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Coluna da Denise

UM SEGUNDO GRUPO CADA VEZ MAIS ESPECIAL

14 de novembro de 2010, nº 37, ano III

Chegou a hora de comentarmos sobre as 11 obras escolhidas pelas escolas do Grupo de Acesso A. Sem muitas delongas, podemos afirmar que a trilha sonora do principal grupo da Lesga tem para todos os gostos, desde sambas de primeira qualidade, como os do Império Serrano e da Viradouro, as boas obras de Alegria da Zona Sul e Santa Cruz, os funcionais sambas da Renascer, Estácio, Caprichosos e Rocinha, a sensação de “poderia ser melhor” referente aos sambas do Império da Tijuca e Cubango e o inusitado samba da Inocentes de Belford Roxo. 

JUSTIÇA E IGUALDADE COM MUITA ALEGRIA 

A simpática escola Alegria da Zona Sul volta ao grupo e abre o competitivo desfile por apenas uma vaga na elite. Com muita justiça, o samba da escola pode ser considerado um dos melhores sambas do grupo. O grande senão do samba é o excesso de expressões africanas, que dificultam a compreensão do enredo para os leigos espectadores. A melodia, entretanto, compensa esse pequeno deslize e eleva o samba a um nível muito bom.

A SEDE DE VITÓRIA DA RENASCER

Uma das promessas para a década, a Renascer de Jacarepaguá, que pelo segundo ano consecutivo falará de água, compensou a abordagem repetitiva com um bom samba, a despeito de não manter o nível de excelência das últimas obras levadas pela escola pelo grupo. À primeira vista, o samba não se destaca, mas acredito que ele pode funcionar muito bem para os propósitos de desfile da escola. 

UNIDOS PELA VIRADOURO

Emocionante. Essa é a expressão que me vem à cabeça para falar do samba da Unidos do Viradouro para 2011. Se a Cubango pretendia emocionar, levou uma bela rasteira da vizinha. A letra do samba é belíssima e encaixa perfeitamente na correta melodia. O carnaval de 2011 resgata não só os bons sambas de Niterói, mas a autoestima dos componentes que abraçaram a escola em um dos seus momentos mais difíceis de sua belíssima trajetória em terras cariocas. Se o objetivo esperando pelo samba é levar a escola de volta ao Grupo Especial, se depender exclusivamente dele, a Viradouro pode alcançá-lo sem medo de ser feliz. A volta por cima de uma escola desacreditada é uma das mais belas emoções que o carnaval pode proporcionar aos amantes do samba. Parabéns, compositores da Viradouro.

A UTÓPICA SANTA CRUZ

O samba da Santa Cruz se destaca pela belíssima melodia, que poderia ter sido valorizada se a letra fosse mais trabalhada, evitando excesso de informações na mesma estrofe, por exemplo. Mas é um bom samba, que retrata muito bem o enredo.

IMPÉRIO DA TIJUCA SAMBANDO ABAIXO DE ZERO

Fiquei um pouco decepcionada com o samba do Império da Tijuca. A escola que costuma levar grandes sambas para a avenida, não foi feliz na escolha. Não pode ser considerado um samba ruim, mas não se destaca no grupo. Mas o que esperar de uma escola que promete sambar “abaixo de zero”???

O CÚMULO DA INOCÊNCIA

Tudo bem que o carnaval carioca deve ter diversidade. Mas não dá para comparar, numa competição acirrada, em que se pretende acesso para o Grupo Especial, brigando pela vaga com escolas tradicionais que capricharam na escolha dos enredos, a Inocentes de Belford Roxo, uma escola em ascendência, retroceder em sua trajetória com um enredo sobre o efêmero grupo Mamonas Assassinas. O samba, apesar de lúdico, despretensioso e inocente, pode até ter uma melodia razoável, mas a letra, recheada de pobres rimas, revela a fragilidade do enredo escolhido, como a passagem dos seguintes versos: “Tem dança do vira-vira tem até sabão cracrá. O Robocop gay vai te pegar”.

A EMOÇÃO ESTÁ NO AR?

O Cubango mudou o estilo, desde 2010, e acredito de forma equivocada. O enredo abstrato que pretende mostrar as emoções ganhou um samba “legalzinho”, mas que não passa a emoção pretendida. Diria até que em algumas passagens o samba é bem burocrático. Fico imaginando se a Cubango levasse o enredo da Alegria da Zona Sul. Com certeza a disputa iria ficar bem mais emocionante.

ESTÁCIO EM NOME DA ROSA

A aposta da Estácio num enredo cheio de simbolismo rendeu um samba curto e descritivo, que cumpriu o propósito de contar o enredo. Em termos de letra e melodia, o samba deixa a desejar, mas ele pode ser valorizado pelo desfile, devido à objetividade dos compositores, exatamente por ser o samba que fala por si só, sem precisar de o ouvinte recorrer à sinopse para entender o enredo da escola. O único senão é o refrão do meio que da forma como redigido pode sugerir uma contradição. Mas para quem viu o filme ou leu a obra “O nome da Rosa” vai entendê-lo perfeitamente.

POR ONDE ANDA O IMPÉRIO SERRANO?

Com um samba digno de suas tradições e fazendo jus ao homenageado, o tradicionalíssimo Império Serrano tenta o acesso ao Grupo Especial do qual nunca deveria ter saído. A melodia do samba é excelente. A letra, no entanto, preocupou-se muito em citar as obras de Vinicius, o que deixou a poesia menos libertária. De qualquer sorte, é uma ótima obra.

ROCINHA RECOLHE OS CACOS NA AVENIDA

 

O samba da Rocinha é bem animado e pode ser considerado um bom samba, se considerarmos o tema escolhido. Não entendi apenas a parte do samba que fala “dos cacos recolhidos no passado”, uma vez que a escola não pode se envergonhar de sua trajetória, que a despeito de ainda não a ter colaborado para sua permanência na elite do carnaval, pode ser considerada promissora.

 

A SUBURBANA DE PILARES

 

A Caprichosos encerra mais uma vez o desfile com um dos melhores enredos do grupo, em mais uma exaltação ao subúrbio carioca. O samba, como não poderia deixar de ser, é bacanérrimo, pra cima, como é o costume da escola, apropriado para o estilo de desfile da escola, que valoriza o seu maravilhoso chão. Mas senti falta de uma letra mais poética e singela, como a da obra da MPB inspiradora do enredo “Gente Humilde”.

Agora é esperar a versão oficial do CD e os ensaios para ver se a primeira impressão vai ficar para a posteridade.