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Coluna do Rixxa Jr

POLÍTICA PARECE BRINCADEIRA*

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Top 10 Sambario - Dez Sambas Históricos da Paraíso do Tuiuti

7 de outubro de 2018, nº 35

Nesse clima de eleições, o Top 10 Sambario lista dez sambas enredos que exaltaram líderes políticos ou simplesmente falaram em política e eleições. E para o segundo turno, eu prometo voltar com uma nova lista na qual o carnaval produziu enredos chapa branca. Vocês vão se surpreender com muita coisa!

*Verso que consta no samba-enredo “A Lapa de Adão e Eva”, de Zé do Cavaco, Carlinhos Bagunça, Carnaval, H.O. e Patrício, da Beija-Flor, para o carnaval de 1985. 

10º lugar: INDEPENDENTES DE CORDOVIL – “O Garotinho de Campos vem aí, sacudindo a Sapucaí” (1994).Bandeira_do_GRES_Independentes_de_Cordovil.png

Olha ele aí de novo! Depois de figurar na coluna “Grandes ‘Perácios’ da folia”, o ex-governador, ex-prefeito, ex-deputado e ex-candidato a qualquer cargo de plantão, Anthony Garotinho, protagoniza mais um Top 10 Sambario, desta vez ocupando o décimo lugar na lista dos enredos políticos.

Anthony Garotinho na época do desfile da Independentes de Cordovil, em 1994

Em 1994, a infelizmente hoje extinta Independentes de Cordovil se aventurou a levar para a Sapucaí o samba-panfleto-enredo O Garotinho de Campos vem aí, sacudindo a Sapucaí. Naquela época o homenageado ainda era um dublê de radialista popular no interior fluminense e político emergente, após ter completado o primeiro mandato de prefeito na cidade de Campos de Goytacazes, no interior do Estado do Rio.

O samba da escola presidida pelo pitoresco Salustiano Canela enaltecia a figura de Garotinho e fora composto quatro anos antes dele concorrer à primeira vez ao governo do Estado do Rio de Janeiro. A letra trazia versos interessantes, como o que em determinado momento, dizia que “(Garotinho) veio para a capital com sua amada...”. A “amada” em questão era sua esposa, Rosinha Matheus, a quem lançou a candidatura ao governo do Estado do Rio em 2002. Rosinha o sucedeu no governo estadual, quando o marido concorreu à presidência da República no mesmo ano. Garotinho perdeu a presidência (sendo o terceiro mais votado, com quinze milhões de votos), mas a esposa foi eleita governadora no primeiro turno.

Garotinho (à esquerda) e Rosinha no desfile da Cordovil de 1994. Imagem captada no canal Carnaval Completo (YouTube).

Das 14 escolas que desfilaram no grupo A, a Independentes de Cordovil foi a 12ª colocada.

Alô, alô, está no ar, fala Garotinho

Independente cheio de variedades

Tomando conta da minha cidade.

(Nélson Tavares e Elmo do Banjo)

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9º lugar: EM CIMA DA HORA – “Enredo sem enredo” (1983) Bandeira_do_GRES_Em_Cima_da_Hora.png

Como uma escola anuncia um “enredo sem enredo”? E ainda por cima falando em voto, eleição e democracia em pleno regime militar? Sem contar que também misturou personagens seus e de outras escolas de carnavais anteriores... Pois foi essa miscelânea docemente caótica que o carnavalesco Ney Roriz idealizou para a GRES Em Cima da Hora em 1983.

Ala de baianas do GRES Em Cima da Hora nos anos 80. Acervo/O Globo

O carnaval sem enredo antes de mais nada é uma crítica, uma espécie de “piada interna”, uma zoação na qual a escola resolveu criticar seus críticos e a opinião pública, em razão de seus dois carnavais anteriores (também assinados por Roriz): “Boi bumbá com abóbora” (1981) e “Bubu,babá, popô, papá” (1982). Daí o porquê dos versos (...) meteram o dedo / criticaram o boi-bumbá, ô / fizeram troça do popô, papá / e do bubu da babá (...)

O enredo do “Boi com Abóbora” (na gíria dos sambistas, um samba boi com abóbora significa ser um samba ruim, de baixa qualidade) satirizava os desfiles das grandes escolas de samba por serem parecidos e sem mostrarem novidades. O desfile garantiu à ECDH o vice-campeonato no Grupo 2-A e levou a agremiação do subúrbio de Cavalcante ao Grupo 1-B (o equivalente à Série A de hoje). Já o segundo enredo, trazia uma bela e imaginativa metáfora sobre o Brasil (“este lindo bebê gigante”), mas foi pouco entendido pelo público e pelo júri, conquistando somente um quarto lugar.

