PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna do Rixxa Jr

"JÁ VI ESSE FILME" E O REI DAS REEDIÇÕES 

Reeditar enredos tem sido a grande repulsa de muitos bambas. À simples menção de que uma escola pretende reeditar um samba-enredo ou (o que é pior) retornar à avenida com um tema de outra agremiação causa indignação, má vontade e até cólera.

Na verdade, reedições já existem há muito, muito tempo. A história de trazer novamente um samba enredo já apresentado é que, de certa forma, é uma idéia nova, proposta pelo presidente da Liga Independente das Escolas de Samba, Aílton Guimarães Jorge, para comemorar os 20 anos do Sambódromo, em 2004. Capitão Guimarães imaginava um carnaval em que as escolas reeditassem seus sambas clássicos, pois achava que a qualidade dos hinos andava muito baixa. No entanto, a idéia original acabou se perdendo e ainda por cima foi deturpada. No carnaval de 2004, das 14 escolas do Grupo Especial, apenas Império Serrano, Portela, Tradição e Viradouro se engajaram na proposta da Liesa. E dessas quatro, duas apresentaram sambas que não eram da sua coleção.

No ano de 2005, a idéia ainda estava valendo, dessa vez para marcar as duas décadas de fundação da Liga, mas somente a Porto da Pedra aderiu e ainda por cima pediu emprestado um samba clássico da co-irmã União da Ilha. E a idéia se espalhou pelos grupos de acesso. O regulamento do Grupo A, entretanto, para preservar o celeiro de bons sambas, proibiu a prática, mas para o ano que vem, esse item deverá ser afrouxado. No Grupo B, a qualidade dos sambas foi salva muito em conta pelas reedições feitas por Arranco, Estácio, Lucas e Ponte.

Mas, voltamos às reedições de enredos, não de sambas. Quantas homenagens à Bahia já foram levadas para a passarela do samba? Desde “Uma romaria à Bahia”, feita pelo Salgueiro, em 1959, até hoje, a boa terra já foi responsável por um sem número de carnavais memoráveis e desfiles esquecíveis. E as escolas que tiveram o Rio de Janeiro como enredo? E outros assuntos recorrentes, como praia, mulheres, futebol e carnaval? Diversos enredos vão e vêm com naturalidade, como os religiosos-afro e em louvor à negritude, as homenagens a artistas e políticos. A mais recente vedete na febre de temas deflagrada pelas agremiações é a Amazônia.

O Rei das Reedições   

Arlindo em 1981, quando, na época, era carnavalesco da Imperatriz

Que Arlindo Rodrigues foi um gênio do carnaval, isso é fato consumado. Há quem o considere o melhor carnavalesco de todos os tempos, com um estilo que misturava criatividade, luxo, requinte e bom gosto. Mas Arlindo não se furtava de apresentar outras visões de um mesmo carnaval. Pode-se afirmar que o artista foi o inventor das reedições e o que melhor se deu bem com esta prática. Senão, vejamos:

O ano era 1962. O Salgueiro era comandado por uma comissão de carnaval liderada pelo cenógrafo Fernando Pamplona e pelo artista plástico Arlindo Rodrigues. Após terem desencadeado o processo em 1960, Arlindo criou o enredo Descobrimento do Brasil. Dezessete anos mais tarde, também ao comando de Arlindo Rodrigues, a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou o mesmo tema, com o mesmo título e venceu o carnaval de 1979.

Em 1969, o Salgueiro desfilou com o tema Bahia de todos os Deuses.  Além de retratar o povo e a historia baianos, a questão dos cultos e da fé religiosa também era bastante forte. Onze anos depois, na sua estréia na Imperatriz Leopoldinense, Arlindo Rodrigues apresentou O que é que a Bahia tem?, num tema igualmente carregado de misticismo.

Em 1981, outra vez com o ex-carnavalesco salgueirense, a Imperatriz conquistou o primeiro bicampeonato de sua história com o legendário desfile O teu cabelo não nega (Só dá Lalá). É possível que Arlindo Rodrigues tenha se influenciado após assistir o desfile da Unidos do Cabuçu no Grupo 1-B, no ano anterior, quando a escola mostrou Tua obra não nega, Lalá. Também em 1980, o Salgueiro originalmente iria apresentar um desfile homenageando Lamartine Babo. Mas questões internas envolvendo eleições e a nova diretoria escolhida fizeram com que a vermelho e branco trocasse o enredo no meio do caminho.

