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Coluna do Rixxa Jr.

SAFRA DE SAMBAS PARA 2007 É BOA, MAS NADA DE ANTOLÓGICA

Às vésperas da gravadora Universal pôr o CD oficial do Grupo Especial do Rio de Janeiro para 2007 nas prateleiras das melhores lojas do ramo, vou tecer comentários pelo que eu escutei na net e pelo que eu ouvi e troquei idéias com malucos por samba como eu. Seguem então os comentários de cada samba na ordem em que as obras aparecerão no CD oficial.

VILA ISABEL

André Diniz vangloria-se de emplacar seu nono samba na Vila Isabel, igualando ao feito de Martinho da Vila, embora a assinatura do jovem compositor apareça oficialmente em apenas seis. Acusado de ser dono de uma das "firmas" mais ativas do carnaval carioca, Diniz (juntamente com o ex-presidente da escola Evandro Bocão) compôs "Metamorfoses" obedecendo ao formato atual de samba enredo: uma composição correta, animadinha e servil ao desfile, mas na quarta-feira de Cinzas já não será mais lembrada. O enredo lembra dois momentos de Renato Lage: "De corpo e alma na avenida" (Mocidade 97) e "Microcosmos" (Salgueiro 2006).

Comparação com 2006: Superior. O "Soy loco por ti América" tinha grande apelo popular, mas escorregava num portunhol de gosto duvidoso e melodia merengueada. A construção musical da obra escolhida para 2007 é muito melhor. No entanto, "Metaformoses" é inferior aos sambas de 94 e 2005, de autoria do próprio Diniz.

Comparação com Vila Isabel: Certamente o samba de 2007 não entrará em nenhuma antologia de uma escola que tem em sua carteira obras incontestavelmente melhores compostas por Martinho, Luiz Carlos da Vila e Paulo Brasão.

GRANDE RIO

Junto com o bacalhau da Imperatriz, este "Caxias, caminho do progresso, retrato do Brasil" é a grande polêmica do carnaval 2007. Esta composição de Marcio das Camisas (que muitos juram ser "laranja" do imperiano Arlindo Cruz) nem era cogitada como favorita na disputa da tricolor da Baixada. O município fluminense já fora homenageado pela União da Ilha em 2002 e, antes, pela Leão de Nova Iguaçu em 1993. O tema recorre a personagens locais de Duque de Caxias, como o deputado Tenório Cavalcanti, o babalorixá Joãozinho da Goméia, o sambista Zeca Pagodinho e o dirigente da própria escola Milton Perácio.

Comparação com 2006: Inferior. O do ano passado, "Amazonas", composto pela mesma parceria liderada por Marcio das Camisas, era mais leve, mais vibrante. O samba deste ano é mais pesado, em tom menor. Poderá ter maior apelo se Zeca Pagodinho - citado na letra - aparecer no desfile.

Comparação com Grande Rio: Samba certamente inferior a boas composições na relativamente recente história da escola, como "Águas claras para um rei negro" (1992), "No mundo da lua" (1993), "Os santos que a África não viu" (1994) e "Madeira-Mamoré, a volta dos que não foram lá no Guaporé" (1997).

VIRADOURO

O compositor Gusttavo é outro papão do carnaval e também um forte dirigente dos atuais "escritórios" de samba. Este "A Viradouro vira o jogo" é a oitava obra de sua autoria para a vermelho e branco de Niterói. É um samba feito sob medida para a escola: construções melódicas especialmente planejadas para os habituais shows da bateria de Ciça, refrões fortes e uma letra descritiva que possibilitará os delírios cênicos que tanto o carnavalesco Paulo Barros adora exibir.

Comparação com 2006: Equivale em qualidade com "Arquitetando folias". Este "Vira o jogo" tem uma boa construção, melodia agradável e que facilita o canto. Apesar de soar estranho o "respiro fundo/no pinball quero brincar".

Comparação com Viradouro: É um hino que obedece o estilo definido pelos sete sambas anteriores das parcerias capitaneadas por Gusttavo. Mas está longe dos antológicos "Bravíssimo - Dercy Gonçalves" (1991), "E a magia da sorte chegou" (1992), "Amor sublime amor" (1993) e "Orfeu, o negro no carnaval" (1998). E a anos-luz dos já longínquos sambas da época dos desfiles da Rua Amaral Ferrador, em Niterói: "Amor em tom maior" (1981), "Mutou muido kitoko" (1982) e "Acredite se quiser" (1983).

