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O Canto das Três Raças
SINOPSE ENREDO 2020

O Canto das Três Raças

A Origem do Brasil

Cantar vai muito além de só entreter as pessoas, é uma forma de extravasar suas alegrias e dores. Isso acontece porque o ritmo é algo inerente ao ser humano, não importando em que lugar do mundo ele esteja, cantar sempre será uma forma de exercer sua humanidade. Com base nesse sentimento humano, nasceram canções que foram eternizadas, pois refletiam em suas letras as mais profundas marcas de seu povo. E no Brasil não seria diferente, a MPB é um caldeirão de sentimentos e desejos do povo brasileiro.

Nesse contexto, em 1976, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte compõem juntos uma das maiores obras do cancioneiro nacional. “O Canto das Três Raças” é uma síntese em forma de canção da história do Brasil, que para além dos “heróis” que conhecemos, foi marcada por muito sangue e lágrimas. Eternizada na voz da saudosa Clara Nunes, essa canção é uma exaltação ao povo guerreiro desse país, que, desde o seu descobrimento, luta, chora, sangra, mas também canta, porque desistir nunca foi uma opção.
 
A canção começa nos primórdios do Brasil, onde o povo indígena, os verdadeiros donos da terra, sempre cantou suas glorias e tragédias, o que fez com que para além do canto dos pássaros, ecoasse pelas florestas a voz do índio guerreiro. Com a chegada do português vindo de além-mar, desembarca também por essas terras o terror da escravidão, começando assim o cativeiro do índio, forçado a trabalhar e a se converter a uma fé muito diferente daquela praticada por eles. Assim, surge o canto triste do índio aprisionado, embora não vencido, fazendo do seu canto e da sua própria vida um sinal de resistência, formando o embrião da nossa música popular.

O tempo passa e com a imensidão territorial da nação recém-descoberta eram necessários muitos braços para trabalhar na exploração da nossa terra. É nesse cenário que o povo negro se transforma na solução mais conveniente para ser utilizada como mão de obra. Vindos do continente africano, rei, rainhas e guerreiros, homens e mulheres livres, de uma cultura rica e milenar, são transformados em escravos, tratados como ferramentas que falam, seres sem almas, forçados a trabalhar de forma desumana. Assim, se soma ao canto do índio as dores do negro que, nas senzalas e nos quilombos, não deixou de cantar, dando novas formas à música brasileira, falando do sangue derramado, das glórias do seu povo e da sua fé. Um povo que, mesmo trazido para cá à força sobre as lágrimas de Iemanjá, resistiu e foi fundamental para a nossa música e para a construção dessa nação.

Apesar de muitos integrantes da coroa portuguesa terem desembarcados por aqui, muitos portugueses comuns vieram em busca de novas oportunidades. Com o passar do tempo até os brancos saudosos de sua terra natal se juntaram a índios e negros nesse canto triste ao perceberem que não era mais possível conviver com os horrores da escravidão e com o domínio português. A luta pela quebra das correntes foi devastadora, muitos tiveram seus corpos mutilados, contudo, continuaram firmes, cantando e lutando pelos seus ideais.

Foram tantos momentos de paz e de guerra, revoltas e revoluções, luta pela Democracia, por direitos trabalhistas, por mais igualdade, que nossa música popular foi se formando e se consolidando a cada dia. A MPB é fruto da união desses três povos, unidos à força, marcados por dores e tristezas, mas que nunca deixaram que as adversidades da vida os impedissem de cantar. Por esse motivo temos uma das melhores músicas do mundo, uma mistura perfeita, que ainda hoje, nos emociona, porque traz consigo as marcas de sua gente.

E o carnaval, festa gerada do mesmo “ventre” não pode deixar de exaltar essa gente guerreira, mostrando suas lutas e mazelas, fazendo com que seus momentos de alegria também sejam de reflexão. Por isso exaltar essa canção, gravada por umas das mais belas vozes que esse país já teve, é trazer de volta os desejos e sentimentos daqueles que deram suas preciosas vidas por esse país e seu povo, e também é servir de inspiração para aqueles que continuam a lutar ainda hoje por um país melhor e mais justo para todos.

Salve o Índio, o Negro e o Branco
Salve Clara Guerreira, a filha de Ogum com Iansã
Salve o Carnaval, e principalmente,
Salve o Povo Brasileiro, valente e guerreiro, que não desiste nunca
A Luta continua!