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Samba Paulistano
 
11 de março de 2018, nº 30
O QUE O CARNAVAL DO ANHEMBI VAI LEVAR DE 2018 (PARTE 1)

POR BRUNO MALTA
Colunista credenciado pelo SAMBARIO para a cobertura no Sambódromo do Anhembi


O Carnaval de São Paulo em 2018 ficará marcado pelo insólito resultado que premiou quatro escolas com a pontuação máxima. Também será lembrado por conta da pior posição da maior campeã em 14 anos, do novo rebaixamento do Peruche e dos incidentes com o tripé da comissão de frente da Independente e com a saia da porta-bandeira da Unidos de Vila Maria. Sendo assim, chegou a hora de recontar um pouco de tudo o que aconteceu na primeira noite de desfile do Grupo Especial paulistano.


Na foto, a mesa da apuração que revelou o resultado final; O título de campeã continua no Tatuapé, mas o Carnaval 2018 deixa novas lembranças (Foto: Armando Bruck)

Antes do carnaval iniciar, o favoritismo estava sob ombros do último campeão, o Acadêmicos do Tatuapé que desfilaria com um enredo homenageando o Maranhão. Também atraiam as atenções a Dragões da Real, com a música sertaneja como tema, o Vai-Vai, com sua homenagem a Gilberto Gil e o interessante tema sobre a Revolução Francesa da Império de Casa Verde. Já o Rosas de Ouro apostaria numa homenagem aos caminhoneiros. A Mocidade Alegre faria uma exaltação a Alcione, enquanto Unidos de Vila Maria contaria a história do México sob o olhar de Roberto Bolaños e o Acadêmicos do Tucuruvi iria passear pela história dos museus pelo mundo. Além dessas, os Gaviões da Fiel iriam retratar a lenda sobre a origem da cidade de Guarulhos, a Mancha Verde homenagearia o Fundo de Quintal, o Unidos do Peruche reverenciaria os oitenta anos de Martinho da Vila, enquanto a Tom Maior contaria a história das Imperatrizes Leopoldina e Leopoldinense. Vindas do Grupo de Acesso, a X-9 Paulistana e a Independente Tricolor apostavam, respectivamente, nos temas sobre os ditados populares e os filmes de terror.

Os desfiles na Sexta

A abertura dos desfiles ficou a cargo da Independente Tricolor. A estreante no grupo fez uma apresentação de fácil entendimento, mas tensa por problemas técnicos. O enredo sobre os filmes de terror teve uma compreensão relativamente tranquila para o público. Com um visual mais “popular” - em especial nas alegorias -, a caçula conseguiu fazer o seu desfile “pegar”. Apesar disso, destaco que algumas fantasias não conseguiam transmitir com clareza, seu significado. Na parte musical, apesar das limitações de seu samba, a escola teve canto forte e bateria em dia inspirado, ajudando a potencializar a qualidade da obra cantada. No entanto, foi na parte de dança que a tricolor sofreu. Com a quebra do tripé da Comissão de Frente, que precisou ser guinchado por uma empilhadeira, a Independente teve problemas de evolução (chegou a ficar parada por 5 minutos em duas oportunidades) e problemas na apresentação de seu jovem primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. No conjunto da obra, a agremiação da Vila Guilherme fez uma apresentação capaz de alcançar a permanência na elite, mas os problemas causados pelo tripé fatalmente a colocariam no caminho do retorno ao Grupo de Acesso.

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Jovem primeiro casal da Independente na foto; Escola teve problemas em seu desfile. (Foto: Felipe Araújo)

O Unidos do Peruche foi a segunda escola a desfilar. Com um enredo sobre Martinho da Vila, a Filial do Samba fez uma apresentação complicada e saiu da pista cotada ao rebaixamento. Na parte plástica, alguns problemas. Apesar do apuro estético do carnavalesco Mauro Quintaes, o tema proposto por Mauro Quintaes não ficou claro e confundiu o público em alguns momentos. Confesso que achei um pouco exagerado o espaço dado a africanidade do homenageado, o que acabou prejudicando o conjunto da história. Além disso, em alegorias, apesar de concepções interessantes, a falta de acabamento prejudicou bastante. Em todos os carros, a escola apresentou falhas. Sejam elas em acabamento ou em queijos – espaços para os destaques – vazios, o que prejudicava o conjunto. No conjunto de fantasias, também existiram falhas. Além de algumas alas contarem com peças faltando, existiu problemas de queda de adereços, o que fatalmente ocasionaria a perda de décimos. Na parte musical, o samba, embora limitado e com problemas técnicos, foi razoavelmente bem cantado na primeira metade da passagem do Peruche. Apesar disso, do meio para o fim, houve uma queda no canto que se juntou a problemas na bateria Rolo Compressor prejudicando a parte musical do desfile. Na parte da dança, a escola não teve grandes percalços. O ótimo casal de mestre-sala e porta-bandeira unida a interessante comissão de frente foram um dos poucos destaques da complicada apresentação. A evolução da Filial também esteve longe do desastre que foi o ano em geral e não foi tão prejudicial ao conjunto. Entretanto, pelas falhas nos quesitos plásticos e musicais, a agremiação saiu da pista como uma das cotadas ao rebaixamento.