Embalada pela lenta e gradual redemocratização (em 1982, após quase vinte anos, o país voltava a ter eleição direta para governador), a Em Cima da Hora misturou a zoação pelo não entendimento dos dois enredos anteriores e também aproveitou o momento para conclamar o público a votar consciente e se interessar outra vez pela política (No voto ritual / com gosto de democracia... / voto é carnaval). De quebra, a mente imaginativa de Ney Roriz ainda misturava seu personagem anterior Popô (do enredo de 1982) com a Lili (do enredo da Caprichosos de Pilares sobre a feira livre, também do ano anterior). No desfile, a escola apresentou urnas em forma de alegoria e muitas máscaras e personagens caricatos representando as lideranças políticas da época (Brizola, Jânio Quadros, Paulo Maluf, General João Figueiredo, entre outros).

Em clima de samba-do-crioulo-doido, a Em Cima da Hora com seu “Enredo sem enredo” chegou em décimo lugar no Grupo 1-B no carnaval de 1983.

Vota, vota eleitor ôôôô

Enredo quem te apontou

Foi o voto sim senhor.

(Timbó, Hélio do Bar, Guará e Nelinho)

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8º lugar: BEIJA-FLOR – “O povo conta sua história: saco vazio não para em pé, a mão que faz a guerra, faz a paz” (2003) Bandeira_do_GRES_Beija-Flor.jpg

“Alô Brasil! Agora sim... o povo está feliz!”, anunciava Neguinho da Beija-Flor, intérprete oficial da Beija-Flor na abertura da faixa gravada no CD de 2003, antes mesmo de bradar seu inconfundível grito de guerra.

Com “O povo conta sua história: saco vazio não para em pé”, a deusa da passarela destacou os contrastes sociais e pediu o fim da fome, da pobreza e das injustiças.

A escola defendeu o fim da ganância e melhores salários e encerrou o desfile com uma homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empossado havia pouco mais de um mês antes do carnaval. Além de estar representado com um grande boneco num carro alegórico, Lula ganhou um sósia, que imitava seus trejeitos.

Alegoria representando o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no desfile da Beija-flor, em 2003 – Foto: UOL

“A esperança venceu o medo”, brincava Neguinho da Beija-Flor durante o desfile, repetindo a frase que encerra o samba-enredo na gravação em CD e marcou a posse do presidente Lula.

Lula e Neguinho da Beija-Flor: “A esperança venceu o medo” – Foto: Agência Brasil

A Beija-Flor de Nilópolis conquistava o título de campeã do carnaval do Rio em 2003 depois de quatro vice-campeonatos consecutivos. Esta fora a sétima vitória da agremiação da Baixada Fluminense.

Grito forte de Palmares... Zumbi

Herói da Inconfidência... Tiradentes

Nas caatingas do Nordeste... Lampião

Todos lutaram contra a força da opressão

(Betinho, JC Coelho, Ribeirinho, Glyvaldo, Luis, Manoel, Serginho e Vinicius)

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7º lugar: ACADÊMICOS DO GRANDE RIO – “Prestes, o cavaleiro da esperança” (1998) Bandeira_do_Grande_Rio.jpg

A Acadêmicos do Grande Rio entrou na passarela do samba em 1998 para prestar uma homenagem ao maior líder comunista do Brasil no ano do centenário de seu nascimento: Luiz Carlos Prestes.

O enredo assinado por Max Lopes falava da vida e da trajetória de Prestes. Um dos destaques, por exemplo, foi para a Coluna Prestes, que sob seu comando percorreu milhares de quilômetros pelo interior do Brasil combatendo o governo. 

Luiz Carlos Prestes, em foto na década de 40.

Mais de 3.500 pessoas se encarregaram de apresentar a vida de um dos personagens mais importantes e polêmicos da história brasileira. A Grande Rio, como sempre, abusou das cores, corpos torneados e rostos globais conhecidos.

A escola de Duque de Caxias foi a oitava colocada no Grupo Especial.

Luiz do proletário

Carleando a nação

Enfrentou adversários

Fez do verbo o seu canhão

Sonhos de P de coragem

Cheio de C de paixão

(João Carlos, Carlinhos Fiscal e Quaresma)

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6º lugar: UNIDOS DA PONTE – “De Minas para o Brasil, o Mártir da Nova República” (2002) Bandeira_do_GRES_Unidos_da_Ponte.png

“O presidente escolhido / que nunca foi / poderia ter sido” diz um dos versos do belíssimo samba-enredo que a Unidos da Ponte homenageou e enalteceu Tancredo de Almeida Neves. A letra é pródiga em enaltecer Tancredo com epítetos, tais como “o estadista de São João Del Rey”, “o filho da democracia” e “o mártir de Minas Gerais”. O hino levou o Estandarte de Ouro de 2002 de Melhor Samba Enredo do Grupo A.