MANGUEIRA

Mais uma vez a verde e rosa levará para a Sapucaí um samba da jovem dupla Amendoim e Lequinho. O "Vem no vira da Mangueira" é um samba leve, rápido e tem um embalo gostoso (um pouco marcheado, em alguns momentos), ao estilo "tem capoeira/ da Bahia/ na Mangueira". E com o indefectível verso "sou Mangueira", sempre presente nas composições da dupla. O "Vira" tem apelo popular, entrando no gosto do público que acompanhou a final da disputa na quadra. O samba deverá fazer sucesso também nas arquibancadas da Sapucaí.

Comparação com 2006: Superior. Apesar do "Velho Chico" ter sido um samba bonito e bem construído, era pesado, com dois refrões em tom menor e letra extensa, diferente daquilo que o mangueirense estava acostumado a desfilar.

Comparação com Mangueira: É da linha de sambas comerciais como "Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu" (94), "A Esmerlada do Atlântico" (95) e "Trinca de reis" (89).

BEIJA-FLOR

Novo xodó entre os compositores e nome poderoso entre as "firmas", Cláudio Russo moldou uma bela obra para a Beija-Flor, dentro dos padrões do samba enredo atual e do formato proposto pela comissão de carnaval da escola de Nilópolis em vigor desde 1998. "Áfricas - do berço real à corte brasiliana" desde já é candidatíssimo a conquistar o Estandarte de Ouro na categoria.

Comparação com 2006: Superior. O tema da negritude sempre é sujeito a gerar bons sambas e este confirma a regra. O tema de Poços de Caldas, misturando o mítico reino de Atlântida e o apelo ambiental pela preservação da água no planeta, ficou muito confuso.

Comparação com Beija-Flor: Ficará no mesmo patamar de alguns épicos da Era Comissão de Carnaval, como "Araxá" (1999), "A saga de Agotime" (2001), "Manôa, Manaus, Amazônia, Terra Santa" (2004).

UNIDOS DA TIJUCA

Tanto o enredo quanto o samba da Unidos da Tijuca para 2007 ainda é reflexo da estadia de Paulo Barros no Morro do Borel. Um tema sobre a fotografia dá margem a desvarios "paulobarrianos" que serão desenvolvidos por Lane Santana e Luis Carlos Bruno. O refrão "pára/o mundo pára/pra fotografia" possibilitará belas convenções de bateria e coreografias para os passistas e para o público na arquibancada.

Comparação com 2006: Superior. Aliás, o "De lambida em lambida" é o melhor samba da trilogia composta por Jorge Remédio.

Comparação com Unidos da Tijuca: A escola do Borel tem um respeitável histórico de sambas antológicos. Se compararmos com a trajetória da própria escola, este samba de 2007 será apenas mediano.

PORTELA

Muita gente torceu o nariz para um enredo exaltando os Jogos Panamericanos que serão realizados no Rio de Janeiro. Mas a disputa na Portela contou com obras muito boas. O jovem Diogo Nogueira, filho do mítico sambista João Nogueira fez bonito e conquistou sua primeira vitória numa disputa, recorrendo a uma melodia que mistura o clássico com a modernidade.

Comparação com 2006: Equivale em qualidade ao "Brasil, marca a tua cara e mostra para o mundo". A melodia também tem nuances inteligentes e típicas de samba de carnaval.

Comparação com Portela: Um dos melhores sambas compostos para a azul e branco de Madureira nesta primeira década do século 21.

IMPÉRIO SERRANO

Já escrevi que, quando anunciam que uma parceria reunindo compositores do quilate de Arlindo Cruz, Aluisio Machado, Maurição e Carlos Senna irá concorrer numa disputa de samba enredo, a minha exigência como amante de samba enredo fica muito mais aguçada. Afinal, trata-se de um pequeno "dream-team" não apenas do carnaval, mas da própria MPB. "Ser diferente é normal" até que não é uma música ruim. No entanto, há dez anos, as obras desta galera me parecem uma variação despreocupada daquele samba do Beto Carrero. É de se frustrar, porque sabemos que esta rapaziada pode mais.

Comparação com 2006: Inferior. Por enfocar a fé do brasileiro, o "Império do Divino" era mais emocionante e mais inspirado.

Comparação com Império Serrano: A ala de compositores da verde e branco da Serrinha é considerada a melhor dentre todas as escolas. Mesmo assim, é covardia uma comparação com as antologias compostas por de Silas, Mano Décio, Roberto Ribeiro ou Beto Sem Braço.

