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Saravá, Umbanda! (Alegria da Zona Sul - 2019)

Ypanema (Alegria da Zona Sul - 2020)

Apresentação:

Do alto de sua morada, o Galo presenciou tudo que havia no espaço onde hoje está o bairro de Ipanema. Porém, hoje, ele decidiu levantar mais cedo e chamar seus dois amigos – inseparáveis – para contar um pouco do passado ao qual se faz necessário para entender esta parte da cidade. Vamos embarcar junto dos novatos Pavão e Pavãozinho, para apreciarmos do alto do morro uma boa história?

No início tudo era terra indígena, neste lugar charmoso da cidade habitavam os integrantes das tribos Karianés e Jaboracyá, Tubinambás, estando até o fim os Karianés; sendo resistente a colonização do homem branco e aos poucos dizimado pelas doenças vindas com a modernização e expulsão por parte dos novos donos desta faixa de litoral. Daqui, presenciei o início da fazenda Copacabana e sua extensão para este lado, também, vi o comendador José Antônio Moreira Filho adquirir as terras e assim formar o lote de Ypanema, logo, em seguida tornando-se Barão e fundando a Villa de Ipanema, que dava vida para o processo de urbanização: linhas de bondes, ruas e praças foram abertas e casas se erguiam no vilarejo. Se eu não me engano, o sonho de modernização já era nítido aos olhos do Barão de Ipanema, pois, o progresso evoluiu e se fixou de vez, onde se nascia um novo bairro na cidade e grandes prédios começavam a surgir no lugar das antigas moradias. IPANEMA. Chegou o charme, a sofisticação, a Bossa Nova, o samba, as críticas e agora é um dos bairros mais cobiçados a se morar, e o lugar mais desejados por todos os turistas que por aqui desembarcam.

Segue abaixo, a sinopse completa para o enredo do ano de 2020.

A Alegria da Zona Sul, será a décima escola a desfilar pela série B do carnaval carioca sob comando da liga LIVRES.

CONTEÚDO:

YPANEMA

Hoje o Galo acordou mais cedo, convidou seu amigo Pavão e o mais novo o Pavãozinho para contar um pouco da historia que presenciou do auto de sua morada. Vai falar de um lugar na cidade Maravilhosa que pode ter inúmeros adjetivos: lindo, inspirador, revolucionário, charmoso, entre tantos outros que poderia citar. Esta pequena faixa entre a lagoa e o mar, ganhou o mundo, ganhou as estrelas. E quem diria?

Tudo começou assim…

Das terras Indígenas a consolidação do bairro.

Se não me falha a memória… Como no resto do Brasil tudo aqui era povoado por indígenas, aqui eram os tupinambás, das aldeias Jaboracyá e Kariané que em seu auge dominavam este trecho do litoral. Porém, conforme a terra foi colonizada vi a população destas aldeias serem dizimadas pela doença trazida por homens brancos recém-chegados. Ah, Se não me falha a memória por volta do século XVIII, só restavam os karianés.

Toda a área da atual Ipanema denominava-se Fazenda Copacabana, 1857, depois foi dividida por seu comprador em dois grandes lotes, um deles adquirido pelo Comendador José Antônio Moreira Filho, segundo Barão de Ipanema. Embora Ypanema ou Ipanema, queira dizer, em língua indígena “água ruim”; não indicada para natação ou pescaria, o nome não se referia ao bairro, mas a um rio paulista em Iperó, e foi uma homenagem feita ao Barão e Conde de Ipanema pelo seu filho, o segundo Barão de Ipanema, que, em 1883, criou uma empresa de urbanização para erguer o novo bairro com o nome de Loteamento Villa Ipanema.

Para alavancar o empreendimento, foi fundamental que a linha de bondes se prolongasse de Copacabana chegando a Ipanema, 1902, com ponto final na Praça Floriano Peixoto (atual General Osório). Os bondes ainda circulariam pelo bairro até 1963. Em 1894, o termo de fundação da Villa Ipanema previa 19 ruas e 2 praças. Foram abertas as Praças Floriano Peixoto, Coronel Valadares (Nossa Senhora da Paz) e as ruas: Prudente de Morais, Farme de Amoedo, Nascimento Silva, 20 de Novembro (Visconde de Pirajá), a Avenida Vieira Souto, entre outras que fora consolidado o bairro de Ipanema. A valorização imobiliária se tornou em enorme, prédios de apartamentos que tomara o lugar das antigas residências e os gabaritos foram aumentados. Surgiam Apart Hotéis e grandes centros comerciais na década de 1970, assim Ipanema se tornou um bairro sofisticado, onde, os preços dos imóveis disparavam. Fazendo a especulação imobiliária torna-se Ipanema um bairro movimentado. Moradores antigos da região chegaram a protestar diante da situação. Vinicius de Moraes fez a música “Carta ao Tom 74”, que fala sobre o assunto.

Nas duas décadas seguintes (1970 e 1980) veio o “boom” do bairro. Avenida Viera Souto se tornou um dos endereços mais nobres, mais caros e mais procurados da cidade do Rio de Janeiro, superando a Avenida Atlântica, em Copacabana.

Depois disso, Ipanema seguiu crescendo, tanto em baixo como aqui para cima. Tornando-se um dos bairros mais famosos do mundo.

Com as bênçãos de nossa senhora da paz, a região ganha um charme especial.

BERÇO DA BOSSA NOVA

A beleza desfila nas ruas, “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar.”

Com estes versos Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Helô Pinheiro, ficaram eternizados, ganharam o mundo, e até o espaço. Aqui em Ipanema nasceu e cresceu a Bossa Nova.