Quadro de Tancredo com a faixa presidencial, exposto no Memorial Tancredo Neves, em São João Del Rey-MG

O desfile contou com a presença de políticos, amigos e familiares do saudoso presidente, como Aécio Neves, então governador de Minas e sobrinho do homenageado.

A Unidos da Ponte, na ocasião presidida por seu ex-intérprete Wallace Coelho Álamo, também conhecido como Grillo, chegou na décima colocação do Grupo A.

Oh! Minas Gerais

Oh! Minas Gerais

Tancredo de novo, nos braços do povo

Não te esquecerei jamais

(Gugu das Candongas, Jefferson Martins, Nélio Marins, Pardal e Ito Melodia)

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5º lugar: INOCENTES DE BELFORD ROXO – “Do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro a Inocentes canta: Brizola, a voz do povo brasileiro” (2009)Bandeira_do_GRES_Inocentes_de_Belford_Roxo.png

A Inocentes de Belford Roxo foi a primeira escola de samba a prestar uma homenagem a Leonel de Moura Brizola na Sapucaí, o palco que ele idealizou e concretizou para a realização do carnaval carioca.

A campeã do Grupo B no ano anterior levou para a passarela do samba uma alegoria com o arco do Sambódromo, desenhado por Oscar Niemeyer, além de carros representando os CIEP’s – escolas de horário integral planejadas por Darcy Ribeiro e construídas graças à visão social e o permanente apoio que Brizola sempre deu à educação, carro chefe de suas realizações voltadas para o bem estar dos brasileiros.

Leonel Brizola no Rio Grande do Sul, quando retornou do exílio, em 1979.

Desfilou pela Inocentes, o então ministro do Trabalho e presidente do PDT à época, Carlos Lupi. O cortejo também contou com muitas crianças, outra prioridade das políticas públicas de Leonel Brizola.

No entanto, a apresentação da Inocentes foi prejudicada por uma série de erros graves, como atraso na montagem das fantasias – o que deixou muitos componentes de fora do desfile – baianas que entraram na avenida sem peças da fantasia e sem chapéu e que foram sendo arrumadas ao longo do desfile. Ao fim da apresentação, preocupados com o tempo, diretores de harmonia da escola apressaram os componentes e o último carro quase atropelou uma baiana. Aliás, a ala de baianas,conforme o regulamento do Grupo A, deveria ter um número mínimo exigido de 60 integrantes, mas a escola passou com 50 e depois  com nove “retardatárias” (chegaram depois).

Inocentes de Belford Roxo na Marquês de Sapucaí em 2009, com destaque para alegoria de Brizola.

Com todos esses problemas, a escola ficou em nono lugar no Grupo A, o que resultou no rebaixamento. O lado positivo da história foi a conquista do Estandarte de Ouro de Melhor Samba-Enredo no grupo e a atuação do consagrado intérprete Dominguinhos do Estácio, que fez sua estreia na escola, depois de ficar um ano fora do Carnaval.

Mostrando o seu valor

Na vida pública se consagrou

Do Sul para o Rio de Janeiro

Brizola... A voz do povo brasileiro

(Billy County, Ediespuma, Abilio Mestre-Sala, Licinho Jr., Marcelinho Santos e Alex Bahia)

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4º lugar: ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – “De Nonô a JK” (1981) bandeira-mangueira.jpg

Prestando um tributo ao presidente Juscelino Kubitschek a Estação Primeira de Mangueira foi a terceira a entrar na Marquês Sapucaí no carnaval de 1981. Mesmo sem apresentar alegorias exuberantes e de grande impacto visual, a escola desfilou com muita garra e entusiasmo. O enredo “De Nonô a JK” fazia uma homenagem ao ex-mandatário da nação (morto em acidente automobilístico cinco anos antes do desfile) e exaltava a construção de Brasília.

Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente do Brasil entre 1956 e 1961.

O desfile da verde e rosa, desenvolvido por uma comissão de carnaval, lembrou a infância de JK em Diamantina, a culinária e cultura do local e Brasília (“o sonho dourado”). A velha guarda mangueirense desfilou na frente do carro abre-alas que simbolizava “Peixe Vivo”, canção que se tornou a marca de Juscelino.

