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nº 75 INTÉRPRETES QUE FIZERAM JORNADA DUPLA
A jornada dupla sempre foi um teste extremo de talento, preparo e amor ao samba. Ao aceitar esse desafio em 2026, Zé Paulo Sierra entra para uma galeria seletíssima de intérpretes que marcaram época mostrando que, no carnaval, voz e coração precisam caminhar juntos — mesmo quando o desfile acontece duas vezes.
No Carnaval de 2026, Zé Paulo Sierra vai encarar uma missão que poucos conseguem cumprir: a chamada jornada dupla. O cantor será intérprete principal de duas escolas em grupos diferentes no mesmo ano no Rio de Janeiro. Após acertar com a União de Maricá, na Série Ouro, Zé Paulo foi convidado para assumir o microfone número 1 da Portela, no Grupo Especial, sucedendo o saudoso Gilsinho. A prática, que hoje é rara, já foi relativamente comum em outros tempos do carnaval. Não se trata apenas de resistência vocal, mas de jogo de cintura, preparo emocional e muito profissionalismo. Essas jornadas costumam surgir de situações específicas: convites de última hora, mudanças repentinas nos carros de som, apostas ousadas das diretorias ou até gravações prévias de sambas em disco. É um verdadeiro quebra-cabeça logístico que exige do intérprete muito mais do que cantar bem: é preciso entrega, foco e compromisso total para subir ao carro de som duas vezes no mesmo carnaval. A história do samba registra vários exemplos marcantes dessa maratona de voz e coração. Relembremos alguns deles.
NEGUINHO DA BEIJA-FLOR
Neguinho foi campeão por duas escolas em 1980: Beija-Flor e Unidos da Tijuca.
Em 1980, Neguinho da Beija-Flor protagonizou um feito histórico: foi campeão em dois grupos diferentes no mesmo carnaval. No então Grupo 1-A (hoje Grupo Especial), levou a Beija-Flor ao quarto título em um empate com Imperatriz Leopoldinense e Portela. Já no Grupo 1-B (atual Série Ouro), conduziu a Unidos da Tijuca à conquista e ao retorno à elite. Na noite de domingo, Neguinho defendeu a Beija-Flor no desfile do enredo “O Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas”, assinado por Joãosinho Trinta. A azul e branco de Nilópolis vivia um de seus períodos mais fortes, e Neguinho já despontava como um dos grandes intérpretes do carnaval, além de cantor popular fora da avenida – sua composição “O Campeão” ecoava nas arquibancadas dos estádios do país. A Unidos da Tijuca, sob a presidência de Gustavo da Costa Diamante, o Quiro, montou uma verdadeira seleção para buscar o título do acesso. Na harmonia, Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, também vivendo sua própria jornada dupla entre Tijuca e Beija-Flor. No carnavalesco, um jovem promissor: Renato Lage, aluno de Fernando Pamplona na Escola de Bellas Artes. E no microfone principal, Neguinho, que defendia na avenida um samba gravado em disco por Nadinho da Ilha. Curiosamente, o próprio Laíla era produtor musical de Neguinho nos primeiros trabalhos do cantor na gravadora Top Tape. Jornada dupla: 1980 – Beija-Flor e Unidos da Tijuca
AROLDO MELODIA
Uma jornada dupla no mesmo dia custou caro a Aroldo Melodia.
Uma das maiores vozes da história do carnaval, Aroldo Melodia, também encarou a jornada dupla em diferentes momentos. Em 1983, dividiu-se entre União da Ilha do Governador (grupo 1-A) e a Unidos de Nilópolis (grupo 2-A, em desfile na Avenida Rio Branco). Tudo certo, senão por um pequeno detalhe: as duas escolas desfilavam NO MESMO DIA (13 de fevereiro)! A Unidos de Nilópolis era a terceira escola a desfilar, na Avenida Rio Branco, enquanto a Ilha era a sexta a pisar na Sapucaí. O resultado é que o desfile na Rio Branco atrasou e o presidente da tricolor insulana, Peixinho, ficou furioso com a demora de Aroldo. A agenda cheia do cantor acabou custando seu posto na Ilha, o que motivou sua transferência para a Mocidade Independente de Padre Miguel em 1984. Após dois carnavais afastado, Aroldo retornou à União da Ilha em 1986 e teve uma atuação memorável com o samba “Assombrações”, que lhe rendeu o Estandarte de Ouro de melhor intérprete. No mesmo ano, repetiu a jornada dupla defendendo também a Acadêmicos de Santa Cruz, no Grupo 1-B (desta vez em dias diferentes). Ele já havia passado pela verde e branco de Santa Cruz no Especial no ano anterior, cantando a homenagem a Ibrahim Sued. Em 1990, nova dobradinha: Caprichosos de Pilares, no Grupo Especial, e Unidos da Ponte, no Grupo 1-B, novamente em dias diferentes. Jornada dupla: 1983 – União da Ilha e Unidos de Nilópolis 1986 – União da Ilha e Acadêmicos de Santa Cruz 1990 – Caprichosos de Pilares e Unidos da Ponte
DOMINGUINHOS DO ESTÁCIO
Dominguinhos era o mestre das pontes aéreas: nos anos 80, dividia a Estácio com desfiles em Manaus, Belém e São Paulo. Em 1990, brilhou na Imperatriz (Especial) e na Grande Rio (Acesso).
