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Os sambas de 2017 por João Marcos

Os sambas de 2017 por João Marcos


 (Obs: para quem não está acostumado com as notas, no meu padrão, acima de 7,0 significa que o samba é bom. E para tirar 10,0, um samba tem de estar no nível de "Aquarela Brasileira" ou "Os Sertões". O Sambario é um site de crítica de Samba Enredo, as notas são comparativas com a dos sambas de todos os anos, e o julgamento é com base na faixa do CD, não levando em consideração os critérios do júri oficial dos desfiles).

A GRAVAÇÃO DO CD - Durante as eliminatórias, a internet fez campanha maciça por determinados sambas. E este ano, as escolas resolveram escutar os internautas (com exceção do Paraíso do Tuiuti). Por conta disso, a safra vem sendo excessivamente elogiada, como se fosse de outro mundo, quando, na verdade, não é. Temos dois ou três sambas bem legais, alguns medianos, e outros abaixo da média, o que não difere em nada dos últimos anos. Muitos deles são elogiados pelas assinaturas - alguns internautas são torcedores de compositores, outros são compositores utilizando-se de ‘fakes’ e, suspeita-se, alguns internautas sejam efetivamente pagos para tecer elogios a parcerias nas mídias sociais. Além disso, já é fato notório no meio de que temos agora ASSESSORIA DE IMPRENSA para compositor de samba-enredo. Também estamos entrando na era dos “videozinhos”, com direito a contratação de atores profissionais, produção cinematográfica (não é mais só o making of das gravações), tudo para tirar a atenção da qualidade real das obras. Como sou um cara “da antiga”, acho tudo isso bizarro – vídeo não vai pra avenida, contabilização de acessos no Youtube não vale nota. São lamentáveis os caminhos trilhados pelas escolas nas escolhas de seus sambas. Quanto ao CD, os destaques são Mocidade, Beija-Flor e Portela. A produção segue o esquema de sempre, com algumas faixas mais cadenciadas por conta da densidade de construção de determinadas obras. Sou crítico ferrenho da padronização da sonoridade de todas as faixas dentro do mesmo CD, porém, como voz única, tenho certeza que nada mudará neste sentido. Não se fazem arranjos priorizando o sentimento particular de cada obra. E, infelizmente, todos os CDS de samba-enredo do Brasil, independente de grupo ou cidade, seguem alguma forma de padronização, o que torna o CD chato e repetitivo, principalmente para o leigo. NOTA DA GRAVAÇÃO: 5,0 (João Marcos).

1 - MANGUEIRA- Sem um enredo com o mesmo apelo emocional de 2016, era de se esperar uma queda de qualidade no samba. Nada aqui chega perto do maravilhoso refrão da obra em homenagem à Maria Bethania. Nas eliminatórias, o samba campeão se destacou justamente por ter o melhor refrão (estranhamente, os outros concorrentes apresentaram refrões de cabeça ruins) e também por ter uma melodia razoavelmente redonda, moderna. Porém, a obra tem problemas de construção de letra bem perceptíveis. Aqui é importante analisar a quantidade de repetição de rimas. A repetição de rimas pode ser um recurso legal, e foi bem usado no inicio, com Mangueira/Bandeira/Madeira. São três rimas seguidas, mas não soa ruim ao ouvido. ATÉ PORQUE RIMA EM SI NÃO É RUIM, FAZ PARTE DO DISCURSO POÉTICO. O problema é quando fica repetitivo no ouvido, quando não passa despercebido. E o samba é praticamente todo feito em cima de muitas repetições seguidas de rimas. No final da primeira, p.ex., temos quatro rimas em -ão, seguidas (proteção/balão/devoção/religião), sem contar a palavra 'tom’ no penúltimo verso funcionando como rima interna, e mantendo a mesma sonoridade anasalada. No refrão do meio, quatro rimas seguidas de sonoridade aberta em -a (guiar/vá/mar/janaiNÁ). Fica cansativo. Falando em Janaína, o samba, NOS DOIS REFRÕES, tem um deslocamento de acentuação que virou uma modinha irritante nos sambas de 2017 – no de cabeça, o “altar... do samBÁ”; no do meio “marabô... JanaiNÁ” - que dá um efeitozinho legal no canto, mas tem sido usado indiscriminadamente em várias obras e tem tudo para se tornar a praga dos próximos anos, tal qual eram as aspas dos sambas de 2000-2010. Enfim, um samba que não compromete, mas muito longe do brilhantismo que se esperava da campeã de 2016. Destaque para a interpretação exuberante de Ciganerey. NOTA DO SAMBA: 7,9 (João Marcos).

