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Coluna "Passarela Virtual"

 ARRANCADA PARA 2009

Saravá, galera. Quem frequenta a LIESV sabe quem sou: Rodrigo Raposa, atual vice-presidente da Liga, compositor e intérprete. Já fui julgador de samba-enredo, de alegorias e diretor do Avaliação. Hoje, baixo aqui no Sambario como comentarista do Carnaval Virtual, uma função divertida e prazerosa pra mim que gosto tanto dessa forma de cultura que ainda é tão obscura. Além de falar a quantas andam os movimentos no Carnaval Virtual da LIESV, vocês vão saber por mim como os talentos que saem daqui se saem em suas aventuras no que a gente se acostumou a chamar de "Carnaval Real", o de carne e osso. Quem sabe um dia eu acabe contando uma peripécia minha por cá (oxalá!)...

Hoje, a minha proposta é a seguinte: comentar os sambas-enredo da LIESV que começam a desfilar já nesta semana no endereço www.liesv.com.br. Se você comeu mosca e ainda não baixou os CDs, faça isso ONTEM, e conheça o nosso trabalho.

Uma coisa que vão perceber é que eu não dou notas para os sambas. Coisa mais baixo astral... É muito complicado tirar décimos ou quartos de um samba por causa de uns errinhos cá e lá. Por isso, a minha "nota" é a minha reação aos sambas. Funciona assim: Eu ouço o samba inteiro para poder avaliá-lo mais tecnicamente, e depois boto na agulha uma segunda vez. Minha reação imediata à essa segunda rodada é o que conta. Tem sambas que ouvi novamente, ouvidos de folião, com prazer... Tem sambas que pulei descaradamente. Acho mais justo e mais interessante fazer assim.

Aviso prévio: os comentários aqui são relaxados e chegam a ser ácidos, mas não são destrutivos; são só, quem sabe, puxãozinho de orelha pra uns e outros. Os poucos que tomarão bronca daqui pra frente são quem mais mereceu, e quem for safo vai saber como usar as minhas palavras como trampolim para voos mais altos e bem sucedidos.


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União do Samba Brasileiro: Podem até dizer que é barbada a atual campeã ter um belíssimo samba, mas confiem em mim quando eu digo: esse samba só virou O SAMBA depois de algumas modificações não no samba em si – que já estava pronto, esperando os retoques administrativos na escola. Em primeiro lugar, quem diria que o criador da LIESV e atual indiferente à tudo Miguel Paul teria uma incomensurável má vontade em defender esse samba. Além de chegar atrasado, fez beicinho quando o negócio ficou complicado. No final das contas, como ninguém queria mesmo ceder, pegaram uma serra e acabaram com o cabo de guerra. No lugar dele, meu amigo de Acadêmicos de Santa Cruz, Igor Vianna, ex-Tradição, que deu uma senhora valorizada nesta faixa, composta por Murilo Duarte. O Murilo tem um jeito de fazer samba que, dirão, não tem como dar errado: tom menor bem pegado, alternando entre o convencional (maioria do samba) com sacadinhas de melodia bem interessantes. Basicamente mais um aprendiz do grande mestre Imperial na praça. A poesia consegue confundir a personagem que a escola homenageia com a própria agremiação, o que é sensacional. Alguns poucos versos bateram mal no ouvido, seja por, não sei, métrica? (em “Que nesta terra, somos todos iguais”), seja por sentido (ou falta dele) na letra (o tal do “rodopio fascinante”. Saiu de onde isso?). No conjunto geral da obra, um dos sambas do ano. Problemas: Nenhum que eu tenha achado. O presidente do uirapuru da ilha, Willian Tadeu, sempre foi expert em escolher bons sambas. O que eu faria de diferente: Deixaria a repetição em “Mostrou que asas não são só para voar”. Sabiam que esse verso era para ser repetido? É, tipo aqueles super maneirinhos de Kizomba (Unidos de Vila Isabel 1988 – “Vem, menininha, pra dançar o caxambu”/“Esta quizomba é nossa constituição”). Ouvi inteiro.

