemento melódico ao invés de ser a parte mais chamativa, com a cabeça iniciando de fato o canto. Os refrães mais fortes são os centrais, em especial oôôôô abrem caminhos pra filha de Dona Canô. Todo o samba possui excelentes passagens melódicas, em especial a parte que encerra a segunda, antecedendo o refrão. A letra parece descompromissada com a sinopse, com sua poesia procurando despertar mais emoção por parte do ouvinte. A gravação acompanha o nível do samba, com destaque para as cordas que dão um toque ainda mais especial. Defendido por Bruno Ribas na quadra, acabou desclassificado na semifinal, impedindo assim um duelo na decisão similar ao da Vila Isabel em 2005, quando um samba também lindamente nostálgico (Luiz Carlos da Vila) mediu forças contra outro mais adequado aos padrões atuais (André Diniz) e que se tornaria vencedor. Seria interessante ver o saudosismo que o hino de Tantinho representa desafiar o campeão (Alemão do Cavaco), de mais características do presente. Nota do samba: 10 (Marco Maciel). Letra do samba


Eu tô com Jorge, nada vai me derrubar (Estácio 2016 - Parceria de Dominguinhos do Estácio) - O samba-enredo apresenta a valentia que teria mais identificação com o enredo sobre São Jorge, é um hino mais "guerreiro". Porém, devido ao pragmatismo motivado pela ingrata missão de abrir os desfiles do Especial, a obra foi precocemente cortada nas primeiras eliminatórias. Uma desclassificação com um quê político que nos remete à eliminação prematura do clássico concorrente de 2008 pra Viradouro do mesmo Dominguinhos, fato que motivou sua saída da agremiação de Niterói na época. O concorrente, também assinado e defendido por Tinga (vencedor do samba junto com Dominguinhos em 2015), é superior ao samba que a Estácio levará para a Sapucaí. Se a vermelho-e-branco tivesse uma posição de desfile distinta, ou ainda continuasse no Acesso, possivelmente teria grandes chances de vencer a disputa. O trecho que antecede o refrão principal, a partir de No galope ligeiro, certeiro ele vem, é o melhor da obra, funcionando como uma excelente transição pro belo refrão, apesar do porém do verso Eu tô com Jorge, coloquial demais. A faixa tem uma particularidade: a introdução de quase quatro minutos em que o velho Domingos entoa o samba na íntegra, apenas acompanhado de violão. Nota do samba: 9,5 (Marco Maciel). Letra do samba


Serrinha, um Caso de Amor (Império Serrano 2016 - Parceria de Paulinho Valença) - O enredo sobre a Serrinha que menciona Silas de Oliveira no ano de seu centenário gerou uma safra da qual se esperava mais, ainda mais em se tratando de Império Serrano e seu histórico de sambas-enredo que dispensa comentários. De todos os concorrentes imperianos, este foi o mais aclamado, de valentia e animação irresistíveis e com um fortíssimo e emocionante refrão principal que invoca a velha "Aquarela Brasileira" do eterno viga-mestre. Toda a melodia é envolvente e coesa, e certamente transmitiria mais garra ao componente em relação ao samba vencedor, que apostará mais na dolência. Sua derrota na final para a parceria de Arlindo Cruz deixou muitos bambas perplexos. Nota do samba: 9,5 (Marco Maciel). Letra do samba


Água (Cubango 2016 - Denise Reis) - Uma síntese da injustiça das disputas atuais de samba-enredo. Denise Reis, desconhecida no mundo do samba, se aventurou sozinha no concurso da Cubango. A gravação original na voz da compositora é artesanal, praticamente caseira, evidenciando a falta de investimento, um contraste total com as parcerias abonadas que injetam rios de dinheiro nas eliminatórias. No entanto, percebe-se na obra uma beleza tão inocente que chega a ser ingênua. É uma composição repleta de sentimento, de melodia dolente, bem distante do padrão de samba-enredo que se é cantado atualmente. A música se enquadraria muito mais na voz de alguma diva da MPB do que numa passagem na Sapucaí. Tanto que seu único refrão de dois versos e o trecho sequencial de seis é entoado por duas vezes durante a passada. O descompromisso do samba também é refletido nos vários versos que se iniciam com "água". Por vezes, a letra é até simplória demais, como água que é mar que é rio, que é neve no frio; que lava tudo que existe; refrigera o coração... Mas tal simplicidade emociona, pouco importando que a letra não abranja boa parte da sinopse. A obra ganhou muitos adeptos nas redes sociais, incluindo Leonardo Bessa, que regravou o samba e o defendeu na quadra. Como esperado, o hino foi desclassificado na primeira eliminatória. Mas Denise Reis fez muito bonito, deixando sua marca entre os grandes sambistas. Nota do samba: 9,7 (Marco Maciel). Letra do samba



O TEMA MUSICAL DEU MAIS SAUDADE, LEONEL (Vila Isabel 2017 - Parceria de André Diniz) 
- Na véspera do Natal de 2015, o compositor Leonel, de inúmeras vitórias na Vila Isabel, foi cruelmente assassinado a tiros na porta de casa. Não conseguiu ver a azul-e-branco desfilar com mais um samba de sua autoria no Carnaval seguinte. Diante do tema referente à música, os compositores, com muita inspiração, desenvolveram uma obra repleta de ousadia e inovação. Foi o primeiro samba-enredo em forma de acróstico, com as letras iniciais de cada verso formando a frase "O tema musical deu mais saudade Leonel", numa sensível e belíssima homenagem. Com relação ao ano anterior, Martinho, Arlindo Cruz e Mart'nália deixaram a parceria galáctica de André Diniz, que recebeu o retorno do velho colega Evandro Bocão. O clipe lançado conta com várias personalidades do Carnaval cantando o samba-enredo, inclusive Rosa Magalhães (!). No inicio da gravação, Diniz e Bocão relembram suas estreias no Carnaval a convite do compositor Adil, quando venceram no Arranco em 1992, com o alusivo relembrando aquele samba (Tem robô que tece renda/pra rendeira namorar...). Assim como na obra que exaltou o Pai Arraia para 2016, o concorrente não cativa na primeira audição: é necessário você ouvi-lo mais algumas vezes pra perceber suas riquezas e virtudes. O refrão principal é o único porém, não possui tanta força (por isso tirei um décimo na avaliação). Mas o restante apresenta uma melodia ímpar e tocante, exalando lirismo, sem deixar de lado a valentia. O clímax total é o refrão invertido. O expediente não é inédito, pois já fora utilizado pela parceria de Zé Glória e J. Giovanni na Mocidade para 2015 (também cantado por Tinga), que não se classificou para aquela final. Mas o efeito causado por Diniz e Bocão é arrebatador. O canto na gravação dá a impressão de estar atravessado, mas é tudo proposital. É como se a melodia estivesse representando passos de dança, o que fica mais claro quando Tinga canta o refrão no registro. As duas melodias inseridas em sequência no verso Milongueiro tango é pura sedução são coisas de gênio. Digo sem medo que o refrão invertido é um dos melhores trechos melódicos do século no gênero, mas infelizmente a Vila teve receio de colocá-lo na avenida por temer um provável canto embolado. A letra mantém o alto nível e os bem-humorados trocadilhos "nota jazz" e "se o pop está" conquistam de vez o ouvinte. André Diniz, o maior campeão da história da Vila Isabel, não perdia na agremiação desde 2001. E a invencibilidade foi perdida justamente com uma das melhores obras que compôs para a escola de Noel. Por apenas dois votos (a parceria campeã recebeu oito dos segmentos, contra seis de Diniz), a Sapucaí não verá aquele que seria um dos grandes hinos do novo milênio no Carnaval. O melhor samba-enredo do ano - na minha opinião - não integrará a bolacha digital. Nota do samba: 9,9 (Marco Maciel). Letra do samba



QUEM MANDOU DUVIDAR? (Mangueira 2017 - Parceria de Tantinho)
 - A única vitória do grande Tantinho na Mangueira ocorreu no distante 1977 (Panapanã, o Segredo do Amor). E por pouco o baluarte não quebrou o tabu de 40 anos, com mais um belo samba entre os tantos que o compositor vem abrilhantando as últimas disputas mangueirenses. Diferentemente do ano anterior, quando seu lindo samba-enredo para Maria Bethânia parou na semifinal, Tantinho (que no começo da faixa canta como alusivo "Sala de Recepção" de Cartola) chegou na finalíssima aliado a compositores como Felipe Filósofo (que vive grande fase criativa) e Deivid Domênico (vencedor em 2015). Em comparação com seu hino para 2016, os refrões ganharam mais força e valentia, o que não significa que tenha perdido seu estilo nostálgico característico, que remete a desfiles mais antigos em muitos momentos. O refrão principal talvez seja um misto de saudosismo com contemporaneidade. Como é comum nos hinos de Tantinho, ele não é a parte mais chamativa, e sim o complemento final da melodia, apenas um gancho para a cabeça. Mas acrescentando um elemento atual, que deu muito certo no desfile campeão de 2016: a repetição do último verso. O efeito em Só quem pode com mandinga que carrega patuá, no entanto, não é tão arrebatador quanto o Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá. Tanto que o melhor refrão do concorrente é o do refrão falso do meio (que está começando a virar febre nas composições), que mexeria com os brios de todos os mangueirenses caso fosse pra Sapucaí. O Quem mandou duvidar? Quem mandou duvidar? reflete bem o espírito de quem não acreditava no triunfo da verde-e-rosa, com a sequência totalmente inserida no contexto do enredo: O santo é forte, ninguém vai me derrubar. As demais partes também aparecem muito bem, com destaque para os últimos versos da segunda, que fazem ótima preparação para o refrão: Mandei fazer um capacete de pena/a vela acesa ilumina o gongá/Seu sete flechas e a cabocla Jurema/vão correr gira, saravá meu orixá. Melodicamente, era o melhor samba da disputa mangueirense, mas ainda com um quê de nostalgia, não tão preparado para enfrentar um desfile nos dias de hoje. Tanto que, na gravação, a primeira passada entoada por Tantinho e Joyce Cândido está um tanto "pra trás". Quando Igor Sorriso sobe o tom nas duas seguintes, parece outro samba. A impressão que dá é que Tantinho, aos poucos, tenta se habituar ao estilo mais atual do samba-enredo, mas sem deixar totalmente de lado o lirismo que é a sua marca. Seu bicampeonato particular virá mais cedo ou mais tarde, já vem merecendo faz tempos. Nota do samba: 9,7 (Marco Maciel). Letra do samba


