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A Filha da Esperança

SINOPSE ENREDO 2012

A Filha da Esperança

Bailam os ventos altaneiros do norte sobre as copas das gigantescas matas amazônicas. No solo áspero em que vivem as tribos Kaxinawás ressoam os tambores em rituais e cantam a luz de uma existência perfeita de vida. De uma verdadeira estrela, vermelha, de sangue forte, justo e determinado, como aquela fixada na bandeira do estado, a qual, ainda carrega o amarelo da paz e o verde da esperança. Sentimentos nobres, que guiam a saga da guerreira que vem a ser um hino para um novo tempo.

Em meio à mata nativa, tribos indígenas, florescem os seringais, que, fonte da maior riqueza da época, atraíam, em batelões, as almas desgarradas em busca de trabalho, de oportunidade de vida.

À bordo da Canoa São Jorge, desembarca nas terras aluviais do Seringal Bagaço os astros que irão transcender os raios da esperança... Num casebre de paxiúba coberto de palha, pelas mãos da avó paterna, reluz a estrela de Maria Osmarina, "o fruto fecundado e a semente". Em uma floresta sem perspectivas, sem condições humanas de sobrevivência, em meio ao trabalho semi-escravo, a doenças e mazelas, a força da vontade de aprender e viver são a chama intensa que eleva o espírito da menina na sua iluminada jornada por uma vida digna naquele ambiente de rústica e singela poesia.

Viver correndo com os pés descalços e os cabelos soltos, aprender desde cedo a "ler os recados que chegam às asas do vento", brincar livremente pela roça de milho e chamar macacos e graúnas de amigos era pertencer a uma natureza densa e ameaçadora como se tudo aquilo fosse trivial. Aos olhos daquela menina, o universo era simples e vigoroso.

Acordava e ia dormir aos sons dos causos contados pelos tios, pai e avó. Da "contação" de histórias sobre as lendas e mitos locais, surge o alicerce da respeitada recitante do romanceiro popular nordestino, a literatura de cordel. As raízes de sua fé também foram edificadas através da evangelização contada por sua avó, a quem tanto amava. No agradecer a Deus, recorria aos entes da floresta. Tal ação despertara em seu peito a vontade de seguir um dogma de sua fé, surgira o desejo de ser freira. Mas, para isso, precisava ser alfabetizada, precisava saber mais que as deploráveis contas de serviços prestados nos seringais.

Dessa infância cheia de trabalho e doenças, acostumada, desde criança, a pegar no pesado, a ajudar no roçado, nos afazeres domésticos, no corte e na colheita, buscar água no igarapé, varrer terreiro, plantar arroz, milho e feijão, com o pai cavando as covas e ela colocando as sementinhas, surge em meio ao verde, o verde-esperança que a leva a pegar a estrada de terra e se mudar para a cidade grande para morar com a avó...  Cuidou da saúde, trabalhou como doméstica e iniciou seus estudos. Lá, naquele excêntrico universo, em que a claridade da luz urbana feria aqueles olhos habituados ao breu da floresta e a dança sinuosa da chama de lampiões, foi onde descobriu o tal significado do preconceito contra mulheres e negros. Até então, em sua matriarca educação familiar, o bonito era ser negro. E ser mulher era ser forte.

No "Acre, a nova Canaã. Um nordeste sem seca, um Sul sem geada", na base do esforço, da cara e da coragem, enquanto mergulhava nos estudos, no Convento das Servas de Maria Reparadora, trabalhava duro, em afazeres domésticos ou na rega de hortas e dos vastos jardins. À medida que marina adaptava-se à nova disciplina religiosa, as árvores que ela tanto amava tombavam, sem misericórdia. Assim tomava forma a consciência ambiental e política da jovem idealista. Em meio a um desmatamento sem freio e à morte em massa dos seringueiros, erguiam as primeiras vozes de resistência no campo. Nos trabalhos comunitários, líderes encontravam-se com líderes. Eis que em um desses magnos encontros, acabou por conhecer Chico Mendes, sindicalista Rural, que pregava a importância dos Sindicatos na conscientização e organização de movimentos dos seringueiros. Esse encontro mudaria o destino da aspirante noviça.

Assim, Chico Mendes passou a enviar-lhe textos bíblicos interpretados à luz do trabalho social, os quais foram essenciais na formação política da jovem Marina, passando a militar contra as injustiças sociais e pela redemocratização do país, que vivia a ditadura militar. Partindo dos oprimidos, contra a opressão, na organização dos seringueiros, na alfabetização dos ribeirinhos e na defesa dos indígenas, nasce a perspectiva libertadora, a favor da vida e da liberdade. Um vento libertador soprava por todas as partes, sindicatos, partidos e até a igreja católica, dentro da qual Marina se inseria como uma de suas lideranças mais atuantes e convincentes.

O teatro serviu de ponte entre o universo religioso e o político-partidário, uma vez que interpretava papeis ligados à defesa da ecologia. Sexo, drogas e muito Chico Buarque e Milton Nascimento embalavam esses microcosmo contra cultural, mas, para Marina, que não tinha namorado e nem usava drogas, restava cantarolar "Maria, Maria" e representar.

Os frutos por seus esforços, aos poucos, eram colhidos. É aprovada para o Curso de História na Universidade Federal do Acre, e, utilizando as teorias marxistas, parte para atuações marcantes no interior do Estado, participando de vários "empates" (encontro com seringueiros mostrando que poderiam explorar as matas sem desmatá-las), levando alimentos pelo rio ou solidarizando-se com os que resistiam contra a expulsão de suas terras pelos colonizadores, patrões, assassinos e exploradores da floresta, a jovem idealista consolidava sua luta.

O maior desses empates foi o assassinato de Chico Mendes, cujo legado adotado por Marina, é o de se fazer ver que a Amazônia deixasse de ser vista apenas como fonte de biodiversidade para geração de lucros, ganhando valor do ponto de vista simbólico, estético e de prestação de serviços ambientais para o planeta.

Canta-se, então sobre a luz da vencedora: Marina segue sua trajetória política, sendo eleita vereadora, deputada estadual, senadora. Ocupou cargos de secretariado e ministério. Realiza seu trabalho político, de acordo com o a real significação deste. De efetivar a democracia, sendo porta-voz dos anseios e dos desejos daqueles que depositam em sua figura as esperanças de um novo porvir.

Em defesa da vida, superando dificuldades, enxergando horizontes, Marina Silva desponta como estrela cujo brilho é infinito. Brava guerreira pelo progresso, onde seus ideais, seu carisma e sua luta, revelam-se como um ícone de um novo tempo. "Por isso te tomamos por bandeira; estandarte de esperança renovada! [...] Permita que a nossa voz, dos veteranos e da mocidade, se ajunte à tua, para a liberdade abrir as suas asas sobre nós...". Canta Bohêmios! Exalta no tom do teu carnaval o exemplo maior da força viva da mulher brasileira. Reluz a estrela da esperança no tocar do teu agogô, na batida do teu surdo, no som do teu tamborim... A emoção da verde-e-branco, que encanta o meu coração, hoje canta Marina, menina... A filha da esperança!

Rafael de Lima
Carnavalesco