2 - UNIDOS DA TIJUCA - Nos últimos anos, com poucas exceções, a escola tijucana tem apostado em sambas funcionais, redondos, sem grande brilho. Mas neste aqui exagerou. A letra é de uma pobreza franciscana, sem qualquer discurso poético. Quando falo em “discurso poético”, não é exigir algo rebuscado, palavras difíceis, figuras de linguagem... A questão é... Coerência, “my brother”! P.ex., por que o sujeito começa um refrão de um samba sobre a música americana com “invade MINH'ALMA”. Minh'alma? É Camões ou é só uma tentativa bizarra de esconder o erro de métrica que ocorreria em “invade minha alma”? A melodia do refrão já foi requentada tantas vezes que eu já perdi a conta. No início da primeira, repetição da palavra “tom”, já utilizada no refrão. E as imagens feias de letra -“Viaje na barca das canções”? Pra que ser tão cru na descrição de um carro? Além disso, a utilização de palavras em inglês ficou forçada – a moda 'country' parece desconexa no discurso da letra. O “chega my brother” é outro exemplo – não sou contra a utilização da palavra em inglês, está dentro do enredo, inclusive se tornando gíria nos anos 70 no Brasil, mas a forma como foi colocada na letra é totalmente forçada. Na segunda parte, mais repetição de palavra – o 'pop é samba/(sou)...mais um 'pop' star. Parece que tudo foi feito de forma muito rápida, sem revisão, sem cuidado. A melodia genérica, sem qualquer emoção genuína que combine com o enredo, ainda tem traços de um recurso utilizado em São Paulo de forma maquiada, aquele momento de indefinição que no samba paulista geralmente termina com um ‘esticadinha’, aqui é encerrada um pouco diferente para enganar, mas tem o mesmo efeito de dar um clima de suspensão na melodia em “Sou eu da nação tijucana mais um pop star...VEM COM A GENTE SAMBAR” (aliás, cabe ressaltar que o recurso foi utilizado DUAS VEZES no samba da Mangueira em “um desejo no altar... ou no gongá” e “só com a ajuda do santo eu vou...confirmar meu valor). Toda vez que determinados truques são utilizados exaustivamente, perdem o efeito e simbolizam falta de recursos. Enfim, letra pobre em tudo, sem discurso poético definido, uma melodia sem qualquer emoção. Samba muito fraco. NOTA DO SAMBA: 6,2 (João Marcos).

3 - PORTELA - Um ótimo samba prejudicado por um refrão de cabeça fraquíssimo. É a letra que mais me agrada no ano, apesar de ser MUITO interpretativa, dificultando até a compreensão do enredo proposto para quem não leu a sinopse. No entanto, é muito bem feita, com um discurso poético de primeira, coerência, imagens bonitas. A melodia do refrão do meio, nas mãos de outros compositores, certamente teria a maldita mudança de acentuação - em vez de aldeia, seria “al-dei-á”. Aqui não – está tudo certinho, bonito. Fluiu. O samba é de uma delicadeza de construção que é difícil ver nos sambas do especial – não tem aquele efeito explosivo jogado de qualquer maneira para servir de apoio para a harmonia. O samba parece construído em prol do TODO. Para quem conhece Portela, é isso que o componente precisa. A única coisa que acho que foi mal utilizada foi justamente o “Oh, mamãe ora ye yeo, vem me banhar de axé ora ye yeo...” que poderia ser um refrão, mas os compositores preferiram usar apenas os versos seguintes para fazer um ‘bis’. Como dito, faltou apenas um refrão de cabeça mais forte para o samba ficar excelente, mas é muito, muito bom. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos).