FLECHADA DE AMOR NÃO DÓI (Beija-Flor 2017 - Parceria de Ailson Picanço) - Ailson é um paraense apaixonado pela Beija-Flor, com seu talento como compositor abrilhantando a discografia do Carnaval Virtual da LIESV. E assim como outros sambistas que começaram na folia virtual e hoje emplacam sambas por todo o Brasil (Thiago Meiners, Willian Tadeu, Imperial, Júnior Santana, Leandro Kfé, Thiago Morganti, entre outros), Ailson resolveu concorrer pela primeira vez no Carnaval "real" na sua escola de coração, reunindo na parceria outros integrantes de ligas das escolas do computador (entre eles, o colunista do SAMBARIO Victor Raphael). E os jovens compositores construíram um samba com toda a essência nilopolitana: denso, pesado e com poesia rebuscada. A linha melódica se mantém coesa, chegando ao ápice no ótimo refrão central e a grande sacada Flechada de amor não dói. No entanto, a parceria apostou num falso refrão principal, na contramão da tendência da moda, que é o falso no do meio. Mas a melodia do trecho, por mais que conste versos como Alma e sangue de guerreiro, demonstra mais requinte do que a valentia comum nos sambas da Beija-Flor e seria melhor adequada como um fechamento de segunda parte, servindo de gancho para um refrão principal. A obra - gravada por Edu Chagas (Mocidade Unida do Santa Marta), Thatiane Carvalho (apoio da Estácio) e Millena Wainer (Estrelinha da Mocidade) - ficou entre as 12 melhores do concurso da Soberana, que contou com uma bela safra de concorrentes (a melhor da temporada), mas merecia ter ido mais adiante nas eliminatórias. Se alcançasse uma final, poderia muito bem dar trabalho para o "Juremê". Um ótimo début de Ailson Picanço e parceiros. Nota do samba: 9,6 (Marco Maciel). Letra do samba


HOJE MEU CANTO LEVANTOU POEIRA (Grande Rio 2017 - Parceria de Márcio das Camisas)
 - Embalado pela vitória no concurso de 2016, a parceria de Márcio das Camisas, para exaltar Ivete Sangalo, compôs uma obra superior ao samba sobre Santos. A excelente produção do registro dos compositores, repleta de teclados, guitarras e instrumentos de percussão, insere força à obra, que chegou à final da Tricolor de Duque de Caxias. O concorrente exibe mais valentia que o samba-enredo vencedor, que é mais dolente. Em comum com o samba que desfilou na Sapucaí em 2016 está a força concentrada do refrão do meio, além de contar com um ótimo complemento que serve de transição para a segunda parte: Cantei fricote quando a nega me chamou, para mim o melhor momento da obra. O refrão principal poderia ocasionar críticas pela repetição do poeira levantou poeira levantou..., mas esta causa um ótimo efeito, que poderia dar certo na Sapucaí. A cabeça do samba também é muito forte (bate forte o tambor/xequerê e agogô/hoje tem festa...). Na final, a apresentação do hino chamou mais atenção pela queda de Quinho do palco, sob o olhar da própria Ivete. Felizmente nada aconteceu com o querido intérprete. Nota do samba: 9,4 (Marco Maciel). Letra do samba


DEIXA O CALDEIRÃO FERVER (Salgueiro 2017 - Parceria de Antônio Gonzaga) - É um samba-enredo que estaria para sempre no limbo, não fosse um episódio inusitado ocorrido no Sábado das Campeãs do Carnaval 2017. Furiosa com os descontos que o samba salgueirense levou no quesito dos jurados, decisivos para tirar a escola da briga pelo campeonato, a presidente Regina Celi ordenou ao carro de som que os intérpretes entoassem no esquenta esta obra derrotada na final. Constrangidos, Leonardo Bessa e Serginho do Porto cantaram na Sapucaí o hino que travou uma disputa equilibrada na disputa da quadra com a música que desfilou (e desfilaria novamente naquela noite). A atitude de Regina desagradou a muitos, que consideraram um desrespeito com os compositores campeões, como se a presidente estivesse depositando neles a responsabilidade pela perda do título. É até interessante que as obras derrotadas na quadra sejam relembradas futuramente, desde que sem fins de retaliação ou revanchismo. Sobre o samba em si, na minha opinião se equivale em qualidade ao vencedor, sendo um pouco inferior, ou seja, nada de excepcional, apenas mediano. A única parte que chama atenção na obra é a melodia do verso meu sonho desfilou e carnavalizou, que antecede a preparação para o estribilho principal, a partir do sou do povo, represento uma nação... até o bis que é a marca do samba: Você vai ver esse caldeirão ferver, numa característica semelhante ao samba campeão, em que também apenas o único verso se repete. É o samba menos inspirado que a parceria do jovem e promissor Gonzaga fez até agora para a Academia, mas a faixa pelo menos rende boas risadas no final com Tinga zoando a gagueira de Leozinho Nunes ao mandar um "é o s-s-som do bem", famoso na voz do cantor da São Clemente. Nota do samba: 9,1 (Marco Maciel). Letra do samba


A TERRA É ÁGUA, A ILHA É FOGO (União da Ilha 2017 - Parceria de Bigode) - É uma obra com duas citações históricas. É sempre gratificante ver a obra de Roberto Ribeiro relembrada, e é o que este concorrente insulano faz ao se remeter à canção "Tempo Ê" no envolvente e curto refrão central, um dos maiores sucessos do saudoso menino-rei imperiano, que Wander Pires também canta no alusivo, resultando num bonito cartão de visitas para a faixa. E fechando o samba, é citado o verso oia matamba do kakurucaia zinguê, numa clara alusão ao clássico de 1974 "Lendas e Festas das Yabás", cujo trecho era o refrão do samba que embalou o título do Grupo 2 daquele ano, levando a União da Ilha pela primeira vez ao grupo principal em 1975. O complexo enredo afro sobre o tempo e a criação da natureza resultou numa disputa que há muito não se via na Ilha do Governador, com belos sambas concorrendo na quadra. O samba vencedor foi um dos melhores do ano no Grupo Especial. Mas este concorrente, também assinado por nomes como Ivo Meirelles, Carlinhos da Paz e Cadinho (ex-intérprete do Boi da Ilha) e que foi eliminado na semifinal, igualmente poderia fazer bonito na Sapucai. Acho interessante essas tentativas atuais de se fazer uma espécie de meio refrão, com versos fortes antecedendo os que serão repetidos. E o meio refrão abre muito bem este samba fortíssimo, com toda a pegada que um samba da temática merece. Afinal, o a terra é água, a Ilha é fogo/ar pra gente respirar de novo é viciante. A primeira é em menor, antecedendo o refrão do meio que cita a música de Roberto Ribeiro, valorizando a valentia do hino. A segunda parte é mais extensa, com muitas palavras difíceis em virtude do enredo (o que foi injustamente canetado pelo júri da LIESA com relação ao samba que desfilou), mas o balanço da melodia aliada à excelente gravação de Wander em nenhum momento torna a segunda cansativa, nem mesmo a citação à Baterilha compromete este belíssimo hino que jamais merece ser esquecido. Também existe uma versão do samba-enredo na voz de Ito Melodia. Nota do samba: 9,8 (Marco Maciel). Letra do samba


CORRI PRA VER, PRA VER QUEM ERA... (Portela 2018 - Parceria de Celso Lopes) - Um dos sambas mais aclamados da disputa portelense, tem na melodia dolente o seu ponto forte. Ela possui um recurso interessante, que é um falso refrão central (eita gente arretada...) que acaba por anteceder uma repetição, tornando o conjunto melódico ainda mais encorpado e servindo muito bem como transição para a ótima segunda parte. O refrão principal faz uma inteligente referência ao célebre samba de quadra "Corri pra Ver", um dos mais famosos da Águia. A letra torna o enredo de Rosa Magalhães perfeitamente compreensível, de poesia direta e até didática, sem se preocupar com algo mais rebuscado. Mesmo sendo simples e até ingênua em alguns momentos, a letra possui sacadas brilhantes como na cabeça há quem diga: peregrino/mas o certo é que o destino é liberdade. Na gravação, uma aguerrida atuação de Evandro Malandro e Leléu, mesmo com o andamento bastante cadenciado. A obra caiu a duas etapas da final portelense, chocando muitos bambas. Nota do samba: 9,6 (Marco Maciel). Letra do samba


MEU NOME É PORTELA (Portela 2018 - Parceria de Eliane Faria) - Na minha opinião, o melhor samba da disputa da Portela na temporada. Muito porque era o que mais se assemelhava aos hinos anteriores da escola. A parceria procurou se espelhar nas últimas obras vencedoras de Samir Trindade e companhia e trouxe um samba-enredo que lembra muitas vezes um de exaltação. São dois refrães deliciosos espalhados pelo meio do samba, com suas partes que os compreendem fluindo muito bem e a segunda curta funcionando como boa transição para o refrão principal, que adere ao recurso familiar da citação a Oswaldo Cruz e Madureira (apesar do porém de negar ser rimado com sambá). Na gravação, a primeira passada cadenciadíssima com a Velha Guarda é primorosa. Nas duas seguintes mais aceleradas, Ciganerey comprova sua grande fase com uma soberba interpretação. Injustamente cortado na semifinal da disputa. Nota do samba: 9,7 (Marco Maciel). Letra do samba