Imperatriz Paulista: Quem já foi Imperatriz nunca perde a majestade, como sempre dizem. Com a duas vezes campeã e atual vice da LIESV não é diferente. Com mais um enredo doidão-cultural, cortesia do agora presidente da Liga, João Marcos, a Paulista chama novamente Anderson Paz pra defender a bagaça e chega rasgando. É até meio suspeito de eu falar desse samba, pois participo da composição junto ao grande mestre Imperial, João Pinho, Thiago do Porto e Thiago Meiners. Fazendo uma comparação com o ano passado, a Paulista resolveu para 2009 apostar num samba um pouco mais convencional, se bater de frente com a doideira que foi 2008. É mais ou menos assim: 2008 foi Eduardo Medrado, 2009 é Gilson Bernini (é, eu sei. Acontece). O refrão principal dá um toque de bom humor estilo Imperial na poesia do resto inteiro do samba, vestindo “casaca e chapéu de panamá”. A fluidez da melodia, que vai do menor pro maior e pro menor de novo com transições suaves, é cortesia de Pinho. Uma delícia, como sempre. Ah, Imperatriz... Problemas: Nenhum. Assim como Willian, João Marcos sabe o que está fazendo quando o assunto é escolher samba. O que eu faria de diferente: Talvez pegaria um pouco mais no pé do Anderson Paz, por conta de algumas notinhas enjoadas que ele não conseguiu alcançar nos três últimos versos do samba. Uma ajeitadinha na melodia dessa parte viria a calhar também. Enfim, ninguém é perfeito. Cantei junto.

Imperiais do Samba: Quem freqüenta a LIESV conhece o “Tá-Ruim”. É o seguinte: é uma “técnica” de engodo antiga por parte do pessoal da Imperiais (e não há exceções – até os novatos Yuri Aguiar e Rodrigo Meiners – ops, Oliveira – adotaram o tá-ruim) onde eles tentam convencer (hoje em dia, sem muito sucesso) toda a galera que “o trabalho tá atrasado, o samba tá mal gravado, vamos brigar pra não cair”, enfim, “tá ruim”. Mas esse ano eu testemunhei algumas das dificuldades da Imperiais e posso dizer que foi uma luta pra botar esse samba no ar. Entre algumas das armadilhas, passaram por intérprete com pneumonia e – o “tá-ruim” de todo bom brazuca – falta de grana. Mas o samba saiu, e que samba. Como sempre, um samba louco e imprevisível, que passa a primeira toda em sol menor, vai pra maior e, no meio do andamento, muda de sol pra mi com a sutileza de um bico no estômago. Valente, como todo samba da Imperiais. O projeto original, que era meu, era “um pouquinho” convencional, mas, claro, o que passa na mão de Imperial tem que dar uma entortada, uma ajeitada, e fica jóia. “Pinho Neles” deu a moral no refrão, que deixa o samba redondíssimo (“E o que é eternidade:/É não saber bem certo o início...”). Problemas: O samba é valente até demais nas suas variações. Não que isso seja um problema, não pra mim, mas, como diz o grande mestre, “de cabeça de jurado e bumbum de neném”... O que eu faria de diferente: Daria mais gás no refrão do meio. A versão concorrente tinha uma explosão de adrenalina que fez falta. Ouvi inteiro.

Império do Progresso: A águia do Norte Fluminense registrou ao longo dos últimos três anos um recorde interessante: três 4os lugares. E tem gente – não são poucos, tenho que dizer – que culpa os sambas. Bem, se for isso mesmo, talvez a história mude. Ouso dizer que o samba desse ano é o melhor da história da Progresso. A super interpretação de James Bernardes só estava precisando de sambas inspirados e enredos diferentes das grandes paixões do presidente e ex-enredista Diego Araújo, que ficou conhecido por martelar enredos afros e indígenas. Isso agora ficou a encargo do carnavalesco Vítor Saraiva, que está fazendo um ótimo trabalho. O samba de João Marcos, João Pinho, Imperial, Thiago Morganti e Biel Carioca é leve, e parece estar dando para a Liga a mensagem de que a azul e verde está finalmente encontrando o caminho certo para sair do quarto lugar, para brigar pelo pódio. Repetições e variações inteligentes (“E encontrar mil maravilhas/Para poder te encontrar”; “Cheirando a cravo/Um cheiro doce, cheiro sonhado”; “Brasil sem fim/Brasil pra mim”) são o grande máximo. Mas esse samba não é aquela maravilha toda, não. O final do samba é forçado e pouco atrativo. Além do mais, há versos igualmente forçados dentro do samba que não pegam tão bem assim. Problemas: Os dois últimos versos são o problema desse samba (“Quem chega pra tecer esse caminho/É brasileiro, é indiano, é infinito”). Não fazem o menor sentido, são piegas e repelentes, destoando do resto do samba, que é em maioria atraente. Além do mais, os julgadores podem estranhar a repetição de “Brasil” (e sua variação, “brasileiro”). O que eu faria de diferente: Terminaria o samba de maneira diferente. Pulei depois da primeira passada.