4 - SALGUEIRO - O enredo dificílimo não deu samba. A safra do Salgueiro para 2017 era tenebrosa e o samba campeão das eliminatórias nadava braçadas à frente do resto. No CD, não chega a chamar muita atenção, mas é uma obra agradável, redonda, divertida. O início com o “Gira baiana” poderia dar caldo, seria um refrão com construção interessante, mas a parceria optou por fazer apenas o ‘bis’ no “Só entende quem é Salgueiro”, e o efeito é bom. Importante dar os parabéns à escola e aos intérpretes por mais uma vez suavizar o efeito de deslocamento tônico, da mesma forma que no samba de 2016 – seria terrível ouvir o Salgueir-RÔ/Verme-LHÔ do concorrente no samba oficial. A melodia é interessante por usar o tom menor, mas ter uma pegada valente, sem dramaticidade excessiva, com dinamismo. É difícil ouvir algo assim nos sambas do Grupo Especial. Falta um momento mais marcante – os compositores quase conseguiram isso no refrão do meio, quando a melodia entra ‘picadinha’, marcando as sílabas, parecido com o samba da Ilha sobre o Corcovado no Grupo de Acesso (2005), mas a forma como se encerra é suave demais, fazendo perder o momento. Quanto à letra, é o que se podia fazer dentro do enredo. Só destaco negativamente o “três “com sagrados” talentos”. Ficou forçado. NOTA DO SAMBA: 8,0 (João Marcos).

5 - BEIJA-FLOR - Se der a lógica, é o samba que tem mais condições de funcionar e ser um rolo compressor na avenida. E ficou ainda mais bonito com um andamento ‘pra trás’ e a interpretação exuberante de Neguinho da Beija-Flor. Confesso que tenho minhas restrições ao samba – li o livro de José de Alencar, li a sinopse da escola, e a impressão que eu tenho é de que o samba tem pouco do espírito de ambas. O enredo deveria ser uma história de amor, não de guerra. Esperava algo mais na linha de um “Agotime”. No entanto, a força de determinados momentos da melodia fez com que a obra se tornasse uma coqueluche na disputa. A letra tem soluções interessantes, apesar de algumas outras um tanto infelizes – não me soa bem o “se encantou com o Europeu” e o “me faz um Mameluco na Sapucaí”. Não gosto do “pele vermelha” para os índios brasileiros, já que era uma designação para os nativos norte-americanos. O “pega no aretê”, sendo bem sincero, não tenho a menor ideia do que seja. Em melodia, não gosto da parte do “tabajara, pitiguara bate forte o tambor/um chamado de guerra, minha tribo chegou”, parece forçada, desconexa com o resto do samba. No entanto, o todo é de uma beleza tão forte, tão diferente, e o refrão de cabeça é um achado tão raro que é difícil não ficar contagiado. Nas eliminatórias, quando me perguntavam o meu preferido, dizia que era este, mas que achava difícil ser escolhido porque, na minha cabeça, não tinha 'nada a ver'. Segundo fontes, a direção de carnaval vai alterar a proposta original para se adequar ao samba. Com isso, a escola apresentará em 2017 talvez o seu melhor samba nos últimos 10 anos. NOTA DO SAMBA: 9,2 (João Marcos).

6 - IMPERATRIZ - Seguindo mais ou menos a linha dos últimos anos, a Imperatriz traz um samba de muita densidade. A aposta dos compositores foi na letra, de construção cuidada, com rimas distribuídas de formas pouco usuais – um exemplo é o início da primeira, em que se faz um rima em som aberto (lembrando que a rima se dá na acentuação e no estágio de abertura do fonema) entre maracás/rituais. Na estrutura, a opção pela terceira vez seguida pelo refrão falso me pareceu, desta vez, extremamente infeliz – o samba não tem grandes variações melódicas, e, sem o refrão de meio, fica ainda mais cansativo. Aliás, o grande problema do samba é este – se a letra é competente, a melodia não se desenvolve em momento algum, é só densidade do começo ao fim, não tem ponto de explosão, não tem descanso, não tem variação, é uma massa que vai seguindo até o 'Kararaô... Kararaô...” que poderia ter sido mais bem aproveitado num refrão, mas passa quase batido no final da segunda, ou seja, é um alívio que não muda a situação porque o jogo já está perdido. O refrão genérico do “Salve o verde do Xingu... a esperança” completa um quadro ruim. O samba é monótono, sem sal, um dos piores sambas da escola nos últimos anos. De bom, só a estreia do Arthur Franco, que me surpreendeu positivamente. NOTA DO SAMBA: 6,9 (João Marcos).

