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Os sambas de 2011 por Fernando Vieira

Os sambas de 2011 por Fernando Vieira

Gravação do CD - Mais do que a gravação "ao vivo", o que marca este álbum é a "interação" entre os cantores, que anunciam o colega intérprete da próxima escola, e às vezes recebem de volta um agradecimento - caso de Igor Sorriso, da São Clemente, para Ito Melodia, da União da Ilha. É inevitável a comparação com o CD de 2005, quando cada samba de enredo era apresentado pela voz do locutor da passarela. Prefiro o modelo adotado no álbum de 2011, por ser mais informal e também porque a gravação para o CD é, ordinariamente, bem distinta do andamento com que as escolas passam na Avenida no dia do desfile.
 
Unidos da Tijuca - Um tanto ao estilo de 2010: é preciso algum esforço, na primeira ouvida, para entender o enredo. Mas é um samba que atende ao (polêmico) estilo de carnaval adotado pela escola do Borel nos últimos anos. Verso destacado: "Sucesso na tela, meu povo é quem faz" - revela, muito apropriadamente, que o sucesso da escola tijucana não é tributário apenas de Paulo Barros, mas da comunidade borelense e de todos os desfilantes, que tornam os ensaios e o desfile tijucano um verdadeiro espetáculo. Nota: 9,8.
 
Grande Rio - Os enredos - e, por conseguinte, os sambas - que homenageiam Estados ou cidades brasileiras nunca deixarão de cortar a pista da Sapucaí. Não é um tema que entra no rol dos meus favoritos. Quanto ao samba da escola caxiense sobre Florianópolis, apesar de não ter uma letra muito extensa, o considero um tanto "pesado". Em se tratando de Grande Rio, isto não é exatamente um problema. Verso destacado: "Eu também sou Carijó / É bendito o meu lugar" - gosto de versos que chamam o componente "no brio", como se diz; este trecho traz o desfilante para "dentro" do enredo, tornando-o, na fantasia, um índio da Ilha de Santa Catarina. Nota: 9,8.
 
Beija-Flor - O enredo tem trazido muito mais polêmica que o samba, devido às restrições impostas pelo homenageado e também (por mais que se negue) à concorrência com o tributo mangueirense a Nelson Cavaquinho. É uma bela obra, menos "pesada" que as anteriores cantadas por Nilópolis, que talvez estranhe um pouco os torcedores já acostumados ao "padrão Beija-Flor". Mas se o enredo exalta a simplicidade do homenageado, como não ser simples? Verso destacado: "O beijo na flor é só pra dizer / Como é grande o meu amor por você" - reúne magistralmente um gesto típico do homenageado, um dos versos mais conhecidos de seu repertório e o símbolo da escola. Nota: 10,0.
 
Vila Isabel - Grande obra do inspirado compositor André Diniz e parceiros para um grande enredo da Mestra Rosa Magalhães. O porém salta aos olhos no refrão final, quando a letra praticamente "embola" com a melodia no primeiro verso, dada a rapidez da última. No mais, a poesia e o ritmo formam um belo casamento, mesmo nos versos de ordem invertida ("o corte enfim revelou Dalila"). Verso destacado: "Respeite a coroa em meu pavilhão" - iniciar o samba com um apelo à garra e ao amor à escola, ao invés de "entrar" diretamente no enredo, não tem sido uma constante nas atuais composições. Este diferencial não deve passar despercebido ao desfilante da Terra de Noel. Nota: 9,9.
 
Salgueiro - Um samba que já larga na frente se comparado à obra salgueirense do carnaval passado. Padece de um mesmo problema do samba da Vila Isabel: a correria da letra para acompanhar a melodia no terceiro verso do refrão do meio. Mas a verdade é que estamos diante de uma bela e inspirada obra, com geniais sacadas na letra, a meu ver o ponto alto do samba. Verso destacado: "Meu Salgueiro, o 'Oscar' sempre é da Academia" - semelhante à passagem destacada no samba da Beija-Flor, o trecho condensa o nome da escola, o epíteto pelo qual é conhecida e a principal referência sobre o cinema, matéria-prima do enredo, que apresenta o Rio na sétima arte. Nota: 9,9.
 