O ex-presidente foi representado pelo ator Humberto Fred, que também vestia um smoking em cima de uma pequena alegoria prateada simbolizando o monumento em homenagem ao ex-presidente na capital federal.

A Mangueira foi a quarta colocada no Grupo 1-A (atual Grupo Especial).

Juscelino Kubistcheck de Oliveira

De uma lendária cidade mineira

O grande presidente popular

(Jurandir da Mangueira, Comprido e Arroz)

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3º lugar: CAPRICHOSOS DE PILARES – “Eu prometo (Ajoelhou tem que rezar)” (1987) bandeira-caprichosos.jpg

A Caprichosos de Pilares vinha de uma série de enredos críticos e satíricos desde 1982. Com “Eu prometo”, a agremiação resolveu mergulhar fundo na política, criticando a demagogia dos políticos brasileiros e o seu oportunismo eleitoreiro. O carnaval foi assinado por Luiz Fernando Reis, carnavalesco responsável por implantar o estilo que consagrou a Caprichosos naquela década de 1980.

Ao mesmo tempo que satirizava a classe política, o enredo também abordava a esperança dos brasileiros por uma vida melhor. A escola levantava lebres, como as promessas irreais de políticos que prometiam mundos e fundos e viravam as costas para o povo que os havia elegido, e a escola também pretendia criticar a Assembleia Constituinte.

O cartão de visita da escola – e de certa maneira – a síntese do enredo era a comissão de frente, com quatorze integrantes fantasiados de Justo Veríssimo, personagem corrupto criado pelo humorista Chico Anysio.

Embora muito aguardada pelo público, a Caprichosos fez um desfile bem aquém em termos plásticos do que se esperava, o que acabou refletindo na sua colocação – apenas o décimo segundo lugar. Após esse carnaval, Reis se afastou da escola e a Caprichosos foi abandonando gradativamente a linha de enredos críticos, satíricos e debochados, que tinha se tornado a sua marca.

Seu deputado, eu votei

E agora posso exigir

Quero ver você cumprir

Seu lero lero, blá, blá, blá

Conversa mole isso aí

É papo pra boi dormir

(Evandro Bóia, Naldo do Cavaco e Toninho 70)

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2º lugar: ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – “O grande presidente” (1956) bandeira-mangueira.jpg; ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – “Anos trinta, vento sul – Vargas” (1985) Bandeira_do_GRES_Acadêmicos_do_Salgueiro.jpg; PORTELA – “Trabalhadores do Brasil, a época de Getúlio Vargas” (2000) Bandeira da PORTELA.jpg; UNIDOS DE VILA ISABEL – “Trabalhadores do Brasil” (2008) Bandeira_do_GRES_Unidos_de_Vila_Isabel.jpg

Poucos personagens exercem tanto fascínio no carnaval quanto Getúlio Vargas (1883-1954). O caudilho já foi retratado de várias maneiras: por sua trajetória política; de forma lírica, como um conto de fadas; pelo complexo período político enfocado a partir dele (que foi batizado como “A Era Vargas”); ou simplesmente para falar do assunto trabalho, tendo Vargas como esteio trabalhista.

Em 1956, a Mangueira escolhe o samba-enredo composto por Padeirinho em homenagem ao presidente Getúlio Vargas. Intitulado inicialmente “Exaltação a Getúlio Vargas”, o samba rende o terceiro lugar para a escola, sendo posteriormente gravado por Jamelão como “O Grande Presidente”, em 1960, para a época um registro raro de samba-enredo. A letra e a melodia fazem do samba uma verdadeira obra-prima, ainda hoje lembrada, seis décadas depois de composta. Uma verdadeira aula de história em 25 linhas.

Com “Exaltação a Getúlio Vargas”, a Mangueira conquistou o terceiro lugar.

No ano de 1883

No dia 19 de Abril

Nascia Getúlio Dorneles Vargas

Que mais tarde seria o governo do nosso Brasil

Ele foi eleito deputado

Para defender as causas do nosso país

E na revolução de 30 ele aqui chegava

Como substituto de Washington Luiz

(Osvaldo Vitalino – Padeirinho)

Quase trinta anos depois da Mangueira, o Salgueiro, em 1985, apresentou o enredo “Anos Trinta, Vento Sul – Vargas”, dos carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo. A escola se propôs a mostrar a saga política do estadista, tirando grande proveito plástico das tradições gaúchas. O enredo foi escrito como se fosse um poema medieval e a vida de Vargas foi carnavalizada ao extremo. Não faltaram referências à criação da Petrobrás, às leis trabalhistas e ao drama dos últimos dias de vida de Getúlio Vargas.

