PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna do Rixxa Jr.

O QUE HÁ ENTRE UMA "TRADIÇÃO" E UM "GRANDE RIO"

27 de abril de 2010, nº 25, ano VI

Duas escolas de samba do carnaval carioca estão fortemente centradas no marketing que a diretoria faz. Tradição e Acadêmicos do Grande Rio são escolas de uma mesma geração. Ambas surgiram na década de 1980, começaram grandiosas e tiveram ascensões meteóricas na transição dos grupos de acesso até a elite do carnaval. Para deixar evidente que estavam dispostas a disputar os primeiros lugares, efetuaram aquisições a peso de ouro, como intérpretes de ponta, supercarnavalescos, legendários mestre salas e porta-bandeiras, experientes coreógrafos para as comissões de frente, consagrados diretores de bateria, etc. Outra característica comum é que ambas agremiações se preocuparam em atrair para si tanto a atenção dos bambas quanto os holofotes da mídia e da opinião pública.

A Tradição se mostra hábil em polêmicas, provocações e enredos de apelo popular. Seus desfiles já abordaram a trajetória de ídolos populares brasileiros como Natal da Portela, Ayrton Senna, Sílvio Santos e Ronaldo Nazário. As musas Luma de Oliveira e Suzana “Tiazinha” Alves estiveram à frente dos ritmistas e ocuparam o posto de rainha de bateria. A escola do Condor de Campinho reeditou um samba enredo da Portela, outro do Salgueiro e dois de sua própria cepa, e foi uma das pioneiras naquilo que se denominou “comissão de carnaval” (reunião de vários artistas de alto nível para desenvolver um tema para uma mesma escola). Colecionou ascensões e rebaixamentos, angariou simpatias e antipatias, mas nunca esmoreceu nem se mostrou indiferente. Após um início promissor e de ter sido considerada a nova esperança do samba em Madureira, a Tradição perdeu terreno, diminuiu seu glamour e hoje patina para se manter na terceira divisão do carnaval carioca.

A Acadêmicos do Grande Rio é uma escola de excelente poder econômico. A entidade é bastante criticada por levar excesso de artistas e celebridades para a avenida (principalmente os da TV Globo) e pelos excelentes resultados na comissão julgadora, graças ao pesado investimento do patrono Jayder Soares e ao Sr. Milton Abreu do Nascimento, mais conhecido como Milton Perácio, que foi o primeiro presidente da escola. A tricolor de Duque de Caxias beliscou muito de perto o caneco, obtendo por três vezes o vice-campeonato. Em 2005, perdeu o título por 1 minuto. A escola se vale de patrocínios e de merschandising para aumentar sua receita financeira para poder viabilizar seus desfiles técnicos e grandiosos, e pagar seus destaques, adquiridos a peso de ouro.

Vamos relembrar alguns momentos marcantes da escola de Caxias e da agremiação de Campinho.

ISTO SIM É A TRADIÇÃO! - Origens

No segundo semestre de 1984, um movimento de dissidência na Portela fez surgir a escola de samba Tradição. Nésio Nascimento, filho do saudoso Natal, foi um dos líderes do movimento. Junto com ele, estiveram, entre outros nomes, Léa, Odiléa, Tureca, Mazinho, João Nogueira, Vilma Nascimento e Paulo César Pinheiro. Após o carnaval daquele ano, sete alas foram eliminadas da Portela pelo então presidente Carlinhos Maracanã. Os diretores Paulo Tavares, Mauro Tinoco, Sérgio Aiub, César Augusto Ferreira, Vera Lúcia Correa e Jorge Paes Leme se incorporaram à nova escola que, fundada no dia 1º de outubro de 1984, reunia outras figuras importantes, como Tia Vicentina (irmã de Natal), Marlene (filha de Nozinho) e a já citada Vilma, a mais famosa porta-bandeira da história do carnaval. Nésio procurou então Maria Augusta e a convidou para assumir o departamento de carnaval. Ela sugeriu que se reunisse um grupo de artistas plásticos para fazerem o carnaval da escola. Era os primórdios daquilo que 15 anos mais tarde seria chamado pela Beija-Flor de “comissão de carnaval”. Os carnavalescos escolhidos – e que participaram em conjunto até 1987 – foram, além de Maria Augusta, Edmundo Braga, Lícia Lacerda, Paulino Espírito Santo, Rosa Magalhães e Viriato Ferreira. Esse dream team da folia teve ainda como assistente o mineiro João Rosendo, que seria o responsável pelo desfile de 1988, o primeiro pós-departamento de carnaval.