Mangueira - Os felizes compositores venceram uma das disputas mais acirradas e bem acompanhadas do pré-carnaval. É difícil encontrar um defeito na obra - melhor não procurar. A qualidade dos concorrentes que passaram pelo Palácio do Samba valoriza ainda mais o samba escolhido. A segunda parte é potencialmente antológica. Verso destacado: "Ao teu lado eu sou mais feliz / Pra sempre vou te amar!" - poucos resistem a versos de apelo emocional; este, quase romântico, que poderia fazer parte de uma declaração de amor entre namorados, sintetiza a união entre desfilante, Mangueira e Nelson Cavaquinho. Para explicá-lo, vale o verso de um pouco acima: "Impossível não emocionar". Nota: 10,0.
 
Mocidade - Pelo terceiro ano consecutivo, a escola tem um dos sambas mais criticados da safra. O "renascimento" que se anunciou no último carnaval parece não ter se refletido no quesito samba de enredo. Porém, os que acompanharam a disputa de samba na Vila Vintém sabem que não havia muitas opções à altura do samba escolhido. Ademais, esta era a obra descaradamente preferida pelo "staff" Independente. Não é totalmente marcheado, ao contrário do que o senso comum da crítica afirma. Por outro lado, a letra é pouco inspirada e (infelizmente) acaba sendo julgada pelo apelo visual do refrão final. Verso destacado: "Vou voltar, um dia ao espaço sideral" - menos pela letra em si do que pelo trecho melódico que a valoriza e, sobretudo, por sintetizar o desejo de todo desfilante da escola: fazer a estrela de Padre Miguel voltar a brilhar. Nota: 9,6.
 
Imperatriz - Praticamente a mesma parceria do carnaval anterior fez novamente uma obra inspirada, de bela letra e melodia. Não é tão belo como o de 2010, mas tem lugar de sobra pra se destacar na safra de 2011. A segunda parte - trecho mais belo do samba - tem uma "quebra melódica" que pode trazer uma disfunção de harmonia no desfile. Verso destacado: "É verde e branco meu DNA!" - a passada encerra com uma declaração de identidade, que também é de amor, à escola leopoldinense. O clima de euforia prossegue ao repetir o refrão, quando os componentes afirmam que querem mesmo é sambar. Nota: 9,8.
 
Portela - Disputa e, sobretudo, escolha turbulentas. Os torcedores da escola defendem fervorosamente a obra, como é natural, mas é um samba que pode ser colocado no "bolo do meio" da safra de 2011. Os setores do enredo se sucedem nos versos da primeira parte de modo um tanto burocrático, mas a letra ganha inspiração na segunda parte. Verso destacado: "A força do seu pavilhão vai me levar / A navegar" - o grande amor do portelense - a Portela - é o navio a conduzi-lo nas águas sempre turbulentas da Sapucaí. Nota: 9,7.
 
Porto da Pedra - A sinopse do enredo sobre Maria Clara Machado é talvez a mais bela do carnaval 2011. Infelizmente, o samba não traduziu a beleza da sinopse na mesma intensidade. Ainda assim, é um samba de letra inspirada e bonita. Fica um pouco a dever na melodia. De todo modo, o talento de Paulo Menezes e o diferencial de um belíssimo enredo são pontos fortes a favor do desempenho do samba da escola gonçalense. Verso destacado: "Quem não sonhou jamais amou / Não sabe o que é se libertar" - o trecho traduz a essência do adulto que dedica sua vida à literatura infantil. Nota: 9,7.
 
União da Ilha - Com todo respeito à escola e aos compositores da obra, considero o samba menos inspirado da safra. O enredo é interessante, toca num assunto essencial para a compreensão da ciência em nosso tempo. No refrão final, um apelo ao samba clássico da escola, "O Amanhã", mas sem o mesmo efeito do apelo ao "Ziriguidum" no samba da Mocidade. Verso destacado: "Hoje eu quero brindar... A Ilha" - único trecho do samba que percebo como alento para o componente insulano. Nota: 9,5.
 
São Clemente - Uma escolha muito questionada, mas a meu ver acertada. Letra bonita e algumas boas sacadas na melodia, na primeira e segunda partes. Não é fácil a missão da São Clemente - depois de muitos anos, fazer pelo menos dois carnavais seguidos no Grupo Especial -, mas o samba representa um alento para a escola preta e amarela. Verso destacado: "Meu Rio, sua beleza inspira o mar azul / Canta Zona Sul!" - cita o enredo, a comunidade e o próprio cenário da escola: o mar azul da Baía de Guanabara, visto a partir de Botafogo e representado no pavilhão da escola. Nota: 9,7.