Após o incêndio que destruiu 90% de suas fantasias e ter sido colocado com “hors-concours” e não disputar o campeonato, o Acadêmicos do Tucuruvi fez um desfile leve e com emoção. O tema da escola sobre os museus teve uma adequada parte plástica, cujo grande destaque foi o lindíssimo abre-alas. As fantasias conseguiram ser refeitas e apresentaram um conjunto interessante. A parte musical foi bastante agradável com boa apresentação de harmonia e bateria. Ambas fizeram o samba render bem. Na parte de dança, destaco a divertidíssima comissão de frente que conseguiu atrair grande atenção. O bom casal da escola teve pequenos percalços, mas mostrou sua beleza e entrosamento. No conjunto, a comunidade da Cantareira mostrou muita garra e muita força. Passando, mesmo sem disputar o campeonato, com muita alegria e vontade.

Com um tema popular sobre o grupo Fundo de Quintal e sua torcida numerosa, a Mancha Verde fez uma apresentação que, de certo modo, foi quente, mas decepcionou. Na parte plástica, a escola foi irregular no conjunto de fantasias. Em alguns momentos a simplicidade de concepção era interessante pra passar a mensagem com clareza, mas em outros a equipe comandada pelo carnavalesco Magoo parecia sem ideias para representar as alas e usava efeitos simplórios. Nas alegorias, as ideias eram transmitidas com certa clareza, mas existiam problemas no acabamento e no uso dos materiais. A irregularidade plástica afetou o desenvolvimento do enredo. Com muita simplicidade, a história não consegue ser aprofundada e acabou sendo bastante superficial. O samba não era perfeito, mas teve um desempenho interessante em termos de canto da comunidade, o que fez a Mancha ter um bom desempenho em Harmonia. Destaque negativo para a bateria Puro Balanço, que por duas vezes embolou durante sua estada no recuo. A parte de dança da escola foi a mais irregular da apresentação. Comissão de Frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira apresentaram problemas claros. No primeiro caso, alguns integrantes do grupo tiveram perda de peças de suas fantasias. No segundo caso, o casal estava descompassado, o que prejudicou seu entrosamento. Na parte de evolução, a escola teve um percalço grave na minha frente onde teve que parar por cerca de 3 minutos após a passagem do segundo carro. Dali em diante, a escola apresentou efeito sanfona e teve sua passagem no quesito prejudicada. No fim das contas, o conjunto da escola pareceu mais de meio de tabela, mas as notas da apuração mostrariam outra visão.

Abre-alas do Acadêmicos do Tatuapé; Escola fez um grande desfile. (Foto: Felipe Araújo)

A quinta a desfilar era a atual campeã do carnaval. O Acadêmicos do Tatuapé fez uma apresentação bastante competitiva e se candidatou ao bicampeonato. A parte plástica do enredo sobre o Maranhão esteve no padrão apresentado em 2017, com concepção simples, mas impecável em termos de acabamento. A azul e branco passou com fantasias de bom nível e sem grandes percalços no quesito. No conjunto alegórico, em que pese a repetição de ideias por parte do carnavalesco Wagner Santos, a escola também teve um desempenho satisfatório e mostrou alto nível. Além disso, mostrou muito bom nível no quesito enredo e apresentou sua proposta sem nenhum percalço, sendo perfeita em seu objetivo.