O primeiro nome da escola foi Sociedade Cultural e Recreativa Portela Tradição. Logo em seguida, devido a processos na Justiça, este foi mudado para S.C.R. Amor e Tradição, para, finalmente, ser batizada com o nome de G.R.E.S Tradição. Nésio convidou os compositores João Nogueira e Paulo César Pinheiro para a composição do samba enredo da escola. A dupla apresentou um samba já gravado chamado “Xingu” (que está no LP Pelas terras do pau-brasil, de João Nogueira), que acabou se transformando no tema-enredo “Xingu, pássaro guerreiro”. Após a criação, a escola se inscreveu na Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ) e ingressou no grupo 2-B (quarta divisão do carnaval carioca, atual Grupo RJ-2). A agremiação teve uma das ascensões mais rápidas da história dos desfiles do Rio de Janeiro, começando pelo Grupo 2-B e chegando ao atual Grupo Especial em 3 anos. A idéia original da escola era reviver a tradição do samba “que havia sido perdida em Madureira”.

1985

A Tradição é convidada a inserir seu samba “Xingu” no disco oficial de sambas enredo do Grupo 1-B. Na época, a escola ainda chamava-se Portela Tradição, o que gerou um processo movido pela águia azul e branca de Madureira. A faixa (que era abertura do LP) constava na hoje raríssima primeira prensagem do referido disco. Nas demais prensagens, a faixa foi suprimida. A Tradição desfilou na Avenida Rio Branco e causou comoção pelo luxuoso e deslumbrante desfile apresentado. A escola conquistou o título e o direito de ascender para o grupo 2-A no ano seguinte. A porta-bandeira Vilma Nascimento retornava à avenida e a escola apresentou seu símbolo: o condor, em analogia à águia da escola-mãe Portela. Segundo Nésio, o condor é uma ave que “voa mais alto do que a águia”.

1986

Novo carnaval-show proporcionado pela Tradição na Avenida Rio Branco. Com o enredo “Rei Sinhô, Rei Zumbi, Rei Nagô”, a escola somou 207 pontos e venceu o campeonato no Grupo 2-A, obtendo, junto com a Lins Imperial, o direito de desfilar no Grupo 1-B em 1987 e finalmente estrear na Marquês de Sapucaí. 

1987

O projeto do presidente Nésio era desfilar no Grupo Especial em 1988, quatro anos após a fundação da Tradição. E, no certame, travar uma luta pessoal contra a Portela. Para provocar sua ex-escola, Nésio pensou em um enredo homenageando seu pai, Natalino Jose do Nascimento, o Natal, o maior de todos os presidentes da Portela. No entanto, Nésio decidiu antecipar em um ano a homenagem. Com um samba inspiradíssimo, de autoria da dupla João Nogueira & Paulo César Pinheiro, a escola estreou na Marquês de Sapucaí apresentando um desfile magistral. No final da apuração, houve um empate no primeiro lugar do Grupo 1-B entre a Tradição e a Unidos da Tijuca. A escola do Morro do Borel acabou sagrando-se campeã pelo critério do desempate no quesito bateria, já que a “furiosa” da Tijuca era regida por nada menos do que Mestre Marçal. Na prática, o desempate serviu apenas para definir a ordem de desfile do carnaval do ano seguinte: a Tijuca seria a primeira a pisar na avenida no domingo e a Tradição, a primeira a desfilar na segunda-feira. O samba “Sonhos de Natal” foi agraciado pelo júri do jornal O Globo com o prêmio Estandarte de Ouro. Cenas deste desfile da Tradição estão no filme Natal da Portela (1988), de Paulo Cesar Saraceni.

1988

Mesmo não sendo um desfile temático, várias escolas do Grupo Especial decidiram falar sobre o centenário da abolição da escravatura, no carnaval de 1988. Exaltando a miscigenação do povo brasileiro, a Tradição apresentou “O melhor da raça, o melhor do carnaval”. Com a extinção do Departamento de Carnaval, conforme acordo previsto em função do retorno dos artistas às suas escolas de origem, João Rosendo assinou sozinho o carnaval. No esperado confronto particular entre Tradição e Portela, a segunda se deu melhor, chegando em quinto lugar, enquanto a Tradição obteve uma heróica oitava posição.