O TEU VERMELHO TEM PODER (Salgueiro 2018 - Parceria de Marcelo Motta) - A derrota mais dolorida para os aficionados por Carnaval da temporada. Desde "Candaces" de 2007, quando obteve sua primeira vitória no Salgueiro, Marcelo Motta sempre despontou como favorito em todas as disputas da vermelho-e-branco, obtendo vários triunfos nos últimos anos. Até nos revéses contribui para as eliminatórias com excelentes sambas, como o derrotado de 2014. Para 2018, a parceria do compositor nos brindou com sua melhor obra destinada à Academia. O enredo de exaltação à mulher negra rendeu um samba valentíssimo, de pegada, mas também transparecendo emoção. Seguindo o contexto do tema, o samba parece ser feito especialmente para a voz de Grazzi Brasil, que brilha na gravação em estúdio, que também conta com Igor Sorriso e Diego Nicolau. É um hino repleto de partes brilhantes, como de ser a dor/que seja amor, com uma melodia marcante que antecede os versos que servem de preparação para o refrão do meio, o melhor trecho do samba-enredo. Os últimos versos da segunda também são excelentes, dispensando predicados: ela é poesia da favela/o amor que vem de Deus/inspiração pros versos meus/mãe baiana, porta-bandeira/teu colo me embalou a vida inteira/razão do meu viver/teu vermelho tem poder. Foi surpreendentemente cortado na semifinal, para a comoção de muita gente. Vamos torcer para o samba não ser relembrado no esquenta salgueirense do Sábado das Campeãs, por um motivo semelhante ao que eu relembrarei na análise da obra "Deixa o Caldeirão Ferver", situada um pouco mais abaixo nesta página. Nota do samba: 9,7 (Marco Maciel). Letra do samba


EMBALA EU MAMÃE (CANJERÊ) (Salgueiro 2018 - Parceria de Rafa Hecht) - Eis um samba despretensioso, de autoria de compositores novatos, estreantes na Academia do Samba. Sem medo de serem felizes, teceram uma obra ousadíssima, pouco usual nos desfiles recentes. Valentíssimo do primeiro ao último verso, o hino aposta na repetição melódica gingada em inúmeros trechos, deixando sua audição muito divertida graças à vibrante interpretação de Pixulé (que, devoto de umbanda, muitas vezes parece incorporar no canto da obra), apesar de sua voz estar um tanto abafada na gravação. O refrão do meio se resume à repetição de embala eu mamãe, sem nenhum nuance poético, buscando apenas um efeito melódico, através da transição para o poderoso começo da segunda parte, que nos remete a um pagode. A sequência ocorre com o trecho do canjerê, que mantém o samba envolvente e cativa ainda mais o ouvinte. A segunda se encerra com tanta pegada que acaba revelando um refrão principal apenas correto, mas que em nada compromete a ótima obra, muito divertida de escutar, no entanto difícilma de cantar. Ainda assim, foi um dos três finalistas do Salgueiro para 2018, indicando um belo futuro para a jovem parceria. Faço uma ressalva ao alusivo na faixa, em que uma moça abusa de notas longas e até sai do tom em alguns momentos. Isso por quase um minuto. Estas introduções nos sambas concorrentes têm ultimamente deixado os internautas bambas de saco cheio (a do samba vencedor do Salgueiro que o diga). Nota do samba: 9,6 (Marco Maciel). Letra do samba


DEIXA A ALEGRIA TE CONTAGIAR (Grande Rio 2018 - Parceria de Márcio das Camisas) - Involuntariamente, o samba acabou marcado por uma tragédia. O compositor Márcio das Camisas, campeão de samba-enredo pela Grande Rio em 2006, 2007 e 2016, faleceu apenas 10 dias depois da final que disputou na escola do coração, vitimado por uma queda numa laje durante as comemorações de seu aniversário. Sua obra era a melhor da disputa da Tricolor de Caxias para 2018 que consagrou outra de qualidade bem limitada. Já este concorrente, assim como os anteriores do saudoso compositor, ganha mais uma excelente defesa de Quinho, que vinha sendo para Márcio o que, por exemplo, Tinga é pra os sambas de Lequinho, Wander Pires com relação a André Diniz ou Anderson Paz representa para João Estevam e Eduardo Medrado. A produção da gravação é impecável, disfarçando eventuais limitações técnicas da obra, bem cadenciada e deixando a audição muito agradável. Sobre o samba, ele tenta ser em muitos momentos mais dolente do que "pra cima", se diferenciando do estilo "pipoca" que tanto agrada Emerson Dias. O refrão principal e a cabeça não chamam tanta atenção, entretanto a melodia começa a crescer a partir do verso No palco sou o mestre da loucura, até explodir no excelente refrão do meio, a melhor parte do samba. A segunda alia uma certa dolência com animação, de maneira ao sempre irreverente Quinho emendar um rrrrrrreeeeealmente à la Chacrinha, fechando o samba muito bem e funcionando adequadamente como transição para o refrão. Não se tem muito o que dizer da letra, pois um tema sobre o Velho Guerreiro deixa inevitáveis as citações presentes nos versos. O samba (também assinado pelo ator Oscar Magrini) é muito superior ao vencedor, ainda que não consiga imaginá-lo na voz de Emerson. Enfim, Márcio das Camisas vai deixar saudades para os torcedores da Grande Rio, uma triste perda para o Carnaval Carioca. Nota do samba: 9,4 (Marco Maciel). Letra do samba


OH PATRIA… QUEM PARIU TANTA SANDICE (Beija-Flor 2018 - Parceria de Cláudio Russo) - A letra que marcou o retorno de Cláudio Russo às disputas da Beija-Flor é de uma fúria que transparece toda a revolta com um país que cada vez mais anda pra trás, em que políticos desgovernam sem escrúpulos, sucateiam os cofres públicos e ainda tentam jogar o povo contra o Carnaval, como se este fosse o culpado de todas as nossas mazelas. E tornam os monstros da ficção apenas meras caricaturas. É essa a proposta da Deusa da Passarela para 2018, e se a letra do samba vencedor é mais emotiva, desta obra que foi eliminada na semifinal é bem agressiva. O samba é repleto de versos pessimistas e negativos, como quem semeia rancor, vai colher agonia; o ferimento é profundo; condenando a esperança à escuridão; pra não ver criança esperando a bala perdida... Sem dúvida um retrato atual do que passamos, sem floreios, indo mais direto à ferida, não escondendo a revolta em outros trechos chamativos e por que não dizer grosseiros como tão pobre que só tem dinheiro e oh pátria, quem pariu tanta sandice/não faz carnaval/nem entende o que eu disse. A melodia segue o tom da letra, também bem forte, cheia de furor e de ótima interpretação de Wander Pires. As partes de maior destaque são o falso refrão do meio (quer saber, somos todos pais/omissão refletida no espelho) e o excelente refrão principal, para mim superior ao refrão do samba vencedor, em que o verso vem pra rua, vem lutar com pandeiro e viola é outro reflexo do que o sambista está passando com a intolerância do atual prefeito carioca. Nota do samba: 9,5 (Marco Maciel). Letra do samba


EU TENHO O COMEÇO, MAS NÃO VOU TER FIM (Imperatriz 2018 - Parceria de Moisés Santiago) - A parceria que vinha de um bicampeonato na Imperatriz não conseguiu o tri com uma obra que, se no estúdio recebeu um registro memorável de Wander Pires, na quadra deixou a desejar na final com uma apresentação arrastada. Ainda assim é um samba com bons recursos. Dos finalistas, a parceria foi a que tentou fazer uma poesia mais subjetiva, não apegada a citações, diante da difícil sinopse de Cahê Rodrigues sobre o Museu Nacional. A fórmula dos últimos hinos campeões gresilenses foi seguida, com mais uma letra extensa e o banho do estúdio disfarçando alguns problemas na melodia, retilínea em certos momentos, mas excelente em trechos como a lua essa menina/vem com a gente brincar e a partir de No tempo eu sou guardião da memória, que antecede o curto refrão central, a melhor parte do concorrente tanto em letra quanto em melodia, numa curta síntese do complexo tema da Imperatriz, momento feliz dos compositores: Eu tenho o começo, mas não vou ter fim/O conhecimento faz parte de mim. Nota do samba: 9,6 (Marco Maciel). Letra do samba


OS FILHOS DA IMPERATRIZ (Imperatriz 2018 - Parceria de Elymar Santos) - Também finalista da Imperatriz, o samba é ainda mais extenso que o da parceria de Moisés Santiago, mas com variações melódicas interessantes em muitos trechos. Entretanto, a impressão dada é que se alguns versos da segunda parte fossem suprimidos (que o diga o trocadilho com reLuzia), não fariam tanta falta no conjunto melódico, o que poderia melhorar sua fluência. Em meio a um samba irregular, destaco o refrão curto que sucede a cabeça (Linda arquitetura, traços europeus) que, como observado por Anderson Baltar na cobertura da final gresilense pela Rádio Arquibancada, se encaixaria muito bem num samba noventista da escola na voz de Preto Jóia. Outros bons momentos são o falso refrão central e os últimos versos da segunda a partir de o povo vislumbra o jardim. Na gravação no estúdio, Nêgo conduz o samba com muita segurança ao lado de Diego Nicolau e Leonardo Bessa, no entanto o veterano intérprete irmão de Neguinho da Beija-Flor esteve ausente na final na quadra. Após o anúncio do resultado pelo diretor Wagner Araújo, Elymar Santos, com toda a sua elegância, se juntou aos compositores vencedores e cantou feliz o samba campeão no palco, num exemplo a ser seguido por todos. Nota do samba: 9,5 (Marco Maciel). Letra do samba


