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Enredo Bambas Sambario 2012

Vai Passar...

Enredo Bambas Sambario - 2012

O Estandarte do Sanatório Geral vai passar... Entre tantos dissabores, fruto amargo da opressão sofrida, desponta em nossos corações a alegria fugaz, a breve amnésia do cruel cotidiano traduzida numa ofegante epidemia que se chama carnaval.

Carnaval... carnaval... Herança pura dos ancestrais de cor oprimidos pelos pálidos feitores e os doloridos estalos das chibatas, sendo assim forçados a erguer estranhas e estilizadas catedrais repletas de santos brancos. Quem diria que um dia representariam em plena folia imperadores... ou Napoleões. Napoleões retintos.

Algumas gerações depois, nossos filhos passaram a se travestir na avenida como barões famintos, sambando pelos paralelepípedos da velha cidade espalhando por eles o sangue oriundo de seus pés, ostentando os mais variados títulos de nobreza na contramão de suas precárias condições sociais. Verdadeiros pigmeus do Boulevard. Mas pelo menos desfrutavam de uma das mais belas palavras de nossa língua: liberdade.

De repente, proibiram tudo! Mesmo quando o galo insistisse em cantar. Era proibido proibir. Falou, tá falado, não tem discussão não. Nem o silêncio era escutado. Porém, amanhã haveria de ser um outro dia. Caminhando e cantando e seguindo a canção, o povo não suportou calado a tirania e respondia à repressão na base da música e do talento. Metaforicamente, era a revolução em sua legítima razão.

Enquanto a bebida amarga era digerida, o povo de mãos amarradas via emergir na escuridão o monstro da lagoa. Uma página infeliz de nossa história, mas que o brasileiro guerreiro tinha convicção de que um dia ela seria virada. Mesmo com a distraída Pátria-Mãe subtraída em tenebrosas transações, e os militares desfrutando de receitas de bolo, poemas de Camões e propagandas ufanistas exaltando um país que não existia, errando cegos do Oiapoque ao Chuí. Ao mesmo tempo, incontáveis filhos faziam questão de serem embriagados por óleo diesel nos mais sombrios porões.

Então os intrépidos poetas desafiaram a corda bamba estipulada pelos milicos. Após se esconderem por trás de pseudônimos, passaram a vagar por continentes afora. Privados de expressarem suas raivas, propuseram espiritualmente uma Sociedade Alternativa. “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei” era o lema. Após as represálias naturais, lenta e gradualmente despontou a anistia. O Brasil sonhara com a volta do irmão do Henfil. E ela aconteceu. Para delírio da esperança... a esperança equilibrista

Os corações de estudante resignados se engajaram. O ser divino mirava emocionado a ira santa da juventude que redescobria o Brasil tocando em sua ferida e cantando a evolução da liberdade. Pro dia nascer feliz, explodiu a apoteose. O Estandarte do Sanatório Geral enfim passou!

E na Bambas Sambario, vai passar nessa avenida virtual mais um samba popular. Ai que vida boa, olerê... ai que vida boa, olará...

1º SETOR – Negros desfilam como Nobres
O enredo é introduzido na escravidão, tempos em que os negros eram obrigados a erguer monumentos que reverenciavam os brancos que tanto lhe maltratavam. Séculos depois, já alforriados, seus filhos desfilariam na avenida representando reis, príncipes, duques, condes e os mais variados títulos de nobreza, enquanto que, na vida real, penavam para por um prato de comida na mesa. Pelo menos por um dia, no Carnaval, os negros sofridos, dos quais muitos meninos de rua (ou pigmeus do Boulevard), esqueciam dos problemas representando barões ainda que famintos e imperadores de cor (retintos).

2º SETOR – Dribles à Censura e Exílio
“Pai, afasta de mim esse cálice”. A Ditadura Militar afrontou a liberdade de expressão em todas as vertentes, em especial aos músicos e compositores. Ainda assim, com muito talento, os poetas conseguiam driblar a censura. Muitas obras com dualidade de sentidos, críticas ao regime disfarçadas de canções de amor como “Apesar de Você”, eram liberadas. Outro artifício era a utilização de pseudônimos, como o Julinho da Adelaide assinado por Chico Buarque, devido à perseguição a determinados compositores, que seriam obrigados a enfrentar o exílio pagando um preço por contestações até mesmo espirituais, como a “Sociedade Alternativa” de Raul Seixas.

3º SETOR – Anistia e Diretas
A anistia teve a canção “O Bêbado e a Equilibrista” como porta-voz, representando o fim da saudade de todas as Marias e Clarices do Brasil. Após duas décadas sem eleições diretas no país, seria a vez do povo clamar pelo direito de votar para presidente, lotando comícios e consagrando hinos engajados como “Coração de Estudante”, “O Menestrel das Alagoas” e o maior de todos eles, o samba que denomina nosso enredo: “Vai Passar”. E o Estandarte do Sanatório Geral passou mesmo. A eleição indireta de Tancredo Neves, que representaria simbolicamente o fim definitivo da opressão, foi celebrada no mesmo dia em que Cazuza bradava, em meio a um “Rock in Rio” em fervorosa, “Pro Dia Nascer Feliz”.

Enredo: Marco Maciel
Carnavalesco: Netto Gomes
Autor do logo: Luís Butti

As inscrições de samba-enredo já estão abertas. Informamos que o recebimento ocorrerá através do sambariobr@yahoo.com.br, com a letra (em .doc, .docx ou .txt) e o áudio (mp3 ou wma) anexados, ou através do MSN do presidente, que também estará disponível para solucionar dúvidas sobre o enredo e os sambas: mestremaciel@hotmail.com.

O prazo para recebimento de sambas se encerrará às 23h59min do dia 6 de janeiro de 2012, com a escolha do samba campeão em 13 de janeiro de 2012. Portanto, poetas: mãos à obra!