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Brasil Café, o Amargo Grão do Progresso

SINOPSE ENREDO 2020

Brasil Café, o Amargo Grão do Progresso

As histórias do Café de Vó Iáiá

Segure uma xícara exalando o aroma de um bom café e você estará com a história em suas mãos. (MARTINS, 2012, p. 3)

Vosmicê fica a vontade pra sentar.

Vô abrir a janela cadiquê tá saindo um cafezinho nesse instante.

Sente como é bom esse aroma que perfuma a casa!

Esse aroma tem história e vô te contar um cadin dela. Vô te falar porque eu e o café somos próximo.

Quero falar não só da minha história, mas das mão daqueles que fizeram o café o Rei do Brasil.

Meu pretinho, o café, veio de muito longe, de lá do outro lado do mar. Nasceu nos braços da Mãe África, nas terras altas de um lugar chamado Kaffa, lá na Etiópia, onde as sinhôra fazia a infusão dentro da jebena1. Ele fez a alegria das cabras e dos povos que lá viviam.

Mas aventuroso que só ele, logo atravessou as águas do mar Vermelho e chegou na “terra das mil e uma noite”, onde foi cultivado e se tornou o vinho da Arábia.

E o danado do café foi trazido pelos homem branco holandês pra cá pro Novo Mundo, num tal de Suriname. Não sei se por esperteza ou cortesia, clandestinamente veio pra cá pro Brasil, onde os homem branco dizia: “em se plantando tudo dá”2

. Ai ele andou pelo Pará, também no Maranhão, Bahia, até que desceu pro Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Foi por essas banda que ele ficou forte, quando foi plantado no Vale do Paraíba.

Tempo depois foi atrás da terra roxa do Oeste.3

Foi nessa época que minha vó veio como escrava pra cá.

O café testemunhô a chiqueza da família real imperial. Foi nesse tempo que o dinheiro da produção dele fez o país começá a se industrializá. As primeira estrada de ferro pros trem. Meu pretinho fez tanto sucesso que chegou a ser bordado na bandeira.

Mas nem tudo era alegria. Longe das casa das sinhá, meu povo preto penava que dá dó. O café viu as tortura e alforria dos nosso irmão.

Nosso povo plantava a semente e os panhador de grão esperava três ano pra colhê, ai tinha que penerá pra separar os grão. Ai secava eles no terreiro pra depois torrá e moer no pilão.

Demorou um tanto quando se ouviu pelas plantação: “liberdade, liberdade”. Minha mãe nasceu quando nosso povo já tava livre. Ela viu a chegada dos branco italiano pra trabalhar nas lavoura por causo do café.

Com o tempo tudo muda num é mermo? Ai o rei deu lugar pros coroner. Minha mãe dizia que tudo era a tal da República, mas nosso povo num sabia quem era. Só se sabia que os coroné paulista ficavu se revezando com os coroné mineiro. E o povo que votava era obrigado a votá em quem os coroné dizia4

. Foi quando eu nasci lá em
 
Ai veio um tal de Vargas e só lembro que ele mandava queimá o café5.

O tempo passó e o país ficó mais muderno. Tinha indústria, carro e o rádio. Lembro de quando escutei a música pela primeira vez de dentro do rádio, na casa da sinhá. Nós pensava que a cantora tava lá dentro. Mas as música só fazia abafar os gritos do nosso povo com fome. O trabaiadô ganhava direito no trabaio mas não podia falá. O café foi levado lá pro estrangeiro pela Carmen Miranda. E aqui, nosso povo foi esquecido no alto dos morro ou atrás dos muro da periferia.

Mas a gente resistiu!

E como é carnavá, tamo aqui tomanu essa xícara de café nessa quarta de cinza. O carnavá é onde todo mundo se encontra, onde vestimo nossa fantasia e brincamo de viver num mundo onde todo mundo é igual. Hoje eu quero comemorá o título da Leões, a escola daqui da Casa Verde, o lugar onde escolhi ser feliz. Sou Iáiá, a dona do café mais famoso da região. Mia história acaba aqui, mas o do café continua!

1 Em amárico, significa o recipiente usado para fazer café na cerimônia tradicional.

2 Expressão que remete à Carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei Dom Manuel, no dia 1º de maio de 1500, contando sobre a nova terra, e que é considerada a certidão de nascimento do Brasil.

3 Oeste paulista, com sua “terra roxa” a partir de 1850.

4 O voto de cabresto resultou na democracia amordaçada da população mais carente pela imposição dos
coronéis. Cabresto é uma palavra que vem do latim capistrum, que significa “mordaça”.

5 Medida usada pelo governo para controlar os preços do café.

Autor: Jhonathan Nogueira Martiniano