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Coluna do Rixxa Jr.

DEZ TÍTULOS DE ENREDO MAIS INSTIGANTES DO CARNAVAL

E novamente o Top 10 Sambario entra em cena para anunciar os 10 titulos de enredo mais instigantes da história do carnaval.

Antigamente, se dizia que cabeça de carnavalesco era que nem barriga de mulher grávida: nunca se sabia o que poderia sair. Hoje, graças aos avanços tecnológicos da medicina e, principalmente, à ecografia, é possível saber o que tem na barriga da futura mamãe. Só que da cabeça de carnavalesco, não há aparelho médico que consiga decifrar. Mas a criatividade dos profissionais do carnaval é ilimitada e são os próprios que criam seus enredos delirantes. E a ala de compositores das escolas que se virem para produzir sambas (e de preferência, que obtenham nota máxima nos desfiles).

Por isso, elencamos uma pequena lista dos títulos de enredo mais instigantes do carnaval que já passaram pela Marquês de Sapucaí. Aqueles enredos que até mesmo a letra do samba não ajuda a decifrar e que é preciso a máxima atenção na apresentação da escola na avenida.

10º lugar - Quente como o inferno, preto como a noite, doce como o amor (Jacarezinho/83).

O QUE ERA?

A rosa e branco usou um título misterioso para falar sobre o café brasileiro. O samba era mediano, mas com uma cadência especial, típica das obras do pessoal do Jacarezinho.

E DEU CERTO?

Enredo de fácil compreensão, garantiu ao Jacarezinho a 9ª colocação no Grupo 1-B naquele ano e a permanência na categoria.

9º lugar - De geração em geração, quem é discriminado é o negão (União de Jacarepaguá/95).

O QUE ERA?

Um título bem sacado para falar sobre discriminação e preconceito racial. Não sei se o samba foi gravado, nunca escutei. A letra também não está disponível em nenhum site especializado sobre carnaval, o que é uma pena.

E DEU CERTO?

Com um título desses tão direto, é possível que o público tenha entendido bem a mensagem. Mas isso não foi suficiente para ajudar a União de Jacarepaguá a tirar uma boa classificação. Ao contrário. A escola tirou a 11ª colocação do Grupo B e foi rebaixada.

8º lugar - Yolhesman Crisbeles (Engenho da Rainha/95)

O QUE ERA?

Que diabos seria isso? A resposta é simples. Não significa nada. É um desbunde total. Naquele ano de 1995, a Acadêmicos do Engenho da Rainha homenageou a "República de Ipanema", marco da resistência cultural nos duros anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985).

E DEU CERTO?

Sim. O desfile teve de tudo que caracterizava o momento e o movimento cultural da época: hippies, tropicalistas, playboys, artistas, jornalistas, intelectuais e a Banda de Ipanema. O samba era muito animado e gostoso de ouvir. Naquele ano, 19 escolas desfilaram no Grupo de Acesso, dividido em dois dias de apresentação e o Engenho da Rainha conquistou a 9ª colocação.

7º lugar - Não corra, não mate, não morra. O diabo está à solta no asfalto (São Clemente/84).

O QUE ERA?

A São Clemente pisou na Marquês de Sapucaí no intuito de alertar sobre os perigos do trânsito. Para isso, a escola criou um personagem, Zeca Passista que é atropelado, perde a memória e sonha que "ronco de motor virou tambor" e que "as placas de trânsito são as alegorias" que colorem o desfile da São Clemente.

E DEU CERTO?

E como. Em 84, com muito bom humor e leveza, a escola - que recém havia subido do Grupo 2-A - chegou em 4º lugar no Grupo 1-B e ganhou o direito de desfilar entre as grandes no ano seguinte e marcar seu nome na história do carnaval carioca.

6º lugar - Mas vale um jegue que me carregue do que um camelo que me derrube... Lá no Ceará (Imperatriz Leopoldinense/95).

O QUE ERA?

O título foi bastante comentado quando a Imperatriz anunciou o enredo para o carnaval de 1995. Nas pesquisas históricas que costuma fazer em busca de temas para desenvolver no carnaval, Rosa Magalhães encontrou este episódio que camelos poderiam dar certo no transporte e na agricultura no nordeste brasileiro. No entanto, os sertanejos logo perceberam que o velho e bom jegue era o animal indicado para este tipo de trabalho. A diretoria da Imperatriz conseguiu bancar o desfile graças ao repasse de verbas do governo do Ceará.

E DEU CERTO?

Muito certo. A escola vivia o auge daquilo que se convencionou chamar de "desfile técnico". E a certinha de Ramos foi tecnicamente perfeita, desfilando os quesitos para o corpo de jurados e conquistou seu segundo bicampeonato. A compreensão por parte do público foi perfeita: é melhor encontrar soluções simples e caseiras do que preferir complicadas ações vindas de fora. A síntese está no verso do samba que diz "mais vale a simplicidade/ a buscar mil novidades/ e criar complicação/ esquecendo o bom e o útil/ renegar o que é nosso/ gera insatisfação".

5º lugar - Cama, mesa e banho de gato (Unidos da Tijuca/1986).

O QUE ERA?

O país vivia uma euforia com a recente redemocratização. E a Unidos da Tijuca resolveu deixar de lado sua tradição de enredos históricos e culturais e partir para um tema mais picante: os sete pecados capitais do ponto de vista da luxúria. Muitos previram que a escola do Borel iria apresentar um carnaval pornô na avenida.

E DEU CERTO?