Ah se estas areias falassem… Palco de transgressões, resistência, inovações e gritos de liberdade.

Mulheres com Seios a mostra, uma grávida (Leila Diniz) de biquíni, Fernando Gabeira de “tanga” tomando limonada, o Píer ponto tradicional de encontro de novas “tribos” da época, quantos escândalos…

Em meio a todo este burburinho cultural, o charme dos bares, frequentados por intelectuais e artistas, a praia da época do “Píer”, musas como Helô Pinheiro e Leila Diniz marcaram gerações. Ipanema ditava a moda, na música e na praia, onde predominavam os biquínis e suas variações – tanga, asa-delta, fio-dental etc.

O Bar Vinte, o Jangadeiro, o Zeppelin, o Castelinho, o Veloso (atual Garota de Ipanema), o Bofetada, a Sorveteria Morais, o Bar Lagoa, o Barril 1800, a Loja Company, a Dijon, a Feira Hippie da Praça General Osório, Casa de Cultura Laura Alvin, entre outras referências, deram a Ipanema uma rica história de costumes e personagens que marcaram de forma destacada o bairro na cultura carioca.

Ipanema fervilha cultura e diversidade.

Ah e o por do sol, Daqui de cima é lindo, mais não haveria no mundo, melhor lugar para aplaudir o astro rei se não as pedras do arpoador.

Um dos principais marcos do bairro, a Ponta do Arpoador, com as suas pedras dividindo a Praia de Ipanema da Praia do Diabo. Um dos locais mais apreciados para admirar o pôr do sol e onde, no século XVII, se caçavam baleias com arpões, daí o nome. O Arpoador é uma das principais referências do surfe brasileiro. Foi nas ondas do Arpoador que o surfe começou a ser praticado no Brasil, ainda na década de 1950. Foi ali, também, que aconteceram as finais do primeiro Campeonato Brasileiro oficial de Surfe, em 1965.

O Habito de aplaudir o pôr do sol, um costume lançado no verão de 1968/1969, quando o jornalista Carlos Leonam, extasiado pela beleza, começou a aplaudir, sendo logo em seguida acompanhado pela roda de amigos, que contava com a presença de Gláuber Rocha, João Saldanha, Jô Soares, entre outros. Esse costume de aplaudir o pôr-do-sol foi consagrado pelo publicitário Roberto Duailibi, numa propaganda de protetor solar para a televisão e resiste até o hoje.

O SAMBA, O CARNAVAL

Mais não era só Lá em baixo que era movimentado não, aqui em cima também era, cada vez mais gente chegando, e era casa que não acabava mais, tem dança, esporte, funk e o samba… E se não fosse o samba? Quem sabe? Bezerra da silva com seu samba foi longe, fez muito sucesso. Também Aroldo Santos, com sua “batida de limão”, entre outros hits. Ah samba que saudade… Era malandreado mais era puro, tinha alguma coisa difete.

Assim, de forma inocente, nasceu o bloco Inocentes de Ipanema, que originou o Unidos do Cantagalo, ao lado veio também o Império do Pavão e o Pavãozinho. Que mais na frente vão se fundir e virar Alegria de Copacabana e depois Alegria da Zona Sul. Mais ai já é outra historia que contarei melhor depois… O fato é que o samba desceu do morro para o asfalto.

A Banda de Ipanema nasce desta mistura e da paixão pelo samba, que ganha as ruas no carnaval carioca, que até os dias de hoje atrai multidões para fortalecer esta integração. Fundada em 1965 por Albino Pinheiros e um grupo de amigos, lota as ruas de Ipanema com milhares de foliões, reunindo moradores, artistas, boêmios, músicos e musas espalhando alegria contagiante. A partir de meados da década de 1980, começa a se destacar também no bairro o Bloco “Simpatia é Quase Amor”.

Esta mistura do morro com o asfalto temperou a movimentada vida em Ipanema.

Durante o carnaval posso ouvir aqui do alto a Banda de Ipanema. Atualmente multidões se deslocam para Ipanema durante o carnaval de rua, embalados pelos tradicionais blocos do bairro. Os antigos bondes dão espaço ao metrô que traz milhares de foliões trazidos de diversos pontos da cidade, além de gente do mundo todo. Aqui em cima, cada vez mais gente chegando, subindo e descendo, vejo a baiana do morro e a cabrocha da nova geração descendo para desfilar no asfalto.

É festa e a folia toma conta deste chão. Hoje aqui do alto vejo tudo o que se passa Lá em baixo, olho a distância, vejo abismos sociais criados e vejo o carnaval, onde tudo se mistura. Empresto minha voz a Alegria da Zona Sul minha ilustre moradora, para falar por mim, Morro do Cantagalo, morador de Ypanema, ou Ipanema como preferir. Venho cantar a vista privilegiada que tenho da terra espremida entre a lagoa e o mar, que inspira e que inspirou tantos amores e estórias, revelo a historia da qual faço parte, falo do chão que já abrigou e ainda abriga diversas tribos, Jaboracyá, Kariané, barões, burgueses, duelistas, artistas, intelectuais, revolucionários, hippies, afortunados, gente humilde, gente comum, gente incomum, todos dividindo o mesmo espaço, gente inspirada pela magia de Ipanema que hoje só quer celebrar a Alegria.

“Ah Ipanema”… Se soubesse, que ao passar na avenida, durante carnaval de 2020, O olhar do mundo mais uma vez se voltará a ti, e tudo vai se encher de graça e alegria. Simplesmente “Por causa do amor.”

De teu morador mais antigo: O morro do Cantagalo.