1989

A Tradição não realizou uma boa apresentação naquele ano na Sapucaí, com várias falhas de evolução e concepção de fantasias e alegorias. O resultado foi o 16º lugar e, por conseguinte, o rebaixamento para o Grupo 1-B. Como diferencial de desfile, a escola trouxe a cantora Simone no carro de som, auxiliando o então puxador Kandanda na condução de “Rio, samba, amor e Tradição”, última obra composta pela dupla João Nogueira/Paulo César Pinheiro para a escola.

1990

“A coroação” foi um enredo sobre a festa do maracatu. Mesmo luxuoso, o desfile não fez com que a Tradição retornasse ao Grupo Especial. O quarto lugar provocou frustração em seus componentes e admiradores, que esperavam que a escola voltasse à elite do carnaval no ano seguinte.

1991

A escola conquista o título do Grupo 1-B e o direito de voltar ao Grupo Especial com o enredo “De geração a geração nas asas da Tradição”, assinado por Jorge Luiz Vilela.

1992

A Tradição apresentou um dos sambas mais bonitos do carnaval daquele ano: “O espetáculo maior... as flores”. No entanto, o desfile foi um fiasco e a escola amargou novo rebaixamento. A Tradição já temia ser considerada uma escola ioiô.

1993

A escola vence o Grupo 1-B, com o enredo “Não me leve a mal, hoje é carnaval”.

1994

Este é considerado o melhor desfile da história da escola e o sexto lugar sua melhor colocação. Foi a única vez que a Tradição retornou no Sábado das Campeãs desfilando pelo Grupo Especial. “Passarinho, passarola, quero ver voar” pode não ser o melhor, mas é o samba que mais marcou a trajetória da agremiação. A Tradição trazia de volta uma antiga colaboradora, Lícia Lacerda, que estava afastada do carnaval há alguns anos. E, pela primeira vez, a escola do Campinho obteve uma classificação melhor do que a Portela.

1995

Se no ano anterior, a Tradição falou de quem voava, em 1995, a idéia era reverenciar quem andava sobre rodas. O enredo “Gira roda! Roda gira” tinha como proposta também ser uma homenagem ao piloto brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna, falecido em maio de 1994.  

1996

A escola é rebaixada (16º lugar) com o enredo “Do barril ao Brasil”. A carnavalesca Lícia Lacerda foi demitida semanas antes do desfile.

1997

O resultado final do carnaval de 1997 foi polêmico. Tradição, Caprichosos de Pilares e São Clemente terminaram empatadas em primeiro lugar, todas com 178 pontos. Critérios de desempate deram para as agremiações azul e branco as duas vagas para o Grupo Especial em 1998. A São Clemente acabou em terceiro, não subiu ao grupo principal, mas foi convidada a participar no Desfile das Campeãs e brigou na Justiça para estar na elite do carnaval no ano seguinte, o que acabou não acontecendo. A Tradição sofreu críticas por apresentar, durante seu desfile, alas supostamente sem fantasias e carros alegóricos sem acabamento.  

1998

Mais uma polêmica envolvendo a Tradição. Naquele ano, a rainha de bateria Luma de Oliveira desfilou com uma coleira, com a inscrição "Eike", uma referência ao empresário Eike Batista, seu marido na época. A modelo foi criticada por setores feministas por estar difundindo uma imagem de submissão feminina. Luma argumentou dizendo que "mulher submissa não desfila em escola de samba".

1999

Com a saída de Luma de Oliveira como rainha de bateria, a Tradição contratou para o posto a musa sado-masoquista dos adolescentes da época: Suzana Alves, que estava no auge do sucesso na tevê com o personagem Tiazinha. Durante o desfile, quando os ritmistas se aproximaram do recuo, um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas invadiu a pista para registrar a performance da modelo, que desfilou com a máscara, o chicote e a cinta-liga que lhe deram fama. Suzana Tiazinha estampou todas as capas de revistas e reportagens sobre carnaval. A Tradição, por tabela, também.

2000

Com “Liberdade! Sou negro, sou raça, sou Tradição”, a escola obtém o 12º lugar.