Sociedade Cruzeiro do Sul: Pega mal eu falar da minha própria escola? Espero que não, pois é o que eu vou fazer agora. Pelo terceiro ano seguido, a Cruzeiro (e em “três anos” eu incluo aí a época Acadêmicos da Vila dos Cabanos, depois que o presidente original saltou da barquinha e eu assumi) vem com uma fusão de três sambas. A relação completa de poetas é João Marcos, Willian Tadeu, Imperial, Thiago Morganti, Leonardo Moreira, Leandro Kfé e Júnior Santana. Sem dúvida, a reunião de cinco dos maiores compositores que a LIESV já teve, mais dois iniciantes que têm um futuro brilhante pela frente. Mas uma reunião tão estrelada não impede que um samba tenha problemas, e como eu não sou macaco escondido que deixa o rabo de fora, vamos à autocrítica. Esse ano, a Cruzeiro, assim como a Paulista, aposta num samba mais tradicional que o do ano passado, apostando numa primeira em tom maior, e refrão e segunda fluidos. A entrada da segunda parte vem com um balanço muito gostoso, daqueles sambas que, quando você ouve, tem vontade de ir de um lado pro outro fazendo uma ondinha com o andamento. Mas há o problema do samba ser “corinthiano” demais (eu juro, gente, eu não conhecia o “Eu nunca vou te abandonar” do Coringão! A parte das torcidas de futebol era pra ser só no “Canto até ficar rouco/Me chamem de louco, não to nem aí”), além do refrão do meio perigoso por lembrar muito um estribilho da Mangueira, coisa que o próprio Maciel já comentou (“Ah, eu nunca vou te abandonar...” = “No canto e na dança, no pecado ou na fé...”). Neste ponto, eu “culparia” a impaciência com a melodia por parte do nosso cavaco de ouro, Júnior Santana. Mas isso acontece. Toda grande família tem que ter um arranca-rabo de vez em quando. Problemas: As duas citações às torcidas de futebol no samba, no fim da primeira e no início do refrão do meio. E eu nem sou corinthiano, sou cruzeirense... O que eu faria de diferente: Botaria o refrão do meio, pelo menos os três primeiros dos seis versos, em tom maior. Já seria o suficiente pra não ficar “mangueirense demais”. Além disso, trocaria o intérprete. Esse tal de Rodrigo Raposa é ruim pra caraca. Ouvi inteiro.

Altaneiros do Samba: Assim como a Progresso, a Altaneiros resolveu apostar num samba menos convencional, e – não pelo samba ser meu – deu muito certo. O concorrente era valente e louco, e o intérprete Evandro Malandro, lá de Nova Friburgo, cantou muito. Papai tá orgulhoso do samba que saiu! O enredo é sobre cores, mas é muito sutil, parte disso graças à abordagem poética do carnavalesco do sol do Maranhão, Eduardo Bueño. A melodia, toda em tom maior, é maleável e malandra, meio safada em certas partes. O refrão do meio vem com um gingado forte, contagiante. Enfim, dá vontade de estar lá. Você vê o arco-íris. A única parte desse samba lindíssimo, um dos sambas do ano, que bate mal no ouvido, é o refrão principal. O caco que virou oficial, o “meu amor” do terceiro verso, não ficou tão legal assim. Mas toda bela criação tem seus probleminhas e, no fim das contas, a Altaneiros está encontrando o caminho certo pra “fazer laranja a cor da alegria”. Problemas: Nenhum. O que eu faria de diferente: Deixaria o refrão original, de oito versos (“Esse sangue que corre na veia/Incendeia a avenida/É o Sol que ilumina esse jogo/É o fogo da vida/E se hoje eu sou esperança/Na dança do bem-querer/Então pode ter certeza/É minha natureza sempre amar você”). Cantei junto.