BOTA DENDÊ (União da Ilha 2018 - Parceria de Márcio André Filho) - Em contrapartida aos últimos sambas burocráticos que a Ilha vem levando, este concorrente possui uma melodia mais nostálgica, com dois refrães deliciosos (principalmente o do meio) e uma levada oitentista, sem se apegar aos detalhes da sinopse, simplicando mais o tema. A obra tem uma leve queda de qualidade na segunda parte, mas nada que atrapalhe a audição bem agradável. Na primeira passada, o compositor Carlos Caetano conduz o samba na gravação num estilo pagodeado, entregando com categoria para Marquinho Art Samba na segunda. Uma pena que a escola desperdiçou o samba-enredo, o cortando bem antes da final. Seria uma tentativa de retorno às origens, de hinos mais leves e curtos, com a cara da velha Ilha. Nota do samba: 9,6 (Marco Maciel). Letra do samba


OUÇA O CLAMOR QUE VEM DA FORMIGA (Império da Tijuca 2018 - Parceria de João Perigo) - Com uma soberba interpretação de Zé Paulo Sierra na gravação, é espantosa a regularidade melódica deste concorrente, que possui uma levada envolvente do começo ao fim, perfeitamente adequada para a temática afro. À medida em que o samba é cantado, sua melodia vai crescendo, obtendo seus ápices no excelente refrão central, na segunda parte a partir de Abre o xirê, deixa a gira girar, até explodir no ótimo refrão principal. A Império da Tijuca levará para a Sapucaí em 2018 um samba muito bom, mas esta obra (eliminada a duas etapas da final da disputa) é ainda melhor. Nota do samba: 9,8 (Marco Maciel). Letra do samba


Beija-Flor 2019 (J. Velloso) - Numa disputa de nível decepcionante, se formos considerar o fato da Beija-Flor exaltar seus 70 anos de história, o samba 13 era o que mais chamava atenção na eliminatória em relação aos demais. Fugindo do estilo dos hinos longos e densos que a Deusa da Passarela vem levando desde 1998, a parceria apostou numa música embalada por refrães envolventes, ligada a uma levada gostosa de ouvir, mas nunca deixando de ser valente. No refrão principal, os compositores citam a Mirandela, nome da Estrada em Nilópolis onde a escola ensaia. Bem superior à fusão anunciada depois da final, o samba acabou eliminado na semifinal. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba



Salgueiro 2019 (Luiz Pião) - A emoção bate forte no peito do sambista logo nos primeiros segundos da faixa, quando você ouve aquele grito de guerra comum na segunda metade dos anos 80: "Alô meu Salgueiro querido". É Rixxa, há algum tempo ausente do Carnaval, o encarregado de cantar a obra na primeira passada. E o Pavarotti da folia, um dos melhores intérpretes de todos os tempos, valoriza a melodia do lindo samba de forma comovente, sem o acompanhamento da bateria. Com Rixxa cantando alguns tons abaixo, o samba flui de forma extraordinária, embalado por ótimos refrães. O hino tem uma primeira em menor e gingada, optando pela utilização por um refrão no meio e um outro falso na sequência, pra dar prosseguimento na segunda. O resultado final é fantástico, trata-se de um samba de melodia fácil, que rapidamente gruda no ouvido. Na segunda e terceira passadas na gravação, ocorre o choque de gerações. Sai o velho Rixxa, de atuação antológica, dando lugar aos mais jovens Zé Paulo Sierra e Evandro Malandro, e consequentemente o tom da obra sobe com os dois cantores, mas sem cair a qualidade. Curioso o último verso "Prevalece a união, Salgueiro", justamente num dos mais turbulentos momentos políticos vividos pela Academia. Chegou à final. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Marco Maciel)Clique aqui pra ver a letra do samba


Salgueiro 2019 (Antônio Gonzaga) - Tambem finalista da Academia do Samba, que apresentou uma ótima safra pra exaltar Xangô, mais uma vez a parceria de Antônio Gonzaga bateu na trave. O também ótimo samba apresenta ainda mais pegada, uma grandiosa interpretação de Marquinhos Art'Samba e tem como ponto forte o falso refrão do meio impulsionado por contracantos, a partir do "Ele bradou na aldeia (Salgueiro)/E aqui vai bradar (Salgueiro eu sou)...". A cabeça do samba também é fortíssima, bem como a melodia gingada no trecho que antecede o já citado refrão central falso. A segunda parte é um pouco mais pesada e é encerrada com outro refrão falso, sintetizando o arrojo do samba. O único porém da obra é o refrão principal, que começa bem com o "deixa trovejar, deixa trovejar". No entanto, os compositores optaram por colocar palavras demais para pouca melodia nos últimos versos. "Lá do alto da pedreira/nosso padroeiro/traz justiça e esperança/para os filhos do Salgueiro" tem um canto atropelado e reto, o que atrapalha a fluência musical. Mas longe de comprometer o resultado final de mais um belo samba-enredo. A hora do jovem Antônio Gonzaga ainda vai chegar. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Portela 2019 (Gera) - Na boa safra trazida pela Portela pra falar sobre Clara Nunes, este era particularmente meu samba favorito. Na gravação, um expediente semelhante ao já comentado samba da parceria de Luiz Pião pro Salgueiro é utilizado. Um intérprete das antigas grava a primeira passada, para outro da nova geração (Evandro Malandro, coincidentemente um dos cantores do samba-enredo de Pião) registrar as seguintes. O experiente Gera, com passagem pela Águia de 2000 a 2004 e atualmente integrante do carro de som da Vila Isabel, assina esta excelente obra, cuja beleza na melodia da cabeça impressiona pelo tom mais classudo ("Ah que lugar/semeou a brasilidade em seu altar"). Após um pequeno refrão de dois versos, o tom menor que complementa a primeira parte prepara para o excelente refrão do meio ("Quem não teme quebrantos... é Guerreira"), ainda que as batidas e esperadas rimas "Guerreira/sereia/clareia" proporcionem uma ótima sonoridade. Na sequência o "ôôô" pela metade da canção "O Canto das Três Raças" faz uma preparação adequada para a segunda parte, em que a valentia prolifera. Inclusive o efeito do ôôô da famosa música eternizada por Clara foi bem melhor executado neste concorrente do que na obra vencedora, que inclusive já o subtraiu da versão definitiva. O refrão principal é bastante gingado, e muito bem construído. Poderia ter ido mais longe nas eliminatórias portelenses, sendo desclassificado nas primeiras etapas. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Portela 2019 (Toninho Nascimento) - Se a maioria dos sambas da disputa portelense era dolente em virtude da emoção em falar de Clara, a parceria de Toninho Nascimento e Luís Carlos Máximo fugiu à regra e trouxe um samba com todo o estilo dos compositores que tantas vitórias conquistaram no Portelão: valentíssimo. O hino fica devendo em relação aos sambas que fizeram em 2012 e 2013, mas a audição é muito agradável, sendo defendido com garra por Anderson Paz (que também assinou) e Bico Doce. Tem um refrão principal forte, que aposta no efeito da repetição do verso "Chegou Yaô de Oyá". Tem vários trechos cantados rapidamente, puro DNA da parceria. Outro ponto positivo do samba é o trecho "Ô mestre/traz o pandeiro e a viola que eu quero ver/se a moça de saia rendada rebola/rebola, oi, rebola que eu quero ver/se a moça de saia rendada rebola", apesar do excesso da palavra "rebola" me remeter a uma sensualidade que Clara não tinha. O samba segue com muita pegada, com seu refrão "Eu andei na areia que é de Iemanjá" sendo outro destaque no conjunto melódico. A parte final do samba serve apenas como uma discreta preparação para o refrão final, ainda que não tenha sido muito adequada, já que ela não possui a explosão que o refrão tem. Um bom samba, mas pelo naipe dos compositores e tendo Clara Nunes como enredo, esperava-se mais. Eliminado antes da semifinal. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Portela 2019 (Samir Trindade) - Samir não conseguiu seu tetracampeonato particular na sua escola de coração, perdendo a oportunidade de igualar Waldir 59 (1954-57), David Corrêa (1979-82), Diogo Nogueira e Ciraninho (2007-10), Júnior Scafura (2008-11) e Luís Carlos Máximo (2011-14) caindo duas etapas antes da final (junto com a parceria de Toninho/Máximo). Era inferior aos três anteriores da parceria que desfilaram na Sapucaí. Para 2019, apostou num refrão emocionante ao estilo da vizinha verde-e-branca de Madureira, com um "lalaiá lalaiá" que é mais comum ouvir no Império Serrano. A letra está em primeira pessoa (bem como o samba vencedor) e a melodia é dolente, ainda que o resultado final tenha sido irregular. A explosão só aparece nos refrães, além do falso ("Eparrei Oyá Oyá..., também cantado por Alcione no começo da faixa). Os quatro versos que antecedem o refrão principal também não parecem combinar com o que vem a seguir. Foi gravado por Clara Santhana (intérprete de Clara no musical "Deixa Clarear") e defendido por Tinga. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Mocidade 2019 (Domenil) - Finalista na disputa da Mocidade, esta obra em nada deve à vencedora. Bastante dolente e com a cara da escola, o samba tem a particularidade de não ter nenhum refrão. Os melhores trechos do samba são os falsos, em especial o do meio, de linda melodia ("Já virou primavera chegando em flor..."). A partir do falso refrão que menciona a paradinha, há uma clara intenção de homenagear o clássico samba-enredo de 1990. Nos três últimos versos, o trecho "Vou virar virando pra eternidade" possui melodia similar ao "Meu ziriguidum fez brilhar no céu". Me remete aos sambas do começo dos anos 90, sobretudo pela cabeça ser um dos trechos mais notáveis ("Amor, meu amor, não me deixe com saudade"), expediente semelhante utilizado pelo samba vencedor. Ótimo samba-enredo, bem defendido por Bruno Ribas, Marquinho Art Samba e Tem Tem Júnior. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Unidos da Tijuca 2019 (Dudu Nobre) - O retorno de Laíla à Unidos da Tijuca, onde dirigiu o Carnaval no começo dos anos 80, foi determinante para a agremiação voltar a ter um alto nível na disputa de sambas. Excetuando o Carnaval 2016, quando a safra também foi de qualidade, os sambas tijucanos eram apenas corretos e funcionais. Para 2019, a sinopse sobre o pão que misturava religião com a citação a povos como os do Egito e da Mesopotâmia (dos quais Laíla parece ter obsessão) não dava a impressão de que poderia inspirar os compositores. Mas felizmente, estes souberam explorar o apelo religioso do texto e construíram obras emocionantes que chegavam a se aproximar até de músicas do gênero gospel, com versos similares a orações. Tanto que o hino vencedor é o que mais pode ser tachado de "samba-gospel". Por mais que o samba que a Tijuca levará para a Sapucaí seja um dos melhores do ano, o hino da parceria de Dudu Nobre, finalista na disputa, era superior. E mais: um dos melhores concorrentes derrotados da década. Começa com um incomum nos dias de hoje "ôôôôôôô lalaiá" inserido entre o refrão principal e a primeira, que provavelmente cairia se fosse eleito. O samba mantém uma regularidade melódica impressionante, do primeiro ao último verso. São muitos os trechos de destaque, como "A aura do Pavão pode vencer o mal", "Pra transformar um mundo tão cruel/Convoquei o povo lá do Morro do Borel", "Pros negros, o samba, a alegria e as palmas", "Ninguém vai secar nosso axé/A massa precisa de amor e fé" e "Eu sou Tijuca/Não me fale de alforria/Não existe liberdade/Sem o pão de cada dia". É um samba-enredo que, mesmo todo dolente, não deixa de ter valentia, cuja explosão desponta no falso refrão principal, muito bem antecedido por um curto refrão, num recurso que costuma dar certo. Na impecável gravação, Dudu Nobre tem uma magistral interpretação na primeira passada, entregando o bastão pra Vítor Cunha, que mantem a altíssima qualidade deste lindo samba, que por algum pecado (com o perdão do contexto do enredo) não desfilará na Passarela do Samba. Uma pena! NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Imperatriz 2019 (Róbson Lourenço) - A fraca sinopse sobre o dinheiro tinha como intenção gerar sambas leves para o tema, como foi visto na inexpressiva safra gresilense para 2019, de longe a pior da escola nos últimos anos. Mas um foi exceção. Este dolente e pesadíssimo samba defendido pelo experiente Alexandre D'Mendes. Diante do texto simplório redigido pelos carnavalescos, os compositores tentaram reinventar o enredo, construindo uma ótima poesia para a obra e evitando clichês vistos em praticamente todos os concorrentes, como as citações a Tio Patinhas, e "moeda virtual" pra rimar com "espaço sideral" (isto presente no samba campeão). Possui três refrães, sendo o melhor deles o do meio "Lá no Valongo tinha/venda de negra mina/Oxum menina que já foi Imperatriz". O outro mais curto tem um ótimo efeito em "Amor em ouro e ouro em dor". Possui outros versos inspirados como "Se acabar o dinheiro/não há de faltar o pandeiro/o verbo, a inspiração", "cobiça capaz de enlouquecer a mente sã/luziu em agonia no afã/foi a perdição de Midas", "nessa roleta da vida não se anda só" e "o faz de conta vem brincar". Disparado o melhor samba da eliminatória gresilense, acabou cortado nas primeiras semanas, ficando claro que o estilo do samba-enredo desejado pelos carnavalescos era outro. Tanto que o que desfilará na Sapucaí é praticamente uma marchinha. A sinopse e o enredo não mereciam este ótimo samba. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba


