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QUANDO O RIO DAVA SAMBA
Gatinha que dança é
essa Esses versos, que fizeram sucesso recentemente com o grupo
de pagode Exaltasamba, na verdade, formavam o refrão da “Dança do Bole-Bole”,
música de abertura de um dos programas de televisão mais significativos para a
comunidade carnavalesca: “Rio Dá Samba”, apresentado pelo músico, compositor e
produtor musical João Roberto Kelly. Kellinho, como era conhecido no meio artístico, foi uma espécie de menino-prodígio. Aos onze anos, começou a aprender piano com a mãe e com a avó. Em 1957, aos 20 anos, após estudar música em conservatórios e bacharelar-se em Direito, escreveu uma peça para teatro de revista. Em seguida, passou a compor para estrelas da MPB, com Elza Soares e Elizeth Cardoso. Em 1963, passou a musicar aberturas de programas de televisão. Na seqüência, lançou várias marchinhas de sua autoria que se tornaram grandes sucessos nos carnavais, como “Cabeleira do Zezé” (com Roberto Faissal), “Joga a chave, meu amor”, “Mulata iê-iê-iê” e “Rancho da Praça Onze” (com Chico Anísio).
Entre as décadas de 1970 e 1980, percorreu diversas
cidades brasileiras com o espetáculo “Rio dá samba – Kelly e mulatas”. O show
era uma espécie de teatro rebolado com um elenco de mulatas oriundas das
escolas de samba e a trilha musical formada por sambas e marchinhas de
carnaval, a exemplo do que fazia o produtor Oswaldo Sargentelli. Na mesma
época, passou a apresentar, na TV Rio, a versão televisiva do Rio dá
Samba. Em 1980, quando passou a
trabalhar na Riotur e se tornou um dos responsáveis pelos desfiles do carnaval
do Rio de Janeiro, João Roberto Kelly levou o programa para a TV Bandeirantes,
com abrangência nacional. “Rio Dá Samba” foi um prato cheio
para os amantes da folia. Com a promessa de fazer do carnaval de 1981 o “maior
carnaval da história do Rio de Janeiro”, o apresentador não poupou esforços. O
formato era o mesmo dos programas de auditório da época (Buzina do Chacrinha,
Clube do Bolinha, Programa Barros de Alencar, Programa Carlos Imperial), com um
elenco de dançarinas. As atrações, predominantemente musicais, ora se
apresentavam ao vivo – acompanhadas pela banda do programa, o Grupo Buraco
Quente – ora dublavam com playback.
Personalidades do carnaval eram entrevistados. Puxadores, passistas, destaques,
dirigentes, carnavalescos e personagens famosos ligados às escolas marcavam
presença semanalmente. O corpo de baile era formado por mulatas tipo exportação
que enlouqueciam a audiência, principalmente a masculina. Se Rita Cadillac era
a chacrete-símbolo do elenco do Velho Guerreiro, e Zulu (a bailarina que não
sorria nunca) era o destaque entre as boletes de Edson “Bolinha” Cury, a
passista Graça Portelão (que tinha esse apelido porque havia sido descoberta no
desfile da Portela em 1980) fazia a linha de frente do Rio Dá Samba: uma
exuberante e curvilínea mulata, ao estilo Adele Fátima. Ah, o “diretor de
harmonia” do programa era nada mais, nada menos do que o senhor José Bispo
Clementino dos Santos. Isso mesmo! Jamelão era figurinha carimbada nas tardes
de sábado, ora cantando os legendários sambas enredo da Mangueira, ora cantando
o fino da música dor-de-cotovelo.
Castiga a viola, paciência Os versos acima eram da vinheta do programa que, em ritmo
de partido-alto, chamava os intervalos comerciais. Mais ou menos o que o “roda,
roda, roda e avisa...1 minuto de comercial...alô, alô, Terezinha...é um barato
a Buzina do Chacrinha!” significava para o programa de Abelardo Barbosa. Já que citamos Chacrinha, Abelardo Barbosa estava na TV
Bandeirantes, onde apresentava a sua “Buzina” e sua “Discoteca”, e lançou a
marchinha “Maria Sapatão” (parceria com Kelly e que ainda hoje faz sucesso em
bailes de salão)
Destaque para o pré-carnaval
Mas o grande barato do Rio Dá Samba era mostrar o período
pré-carnavalesco e toda a preparação das escolas de samba, desde o anúncio dos
enredos, passando pela divulgação das ordens de desfiles e a apresentação dos
concorrentes de samba enredo. O programa estreou no final do primeiro semestre
de 1980, e sempre era recheado com entrevistas de carnavalescos e dirigentes
que informavam, passo a passo, os preparativos para os desfiles. Na época das
disputas, os compositores iam até o programa e mostravam as obras concorrentes. Lembro-me de ter visto Zé Catimba apresentar, em primeira mão, o samba “Só dá Lalá”, que viria a ser escolhido pela Imperatriz Leopoldinense, em 1981. David Corrêa também era figura fácil no Rio Dá Samba, tanto por relembrar os bem-sucedidos “Incrível, fantástico, extraordinário” (1979) e “Hoje tem marmelada” (1980) e apresentou seu “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”, um dia depois ter sido consagrado na quadra da Portela. O programa também anunciou e mostrou, com exclusividade, a fusão proposta por Laíla – na época diretor de harmonia da Unidos da Tijuca – para o tema “O que dá pra rir, dá pra chorar”.
Em seu programa, João Roberto Kelly também abria espaço
para a divulgação dos bailes carnavalescos, dos concursos de fantasias, dos
desfiles das escolas de Niterói (Silvinho do Pandeiro cantava “Amor em tom
maior”, da Viradouro, e Flavinho Machado interpretava “Fruto do amor proibido”,
da Cubango) e outros eventos da cidade, como o famoso e tradicional Banho de
Mar à Fantasia. Ao todo, Rio Dá Samba esteve no ar entre o final do primeiro semestre de 1980 até o início de fevereiro de 1982 (vésperas do carnaval daquele ano) e deixou uma lacuna na programação carnavalesca televisiva, que só foi preenchida quando a TV Manchete (1982-1999) botou o bloco na rua pela primeira vez, na inauguração do sambódromo, em 1984. Mas isso é assunto para outra coluna. Rixxa Jr. |
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