2001

Mais um golpe de mestre de Nésio Nascimento, em sua conhecida habilidade em atrair as atenções do público para a sua escola. A Tradição ousou ao levar para o sambódromo o enredo “O homem do baú - Hoje é domingo, é alegria, vamos sorrir e cantar!”, uma homenagem ao apresentador de TV e empresário Sílvio Santos. Foi o ano que a escola mais atraiu a atenção do grande público. Além de Sílvio, a Tradição também levou para o desfile figuras folclóricas do SBT, como, por exemplo, o locutor Lombardi, a apresentadora Hebe Camargo e o elenco de humoristas do programa A Praça é Nossa. No período pré-carnavalesco, a Globo não contemplava a exibição do samba da Tradição em horário nobre. Entretanto, o samba assinado por Lourenço e Adalto Magalha era executado constantemente durante os intervalos da programação do SBT nos meses anteriores ao carnaval. Na hora do desfile, o povo já conhecia muito bem a letra, o que certamente ajudou bastante a Tradição. O oitavo lugar foi a segunda melhor colocação da escola no Grupo Especial.

2002

O desfile “Os encantos da Costa do Sol” rende à escola o 13º lugar.  

2003

Na carona do ufanismo provocado pela conquista do pentacampeonato da Seleção na Copa do Mundo de 2002, a escola resolveu atrair a atenção da mídia e do público anunciando uma homenagem ao craque de futebol Ronaldo Nazário. O jogador, no entanto, não foi autorizado pelo seu clube – na época, o Real Madrid – a desfilar no carnaval e sequer deu os ares no sambódromo.

2004

Mais uma provocação carnavalesca de Nésio. No ano em que a Liesa autorizou as escolas a reeditarem sambas enredo antigos, a Tradição resolveu relembrar a obra-prima “Contos de Areia”, que sua rival Portela levou à avenida em 1984. O argumento do dirigente foi de que o samba mencionava seu pai, um dos três baluartes portelenses homenageados no enredo. No CD, o samba foi cantado pela mangueirense Alcione, que aceitou gravar a faixa devido a sua intensa e eterna amizade com a saudosa Clara Nunes. No entanto, a Marrom não o cantou na avenida, cuja responsabilidade foi reservada ao intérprete Wander Timbalada e ao compositor Lourenço.

2005

A escola chega em 14º lugar e é rebaixada, com o enredo “De sol a sol, de sol a soja - Um negócio da China!”.

2006

Mais um dos incontáveis atrevimentos de Nésio. O presidente da Tradição foi ousado em se apoderar do samba “Bahia de todos os deuses” (1969), uma grife do Salgueiro, presente em qualquer antologia que se preze. Neste ano, a agremiação proporcionou também a estréia do puxador Igor Vianna, filho do saudoso Ney Vianna da Mocidade.

2007

Pela terceira consecutiva, a Tradição apostava numa reedição de enredo. Desta vez, apelava para um tema de seu próprio repertório, o samba “Passarinho, passarola, quero ver voar” (1994). A escola passava por dificuldades, de maneira que Nésio Nascimento, admitia que ela poderia nem entrar na Passarela do Samba em razão de dificuldades financeiras. A escola passou. No entanto, foi novamente rebaixada, desta vez para o Grupo B.

2008

A agremiação de Campinho antecipou seu jubileu de prata em um ano para contar e reviver sua própria história. Na chegada ao Grupo B, a escola acabou ficando na 7ª posição.

2009

Com “Saquarema, princesinha da Costa do Sol. De capital do surfe à casa do vôlei”, a escola chega em 9º lugar no Grupo RJ-1.

2010

Novamente a escola recorre a uma reedição. Desta vez, finalmente, uma das obras-primas da dupla João Nogueira e Paulo César Pinheiro para a agremiação de Campinho, foi contemplada: “Rei Sinhô, Rei Zumbi, Rei Nagô”, que foi desenvolvido em 1986 por Maria Augusta e comissão de carnaval. A agremiação do Condor ficou em 7º lugar na terceira divisão do carnaval carioca (Grupo RJ-1).