Estrela do Amanhã: Quem diria que um dos sambas que estava fadado a estar no plano de fundo do Grupo Especial, um daqueles que não é bom nem ruim, fica ali no cantinho, só esperando pra entrar, ia virar um dos sacodes do ano? O mérito, imagino eu, é de três pessoas: dos compositores, Eduardo Nunes (presidente da Raízes, historiador, compositor e mais um dos arrasadores de quarteirão em formação) e João Marcos, e do intérprete Pixulé (da Império da Tijuca). Com sua voz incomparável, Pixulé transformou esse samba tradicionalíssimo, em sua grande maioria em tom menor, tirando seis versos, dois da primeira parte e o refrão do meio, numa tremenda porrada. Na verdade, o samba todo é muito convencional. O refrão principal é a síntese do que vem pela frente, e o samba em si é uma história muito bem contada pelos compositores. “Tá certo, sim”. Problemas: O refrão do meio é genérico e tem sentido prejudicado, pode se tornar um ponto negativo para este samba. Não pela repetição de “país” (“Soberano país, país cidadão”), mas pela ligação fraca entre as sensações (“Teu povo é guerreiro, seduz/Num samba de paz que a todos traduz/A glória e a honra desse nosso chão”). O que eu faria de diferente: Escolheria outro refrão de meio. Ouvi inteiro.

Amigos do Samba: A azul naval e amarelo de Saint John of Meriti já vem desde sua estréia na LIESV em 2006 apostando em enredos alternativos e abstratos. Falou de cores, amizade e até de RPG. Dessa vez, o tema é uma Ode à Alegria. Mas, parafraseando o intérprete da Acadêmicos do Setor 1, Thiago do Porto, o samba, fusão de duas obras, de Willian Tadeu, João Marcos, Leandro Thomaz, Luiz Henrique, Yuri Aguiar e Murilo Sousa, sofre de “vício de origem”. Deixa eu explicar o que é isso: É quando o samba se dispõe a contar uma estória, passar um sentimento, mas faz isso num andamento inapropriado. Lembra da Grande Rio com aquele samba alegrinho, cantando “O homem com a sua ambição/Matou e destruiu”? Coisa assim. A Amigos do Samba vem com um samba sobre a alegria com melodia tradicional e passagens em tom menor que não combinaram muito com o espírito que o samba queria mesmo passar. Em compensação, o refrão do meio é um pancadão, pra cantar junto. Outra parte que chega do nada, rasgando tudo, são os versos “Vejo nos olhos do povo um brilho que diz/Somos o sol dessa noite, um lindo matiz”. Em outro tema, essa melodia seria uma apoteose. Pena que na Amigos não pegou tão bem assim. Problemas: O samba não executa o que se dispõe a fazer, que é uma “Ode à Alegria”. Aliás, não dá nem pra saber que o objetivo é falar da alegria. Além do mais, há o tal do “vício de origem”. Aí não tem jeito. O que eu faria de diferente: Não sei. Não acompanhei as eliminatórias da Amigos para conhecer as alternativas... Mas com certeza, faria muita coisa diferente. Pulei depois da primeira passada.