Arlindo Rodrigues era tão adepto das reedições que resolveu reeditar dois enredos num só e quase ninguém se apercebeu disso. Em 1983, o artista criou A visita do Rei da Costa do Marfim a Chica da Silva em Diamantina para a Imperatriz Leopoldinense, que nada mais era do que a junção de dois carnavais anteriormente criados pela dupla dinâmica Pamplona-Rodrigues nos tempos de Salgueiro: Chica da Silva (1963) e Festa para um rei negro (1971).

Alguns temas recorrentes no carnaval:

BahiaGlórias e graças da Bahia, (Império Serrano 1966); Bahia de todos os deuses (Salgueiro 1969); Segredos e encantos da Bahia (Império da Tijuca 1970); Bahia, berço do Brasil (Em Cima da Hora 1972); Mar baiano em noite de gala (Unidos de Lucas 1976 e 2005); Arte negra na legendária Bahia, (Unidos de São Carlos 1976 e Estácio de Sá 2005); O que é que a Bahia tem? (Imperatriz Leopoldinense 1980); Santos e pecadores (Império da Tijuca 1983); Dorival Caymmi mostra ao mundo o que é que a Bahia tem e a Mangueira também (Mangueira 1986); Bahia com amor (Rocinha 1996); Bahia de São Salvador, o Porto Seguro do Brasil (União do Parque Curicica 2005), entre outros.

AmazôniaInferno Verde (Filhos do Deserto 1956); Lendas e Mistérios da Amazônia (Portela 1970 e 2004); Chuê-chuá, moronguetá... Cruz-credo! (Arranco 1985); O mundo místico dos caruanas nas águas do Patu-Anu (Beija Flor 1998); Parintins, a ilha do boi-bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido (Salgueiro 1998); Viagem fantástica ao pulmão do mundo (Tradição 1998); Amazonas, esse grande desconhecido (Portela 2002); Manaus, Manôa, Amazônia Terra Santa: alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz (Beija Flor 2004); Amazonas, o Eldorado é aqui (Acadêmicos do Grande Rio 2006), entre outros.

NegritudeQuilombo dos Palmares (Salgueiro 1960); Chica da Silva (Salgueiro 1963); Chico Rei (Salgueiro 1964); Festa para um rei negro (Salgueiro 1971); Ylu-Ayê (Portela 1972), Valongo (Salgueiro 1976); A constelação das estrelas negras (Beija-Flor 1983); Ganga-Zumba, Raiz da Liberdade (Engenho da Rainha 1986); Tradição de uma raça (Arranco 1987); Kizomba, a festa da raça (Vila Isabel 1988), Sou negro, do Egito à liberdade (Beija Flor 1988); Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão (Mangueira 1988); Templo negro em tempo de consciência negra (Salgueiro 1989); Ganga-Zumbi, expressão de uma raça (Unidos da Tijuca 1996); Negra origem, negro Pelé, negra Bené (Caprichosos 1998); Sou o ouro negro da Mãe África (Império Serrano 1998); A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê (Beija-Flor 2001); África, o exuberante paraíso negro (Acadêmicos do Cubango 2002); Sarava!, Negritude, sarava! (Arranco 2003); Agudás (Unidos da Tijuca 2003); Zumbi, rei dos Palmares e herói do Brasil (Caprichosos de Pilares 2003), entre outros.

Rio de Janeiro e Rio AntigoRecordações do Rio Antigo (Mangueira 1961); Rio Carnaval dos Carnavais (Mangueira 1972); Rio de Janeiro (Salgueiro 1981); Por que sou carioca? (Grande Rio 1990); O Rio de lá pra cá (Salgueiro 1994); Rio, samba, amor e tradição (Tradição 1989); A Lapa de Adão e Eva (Beija-flor 1985); Mas o que foi que aconteceu (Unidos da Tijuca 1985); E o Rio amanheceu cantando (Acadêmicos do Engenho da Rainha 1987); Quando o Rio Ria (Ponte 1991); Só...Rio é verão (Unidos da Tijuca 1994); Cidade Maravilhosa, o sonho de Pereira Passos (União da Ilha 1997); O Rio corre pro mar (Império Serrano 2001); Estado maravilhoso, cheio de encantos mil (Vila Isabel 2001); Rio de Janeiro, o rio que o mundo inteiro ama (União de Jacarepaguá 2004); Sorria! Sou Rio, sou Inocentes, sou Pan, serei Olimpíadas (Inocentes da Baixada 2004) Rio - conquistas e glórias de uma cidade de histórias (Santa Cruz 2005); Rio, a mais maravilhosa das cidades (Gato de Bonsucesso 2005); O Rio em ação é Pan no carnaval do Arrastão (Arrastão de Cascadura 2005), entre outros.

Rixxa Jr.

rixxajr@yahoo.com.br