Não. Muitos bambas torceram o nariz e tiveram má vontade com a Tijuca, isso é verdade. Mas o desfile foi bom, com belas fantasias e alegoria e nada de baixo nível. No entanto, a predisposição era de que a escola seria rebaixada, o que verdadeiramente aconteceu, chegando na 15ª posição do Grupo 1-A.

4º lugar - Como vencer na vida sem fazer força (Arranco/82)

O QUE ERA?

Num tema bem sacado, o Arranco queria mostrar ao público de que jeito era possível, com sorte, adquirir fortuna sem precisa trabalhar de sol a sol. E a escola listou, com bom humor, as possibilidades: loteria, cassino, corrida de cavalo, jogo do bicho.

E DEU CERTO?

Não. Apesar do belo samba, a escola teve sérios problemas no desfile e amargou o rebaixamento, ao tirar a 11ª posição.

3º lugar - 1910, Burro na Cabeça (União da Ilha do Governador/81)

O QUE ERA?

A idéia inicial da escola era prestar uma homenagem ao Rio Antigo e à Belle Epoque (período que abrange as duas últimas décadas do século 19 e as duas primeiras do século 20, quando a influência francesa nos costumes do Rio de Janeiro foi muito forte). Só que o desenrolar do enredo não estava a contento da direção da escola, habituada com o sucesso dos enredos abstratos na Era Maria Augusta (1976-80). O enredo se inverteu para uma sátira dos costumes daquela época.

E DEU CERTO?

Não muito. O desfile não foi muito bem compreendido pelo público nem pelos jurados. A escola não conseguiu se definir nem por um enredo histórico nem satírico e ficou no meio do caminho. A 7ª colocação foi até generosa com a União da Ilha do Governador.

2º lugar - Bubu, babá, popô, papá (Em Cima da Hora/82)

O QUE ERA?

A ECDH se propôs a fazer uma metáfora do Brasil. Nas palavras do samba, o país era um "lindo bebê gigante". O enredo, de autoria do carnavalesco Ney Roriz, se valia de um personagem protagonista, "Popô". O Brasil seria o "Popô" em questão, formado por brancos cristãos representados pelo verso "anjos de paz e guerra"; negros ("orixás de outras terras" - África? -, "mucamas baianas", "pretas velhas babás") e índios ("Caramuru tupiniquim"). O sentimento de que o Brasil fosse grande e um país do futuro pode estar representado no refrão "este lindo bebê gigante será um rei, ator feliz"...

"Sem temer com Macobeba..." sugeria que o Brasil pudesse evoluir sem temer as poderosas corporações de fora que tentavam dominar o país, assim como a Unidos da Tijuca em 1981 transformou o Brasil no caboclo Mitavaí, que lutava contra o monstro Macobeba (multinacionais e as corporações que punham em risco a soberania nacional).

E, ao final, a expressão "vai brincando Macunaíma na vida vai rebolando e cantando" poderia representar o espírito irreverente, descompromissado e sem nenhum caráter de Macunaíma, o personagem literário de Mario de Andrade, que representaria o espírito do brasileiro.

E DEU CERTO?

O enredo era complexo, metafórico e, até certo ponto, hermético para o espectador comum e gerou controvérsias principalmente com as escolas adversárias que debocharam do título do tema. No ano seguinte, em resposta, a ECDH apresentou "Enredo sem enredo". Num dos versos do samba de 83, a escola mandava contra os que "criticaram o boi-bumbá" (Boi-bumbá com abóbora, de 81, enredo que satirizava a desfiguração da folia sendo transformada em carnaval-espetáculo) e que "fizeram troça com o Popô, papá e do bubu da babá" (enredo de 82). Por isso, aproveitando a redemocratização do país ocorrida naquele ano (depois de muito tempo, houve eleições para governos estaduais) a ECDH sugeria um "enredo sem enredo sem enredo", à prova de malhações. Em 1982, a Em Cima da Hora obteve uma boa 4ª colocação no grupo 1-B.

1º lugar - Bumbum paticumbum prugurundum (Império/82)

O QUE ERA?

A partir de uma idéia de Fernando Pamplona, Rosa Magalhães e Lícia Lacerda (ex-alunas do antigo carnavalesco do Salgueiro na Escola de Belas-Artes) fizeram uma crítica severa à transformação do carnaval num espetáculo grandioso, endinheirado e distante das raízes populares. O título original, segundo Pamplona era "Onze Candelárias Sapecaí". O nome definitivo foi uma invenção onomatopéica da cabeça da própria Rosa, uma gozação às três fases da escola de samba, segundo o livro "Fala, Mangueira", de Marília Barbosa.

E DEU CERTO?

Nossa. E como. Os versos do samba clássico de Aloísio Machado e Beto Sem Braço foram proféticos: "Superescolas de Samba S/A/ superalegorias/ escondendo gente bamba/ que covardia!". O carnaval dos anos 80 apenas engatinhava na mercantilização da folia. Só Joãosinho Trinta, na época gênio da Beija-Flor, defendia a glamourização dos desfiles e dizia que quem gosta de pobreza é intelectual. Ainda não havia sambódromo, as arquibancadas eram de ferro e a passarela tremeu com o refrão "bumbum paticumbum prugurundum/ o nosso samba minha gente é isso aí/ bumbum paticumbum prugurundum/ contagiando a Marquês de Sapucaí". Foi o último título conquistado pelo Império Serrano no Grupo Especial.


Na próxima semana: DEZ ENREDOS QUE MERECERIAM SER LEVADOS ÀS TELAS DE CINEMA OU TELEVISÃO.

Rixxa Jr.

rixxajr@yahoo.com.br