Na parte musical, o excelente samba impulsionou o forte canto da galera fortaleceu o desfile da escola. A bateria Qualidade Especial, apesar disso, não esteve na melhor das noites e embolou uma vez após o paradão. Em alguns momentos, destaco que não era possível ouvir com clareza todos os naipes de instrumentos. Mas o que poderia impedir o bicampeonato, eram os quesitos de dança da escola. Apesar da boa comissão de frente, a escola pecou muito em mestre-sala e porta-bandeira e evolução. O casal, apesar da ótima fantasia, não conseguia fazer instrumentos mais ousados e em dois momentos teve problemas durante a apresentação em frente a terceiro cabine. A evolução, não apenas teve problemas, como também foi desesperadora. Do começo ao fim, houve o chamado “efeito-sanfona” de “andar e parar”. Além disso, dois buracos enormes foram abertos entre às cabines, mas no campo de visão do jurado. Por fim, a escola também ficou parada por mais de dois minutos na frente da terceira cabine. Uma completa tragédia no quesito. Por tudo isso, no conjunto, a escola passou com uma apresentação de alto nível, mas que poderia ser alijada da briga pelo título pelos erros em evolução.

O Tatuapé foi sucedido pelo Rosas de Ouro. Apesar dos problemas plásticos, a escola fez um belíssimo desfile nos quesitos de pista e deu mostras de que seu chão continua fortíssimo. A parte visual realmente deixou a desejar. Carros mal acabados foram a tônica na parte alegórica da apresentação. No carro 4, o principal elemento parecia correr risco de queda a qualquer momento. O conjunto de fantasias era irregular e também passou com problemas de acabamento e de peças caindo. Por outro lado, o enredo foi brilhante. Apesar de uma ala um tanto forçada no quarto setor, a escola contou com perfeição, o tema sobre os caminhoneiros. Na parte musical, a marmonia esteve em ótima noite cantando forte o melhor samba do ano. Mesmo a bateria que nunca teve um desempenho espetacular, passou bem e sustentou com qualidade o canto da escola. A Comissão de Frente abriu com excelência o ótimo enredo da azul e rosa. Além deles, o casal também merece destaque pela fantástica apresentação que teve um entrosamento notável. No entanto, a evolução foi ruim. Por um primeiro setor muito lento, a escola teve problemas de “efeito-sanfona” e precisou apertar o passo no fim. No geral, a parte plástica deveria prejudicar a azul e rosa, mas o desfile foi bastante agradável e poderia, sim, sonhar com o top-5.

Ultimo carro da Tom Maior; Escola conseguiu surpreender com desfile agradável (Foto: Felipe Araújo)

O último desfile da primeira noite foi um dos mais leves e agradáveis. Com uma evolução perfeita – algo raro em 2018 – e canto satisfatório, a Tom Maior passou fazendo um desfile agradável e deixando boa impressão no público que resistiu até o fim da noite. Na parte plástica, a escola esteve com concepções interessantes, mas pecou em algumas realizações que afetaram o conjunto. Nas alegorias, as ideias foram bem pensadas, como fica evidente no carro 4. Entretanto, em alguns momentos houve um excesso de informações e falta de acabamento, o que prejudicava a escola. Nas fantasias, a Tom teve problema parecido na questão do acabamento. Em alguns momentos, falta de recursos para que houvesse mais luxo ou mais capricho ficava clarividente. No entanto, apesar do visual irregular, o enredo sobre as Imperatrizes (Leopoldina e Leopoldinense) foi bem contado e conseguiu fazer a ligação – que parecia forçada – entre elas com clareza. A parte musical também teve seus bons momentos. Com um canto acima da expectativa e o samba rendendo mais do que o esperado, a escola conseguiu dar seu recado com competência, mesmo sem brilhar. A bateria Tom 30 também esteve no meio do caminho entre o brilhantismo e o desempenho regular. Na parte de dança, a escola esteve com um desempenho satisfatório. Com uma apresentação interessante na comissão de frente e uma evolução sem nenhum percalço, a escola do Sumaré conseguiu ter bom desempenho nesses quesitos. Apesar disso, o casal não conseguiu ir tão bem e decepcionou. Por conta disso, a clara sensação era de que a Tom Maior fez um desfile competente baseado no bom desempenho de sua evolução e por estar acima da expectativa inicial. Apesar disso, a falta de brilhantismo em muitos quesitos e a plástica irregular deveriam colocar a escola apenas no meio da tabela.

Na semana que vem, teremos as análises de sábado, do Grupo de Acesso, comentaremos o resultado final e traremos algumas curiosidades do Carnaval paulistano. Até lá!