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Eu sou o Samba, a Voz do Morro sou eu mesmo sim senhor: Carnaval e Samba, a mais bela Expressão Cultural de uma Raça (Rocinha - 2021)

Eu sou o Samba, a Voz do Morro sou eu mesmo sim senhor: Carnaval e Samba, a mais bela Expressão Cultural de uma Raça (Rocinha - 2021)

Presidente: Marcos Freitas
Dir. De Carnaval: Jorge Mariano
Carnavalesco: Marcus Paulo

Sinopse

“Eu sou o Samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor”: carnaval e samba a mais bela expressão cultural de uma raça

O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão
entre atores e espectadores. (...) Não se contempla (...),
nem se representa o carnaval, mas ‘vive-se’ nele (...), e
vive-se conforme as suas leis enquanto estas vigoram(...).
Esta é uma vida desviada da sua ordem ‘habitual’, em
certo sentido uma ‘vida às avessas’, um ‘mundo
invertido...’
Mikhail Bakhtin

Eu Rocinha e meu legado nas raízes africanas

Sou Rocinha, sou carioca e venho confirmar minha carioquice preta. Tenho história marcada pelo samba uma das mais belas expressões culturais cariocas. Minhas raízes vêm de muitas histórias carnavalescas. Nos embalos dos Blocos Império da Gávea, Sangue Jovem e da Unidos da Rocinha fiz minha comunidade vibrar com a força do batuque de legado africano.

E foi que assim nasci como a Princesinha da Zona Sul, com meu manto tricolor e me apresentando sobre o símbolo da borboleta encantada, me tornei Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha. E como a velocidade de um cometa ascendi um rastro de luz no carnaval carioca ao me tornar tricampeã sobre o comando de Joãosinho Trinta.

E hoje venho homenagear àqueles que do passado foram a razão do meu existir. Povo pobre, sofrido, moradores dos morros e periferias cariocas, que não se rendeu as perseguições das elites, e fez da arte de tocar, cantar e dançar a mais bela representação da cultura carioca, o carnaval.

E assim como Acadêmicos da Rocinha venho mergulhar na magnífica história do povo preto e sua resistência pacífica, em não deixar que sua cultura fosse suprimida pelos ideais daqueles que se envergonhavam por sua presença e batuques pelas ruas da cidade, mas que não carregavam nenhum remorso por ter feito desse povo seus pés e mãos como força de trabalho.

Rocinha narra às memórias do carnaval carioca

A festa de momo carioca foi caracterizada pela celebração conhecida como Carnaval Veneziano: festas marcadas pela presença das elites da cidade em bailes, que compareciam adornadas com luxuosos trajes e máscaras, e futuramente Grande Carnaval com desfiles de carros abertos, corso e as grandes sociedades pelas ruas.

Em sua história de festejo carnavalesco a cidade contou com o entrudo, uma brincadeira violenta que durou por décadas, que foi substituído pelos ranchos carnavalescos, cordões e blocos, nesse festejo o povo preto encontrou espaço para cantar suas cantigas e danças de origem africana.

A Praça Onze, conhecida também como pequena África, era o centro dos foliões do carnaval carioca, e o quintal de Tia Ciata. Era reduto da música, da fé e da resistência. Esse movimento coincide com o declínio do Grande Carnaval burguês, dando espaço para o Carnaval Popular. O carnaval para o povo preto foi um instrumento de tática de penetração coletiva para divulgar sua cultura no centro da cidade, uma vez que nesse período desciam os morros e saiam da periferia da cidade para mostrarem o que sabiam fazer muito bem: tocar, dançar, cantar e ser feliz.

Rocinha vem celebrar a história do povo preto e do samba carioca

Com o passar do tempo, e após muitas perseguições do poder público e das elites, a festa ganhou seu espaço, passa ser adotada pelo Estado que viu nela a possibilidade de divulgação da cidade para o exterior e assim trazer turismo.

O povo preto não parou de inventar novas práticas culturais. Durante o ano, mesmo com a vida difícil marcada pela labuta pesada, ainda assim arrumava tempo para se divertir nos morros e periferias fazendo encontros que geralmente aconteciam nos terreiros, após as funções religiosas de matriz africana, que terminavam com cantigas de samba.

E foi assim que o samba se eternizou e deu uma identidade a cidade do Rio de Janeiro, a partir de uma cultura considerada marginalizada. A biografia das escolas de samba é também uma parte  da história da relação dos grupos populares do Rio de Janeiro com seu espaço vivido e ambiente de boa convivência. Esses grupos edificaram e aperfeiçoaram o convívio comunitário, se  reinterpretaram e conquistaram uma identidade na cidade. Identidade que passou a ser não só a da cidade, mas a da própria nação.

Eu sou o samba, sou a voz do morro, sou filho do povo preto, sou a cultura carioca, e a Rocinha vem celebrar minha história.

Autores:
Marcus Paulo e Cristina da Conceição Silva