Dominguinhos do Estácio era conhecido por não se limitar ao Rio de Janeiro. Nos anos 1980, além da Estácio de Sá, dividia sua agenda com carnavais de Manaus e Belém do Pará, e ainda aparecia em carros de som nas escolas de São Paulo, nos tempos da Avenida Tiradentes. Em 1990, fez jornada dupla entre a Imperatriz Leopoldinense, então campeã do ano anterior, no Grupo Especial, e a emergente Acadêmicos do Grande Rio, que buscava chegar à elite. A Imperatriz não repetiu o título, mas a Grande Rio foi vice no acesso e garantiu sua vaga no Especial. Valorizado e bem acolhido em Caxias, Dominguinhos permaneceu mais um ano na Grande Rio, abrindo espaço na Imperatriz para um jovem puxador chamado Preto Joia. Jornada dupla: 1990 – Imperatriz Leopoldinense e Grande Rio
QUINHO
No auge da carreira, Quinho fez jornada dupla com Salgueiro e São Clemente, no carnaval de 1993.
Em 1993, Quinho vivia seu apogeu como intérprete de carnaval. Seu jeito animado, irreverente e cheio de cacos havia virado referência. Com o passe valorizadíssimo, era presença constante nas disputas de samba e vivia um momento especial com o Salgueiro, campeão com o histórico “Peguei um Ita no Norte”, que encerrou um jejum de 28 anos. Naquele mesmo carnaval, Quinho também foi convidado para defender a São Clemente no Grupo 1-B. A escola da zona sul do Rio começava a mudar sua linha de enredos, deixando de lado os sambas mais ácidos e apostando em novos caminhos. Assim, Quinho também encarou sua jornada dupla, dividindo-se entre a consagração no Salgueiro e o desafio na nação clementiana. Jornada dupla: 1993 – Salgueiro e São Clemente
QUINZINHO
Entre idas e vindas, Quinzinho manteve jornada dupla entre o Império e a Santa Cruz por vários carnavais.
Quinzinho sempre teve como marca a versatilidade e a capacidade de cantar em mais de uma escola por carnaval. O intérprete defendia a Acadêmicos de Santa Cruz desde o início dos anos 80 quando recebeu o convite para substituir Roberto Ribeiro no Império Serrano. Logo na estreia, viveu um momento histórico ao interpretar “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, no desfile campeão de 1982, que encerrou um jejum de dez anos da escola da Serrinha. Seguiu em jornada dupla entre Império e Santa Cruz em 1983, 1987 e 1988. Após um período exclusivo na Viradouro, transferiu-se para o Salgueiro em 1994, sucedendo Quinho. Nesse mesmo ano, voltou a fazer dobradinha com a Santa Cruz, escola com a qual sempre manteve forte ligação. Aos poucos, Quinzinho passou a atuar mais como cantor de apoio, especialmente no Império Serrano e na própria Santa Cruz. Jornada dupla: 1982, 1983, 1987, 1988 – Império Serrano e Santa Cruz 1994 – Salgueiro e Santa Cruz
NEGO
Na foto, Nego no desfile do Arranco em 1992, ano que o cantor fez dobradinha com a Unidos da Tijuca. Crédito: Samba S/A | Youtube.
Após alguns carnavais como apoio do irmão Neguinho na Beija-Flor, Nego decidiu seguir carreira solo após 1985, aceitando convite da Unidos da Tijuca. No Borel, construiu uma trajetória marcante entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Em 1992, fez jornada dupla na Tijuca e no Arranco do Engenho de Dentro, sucedendo Sylvio Paulo e dividindo o carro de som com Juan Espanhol. Mais tarde, já consolidado e defendendo a Grande Rio, Nego voltou a encarar a maratona em 1999, cantando também na Unidos de Villa Rica, pelo Grupo de Acesso. Jornada dupla: 1992 – Unidos da Tijuca e Arranco do Engenho de Dentro 1999 – Grande Rio e Unidos de Villa Rica
SOBRINHO
Marca registrada da Unidos da Tijuca no início dos anos 80, Sobrinho acumulava desfiles com a Unidos de Bangu. Na foto, defendendo a Acadêmicos de Santa Cruz em 1992.