Porto da Pedra 2019 (Altay Veloso) - A disputa da Porto da Pedra para essa temporada teve uma contradição. No anúncio do enredo sobre Antônio Pitanga, foi possivel notar os compositores Altay Veloso e Paulo César Feital reunidos com o consagrado ator, posando pra foto juntamente com autoridades da escola, dando a entender que o samba seria encomendado à parceria da dupla. No entanto, mais tarde foi confirmada a eliminatória na agremiação. E Feital e Altay participaram da disputa, com este samba sofisticado em primeira pessoa de formato pouco convencional. São refrães extensos, com versos entoados rapidamente, mas que não deixam de ser sensacionais. Uma primeira parte quilométrica, mas sem ser cansativa, muito pelo contrário. E uma segunda mais curta, o que não significa que seja apenas uma reles preparação para o refrão principal. Tem grandes sacadas, como o já inesquecível "Fiz Camila no dendê/Rocco no canjerê" do memorável refrão do meio. A gravação é um tanto estranha, onde predominam uma percussão com um órgão, enquanto Igor Vianna e Thiago Brito cantam o tempo todo com as vozes duplicadas. Carlos Fonseca em sua coluna Sambando por aí... e também no programa Carnaval Show na Rádio Show do Esporte afirma que o ritmo se assemelha a um jazz. Finalista da disputa, acabou derrotado, para tristeza dos sambistas nas redes sociais. Se fosse para a Sapucaí, seria favorito ao Estandarte de Ouro da Série A. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco Maciel). Clique aqui pra ver a letra do samba

"É negritude, axé!" - Rocinha 2019 (Parceria de Dudu Nobre e Moisés Santiago)Dos cinco sambas selecionados para fazer a final na Borboleta Encantada, esta eu considerava a melhor com uma certa folga. Tem uma pegada mais lírica e emotiva. Além dos fortes refrães, a letra possui trechos muito fortes e diretos como "Sua hipocrisia barata / Carrega o vício da chibata / Passou da hora de entender / Quem chora, quem sente a dor do sofrer" na primeira parte e "Nessa "terra" quem tem fé / Há de vencer qualquer algoz / Sou negro na alma, na pele, na voz!" fechando a segunda. Na disputa, foi escolhida a obra assinada por Cláudio Russo. Uma mera curiosidade: a obra de Dudu e Santiago era defendida por Leléu, recém-saído da escola. (Carlos Fonseca).

"O meu São Carlos em devoção" - Estácio de Sá 2019 (Parceria de Moisés Santiago)Moisés Santiago bisa novamente nesta lista. Defendida por Wantuir, a obra que sua parceria compôs para a disputa da Estácio é toda trabalhada na linha melódica que arrebata o ouvinte pelo tom emotivo, em recurso bem parecido com a obra feita para a Rocinha. Destaco duas passagens: uma na cabeça da obra ("Olhai por nós, oh! pai! / Dai vossa divina proteção / Conduz a nossa fé / Emerge das águas a luz que nos guia") e o único refrão da letra ("Vem meu Senhor abençoar / A nossa oração / Traz a santa paz pro Mundo / Um caminho de união"). Ela também possuia um forte falso refrão que tem um trecho interessantíssio: "Amém! / A minha Estácio de Ismael / A ti Senhor tira o chapéu / Mais uma vez vem te exaltar"). A obra acabou cortada na semifinal. (Carlos Fonseca).

"É força, energia o meu Igbá" - Cubango 2019 (Parceria de Gabriel Martins)Numa final equilibrada como foi, a parceria que venceu em 2018 na escola apresentou mais uma obra de fidalga qualidade. Destaque para o começo do samba, que já fala por si só: "Da palha o meu fundamento / Eu vou te dizer / Salve o meu peji / Obaluaê / Relembro afoxé lorin / Em babalotin a esperança pra lutar". Toda a letra é bem construída, bem como o desenho melódico. Foi derrotado na final, já que a verde e branca escolheu a obra assinada pela parceria de Sardinha - que, por sinal, foi bastante modificada em relação a eliminatória. Tal qual no samba de Dudu Nobre para a Rocinha, quem defendeu a obra dos então campeões cubanguenses foi Evandro Malandro, meses depois de trocar a Cubango pela Grande Rio. (Carlos Fonseca).

"Festeja Unidos, chegou Santo Dias" - Unidos de Padre Miguel 2019 (Parceria de Samir Trindade) Apenas três obras se inscreveram na disputa da Padre Miguel. A de Samir Trindade, defendida por Marquinho Art' Samba e Tinga, se destaca por uma melodia forte e pra cima, um pouco fora das caracterísiticas que o enredo sobre Dias Gomes pede. O melhor momento da obra é o refrão central: "Tem diabo debaixo dos panos / Milagreiro, viúva de santo / Asa branca, asa norte, asa sul / Não é Sucupira, mas só tem Paraguaçu". Uma bela sacada do samba é o verso "Coxinha e mortadela, argumento de pamonha" que nunca deixa de ser atual. O samba foi derrotado na final pela obra de Jefinho Rodrigues. (Carlos Fonseca).