7 - GRANDE RIO - A grande surpresa do CD é o samba em homenagem à Ivete Sangalo. É um destaque na safra – alegre como a homenageada, com diversos momentos muito interessantes de letra, com um discurso poético coerente – o “saudade mandou um cheiro” talvez seja o melhor verso de todo o CD, um verso que não tem como não associar à cantora baiana. O refrão é explosivo e fácil. A melodia passa sentimento, o samba tem clima, e se não fosse o final da segunda, a partir do “meu timbau... virou sucesso internacional”, a probabilidade deste samba ser um golaço no ângulo era ainda maior. O finalzinho do samba é que deixa cair o nível, a melodia não flui tanto, e a letra fica pobre. Mas é um samba muito bom. NOTA DO SAMBA: 8,5 (João Marcos).

8 - VILA ISABEL - O espetacular refrão de cabeça, o melhor da safra de longe, dá o tom ao samba. A melodia do todo tem muito clima e a interpretação de Igor Sorriso é um capítulo a parte. O que me incomoda, no entanto, é que os compositores jogaram o jogo nas regras do adversário. A parceria campeã enfrentou e derrotou André Diniz e cia., fazendo, no entanto, um apanhado de todos os recursos utilizados pelo adversário em outros anos. Soluções típicas de outros sambas da Vila como em “maracas encontram tamborins” parecem Diniz, em letra, melodia, divisão, tudo. Os falsos “contracantos” de 2012 estão de volta na segunda, a entrada do 'Aaaaaaa pele arrepia' é Diniz puro, o “Ou'VI-LA” do refrão... quase tudo parece vindo de sambas anteriores da escola. A obra é bem amarrada, tem um clima legal, mas essa enorme sensação de repetição e falta de personalidade acabam não me fazendo abraçar a obra como deveria. Era o meu preferido na disputa, mas espero novas ideias na Vila – soluções interessantes mesmo, nada de acrônimos ou bobagens como refrões invertidos. Quero novos caminhos de melodia, novas soluções, e a rapaziada deste samba tem de condições para isso, não precisa reciclar ideias dos outros. NOTA DO SAMBA: 8,2 (João Marcos).

9 - SÃO CLEMENTE - A escola da Zona Sul vem apostando em grife para subir de patamar. Com Rosa Magalhães de carnavalesca e um samba assinado por compositores renomados, realmente vem conseguindo ter muita aceitação na internet. A grife faz com que as pessoas fiquem com a mente aberta para coisas que não aceitariam normalmente. No entanto, tenho olhos críticos a este caminho. O que é bom é bom independente de quem assine, e fazer opções levando em conta ‘nomes’ não é garantia de sucesso. P.ex., o próprio enredo, que vem sendo considerado o melhor do ano por muitos críticos, me parece um tanto sem foco – a história da construção do Palácio de Versalhes em si não é algo tão relevante para ser um desfile de carnaval, e a sinopse não trabalhou bem a ligação da corrupção na corte francesa com a corrupção no governo brasileiro. A sutileza é pouco perceptível, basicamente se resumindo ao título do enredo. Dificilmente veremos essa ligação no desfile. Será que se o enredo não fosse de Rosa Magalhães receberia tantos elogios? A tendência é uma apresentação estética distante do imaginário popular e hermética demais. O samba, talvez por conta disso, é pura descrição de fatos, sem qualquer rebuscamento – uma opção muito válida tendo em vista a complexidade do enredo. No entanto, ouvindo a gravação oficial, percebe-se que a construção da obra não encaixou bem com a escola. São versos muito longos, cantados muito rapidamente, e isso mesmo num andamento bem lento no CD, que dificilmente vai ser mantido na avenida. Gosto do refrão de cabeça, mas o resto do samba é preocupante demais. A primeira parte até o ‘bis’, vai relativamente bem, sem chamar muito a atenção, mas a partir da segunda, os versos ora estão cantados 'no chão', numa tonalidade muito baixa, ora, estão 'nas alturas', com versos se atropelando, e poucos pontos de alívio. Numa escola que tem problemas seríssimos de canto com sambas fáceis, o trabalho da harmonia será quadruplicado. Muitos momentos em que o perigo de arrastamento é patente. É um samba bonitinho, agradável de ouvir no CD, letra correta, mas a melodia é problemática demais se pensarmos em dinâmica de desfile, e quem viu vídeos de ensaios, apresentações e a própria gravação do coral da faixa sabe que a escola terá um grande desafio para fazer a obra funcionar. Sem sombra de dúvidas, é o samba menos preciso da ótima parceria, que já nos brindou com grandes obras na Portela. Mas é uma aposta válida, ainda mais depois da catástrofe do ano passado. Talvez ainda não seja este o estilo de samba que a São Clemente precisa para dar o salto de qualidade que vem anunciando há anos, mas fica a torcida para que eu queime minha língua. NOTA DO SAMBA: 7,7 (João Marcos).