Sobrinho marcou época na Unidos da Tijuca entre 1981 e 1984, período em que também fazia jornada dupla com a Unidos de Bangu, especialmente em 1983 e 1984. Paralelamente, construiu uma longa e vitoriosa trajetória no carnaval de Manaus, onde cantou por cerca de 20 anos na Mocidade Independente de Aparecida. Na capital amazonense, foi tetracampeão e recebeu diversas vezes o Troféu Imprensa de melhor intérprete, a principal honraria do carnaval local. Jornada dupla: 1983 e 1984 – Unidos da Tijuca e Unidos de Bangu
CELINO DIAS
Celino Dias alternava entre ser voz principal na Lins Imperial, Império da Tijuca e apoio de luxo para Quinho no Salgueiro.
Muito identificado com a Lins Imperial e com o Salgueiro, Celino Dias cresceu junto com a escola do subúrbio de Lins de Vasconcellos nos anos 1980. A partir daí, passou a exercer funções múltiplas: apoio no carro de som de Quinho no Salgueiro em vários períodos e intérprete principal da Império da Tijuca e da própria Lins em diferentes temporadas. Sua trajetória é marcada pela constância e pela capacidade de se adaptar a diferentes formações de carro de som, sempre com grande respeito no meio carnavalesco. Jornada dupla: 1992 – Império da Tijuca e Salgueiro 1993 e 1994 – Lins Imperial e Salgueiro 2000 – Império da Tijuca e Salgueiro
WANTUIR
Wantuir estreou como oficial na Cubango sendo ainda apoio de Dominguinhos na Estácio, permanecendo no São Carlos quando cantou pela primeira vez na Porto da Pedra.
Musicalmente apadrinhado por Dominguinhos do Estácio, Wantuir iniciou sua caminhada como apoio na Estácio de Sá em 1987, no ano do “Tititi do Sapoti”. A partir dali, passou a acompanhar Dominguinhos por escolas como Imperatriz Leopoldinense e Grande Rio. Estreou como intérprete principal na Acadêmicos do Cubango em 1993, no Grupo A, mantendo a jornada dupla com a Estácio. Em 1995, foi convidado para a Unidos do Porto da Pedra e conduziu a escola de São Gonçalo ao título do Grupo de Acesso, enquanto ainda desfilava pela Estácio. Com a permanência da Porto da Pedra no Especial nos anos seguintes, Wantuir se firmou definitivamente entre os grandes intérpretes do país. Jornada dupla: 1993 e 1994 – Cubango e Estácio 1995 – Porto da Pedra e Estácio
ABÍLIO MARTINS
Abílio Martins (com microfone, à esq.) cantando ao lado de David Correa no desfile da Portela em 1980.
Considerado uma das vozes mais bonitas da história do carnaval, Abílio Martins foi um verdadeiro andarilho das agremiações. Nos anos 1970 e 1980, gravou inúmeros sambas em discos oficiais, numa época em que os próprios compositores costumavam registrar as obras. Quando isso não acontecia, os produtores da gravadora (no caso, a Top Tape) recorriam a vozes profissionais e experientes, como Celso Landrini, Jorge Goulart, o grupo vocal feminino As Gatas, o conjunto Nosso Samba. Abílio também era presença constante nos estúdios de gravação. Na avenida, também viveu jornada dupla marcantes. Em 1981, cantou pelo Império Serrano no Grupo 1-A e pelo Império do Marangá no Grupo 1-B. Em 1982, defendeu a Unidos de São Carlos no Especial e a Unidos de Lucas no acesso. Após isso, Abílio foi se afastando do carnaval, encerrando sua trajetória em disco e na avenida pelo Arranco do Engenho de Dentro, em 1987. Jornada dupla: 1981 – Império Serrano e Império do Marangá 1982 – Unidos de São Carlos e Unidos de Lucas Leia as colunas anteriores de Gerson Brisolara
Gerson
Brisolara (Rixxa Jr.)
Jornalista, comentarista carnavalesco e colaborador do SAMBARIO desde 2004 rixxajr@yahoo.com.br |
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