"A São Gonçalo toda minha gratidão" - Porto da Pedra 2019 (Parceria de Altay Veloso e Paulo Cesar Feital)O samba do carnaval carioca em 2019, sem medo de estar delirando. Altay Veloso e Paulo Cesar Feital, dois monstros da MPB, compuseram esta obra fantástica para a disputa da Porto da Pedra, que homenagerá o ator Antônio Pitanga, amigo da dupla. O registro interpretado por Thiago Brito e Igor Vianna pode até ter ficado horrível, parecendo um Samba-Jazz, mas o samba é um surrealismo puro a ponto do refrão central ter um verso bem curioso: "Mãe Guerreira / Fiz Camila no Dendê / Rocco fiz no Canjerê / Saravá pra tanto amor" em referência aos filhos do ator. Destaco um trecho muito forte na primeira parte: "Natividade, a Sapucaí, vadeia com seu guri / O samba me homenageia / Mãe, me ouça  de onde for / Seu filho se fez ator, nos palcos da nossa aldeia". O samba acabou ficando pela final, quando a obra da parceria de Bira venceu a disputa, em derrota lamentada por vários sambistas na internet. (Carlos Fonseca).

'"Deixa Trovejar!" - Salgueiro 2019 (Parceria de Antônio Gonzaga)Destaque na disputa salgueirense desde 2016, a parceria de Antônio Gonzaga não fugiu a cartilha ao trazer uma obra de pegada, do jeito que o enredo sobre Xangô pedia. O momento de maior força é no falso refrão central: "Ele bradou na aldeia (Salgueiro) / E aqui vai bradar (Salgueiro eu sou!) / Vestido de vermelho, coração guerreiro / Se apaixonou... / Nos ventos de Iansã... (Eparrei Oyá!) / Nas águas de Oxum... (Ora Yê Yê Oxum) / Num ato de amor, fez enlouquecer / Obá Xirê". Esteve na final, mas foi derrotado pelo samba de Marcelo Motta e cia. (Carlos Fonseca).

"Samba é meu ganha-pão" - Unidos da Tijuca 2019 (Parceria de Dudu Nobre)Outra grande safra da temporada foi a da Tijuca. E isto se deve muito a força chamada Laíla. Umas cinco obras despontaram para ser o hino tijucano para o próximo ano. Dentre elas, a composta por Dudu Nobre e parceiros. O samba é um assombro de espetacular. Tem passagens que tocam o coração, como em seu começo: "Pai... / Ensina a partilhar o pão / Dá voz ao meu samba / Faz dele oração". Outro grande destaque da letra é o falso refrão onde tem um verso que é um senhor achado "Eu sou Tijuca / Não me fale de alforria / Não existe liberdade sem o pão de cada dia". Foi derrotado na final para a parceria de Marcio André, outro grande samba, mas é uma pena não vê-lo na avenida. (Carlos Fonseca).

"Vem que vai virar" - Viradouro 2019 (Parceria de PC Portugal)Um dos sambas que se destacou na irregular safra da Viradouro. De melodia forte e lírica em alguns momentos, a obra composta pelo veterano Paulo Cesar Portugal e parceiros contém passagens muito interessantes. Uma delas junta melodicamente os últimos versos da primeira parte ("Veste a fantasia, o desfile é sedutor / A fada madrinha em um toque transformou / Nos pés da menina, brilho de cristal") com o grande achado da letra, o refrão central ("Girou igual porta-bandeira / Bela como a lua baila a noite inteira"). Preterido por boa parte de internautas e torcedores (inclusive o escriba), acabou ficando pela final, quando perdeu para o samba da parceria de Renan Gêmeo, que foi uma avalanche na apresentação decisiva. (Carlos Fonseca).

"Rei dessa nação vermelha" - Salgueiro 2019 (Parceria de Luiz Pião) Merece estar na lista não só por sua qualidade, mas por um motivo bem especial: a parceria de Luiz Pião nos brindou com uma fabulosa primeira passada de sua obra entoada pelo "Pavarotti do Samba" Rixxah, que ficou até melhor que nas duas passadas seguintes, defendida por Zé Paulo e Evandro Malandro. Com refrães muito fortes, ele tem trechos muito bons. O melhor momento é na segunda parte, aberta por um falso refrão "Kaô Kabecilê, de Jejê ou Nagô / Kaô Xangô, Agô Xangô / Kaô Kabecilê, jamais me deixe só / É o rei maior, a lei maior" que segue num trecho pergunta-resposta: "Ele é da pedreira (meu pai Xangô) / Lá da cachoeira (me batizou) / Ele é o senhor, meu Brasil sincretizou / Meus olhos vão brilhar, meu coração palpitar / Ao ver o mestre novamente desfilar". A letra encerra, curiosamente, com um trecho que exclama que "Prevalece a união", do que a escola tanto precisa. A obra foi derrotada na final. (Carlos Fonseca).

"Pisa forte nesse chão" - Salgueiro 2019 (Parceria de Rafa Hecht)Para o leitor ter ideia do quanto foi boa a safra do Salgueiro, mais uma obra concorrente da vermelha e branca bisa nessa lista. Parceria que foi a grande surpresa na disputa de 2018, repetiu a fórmula de um samba ousado. Interpretado por Pixulé, o cartão de visitas é a letra ser bem extensa. Tem passagens muito boas como no refrão central "Quando a pedra rolou na pedreira / Trovejou, relampejou / O meu destino iluminou". Chamo atenção para o momento de clímax da obra, o segundo refrão ("Pisa forte nesse chão, Salgueiro / Vai ter Xirê pro meu orixá") que, caso fosse pra avenida, essa repetição certamente cairia. A obra foi cortada antes da semifinal. (Carlos Fonseca).

"Volta meu Sabiá" - Portela 2019 (Parceria de Samir Trindade)Tal qual a obra que vai pra avenida, o samba composto pela parceria vencedora nos últimos três carnavais na azul e branca é emocionante do início ao fim. O cartão de visitas é seu forte começo: "Nunca te deixei Portela / Fiquei em cada saudade / Meu povo mestiço me espera / Sou eu, a claridade". Um outro trecho que merece destaque fica mais a frente: "Morena, moreninha, já nasci guerreira / Cantei o Brasil, eu sou a tal mineira". O grande achado da letra é seu trecho final: "Um lindo samba clareando a poesia / Mostra que hoje é aquele "até um dia" / Vejam uma luz pairando sobre nós / É a Portela em uma só voz". No momento de clímax, adota-se o recurso do "Clara laiá lalaiá lalaiá" complementadas, respectivamente pelo "Canta Sabiá"/"Voa Sabiá" e "Volta meu Sabiá". Foi cortada da disputa antes da semifinal, em queda muito comentada no mundo do samba. A nota triste foi a morte de um dos compositores do samba, Girão, antes do começo da disputa. (Carlos Fonseca).

"O tempo é lembrança que fica na história" - Mocidade 2019 (Parceria de Denílson do Rozário)Muito se falou nos sambas das parcerias do Domenil e J Giovanni, que têm sua qualidade, mas a obra assinada pela parceria de Denílson do Rozário, que neste ano se juntou a compositores de São Paulo, é de qualidade semelhante a que a estrela-guia levará para a Sapucaí. Toda em tom alto, o samba que fora defendido por Igor Sorriso, Freddy Viana e Grazzi Brasil tem uma letra que, salvo uma derrapada ou outra, é muito bem construída e com refrões muito fortes. O grande achado da obra são os trechos que antecedem o refrão principal: "Meu Deus, a saudade abraça nossos mestres / Poesia que eterniza essa gente / Orgulho de ser independente". Foi um dos sambas finalistas da disputa. (Carlos Fonseca).

"Ninguém vai calar os nossos heróis" - Mangueira 2019 (Parceria de Tantinho da Mangueira)Outra safra que merece elogios é a da Estação Primeira. Dentre as obras cotadas pra vencer, estava a assinada pelo veterano Tantinho que se juntou a compositores consagrados da escola nos últimos anos como Cadu e Paulinho Bandolim. De letra forte e refrões mais ainda, o melhor trecho são seus versos finais: "Chega de negar a realidade / Vem, vamos mostrar nossa vontade / Revela a identidade brasileira / Os filhos desse chão vão se orgulhar / Do morro uma nova aquarela me fez despertar". Foi um dos semifinalistas na disputa. (Carlos Fonseca).

"Chegou Yaô de Oyá" - Portela 2019 (Parceria de Toninho Nascimento)A Portela teve a seu dispor uma safra de qualidade a altura de sua homenageada. Um dos grandes destaques foi a volta da dupla Toninho Nascimento e Luiz Carlos Máximo a disputa portelense depois de um hiato. A obra defendida por Anderson Paz e Bico Doce segue o estilo marcante de seus triunfos nos carnavais de 2012 a 2014 no desenho de três partes e três refrões. O melhor trecho do samba fica na meiuca: "Ô mestre / Traz o pandeiro e a viola / Que eu quero ver / Se a moça de saia rendada rebola / Rebola, Oi, rebola / Que eu quero ver / Se a moça de saia rendada rebola". Foi cortado da disputa antes da semifinal, junto com a obra de Samir Trindade. (Carlos Fonseca).

"É o azul da minha vida" - Vila Isabel 2019 (Parceria de Marcelo Mendes)Ao contrário de Portela e Mangueira mencionadas anteriormente, a Vila Isabel não teve uma safra pra lá de deslumbrante, todavia teve algumas poucas obras que merecem destaque por sua qualidade. Além do samba que vai para a avenida, destaco a assinada pela parceria de Marcelo Mendes, defendida por Igor Sorriso. Possui uma melodia bem forte e letra que, salvo cair em um clichê ou outro, conta muito bem o enredo sobre Petrópolis. O melhor momento é a segunda parte, destacando seu trecho final: "Em nome do pai, do filho e dos santos / A Pedro, meu canto em oração / Petrópolis, brilha no meu coração". Foi um dos finalistas na disputa da azul e branca. (Carlos Fonseca).