Plasticamente, o Salgueiro desfilou muito bem. A maior critica do desfile partiu justamente do salgueirense Fernando Pamplona: “Estou triste com o meu Salgueiro querido, porque depois de tantos anos cantando a liberdade, a escola homenageia um ditador fascista. E mais triste ainda porque isso me cheira a puxação de saco, coisa que o Salgueiro nunca fez”. O antigo carnavalesco da escola acusou a diretoria de tentar captar a simpatia do então governador Leonel Brizola, grande entusiasta de Vargas.

Na classificação oficial, a Acadêmicos do Salgueiro terminou na sexta colocação.

No palácio das Águias foi o senhor

Levantando o povo, trabalhador

Do solo fez jorrar o negro ouro

E a usina do aço, transformou em tesouro

Ô, ô, ô, ô Getúlio Vargas

O guerreiro vencedor

(Bala, Jorge Melodia e Jorge Moreira)

A Portela, última escola a se apresentar no primeiro dia de desfiles do Rio de Janeiro, no carnaval do ano 2000, trouxe Getúlio Vargas como tema principal do enredo desenvolvido pelo carnavalesco José Félix. Mesmo tratando de personalidade real (Getúlio Vargas), o enredo “Trabalhadores do Brasil – A época de Getúlio Vargas”, não era biográfico, devendo antes ser entendido como histórico, já que a proposta se pautava na Era Vargas, respeitando os fatos incluídos na historiografia oficial do Brasil.

Portela desfilando no sambódromo exaltando Vargas, no carnaval temático do ano 2000.

A Portela chegou em décimo lugar na colocação oficial em 2000.

Aclamado pelo povo, o “Estado Novo”

Getúlio Vargas anunciou

A despeito da censura

Não existe mal sem cura

Viva o trabalhador ô ô ô

(Amilton Damião, Ailton Damião, Edynel, Zezé do Pandeiro e Edinho Leal)

A Unidos de Vila Isabel é uma escola que tem afinidade com questões sociais. Em 2008 desenvolveu o enredo “Trabalhadores do Brasil”, do carnavalesco Alex de Souza. A escola contou no decorrer das alas a história de lutas e resistência do trabalhador brasileiro. AVelha Guarda representou a classe dos aposentados e questionou o sistema previdenciário no País. A Vila também falou sobre escravos, trabalhadores imigrantes, rurais e da indústria e também abordou a atuação de sindicatos, partidos e atuais bandeiras de luta da classe. E como não poderia ser diferente, a figura do ex-presidente Getúlio Vargas teve destaque no desfile.

A Vila terminou em nono lugar na classificação geral.

Voz de quem resistiu, a Era Vargas ouviu

Consolidar nossas conquistas,

Em direitos trabalhistas,

Comemora quem tanto lutou

(André Diniz, Bocão, Carlinhos, Pingüim, Dedé, Eduardo, Dinny, Miro e Carlinhos)

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1º lugar: IMPÉRIO SERRANO – “Heróis da Liberdade” (1969)

Se em 1967 o Salgueiro já havia desafiado a ditadura, que ainda não havia entrado em sua fase mais sombria, com o enredo “A História da Liberdade no Brasil” (cujo os ensaios foram acompanhados por agentes do DOPS), o Império Serrano, que tem a rebeldia em seu DNA, foi ainda mais longe em 1969.

Império Serrano adentra a Avenida Presidente Vargas com o mitológico desfile Heróis da Liberdade, de 1969.

Poucos meses após o decreto do AI-5 (que justamente empurraria o país para o buraco sem fundo das torturas, mortes e da corrupção da fase mais autoritária e terrível da ditadura), a escola saiu com o enredo “Heróis da Liberdade”, numa clara posição crítica ao regime. Por isso o samba precisou ser alterado – a palavra “revolução” teve de ser trocada, por exemplo, por “evolução”.

Destaque representando a Estátua da Liberdade

 O que falar sobre o samba de Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira? Chamar de hino parece ser muito pouco, mas o fato é que o samba realmente tornou-se um hino de celebração à liberdade e de homenagem a outros sambistas.

Tiradentes, o Mártir da Independência, foi um dos heróis retratados no desfile da Serrinha

No primeiro carnaval pós-AI-5, a Império Serrano obteve a terceira colocação.

Ao longe, soldados e cantores

Alunos e professores

Acompanhados de clarins

Cantavam assim:

Já raiou a liberdade

A liberdade já raiou

Essa brisa que a juventude afaga

Essa chama que o ódio não apaga pelo universo

É a REVOLUÇÃO           

Em sua legítima razão”. 

(Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Manoel Ferreira)

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Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)

rixxajr@yahoo.com.br