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Contos do Anjo da Crimeia
SINOPSE ENREDO 2020

Contos do Anjo da Crimeia

Se o mundo moderno existe, é porque a humanidade luta constantemente uma batalha contra as doenças, os males e as enfermidades. Nos frontes da medicina e da enfermagem, milhões de guerreiros marcham diariamente, enfrentando um inimigo que, embora muitas vezes invisível aos olhos, é capaz de devastar a humanidade tão facilmente quanto uma bomba nuclear.

Nos anos recentes, a propagação de falácias levou a um recuo massivo nesta guerra, causando o retorno de enfermidades que, até anos atrás, tornavam-se mais e mais raras. Em 2020, a Falcões da Serra buscará a retomada do controle nesse entrave imenso, para isso resgatando a memória de uma das mulheres mais importantes da história da humanidade. Florence Nightingale, o “anjo da Crimeia” e matriarca da enfermagem moderna, pavimentou o caminho para que os seres humanos pudessem trilhar a prosperidade com o mínimo de preocupações em relação à epidemias. Em seu bicentenário, vemos o seu esforço ser desfeito por mentiras, e cabe a nós alertarmos ao mundo pelo que Nightingale lutou.

Por mais que a medicina e o desejo de curar andem de mãos dadas desde os primórdios da civilização humana, isso nunca foi sinônimo de saúde. Nossa história é recheada de epidemias, endemias e pandemias que clamaram milhões de vidas. Malária, varíola, sarampo, gripe, tifo, febre amarela… dezenas de causas, nenhuma solução. Por mais que houvessem meios de curar doenças, pouco se sabia sobre como impedi-las. Passamos por épocas onde nosso conhecimento sobre doenças cresceu, paramos de acreditar em conceitos como abiogênese, e tendo visto os horrores causados pela Peste Negra, não queríamos outra pandemia desta gravidade. Assim, por volta do século XIX, a medicina em geral passou a tomar seus ares modernos. Louis Pasteur e Robert Koch foram seus nomes mais ativos, mas também foi naquela época, em 12 de maio de 1820, que um anjo nasceu para mudar a história da humanidade.

Antes de Nightingale, a enfermagem estava em enorme declínio. O trabalho, que era majoritariamente feito por freiras, tinha sofrido um enorme baque com a Reforma Protestante, e a profissão sequer era regulamentada. Em outubro de 1853, porém, começou a Guerra da Crimeia. Uma guerra marcada pelo número massivo de mortes causadas não por bombas, armas ou canhões, mas por doenças. Estima-se que metade das mortes nos campos de batalha da Crimeia foram causadas por enfermidades. E foi lá que Nightingale tornou-se um “anjo”.

Antes de marchar rumo à Crimeia, Nightingale contava histórias de ter ouvido “chamados de Deus” desde o fim de sua adolescência. Foram tais chamados que a motivaram a tornar-se enfermeira, apesar da profissão ser mal-vista. Estudou, trabalhou e dedicou sua vida a cuidar dos enfermos. Até que os chamados de Deus recebidos por ela se concretizaram na vida real.

Guerra da Crimeia. O exército britânico não permitia a contratação de enfermeiras. O despreparo nos hospitais de guerra era evidente, e o resultado era visível. Problemas massivos de higiene, contaminações em massa, muitas mortes. Em 21 de outubro de 1854, Nightingale foi enviada à região de Scutari com um grupo de 38 enfermeiras para reverter a situação. Dentro da guerra, começava uma outra guerra: Nightingale contra as enfermidades.

Reformas massivas aconteceram. A higienização dos cuidadores foi reforçada massivamente. Os doentes passaram a ser tratados em ambientes amplamente ventilados. Quadros de subnutrição foram revertidos com alimentação mais adequada. A Comissão Sanitária britânica foi chamada para reformar os esgotos dos hospitais. Tantos esforços ocorreram, que a mortalidade na guerra caiu de 42% para apenas 2%. Era um milagre.

E foi esse milagre que transformou Nightingale em um ser mágico. Incisiva e valente, por vezes passava altas horas da madrugada cuidando de seus pacientes, carregando um lampião para iluminar os corredores e fazer rondas, característica essa que foi imortalizada em poemas, obras de arte e artigos de jornais. Nightingale, o anjo da Crimeia, a Dama do Lampião, aquela que não se renderá por nada para cuidar dos enfermos.

O pós-guerra de Nightingale foi marcado por revoluções. Os seus esforços na Crimeia foram recompensados com a formação da base da enfermagem moderna. Nightingale fundou a primeira escola de enfermagem do mundo na Inglaterra, escreveu livros e cartas com tudo que havia descoberto, e mesmo debilitada por doenças, lutou massivamente para que o mundo pudesse escapar das epidemias. Mesmo hoje, com parte de suas teorias tendo sido substituídas ou melhor esclarecidas, a medicina contemporânea tem muito a agradecer ao Anjo da Crimeia.

Mas infelizmente, quando ela olha, dos céus, o mundo atual, Nightingale não consegue esconder sua decepção. O lucro e a patifaria sobrescreveram a saúde no mundo atual, e as mentiras conseguem, com um clique, desfazer todo o seu trabalho. Com olhos atônitos, a Dama do Lampião observa pais se recusando a vacinar seus filhos, pessoas vendendo curas milagrosas que não funcionam, palestrantes falando de ciências sem a mínima comprovação, pandemias sendo tratadas como se fossem jogos de dominó… e a Terra, aos poucos, deixa de ser o “planeta água” e volta a ser o “planeta praga”.

Através do carnaval virtual, a Falcões da Serra toma a linha de frente contra as ameaças à enfermagem mundial. Fazemos hoje o Juramento de Nightingale, juramos proteger e cuidar dos enfermos, enfrentamos os disseminadores da maldade e marchamos, num campo de batalha silencioso, contra as forças retornantes de sarampo, rubéola, caxumba e muitas outras doenças que estavam sob controle há pouco tempo atrás.

Nossa missão apenas começou. Pela memória de Nightingale, que nossa reviravolta seja triunfal.

“Juro, livre e solenemente, dedicar minha vida profissional a serviço da pessoa humana, exercendo a enfermagem com consciência e dedicação; guardar sem desfalecimento os segredos que me forem confiados, respeitando a vida desde a concepção até a morte; não participar voluntariamente de atos que coloquem em risco a integridade física ou psíquica do ser humano; manter e elevar os ideais de minha profissão, obedecendo aos preceitos da ética e da moral, preservando sua honra, seu prestígio e suas tradições.”
Autor: Humberto Mansur