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Os sambas de 2022 - São Paulo por Cláudio Carvalho

Os sambas de 2022 - São Paulo por Cláudio Carvalho


Águia de Ouro: A junção de dois sambas redundou num dos maiores contingentes de compositores já registrado (são 21 no total, quase dois times de futebol). O enredo trata do Afoxé de Oxalá, cerimônia que revive a lenda da viagem malsucedida de Oxalufã. O samba é um dos destaques da safra, mas apresenta pequenos problemas, como rimas previsíveis, repetição desnecessária das palavras “axé”, “luz” e “criador”, e excessiva da saudação Awurê no refrão do meio. Nota: 9.9

Mancha Verde: O samba apresenta um trecho confuso, do verso “Acordes de viola” até o fim da primeira estrofe. O refrão do meio, apesar de repetir quatro vezes o nome do orixá, é daqueles “chicletes”, que grudam no ouvido. Os versos “vejo o mundo em outras cores” e “tantos caminhos pra um dia voltar” aparecem descontextualizados, soltos, na segunda estrofe. O refrão de baixo repete três vezes a palavra “água” o que se explica, em parte, por se tratar do enredo da escola. Nota: 9.9

Mocidade Alegre: A primeira parte do samba apresenta um recurso bastante previsível e desgastado ao rimar Águia Altaneira com Mangueira. O refrão do meio é um compilado de sucessos de Clementina de Jesus, e o samba segue nessa linha, abrindo a segunda estrofe com o famoso “Yô, yôo! Yô, yôoo”, que apesar de ter ajudado a imortalizar a homenageada, soa pouco funcional num samba-enredo, sobretudo no local onde se encaixa. O verso “aonde Deus fez a morada”, em referência à música “Deus vos salve a casa santa”, poderia cair melhor se o apelido da escola já não houvesse sido mencionado no refrão de cima. Enfim, o samba pode ter bom desempenho na avenida, mas sempre se espera mais de um enredo dessa envergadura. Nota: 9.8

Acadêmicos do Tatuapé: Um dos sambas que tem como autores o saudoso Dominguinhos do Estácio, cuja presença se faz inegável no verso “Eu vou me embora, vou nos braços de Iemanjá”, que invariavelmente nos remete a “Só dá Lalá”, sucesso imortalizado na voz do mestre. A presença de Leci Brandão abrilhanta ainda mais a faixa, que apresenta variações melódicas bem interessantes. A expressão “saravá”, num verso da primeira estrofe, além de dispensável do ponto de vista melódico, se torna repetitiva, pois já havia sido adotada três vezes no refrão principal. A tentativa de rimar “proséa” com “África” pode gerar uma perigosa inversão de sílaba tônica. Nota: 9.9

Unidos de Vila Maria: O samba, que conta com a assinatura de três grandes compositores do Rio de Janeiro, apresenta diversos problemas, desde refrãos bastante pobres até a melodia excessivamente dolente, que nem Wander Pires consegue levantar. A letra começa falando em anjos de candura, passa para a queda do Império Romano e vai parar em Obaluaê no refrão do meio. A segunda parte é um emaranhado de frases de auto-ajuda, como “o bom da vida é viver”, “vamos vencer” que fecha com a triste rima de dor com amor. Nota: 9.5

Dragões da Real: Outro samba do qual se esperava muito mais, já que o enredo é sobre o grande Adoniran Barbosa. A letra toda é uma colcha de retalhos de sucessos do homenageado, e a melodia pouco trabalhada não empolga. Não estranhem, porém, se o samba surpreender positivamente ao vivo na avenida. Destaque para a participação dos queridos Demônios da Garoa. Nota: 9.7

Rosas de Ouro: Enfim chegamos a um samba nota dez na acepção da palavra. A obra se destaca pela melodia diferenciada, solta, que destoa da maioria da safra e em alguns momentos remete à clássicos do samba-enredo da década de 1980, com direito ao estribilho “atabaque firma o ponto, rezadeira benze a alma”. A letra, apesar de simplória, emociona pelo contexto em que o samba será cantado no Anhembi (primeiro carnaval pós-pandemia). É um clamor ecumênico, emocionado e emocionante pelo tão sonhado fim da COVID-19. Nota: 10

Tom Maior: Trata-se de um samba cujo enredo dificulta a vida do compositor. Verdade seja dita, cresceu muito, sobretudo em melodia, na gravação oficial. O refrão principal traz rimas previsíveis. A frase “nos versos de um sanfoneiro” não deixa claro se está conectada à anterior ou à seguinte. O trecho final da segunda estrofe tem diversas frases feitas, que prejudicam o conjunto da obra. Destaque para o show da Bateria Tom 30. Nota: 9.7

Império da Casa Verde: Antes de iniciar a análise, é importante e necessário dizer que o enredo, além de pouco inspirador, não foi apresentado em forma de sinopse, e sim de explanação oral. Isso praticamente impossibilita a composição de um samba de qualidade, o que não justifica a pobreza do refrão principal e a letra confusa, com direito a rimar “propala” com “lugar de fala”. Destaque positivo para a melodia, sobretudo na segunda estrofe. Nota: 9.7

Barroca Zona Sul: Mais um samba que faz jus à nota máxima. A saga da entidade de Umbanda Zé Pelintra, desde seu surgimento como retirante da seca nordestina até seu apogeu como malandro carioca e posterior desencarne, é brilhantemente narrada. Pixulé dá um toque especial, com a já conhecida “habilidade”, à obra. Outro destaque positivo é a estrutura diferenciada do samba, com dois refrães, um estribilho falso e outro verdadeiro. Nota: 10

Gaviões da Fiel: Samba de temática parecida ao da Beija-Flor em 2018, e que, em algumas passagens, sobretudo no início, até nos faz recordá-lo. Tem alguns problemas de concepção, como por exemplo, o trecho “as migalhas que você me oferece / só aumentam minha força pra mostrar o meu valor”, cujo sentido não fica claro. Trata-se, no entanto, de uma obra certeira, com importantes citações a figuras históricas e anônimas, e que encerra com chave de ouro na frase “faça o meu amor cantar mais alto que o fuzil. Nota: 9.9

Colorado do Brás: Na mesma linha da Gaviões, a Colorado traz um enredo de temática negra, exaltando Carolina de Jesus, num samba valente que, todavia, perde um pouco de sua força melódica e qualidade poética a partir do refrão do meio. Ademais, o que foi dito sobre Clementina e Adoniran também se aplica aqui. Nota: 9.8

Vai-Vai: Em seu retorno ao Grupo Especial depois de se sagrar campeã do Grupo de Acesso em 2020, a escola do Bixiga encontra em Sankofá um samba e enredo pra sua comunidade lavar a alma e desfilar com a faca entre os dentes. A obra, no entanto, carecia de um melhor acabamento melódico, pois, ao menos na gravação, parece mais declamada do que propriamente cantada, mesmo com as participações de Thobias e Xande. Nota: 9.9

Acadêmicos do Tucuruvi: A escola busca, em seu enredo, fazer uma homenagem aos antigos carnavais e uma crítica aos rumos atuais da festa, ao melhor estilo “E o samba sambou”. A crítica é cada vez mais atual diante do adiamento do desfile para abril, mas em alguns momentos perde a força ao soar inocente a até um pouco apelativa, como na passagem em que os baluartes “imploram” por seu valor. Em que pese isso, é um belo samba, e tem tudo para render bem. Nota: 9.8