"Voltei porque a saudade apertou" - Estácio de Sá 2020 (Parceria de Daniel Gonzaga) - O ponto fora da curva da irregular safra estaciana. Zé Paulo Sierra e Igor Vianna defenderam uma obra que, mesmo com um probleminha aqui e ali na letra - muito proveniente da complicada sinopse -, possui uma melodia forte e envolvente. O melhor momento são os versos finais da segunda estrofe "Clareia a caminhada Lua de Ogum / Olhe pela nossa terra sob sua proteção / Tantas pedras no caminho e aqui estou / Voltei porque a saudade apertou". O samba foi cortado na semifinal, ficando de fora daquele que viria ser o show de horrores da final, quando a escola anunciou uma junção que não aconteceu. (Carlos Fonseca).

"Chegou nosso dia, Viradouro" - Viradouro 2020 (Parceria de Dominguinhos do Estácio) - O veterano e saudoso intérprete voltou à disputa viradourense após mais de uma década nos brindando com samba magnífico. A obra defendida pelo próprio Dominguinhos e por Grazzi Brasil é de uma força transcendental. Uma melodia belíssima e uma letra inspirada do começo ao fim. Há de se destacar os dois fortes refrães (o central poderia virar um falso refrão caso fosse pra avenida) e passagens como "Menina bonita de Itapuã / Baiana da saia rendada e colar / Papai pescador e mamãe lavadeira / Acorda cedinho pra ir trabalhar". O melhor momento do samba é a partir do trecho "No balanço das marés (das marés) / A bênção meu protetor (Kaô)" que é qualquer coisa de lindo.

Inacreditavelmente, o samba de Dominguinhos e parceiros foi cortado na semifinal da disputa que terminou ensaboando geral... (Carlos Fonseca).

"Flores em vida calam o fuzil" - Viradouro 2020 (Parceria de Felipe Filósofo) - Outro sambaço aço da qualificada safra viradourense. Uma melodia leve e uma letra que, na contramão dos demais, adotou um tom mais político. Versos como "Morrer sem dignidade / Sofrer na mão do patrão / Cadê minha carta de alforria? / Roda baiana, Maria / Ao som do tambor Malê" foram um acerto e tanto. O grande momento talvez seja os versos finais da segunda estrofe: "O Treze de Maio não chegou / As “lavadera” agora vão pregar / Nos varais do reprimido Brasil / Flores em vida calam o fuzil". O refrão principal não é bem um refrão: trata-se da repetição de três versos: "Viradouro lava a alma nas águas de Iemanjá" "Abraça mamãe Oxum, reina nesse conga", "Justiça de Xangô Kao pedra rolou".

A obra defendida por Bruno Ribas e Nina Rosa foi surpreendentemente cortada nas quartas de final. (Carlos Fonseca).

"A ideia não se prende, sobrevive" - Mangueira 2020 (Parceria de Deivid Domênico) - Mesmo não sendo tão arrebatador como a obra-prima de 2019, Deivid Domênico e parceiros outra vez fizeram um agradabilíssimo samba. A obra toda em tom menor defendida por Leandro Santos apresenta uma letra mais pesada no tom crítico ao fazer uma analogia da proposta do enredo (o retorno de Jesus nos tempos atuais) com casos famosos de violência no trecho "Chorou... Ao ser Kailanes apedrejadas / Galdinos queimados nas calçadas / Meninos amarrados em postes da cidade / Chorou... Foi milhões de Chicos nas florestas / Por Amarildos nas favelas / Teu sangue derramado em Carajás". Estes versos, aliás, dividiram opiniões entre os sambistas, já que muitos acharam que as citações soaram inconvenientes. Há outras passagens de destaque como "Transcende, transgride, transforma / A cruz já não pesa, pois é carnaval / Nas ruas malandros, meninas / És imortal em pierrôs e colombinas" na segunda estrofe e "Mesmo sendo um Cristo condenado / A verdade vos fará um povo livre" no refrão principal.

A obra foi cortada antes da terceira eliminatória devido ao vazamento de uma versão alternativa cantada por Cacá Nascimento nas redes sociais, o que infrigia o novo regulamento da disputa mangueirense, adotado este ano. (Carlos Fonseca).

"Xetruê Xetruá" - Grande Rio 2020 (Parceria de Myngal) - Um dos sambaços protagonistas da polarização na disputa caxiense junto ao "Pedra Preta", que saiu vencedor. A obra defendida por Leléu e Freddy Vianna une uma bela melodia com uma letra fantástica cujo destaque são seus refrães, como o principal "Firma o ponto no terreiro pra Kizomba começar: / Vai ter samba de caboclo! Xetruê, Xetruá! / No poder do Ofá, na magia do Afefé: / Hoje cada caxiense é o Rei do Candomblé!". Outra passagem de destaque é no começo da primeira estrofe: "Pintei o corpo de urucum / Vesti o Tricolor-cocar / Eu vim da macaia, lá do Juremá / Sou filho da flecha certeira / O meu caminho Dindinha clareia".

Quando 11 entre 10 sambistas esperavam que o Xetruê fizesse frente ao Pedra Preta numa das finais mais esperadas do ano, a obra foi cortada antes da semifinal de forma surpreendente. A queda do Xetruê foi muito lamentada no mundo do samba e nas redes sociais - até mesmo Marcelo Adnet, que ainda estava em meio a disputa na São Clemente, protestou contrário ao corte da obra. A verdade é uma: fosse este ou o que irá pra Sapucaí, a tricolor caxiense estaria muito bem servida de samba. Poderiam ser outras obras, como veremos em seguida. (Carlos Fonseca).

"Meu quilombo é Caxias" - Grande Rio 2020 (Parceria de Márcio André) - Muito além da polarização Pedra Preta x Xetruê, a tricolor dispunha de outras ótimas obras em seu certame, como esta defendida por Bico Doce e Luizinho Andanças. A se destacar o cartão-de-visitas, que são os excepcionais primeiros versos: "Salve o caboclo rei do candomblé / Mukuiú, odé, Tata londirá / Hoje teu povo preto macumbeiro / Canta no terreiro, dia de ajucá". A letra num todo é muito bem construída, aliada a uma melodia bem forte. Meu trecho favorito são os versos finais antes do bis principal: "Não quebre o meu valor / Respeite o meu tambor / E a fé nos meus orixás". Destaque também para as saudações aos povos de umbanda na introdução.

Foi um dos finalistas da disputa. (Carlos Fonseca).

"Aluiê, Aluiê" - Grande Rio 2020 (Parceria de Elias Bililico) - A excelente safra da Grande Rio em louvação à Joãozinho da Goméia credencia outro samba nesta lista. O melhor momento da obra é o refrão central "Okê Arô... Tata Londirá / Clareia, dindinha lua / O Xirê vai começar / O batuque do tambor fez a gira girar / Caxias no coração / Orgulho do meu lugar". O outro refrão ("Toca viola, "Pedra Preta" quer sambar") é muito forte e não teria dúvidas do povo caxiense o berrando caso fosse este o samba campeão. A título de curiosidade: o ator Oscar Magrini está entre os autores, em expediente já feito em 2018, quando assinou a simpática obra (finalista daquele ano) sobre Chacrinha junto ao próprio Elias Bililico e ao falecido Márcio das Camisas. Um destaque especial para os interessantes efeitos especiais do videoclipe da obra.

Foi um dos cinco finalistas da disputa. (Carlos Fonseca).

"Ela não sai de mim, eu não saio dela" - União da Ilha 2020 (Parceria de Carlinhos Fuzileiro) - Foi o samba que conseguiu extrair algo melhor do enredo sem sinopse insulano. O destaque principal é a melodia em tom lírico, que cativa o ouvinte. A letra, apesar de cair em algumas obviedades e clichês, tem belas passagens como "Sou eu... Espelho de fato / Brasil... eu sou teu retrato / De luta, paixão e resistência / Ó pátria amada, tão desigual..." e "Na fé, do meu santo que me guia / Vou vivento o dia a dia / Sem nunca deixar de sonhar". Outra parte que me agradou são os versos finais do refrão principal "Ela não sai de mim, eu não saio dela / Seu nome vai ecoar... Favela!". Foi um dos finalistas da disputa, sendo preterida pela obra de Márcio André e cia. (Carlos Fonseca).

"O Rio é Índio" - Portela (Parceria 2020 de Samir Trindade) - Uma letra que, apesar de extensa, casou bem com a melodia. Há passagens muito boas como nos versos iniciais "Resplandeceu, povo da mata em Guaraci / Pra saudar curumim, Raoni / Alvoreceu, vou colorir linda manhã / Sob as bênçãos de monã / Da Guanabara reviver Guajupiá" e o bis "Okara êêê , taba jara êêê...", mas o melhor momento da obra defendida por Tinga e Diego Nicolau é a partir do verso "Portela, fiz de você o meu Guajupiá / Tuas raízes meu melhor lugar / Um karioca em paz". A única falha deste samba foi o bizarro "A tribo de Monarco e flecha" no refrão principal, que certamente seria mexido caso fosse o escolhido. A registrar: mesmo o escriba não sendo entusiasta dessas "versões acústicas" de sambas concorrentes, vale dar uma escutada na versão cantada por Grazzi Brasil.

A obra de Samir e flecha (com o perdão do trocadilho) foi uma das finalistas, sendo preterida pela composição de Valtinho Botafogo e parceiros. (Carlos Fonseca).

"Chegou Portela sob os olhos de Guirá" - Portela 2020 (Parceria de Samba dos Crias) - Foi um samba que me surpreendeu positivamente logo na primeira audição. E talvez seja a obra mais bonita feita pelo tradicional grupo de compositores que já concorre na escola há alguns anos - tendo chegado na final em 2019. A primeira parte não me chama tanto a atenção, mas a segunda é muito bonita, tanto é que o melhor momento do samba é a partir do verso "Ah, minha Portela! Tu és nosso talismã / O sonho de um amanhã / A esperança, a nossa voz". A se destacar também o refrão principal que traz uma citação ao "Lendas e Mistérios da Amazônia" (1970/2004).