10 - MOCIDADE - O melhor samba da safra acabou vindo de uma escola que há muitos anos tem dificuldades grandes no quesito. Não é um samba fácil, vai exigir um andamento um pouco mais ‘pra trás’ porque tem versos longos, apesar de não ter problemas de métrica e nem forçar o canto atropelado. É uma aposta, mas vale muito a pena. A melodia tem muitas variações, muitos pontos de explosão, momentos que ficam gravados na mente. O refrão principal funciona muito bem. Os compositores conseguiram fazer uma letra que passa o enredo com um discurso poético bem alinhado, homogêneo, encaixando até palavras difíceis sem parecer forçado – a rima Sherazade/Mocidade é um grande exemplo. Repito, vai precisar de esforço da escola para funcionar, talvez um Wander Pires mais contido nas piruetas vocais, mas se tudo der certo pode ser um divisor de águas, finalmente dando direção aos sambas da escola, que há anos estão sem uma ‘cara’. NOTA DO SAMBA: 9,4 (João Marcos).

11 - UNIÃO DA ILHA
- Sambas 'afro' costumam agradar os internautas. Este é bom, tem clima, mas não está nem perto do nível dos grandes sambas 'afro' da história. O refrão de cabeça, que é o grande momento do samba, de inicio lembra um pouco o clássico da Unidos de Cabuçu de 1983 (No Ayê, no Ayê, No Aye, babá). A primeira é bem densa, com muitos termos africanos (nada contra, está dentro do enredo). O problema maior é a sucessão de rimas em som aberto no final (Nzumbarandá/caminhar/kiuá/celebrar/festejar), todas elas seguidas. Senti falta de um refrão de meio mais forte e de mais variações melódicas na segunda. Por fim, achei ruim a opção da produção em fazer a primeira sem bateria, no ‘pagodinho’ - é um samba que funciona mais na pressão, na densidade, como o “Vai Tremer” do Império da Tijuca. Esperava bem mais. NOTA DO SAMBA: 7,8 (
João Marcos).

12 - PARAÍSO DO TUIUTI - O mais criticado dentre os sambas escolhidos nas Eliminatórias de 2017 foi este, talvez o único momento em que um presidente de escola não seguiu os apelos da internet. Na verdade, o Tuiuti teve uma eliminatória bem equilibrada, com uns quatro ou cinco sambas bem interessantes, e escolheu o menos cotado. Não existia nenhuma obra-prima na disputa, mas geralmente o povo torce o nariz quando é contrariado. A verdade é que temos aqui um samba normal, sem grandes momentos, mas com uma melodia redondinha, uma letra razoável. O refrão é interessante, apesar de eu não gostar da forma como se encerra – aquele deslocamento tônico em 'segredo dessa vi-DÁ' (mas neste caso, foi um recurso para criar uma rima onde não existia, então dou descontos pela engenhosidade). A letra é interpretativa, tem alguns momentos que não me agradam (“Ora pois pois, sou tupiniquim” não faz muito sentido), falta uma variação melódica mais forte no final da segunda, mas fica a sensação de que com mais capricho, havia potencial pra mais. É burocrático e segue uma linha de sambas sem grande diferencial apenas para abrir os desfiles. Razoável. NOTA DO SAMBA: 7,0 (João Marcos).

 (Obs: para quem não está acostumado com as notas, no meu padrão, acima de 7,0 significa que o samba é bom. E para tirar 10,0, um samba tem de estar no nível de "Aquarela Brasileira" ou "Os Sertões". O Sambario é um site de crítica de Samba Enredo, as notas são comparativas com a dos sambas de todos os anos, e o julgamento é com base na faixa do CD, não levando em consideração os critérios do júri oficial dos desfiles).