+++++++++++++++++++++++

 

IMPONHO, SOU GRANDE RIO – Origens

A Acadêmicos do Grande Rio é herdeira e sucessora de várias agremiações originárias de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na década de 1950, a escola de samba Cartolinhas de Caxias teve uma participação efetiva no carnaval carioca, participando do grupo de elite nos anos de 1951, 1958 e 1959, e sendo muito respeitada pelo mundo do samba. Seu último desfile aconteceu em 1971, já pelos grupos intermediários. Na época, houve uma forte mobilização na cidade em fundar uma grande agremiação que representasse dignamente o município. Os dirigentes das escolas Cartolinhas de Caxias, Capricho do Centenário, União do Centenário e Unidos da Vila São Luís resolvem se unir e, dessa fusão, surge o GRES Grande Rio, em 1971.

Em 22 de março de 1988, com o apoio de políticos, sambistas e de toda a sociedade caxiense, a Grande Rio, que estava no Grupo 3 (quinta divisão do carnaval do RJ) fundiu-se à Acadêmicos de Caxias, dando origem à atual Acadêmicos do Grande Rio. Milton Abreu do Nascimento, conhecido como Milton Perácio, foi eleito presidente, e decidiu que a escola deveria ter um patrono e um presidente de honra, que teria que ser uma pessoa de influência para ajudar ou mesmo financiar o carnaval da escola. O empresário Antônio Jaider Soares da Silva aceitou o desafio e passou a ser o presidente de honra da escola. O deputado Messias Soares foi escolhido o patrono da agremiação.

A Acadêmcios do Grande Rio filiou-se à Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro e entrou direto no Grupo 2-A (terceira divisão do carnaval carioca). Na estreia, em 1989, a escola já subiu de grupo, com o enredo "O mito sagrado de Ifé" passando para o Grupo de Acesso A. Após um período de firmar o nome e de se estabilizar como escola de samba, a Grande Rio passou a investir em temas enredos históricos e culturais, com sambas classudos, de notável qualidade. Essa fase perdurou até a virada dos anos 1990/2000. Já no início da primeira década do século 21, a escola passou a investir em enredos patrocinados, efetuar contratações a peso de ouro como carnavalescos, intérpretes, diretores de bateria, rainhas de bateria e outros destaques, e chegando ao extremo da chamada “profissionalização do carnaval”. Em vez de tradição e samba no pé, poderio econômico e acúmulo de artistas de televisão e pseudo-celebridades.

1990

Com o enredo “Porque sou carioca”, sobre a cidade do Rio de Janeiro, a escola foi vice-campeã do Grupo 1-B e subiu para o Grupo Especial. A Grande Rio impressionou pelo extremo luxo das fantasias e pelo gigantismo das alegorias. O samba, puxado por Dominguinhos do Estácio, contagiou o público.

1991

Para sua estréia no Grupo Especial, a Grande Rio apresentou o tema “Antes, durante e depois, o despertar do homem” e teve pinta de escola grande, com carros e fantasias luxuosas. Para o desfile, foram contratados o intérprete Dominguinhos do Estácio (ex-Estácio e Imperatriz), o diretor de bateria Mestre Paulão (egresso da União da Ilha) e o experiente casal de mestre-sala e porta-bandeira Élcio PV e Dóris. Apesar do belo visual, a escola teve sérios problemas em evolução, com visíveis buracos entre as alas e a aceleração dos componentes. O momento mais grave foi observado a partir da indecisão da bateria em entrar ou não no boxe. Preocupados com o tempo, os dirigentes optaram por não recuarem a bateria e o resultado foi um enorme buraco, que prejudicou todo o conjunto da escola. A escola chegou na 16ª colocação e voltou para o Grupo de Acesso A.

1992

“Águas claras para um rei negro” foi um desfile maravilhoso. Embalada por samba extraordinário, a escola desenvolveu um tema afro, lindas alegorias e uma apresentação tecnicamente perfeita. Com isso, reconquistou o direito de competir no desfile principal, sendo a campeã do Acesso.

1993

Na volta ao Especial, a Grande Rio investiu 500 mil dólares para desenvolver o tema “No mundo da lua”. Entre as contratações para aquele carnaval, estavam o intérprete Nêgo (ex-Unidos da Tijuca) e o carnavalesco Alexandre Louzada (que teve passagens por Portela, União da Ilha, Unidos do Cabuçu e Caprichosos). Com um bom samba enredo, que resultou da criticada fusão de três outros sambas, assinado pelo total de dez autores, os cinco mil componentes da escola misturaram astrologia e lendas nativas para cantar, ao desenrolar de 52 alas, as fábulas da lua. O samba tornou-se um hino para os caxienses, que o cantam sempre no "esquenta" da escola. A GR chegou em 9º lugar.