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE

O enredo e o samba são confusos. Em virtude de a Imperatriz ter fechado um patrocínio com o governo da Noruega, a Certinha de Ramos terá que homenagear o país escandinavo através do bacalhau, mencionando o falecido apresentador Chacrinha e fazendo uma referência ao bloco carnavalesco pernambucano Bacalhau do Batata. Ainda assim, a (extensa) letra do samba comporta termos forasteiros como Asgard, Odin, vikings... Com toda esta mistureba, faltou pouco para a "Bacalhoada da Imperatriz" se tornar o "samba do crioulo doido" do ano. Será uma incógnita no desfile.

Comparação com 2006: Inferior. Apesar de ousado, o samba de 2007 possui uma letra extensa e uma melodia sinuosa e complexa, tornando o canto mais difícil. O intérprete Preto Jóia terá um desafio pela frente.

Comparação com Imperatriz Leopoldinense: Não deverá se tornar antológico, pois concorre com as obras memoráveis de Bidi, Zé Catimba, Gibi, Niltinho Tristeza, Darcy do Nascimento e Dominguinhos do Estácio.

MOCIDADE

Os sambas do grande compositor Toco têm como principal característica a beleza em suas melodias. Apesar de muito bonito, "O futuro do pretérito" parece não ter explosão. É um típico samba para se escutar e não sair cantando a plenos pulmões. A poesia é belíssima e inspirada.

Comparação com 2006: Equivale à qualidade de "A vida que pedi a Deus", também de autoria de Toco. Harmonia bem construída, letra caprichada, beleza musical inquestionável, mas sem explosão para um desfile de carnaval.

Comparação com Mocidade: Carente de boas obras nesta primeira década do século 21, a comunidade de Padre Miguel pode considerar o samba de 2007, assim como as obras de 2002 e de 2006, como as melhores dos últimos anos. No entanto, não se comparam a pérolas como "Festa do Divino" (1974), "Mãe Menininha do Gantois" (1976), "Ziriguidum 2001" (1985), "Como era verde meu Xingu" (1983), "Tupinicópolis" (1987), "Vira virou, a Mocidade chegou" (1990), "Chuê, chuá, as águas vão rolar" (1991), "Sonhar não custa nada" (1992) ou "Villa-Lobos" (1999).

SALGUEIRO

Há quase 20 anos, os salgueirenses aguardavam por um novo enredo afro - logo o Salgueiro, que foi pioneiro em temas desta natureza. E eis que chega "Candaces", um enredo afro e com uma abordagem inovadora. O samba é muito feliz, juntando vibração, raça e emoção. O refrão, ao invocar as saudações religiosas das orixás femininas, é apoteótico.

Comparação com 2006: Superior. "Microcosmos", resultado de uma fusão de dois sambas, era um bom samba. Mas "Candaces" vai tocar fundo na emoção salgueirense.

Comparação com Salgueiro: O samba de 2007 tem tudo para ingressar no panteão das obras antológicas da negritude da Academia do Samba.

PORTO DA PEDRA

"Liberdade pelo amor de Deus/ liberdade a este céu azul" é dos versos mais bonitos já cantados em samba enredo, pelo menos nesta primeira década do século 21. Uma melodia bonita e melancólica, porém, valente. E o samba deve ganhar uma interpretação forte na voz de Luizinho Andanças, que só depois de três carnavais na Porto da Pedra é que irá mostrar todo seu potencial numa bela obra.

Comparação com 2006: Superior. Não tem nem comparação.

Comparação com Porto da Pedra: Em uma trajetória relativamente curta, a escola de São Gonçalo ganhou uma bela obra para rechear ainda mais a sua carteira de bons sambas. "Preto e branco à cores" já chega para fazer companhia para "Campo cidade, em busca da felicidade" (1995), "A folia no mundo - um carnaval dos carnavais" (1996), "No reino da folia, cada louco com sua mania" (1997), "E na farofa do confete, tem limão tem serpentina" (1999), "Um sonho é possível" (2001) "Serra acima, rumo à terra dos coroados" (2002),

ESTÁCIO DE SÁ

Única reedição do Grupo Especial em 2007, o "Tititi do Sapoti" retorna 20 anos depois de provocar um tremendo sacode na Sapucaí e consagrar o estilo da carnavalesca Rosa Magalhães, na época, fazendo dobradinha com Lícia Lacerda. O samba não perdeu o frescor nestas duas décadas e será sucesso garantido em virtude da sua imediata comunicação com o público. Quem não sentirá vontade de sair cantando e dançando "que tititi é esse/ que vem da Sapucaí/ Tá que tá danado/ tá cheirando a sapoti?" O estilo serelepe do intérprete Ânderson Paz casa bem para um samba como este. Aliás, sambas deste tipo, como o "tititi" fazem uma falta danada na passarela do sambódromo atualmente.

Rixxa Jr.

rixxajr@yahoo.com.br