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Coluna do Cláudio Carvalho

O SAMBA NA PONTE AÉREA

24 de setembro de 2022, nº 59

Hoje não vim escrever sobre sambas concorrentes, como seria de se esperar à essa altura do campeonato. Ouvi sim, alguma coisa aqui e ali. Tenho meus favoritos. Em breve entrarei no tema, que já vem sendo discutido pelos colegas nas lives do Sambario. O assunto de hoje surgiu numa conversa minha com o Bruno Malta, um cara que, assim como o Bruno Filandra, o Rodrigo Vilela, o Thiago Morganti e outros que fazem parte do nosso grupo do WhatsApp, tem me ensinado muita coisa sobre o carnaval de São Paulo. Pois bem, certo dia estávamos fazendo analogias entre as escolas daqui do Rio e de lá, e vimos que existem muitos denominadores comuns. Diante disso, me propus a um exercício lúdico e despretensioso, de dizer qual seria a equivalente carioca a cada escola paulistana. Convido então o leitor a embarcar sem preconceito nessa ponte aérea virtual e ver como ficou:

Vai-Vai: Escola mais popular do carnaval paulistano, a alvinegra do Bexiga seria a Mangueira de São Paulo. Rebaixada pela segunda vez em 2022, vai desfilar no grupo de acesso ano que vem, algo inimaginável até pouco tempo atras, e surreal quando se trata da verde e rosa. Seria o julgamento de São Paulo mais ou menos criterioso que o do Rio? Deixo a resposta pra vocês...

Nenê de Vila Matilde: Afilhada da Portela, azul e branca e representada por uma águia, a Nenê inclusive já homenageou a madrinha recentemente, num enredo que fazia alusão a seu fundador e a Paulo da Portela. É a única escola de São Paulo que já se apresentou no Sambódromo do Rio, no desfile das campeãs de 1985. Também está no grupo de acesso, pra onde subiu em 2022. A pergunta de um milhão de dólares: o que teria acontecido com a Portela em 2005 se ela desfilasse no Anhembi?

Mocidade Alegre: Apesar do nome, e de seu auge coincidir com a fase "rolo compressor" da Beija-Flor, a escola do bairro do Limão, conhecido nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica como Limoeiro, representa para o carnaval paulistano, em termos de inovação e de contribuição cultural, o que o Salgueiro representa para o carioca. A Morada se sagrou campeã poucos anos após sua fundação, e não tardou em se consolidar como uma das grandes de sua cidade, assim como a vermelha e branca da Tijuca.

Camisa Verde e Branco: Aqui eu confesso que fiquei na dúvida. O Trevo da Barra Funda me lembra, em muitos aspectos, o Império Serrano, mas vou de Mocidade. Até porque é o primeiro do gigantesco nome dessa igualmente gigantesca escola. Ao contrário da co-irmã de Padre Miguel, nunca rebaixada, a Camisa está no grupo de acesso. Lá estaria, pelo menos uma vez entre 2004 e 2016, a escola da Vintém se desfilasse no Anhembi? Uma curiosidade: as duas escolas brilharam na década de 1990. Ambas foram campeãs em 1990 e 1991, e o Camisa ainda ganhou em 1993, como fez a Mocidade em 1996.

Rosas de Ouro: Aqui não tem muita margem pra erro. O despontar nos anos 1970, a consolidação na década seguinte, e um jejum de quinze anos marcado por alguns vice-campeonatos e desfiles históricos injustiçados. É Beija-Flor e fim de papo. Falta "apenas", à escola da Brasilândia, uma nova fase "rolo-compressor", que parecia vir a partir de 2010, mas não emplacou.

Unidos do Peruche: O auge nas décadas de 1950 e 1960, seguido pela perda progressiva da competitividade, que se mantém nas décadas seguintes e se esvai até a escola se tornar habitué do grupo de acesso. Sambas memoráveis. Se você pensou em Império Serrano, bingo! A Peruche, diga-se de passagem, ainda conseguiu ser competitiva por mais tempo, mas quando caiu, despencou de vez. Atualmente está no terceiro grupo. O Império Serrano ainda conseguiu ser campeão nas décadas de 1970 e 1980, e está de volta ao desfile principal em 2023. Pequenas diferenças entre duas grandes escolas.

Gaviões da Fiel: Embora a Imperatriz Leopoldinense seja uma escola mais antiga e com mais títulos, a analogia fica por conta do poderio das duas entre a segunda metade da década de 1990 e a primeira da década de 2000, com posterior queda do rendimento e passagens pelo acesso. A Gaviões caiu em 2004 e 2006, e a Imperatriz em 2019. Ambas voltaram no ano seguinte, como campeãs, em todas as ocasiões.

Império de Casa Verde: Uma escola com patrono forte, que vai subindo de grupo até chegar ao principal, onde se sagra campeã alguns anos depois. As semelhanças entre ICV e Viradouro não param por aí, principalmente se a gente colocar Morro da Casa Verde e Cubango na parada. A diferença fica por conta de o auge de uma praticamente coincidir com um período de ocaso da outra. O Tigre (favor não confundir com outra escola vizinha da Viradouro) não caiu depois que subiu, mas já amarga um jejum do qual a "correspondente" fluminense se livrou dois anos após voltar pro Especial.

X-9 Paulistana: Uma das mais tradicionais escolas da cidade, onde chegou a ser campeã e hoje desfila no Acesso. O paralelo com a Estácio de Sá pode se estender às origens, se pensarmos na X-9 santista e na Deixa Falar como berços das duas agremiações e, por que não dizer (?), do samba no Brasil. Nunca é demais lembrar que, aqui no Rio, a gente sempre associa, pelas cores e pelo símbolo, a Estácio com a Leandro de Itaquera, diga-se de passagem.

Mancha Verde: Escola nova, rica, atual campeã e rebaixada recentemente. Mancha e Grande Rio possuem trajetórias semelhantes. Uma representa a quarta maior torcida do Brasil. A outra, um dos maiores municípios do Rio de Janeiro. As outras que lutem!

Acadêmicos do Tatuapé: Duas escolas antigas, tradicionais, que começam o século nos grupos de acesso e vão se firmando até beliscarem títulos no desfile principal: a Tatuapé em 2017 e 18, a Vila Isabel em 2006 e 13. A escola de São Paulo ainda voltou ao acesso antes de ganhar, o que poderia ter acontecido com a Vila no ano seguinte a seu último título.

Águia de Ouro: Assim como a Unidos da Tijuca, tem um histórico de "ioiô" até se firmar no desfile principal e passar a brigar pelo tão sonhado título, que foi pra Pompéia em 2020 e pro Borel em 2010, 12 e 14. Importante lembrar também de rebaixamentos recentes.

Lavapés Pirata Negro: Sete vezes campeã do Grupo Especial de São Paulo, a escola despencou até chegar ao último grupo. Atualmente sob o comando do ator Ailton Graça, encontra-se no Grupo 1 de Bairros, podendo voltar ao Anhembi em 2024. Guardadas as devidas proporções, podemos fazer alusão com a Vizinha Faladeira, que só ganhou uma vez e chegou a permanecer extinta por 50 anos.

Como podem ver, fiquei entre as campeãs paulistanas pra não estender demais a conversa. Deixo para os colegas a pergunta de qual seria a equivalente paulista da União da Ilha, embora eu tenha um palpite: Barroca Zona Sul. Mas essa já é outra história...

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Cláudio Carvalho