1994

Com um dos sambas mais “carregados” da história do carnaval carioca, – “Os santos que a África não viu” – a Grande Rio contou a história da umbanda pela visão da entidade Zé Pelintra e obteve o Estandarte de Ouro de melhor enredo, mas enfrentou problemas com as autoridades eclesiásticas. O barracão da escola, inclusive, foi vistoriado, devido a uma denúncia de que a escola sairia com imagens sacras.

1995

A Grande Rio transformou o ciclo da borracha na Amazônia em conto de fadas. O desfile, no entanto, mostrou-se confuso e não agradou. Por muito pouco, a escola não foi rebaixada (chegou em 13ª colocação entre 15 escolas). A agremiação trouxe a modelo e atriz Andréa Guerra (protagonista da minissérie da TV Globo “A desinibida do Grajaú), como rainha da bateria.

1996

Graças ao samba “Na era dos Felipes, o Brasil era espanhol”, a receptividade de público foi excelente e o samba virou antológico para a escola, cujo refrão é conduzido até hoje como alusivo (Imponho / Sou Grande Rio... amor / Dando um banho de cultura... eu vou / Pro abraço da galera... me leva / Lindo como um pôr-do-sol eu sou). A modelo e atriz Mônica Carvalho foi a rainha de bateria.

1997

A tricolor de Caxias apresentou um lindo samba sobre a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, em Rondônia. O enredo foi desenvolvido novamente por Alexandre Louzada. Uma das celebridades da escola, a policial e modelo Marinara Costa, desfilava numa cadeira de rodas. À frente dos ritmistas, estava a modelo Monique Evans, a precursora das chamadas rainhas de bateria. Mestre Maurício, um dos diretores da bateria da Grande Rio, bastante emocionado, sentiu-se mal no início do desfile e veio a falecer dias depois. A escola encerrou o desfile de forma dramática. Seu último folião atravessou a área que delimita o fim do Sambódromo a menos de 30 segundos do tempo permitido. Por pouco, a Grande Rio não estourou o seu tempo, o que acarretaria perda de pontos.

1998

Naquele carnaval, a Grande Rio apresentou “Prestes, o cavaleiro da esperança”, um samba muito popular (que continha o refrão arrasta-povo “Ah! Eu tô maluco, amor...”) e marcou presença principalmente pelo seu tema, um dos mais politizados deste ano: o centenário de nascimento de Luiz Carlos Prestes. Para desenvolver o enredo, a escola contratou o carnavalesco Max Lopes, o mago das cores. A escola recebeu muitas críticas ao colocar a líder dos sem-terra, Débora Rodrigues, como destaque de um carro alegórico, causando a insatisfação da família do ex-líder comunista. Com esse desfile, a Grande Rio começou a despontar como escola popular e dos artistas globais.

1999

A escola homenageou o empresário da comunicação Assis Chateaubriand, o grande nome da mídia no Brasil na metade do século 20. O carnaval foi muito rico e competitivo, que deu à GR o sexto lugar. A modelo e hoje apresentadora de tevê Luciana Gimenez desfilou grávida em cima do carro alegórico das festas juninas, mostrando a barriga e o corpo escultural. O posto de rainha da bateria ficou a cargo da atriz global Danielle Winits.

2000

No carnaval das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, a Grande Rio levou como rainha de bateria a atriz e modelo Susana Werner, na época casada com o jogador Ronaldo Nazário. O assédio da imprensa ao ator Thiago Lacerda (que na época fazia sucesso protagonizando a novela Terra Nostra, da TV Globo) prejudicou o desfile da escola.

2001

A Grande Rio contratou o legendário carnavalesco João Jorge Trinta para desenvolver o enredo sobre o Profeta Gentileza, personagem popular no Rio de Janeiro. Para a condução do samba, a escola trouxe o puxador Quinho (ex-União da Ilha e Salgueiro). A escola fechou o desfile, já na manhã de terça-feira, com um homem voador importado dos Estados Unidos. O dublê norte-americano Eric Scott voou sobre a Sapucaí, com um foguete portátil de US$ 120 mil nas costas.