Defendida por Emerson Dias, a obra foi cortada na semifinal. (Carlos Fonseca).

"Entra ano e sai ano, qual será o meu lugar?" - São Clemente 2020 (Parceria de Rodrigo Índio)Mesmo achando o samba um pouco quilométrico, a letra tem sacadas muito geniais. Destacando, claro, a chutada de balde no refrão principal "Entra ano e sai ano, qual será o meu lugar? / São Clemente, sempre linda! / Quando gira a bandeira tudo pode acontecer / O que vale para mim também vale pra você? / (Tem desconto para mim e dez pontos pra você)" protestando contra alguns julgamentos da aurinegra ao longo dos anos, muito devido ao falado peso de bandeira. Um refrão muito corajoso, mas que poderia acarretar futuras retaliações contra a escola caso fosse o escolhido. Outra tirada muito boa é no trecho "Irmão não quebre a corrente / O bolso não te pertence / Mãos ao alto pra doação" do refrão central, que Evandro Malandro emenda um "Oh, glória!" na gravação.

A obra foi eliminada na semifinal. (Carlos Fonseca).

"Hoje o malandro perde a banca pro otário" - São Clemente 2020 (Parceria de Thiago Martins) - É uma obra bem interessante. Mesmo que a primeira parte não se destaque muito (e até peque em rimas fáceis), a segunda é muito legal. Destaque para o trecho final "Enfim... / A era da modernidade / Chega de malandro levando vantagem / Vendendo a verdade que nunca existiu / Viralizou, é fake news / Caiu na rede, São Clemente explodiu". A obra defendida pelo quarteto Pixulé, Nino do Milênio, Roger Linhares e Juninho Sambista foi uma das finalistas do certame. (Carlos Fonseca).

"Vestir Vermelho é se libertar" - Salgueiro 2020 (Parceria de Antônio Gonzaga) - Mais uma vez Antônio Gonzaga e parceiros batem na trave com um belo samba. Todo trabalhado numa linha melódica emocional, a letra vai na contramão dos demais ao dar ênfase na luta de Benjamim de Oliveira. Caso de versos como "Eu sei, se o negro sempre foi injustiçado / E ainda ecoam dores do passado", "Num país que faz dos capatazes seus heróis / Meu samba é resistência, ergue a voz / De reis e rainhas que o mundo não viu" e do refrão "O palhaço também chora amor / Quando choro mostro a minha cor / Levo a força de uma raça / Que na luta acha a graça pra esquecer a dor". 

Foi um dos finalistas da disputa, mas foi preterida pela obra assinada por Marcelo Motta. Que a hora do Gonzaga vencer na Academia não tarde a chegar. E fica uma mensagem bem oportuna pro momento atual: "Onde houver arte não existe fim". (Carlos Fonseca).

"Amado é o Meu Torrão" - Salgueiro 2020 (Parceria de Demá Chagas) - Três autores do samba de 2019 se uniram a Rafa Hecht, que se destacou nas disputas dos últimos anos na Academia. O resultado dessa união foi um bela obra. A melodia toda lírica aliada a uma letra bem inspirada, como nos trechos "Fiz do sonho um desejo / Podem me chamar de “Beijo” / Mas meu nome é Benjamim / A vida me levou na corda bamba / Caí e levantei pra aprender". A força da letra, aliás, está em seus refrães, sobretudo o central: "Sonhar, lutar, acreditar / Sorrir também é resistir!". 

Foi eliminado do certame antes da semifinal. (Carlos Fonseca).


 

"A Décima Estrela da Academia" - Salgueiro 2020 (Parceria de Dudu Botelho) - Um samba muito contagiante. A melodia leve é um dos pontos fortes da obra defendida por Wander Pires e Evandro Malandro. A letra, apesar de alguns problemas como na rima "o salto do filho/e as broas de milho" e o verso "O riso que venceu a opressão" cantado de forma meio atropelada, contém passagens muito interessantes como o início da segunda estrofe "Palhaço, moleque Beijo / Pedaço do meu destino..." e o ótimo refrão principal "Vou descer a ladeira meu torrão amado / No caminho te conto da minha alegria / Sou eu... sou eu... / A décima estrela da Academia". 

A obra foi eliminada na semifinal. (Carlos Fonseca).


"Com prazer sou Elza" - Mocidade 2020 (Parceria de Zé Glória)A Mocidade apresentou uma grande safra em homenagem a Elza Soares, disputando palmo a palmo com a Grande Rio como a melhor de toda a temporada. Mas falemos deste em específico: mesmo ficando um pouco abaixo em relação aos demais que foram a final e tenha algumas limitações na letra - caso do "Samba, samba, samba êê" do refrão principal - é um belo samba. O melhor momento dele é o trecho que abre a segunda estrofe "Sou eu... / Resiliência em meio a tantos nãos / Meu sobrenome é revolução / Eis aqui o teu avesso que aflora / Meu nome é agora / E agora nós vamos à luta quebrar as correntes / Tornar nossas Nildas mais independentes / Ser crença e fé ser o que quiser". (Carlos Fonseca).

"Por todo canto que Soares, Elza" - Mocidade 2020 (Parceria de Jefinho Rodrigues)A parceria campeã de 2019 apresentou outro samba de muita qualidade. Seus versos iniciais "Preta sim! / Porque a dor da favela é a cor da mazela que há em mim / Fiz de sua bandeira a mais verdadeira luta / Onde o que se cala, até hoje é senzala, meu lugar de fala e fim" são impactantes. Outro grande momento da obra é o refrão central "Canta Mulher! / A rouca liberdade / Moça, mulher! / Poder e igualdade / Ergue essa voz por todos nós / Haja o que houver".

Defendida por Diego Nicolau e Igor Sorriso, foi um dos quatro finalistas da disputa. (Carlos Fonseca).

"Cantar é minha vida" - Mocidade 2020 (Parceria de Paulo César Feital)Paulo César Feital e parceiros retornaram a disputa em Padre Miguel nos apresentando uma obra que é um verdadeiro bálsamo para os ouvidos. Mesmo com a melodia um pouco arrastada em alguns momentos, a letra é de uma maestria pura. O trecho "As Elzas são Zuzu Angel também / Perdemos nossos filhos pra maldade / Minha arma é minha voz / Eu canto a dor de um país / Sou contra qualquer algoz dessa raiz" é qualquer coisa de sensacional. A destacar as brilhantes interpretações de Zé Paulo e Grazzi Brasil. 

Foi um dos finalistas do certame verde-branco. (Carlos Fonseca).


"Essa rua hoje é minha" - Beija-Flor 2020 (Parceria de Marcelo Guimarães)A safra nilopolitana não chamou tanta atenção, mas além do vencedor, outros sambas merecem destaque, como este. A obra não foge das caracterísiticas de Beija-Flor: samba pesado com versos fortes, como "Quero voltar ao caminho do luxo e da seda". O melhor momento dele é o trecho final "Essa rua hoje é minha / Vou fazer ela brilhar" que desagua no ótimo refrão principal "Na estrada mais linda eu vou te encontrar / Nas idas e vindas do meu caminhar / Em cada olhar, seja onde for / Eu vou com você, meu Beija Flor / Voar com você, Beija Flor". 

Defendida por Wantuir, a obra foi eliminada antes da semifinal. (Carlos Fonseca).


"O dono da rua é meu Beija-Flor" - Beija-Flor 2020 (Parceria de J. Velloso)Vencedores em várias oportunidades na Deusa da Passarela, as parcerias Samba 4 e Samba 13 se juntaram na disputa deste ano, formando assim a Parceria 134. A exemplo do samba 39, citado anteriormente, ele tem a característica da Beija-Flor: samba pesado, melodia e versos fortes. A destacar o refrão central "Vem pra rua ê pra rua / Pelo sertão, terra pisada / Corta a cidade em procissão / A vida é jornada" e os versos que antecedem o bis principal "Aflora... Um festival de prata em plena pista / Há vidas na esquina do nada / Há falta de afeto e calor / Pelas calçadas cuida delas meu senhor"

Defendida por Emerson Dias e Bakaninha, a obra foi uma das finalistas da disputa. (Carlos Fonseca).



"Sempre Marias, são brasileiras" - Viradouro 2020 (Parceria de Ana Guerreiro) - Devido a algumas cobranças e por esquecimento do escriba, volto aos concorrentes do domingo de carnaval para fazer uma menção mais que honrosa a este samba que pintou na disputa da Viradouro. Aliás, samba não. Sambaço! Ele até remete a obras dos anos 70 e 80. A melodia é um pouco difícil, tem algumas alternações que poderiam dificultar a harmonia, mas a letra é espetacular. O trecho da segunda "Vem chegando as lavadeiras / Filhas de pai pescador / São Marias, são guerreiras / Vem lá de São Salvador / Cantam cantigas desde os tempos da senzala / Sabem tratar a dor com doçura / O luar prateia essa voz que não se cala / E ecoa na noite escura" é lindo demais.

Infelizmente, a obra foi cortada na seleção prévia da escola e nem chegou a se apresentar na quadra - apenas doze sambas foram classificados a esta fase. Ventilou-se que o motivo do corte foi um plágio da canção "Bando das Ganhadeiras" no refrão central - "Vem chegando as ganhadeiras / Da praia de Itapuã / Vai ter samba a noite inteira / Só termina de manhã" - que poderia acarretar problemas com direitos autorais. (Carlos Fonseca).

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