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Coluna do Cláudio Carvalho

O ZUMZUMZUM DO ZUMZUMZUM

“A arte começa onde a imitação acaba” (Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde)

Sou um cara polêmico. Quem me conhece sabe disso. Não que eu costume falar o que penso, até porque isso é impossível. A questão é que não tenho por hábito me furtar ao direito de expor minha opinião sobre determinado assunto sob pena de macular os egos de quem quer que seja. Sou do samba, mas se isso é ser sambista, prefiro que me chamem de sambeiro. Quando ouço alguém dizer que não sei da dificuldade em se colocar um carnaval na rua ou que devo ter respeito aos baluartes de escola A ou B, chego a sentir náuseas. Primeiramente porque, para as escolas que costumo criticar, não costuma haver obstáculo algum na concepção de um desfile senão a própria incompetência delas. Está ai a Grande Rio como prova disso. Dessem a um Império Serrano metade da verba da qual ela dispõe, o título não sairia de Madureira tão cedo. Em segundo lugar, gostaria que me respondessem que importância tais escolas dão a seus próprios baluartes quando abarrotam suas fileiras com atores do elenco global e ex-Big Brothers? Será que estou errado ao denunciar isso? Porque se o faço, é justamente em respeito aos pobres velhinhos que são relegados a segundo plano, e não o contrário, do que me acusam. Infelizmente, vivemos na era do politicamente correto, em que a inversão de valores é comum, e falar de qualquer escola mercantilista causa arrepios nas pessoas. Mas pra falar a verdade, estou cagando e andando.

Pois bem. Todo esse discurso introdutório é para esclarecer que não me preocupo com o que vão dizer sobre minha opinião a respeito do assunto que será abordado nesse texto: a reedição do samba-enredo “Bahia de todos os deuses” pela escola de samba Unidos do Viradouro. Os que me acompanham nesse espaço sabem que minha primeira coluna foi sobre o delicado tema da releitura de sambas de uma escola por outra. Sou radicalmente contra isso. Ainda mais quando a escola que se propõe a tal já o fez em outra oportunidade. Desde que o Monassa morreu, a Viradouro parece ter perdido o rumo. Sua atual diretoria conseguiu transformar ensaio da comunidade em pano de fundo para funk e micareta na quadra, perder um carnaval que era pule de dez, desfazer-se de seus dois maiores nomes e reeditar um samba já reeditado por outra escola que não a dos que o compuseram. Na Viradouro nada se cria, tudo se copia. Mas como se não bastasse isso, o presidente chegou a propor o absurdo de se efetuar mudanças na letra do tal samba para adequá-lo ao contexto no qual o carnavalesco pretende inserir o enredo. Pior, impossível.

Que me perdoem os amigos que tenho na escola, mas não posso deixar tamanha mediocridade passar incólume. Vocês hão de concordar comigo que não há nada, rigorosamente nada que justifique a escolha de tal reedição, e que a escola tem de perder ponto em enredo e samba-enredo por conta disso. Se é pra reeditar, porque não fazer isso com um samba da própria Viradouro? Por que não seguir o exemplo da Cubango e escolher um enredo que remete aos tempos em que as duas desfilavam na sua cidade natal? Eu mesmo tenho alguns LP’s dessa época, e posso dizer que não faltariam boas opções se pensassem em fazer isso.

Entretanto, parece haver na Viradouro uma ânsia por só se levar em consideração a sua história do ano 1997 em diante, deixando de lado os tempos da quadra no Garganta e dos primeiros desfiles no Rio, o que é lamentável. Como disse o próprio Paulo Barros, não se constrói futuro enterrando passado. Muito menos desenterrando o dos outros.

Cláudio Carvalho
clau25rj@hotmail.com