2002

Mais um enredo de Joãosinho Trinta. Desta vez, “Os papagaios amarelos nas terras encantadas do Maranhão”, era uma espécie de releitura do enredo “Rei de França na Ilha da Assombração”, apresentado pelo Salgueiro, em 1974, de autoria do próprio artista sobre seu estado natal. A apresentadora e modelo Luciana Gimenez foi a rainha de bateria da escola.

2003

A Grande Rio mergulha de cabeça na era dos enredos patrocinados. A escola enfocou a história da mineração no Brasil, com o patrocínio da Companhia do Vale do Rio Doce, com muito luxo e fantasias bem elaboradas. Para reforçar o carro de som, a escola contratou o intérprete Wander Pires (ex-Mocidade). O terceiro lugar obtido pela GR  foi a grande surpresa do carnaval, que, pela primeira vez, voltou no sábado das campeãs.

2004

Um carnaval polêmico, provocativo, bem ao estilo de Joãosinho. Sob o patrocínio de empresas de preservativos, a escola apresentou o enredo “Vamos vestir a camisinha, meu amor!”. Por decisão judicial, a escola teve dois carros censurados, que passaram na avenida cobertos. Alas homenagearam o Movimento GLS, alegorias mencionavam os prazeres nas casas noturnas e fantasias representavam doenças sexualmente transmissíveis. A Grande Rio encerrou o desfile fazendo uma homenagem a Chacrinha, que sempre divulgou o uso do preservativo. A rainha de bateria foi a atriz global Deborah Secco. João 30 acabou demitido pela agremiação momentos antes da apuração do resultado. A Grande Rio obteve apenas o 10º lugar.

2005

Com “Alimentar o corpo e a alma faz bem”, o patrocínio da vez foi da Nestlé. A escola contratou o carnavalesco Roberto Szaniecki, que desenvolveu um desfile alegre, com carros bem construídos. A bateria, a cargo de Mestre Odilon, teve um excelente desempenho. A Grande Rio misturou realidade e ficção. A escola levou para a avenida uma legião de atores da novela Senhora do Destino, que gravou cenas do desfile para recriá-lo como sendo da fictícia escola Unidos de Vila São Miguel. A rainha de bateria foi a atriz Suzana Vieira. O desfile, tecnicamente correto, rendeu à escola o terceiro lugar.

2006

Falando sobre o Amazonas, a Grande Rio conquista o seu melhor resultado: o vice-campeonato, pois perdeu dois décimos por exceder o tempo máximo de desfile em 1 minuto (após o empate em número de pontos, a Vila Isabel, venceu por ter melhores notas no quesito de desempate). Ou seja: a tricolor da Baixada perdeu o título por um minuto, apesar de apresentar carros alegóricos luxuosos e ricos em detalhes.

2007

Com o enredo “Caxias, o caminho do progresso, o retrato do Brasil”, a Grande Rio conquista o bi-vice-campeonato, falando da sua cidade, Duque de Caxias. A ex-BBB Grazi Massafera fez sua estreia como rainha de bateria, comandada por mestre Odilon. O ator José Wilker representou o político Tenório Cavalcanti, um dos personagens homenageados pela escola (e que o ator já tinha vivido no cinema). A GR ainda reverenciou o sambista Zeca Pagodinho e o diretor de carnaval da escola, Milton Perácio, um dos fundadores da agremiação.

2008

Outro bom momento da escola, que rendeu o terceiro lugar no Grupo Especial. “Do verde de Coari vem meu gás, Sapucaí!” abordou na avenida a importância do gás em nosso dia a dia, homenageando a cidade de Coari, no Amazonas.

2009

O novo carnavalesco contratado pela escola, Cahê Rodrigues, assinou o enredo que contou a história da França com seus costumes. Paola Oliveira fez sua estreia como rainha de bateria, comandada por mestre Odilon. Para liderar o carro de som, a escola contratou Wantuir.

2010

Com o patrocínio da cervejaria Brahma, a tricolor da Baixada Fluminense trouxe o enredo "Das arquibancadas ao camarote número 1, um Grande Rio de emoção, na apoteose do seu coração", e reviveu os melhores carnavais realizados na Sapucaí. A agremiação terminou sendo vice-campeã.