Princesa da Zona Norte: Antes de qualquer coisa, o que ou quem é “Alasé”? É a única coisa que me incomoda nesta porrada que é o samba da Zona Norte. Parece-me que é oficial na comunidade de Carnaval Virtual que este é o samba do ano, e eu não tiro a razão de ninguém, pois deve ser mesmo. Mas o que poucos sabem é que esse samba nasceu de um erro do presidente João Pinho e do enredista Arthur Macedo, e da intransigência (ou má interpretação) dos compositores João Marcos e Guilherme Dourado. Lembro-me de ter visto no regulamento das eliminatórias da Princesa, acho que feito pelo Pinho, que a escola “não queria um samba afro”. Esse regulamento, é claro, entrava em conflito direto com a sinopse do Macedo, que era afro até dizer chega. Ou seja, um senhor desafio para os compositores, fazer um não-afro para um enredo afro. Seria possível? Se era ou não, não interessava. O JM tem essa fama de jogar tudo pro alto mesmo, e fazer as coisas do jeito que ele acha que pode dar certo. Se der, deu. Gui Dourado, que é famoso por compor belíssimas obras em Porto Alegre, incluindo uma que eu amo demais que é Imperatriz Dona Leopoldina 2006, contribuiu com toques afros, tanto para o refrão quanto para o corpo do samba. O resultado é o samba do ano. Problemas: Quem achar um me avise. O que eu faria de diferente: Nada. Estão todos de parabéns. Cantei junto. E mandei repetir.

Falcões da Serra: Junto à Princesa da Zona Norte, a Falcões da Serra foi a escola do CAESV 2007 que mais evoluiu, conseguindo o vice-campeonato, ficando atrás apenas do leão de São Paulo. Diferente da Princesa, porém, é o estilo de samba que a Falcões resolveu adotar: um estilo mais Grande Rio. Valente, tom menor, ousado. Eu sei disso pois já cantei lá. Infelizmente, a Falcões resulta em sambas que não causam aquela sensação. Ano passado, foi o ciclo da borracha; esse ano, Mali. Tinha tudo pra ser um enredo ousadíssimo, estilo quando a Porto da Pedra homenageou a África do Sul. O samba de Willian Tadeu é valente, todo em tom menor, bem poético. O refrão do meio fecha com uma porrada, e os versos repetidos estilo Kizomba (“Ficou a força da coragem no Brasil”, “É a magia do meu sonho de griô”) são charmosos e muito bem empregados. Mas não é aquilo tudo. Faltou um feeling, faltou uma pegada maior. Não é problema; talvez seja só eu mesmo, já que não sou fã do estilo Grande Rio. O samba é redondo e o compositor e quem escolheu o samba está de parabéns. Em uma nota paralela, o intérprete Fábio Fernandes é de longe a mais grata revelação desse ano. Continue assim, rapaz! Problemas: Não detectei nenhum além das minhas próprias opiniões sobre samba. O estilo não ME agrada. Mas o samba é show. O que eu faria de diferente: Se eu fosse o presidente Murilo Duarte, nada. Nem deixei começar.

Sereno de Cachoeiro: Diferente das colegas de CAESV 2007, a Sereno infelizmente trilha o caminho oposto. Nos dois primeiros anos da escola capixaba na Liga, a águia desbancou a madrinha, a atrapalhada e malandra Império do Vale (hoje inativa) e impressionou todo mundo. O Miltão, presidente da azul e prata, ainda me lembro dos tempos quando era eu o diretor do Grupo de Avaliação, tinha sempre uma pergunta, uma dúvida, tava interessado, e é isso que se espera de um presidente do Avaliação. Não por acaso foi campeão. Esse ano foi totalmente diferente. Recluso e sem ímpeto nenhum, o Milton da Sereno lançou enredo, escolheu samba, fez o dele... Tudo às escuras. O resultado é um samba que não tem a mesma pegada e sacadas dos anos anteriores, fruto de uma sinopse obscura, a qual nem todos tiveram acesso. As melodias parecem recicladas e não cativam mais. Ouvi FaLar que certas fórmulas só duram um ano. Problemas: As melodias se repetem, e quem ouve o samba do ano passado e o desse tem aquela sensação estilo “já vi esse filme antes”. Não é legal. O que eu faria de diferente: Voltaria a me comunicar com a Liga. Volta, Miltão! Pulei depois da primeira passada.

Rainha Negra: Mais uma vez a Rainha impressiona. Depois de conseguir o título de melhor samba do Acesso 2008, a preto e dourado repatriou Leonardo Bessa e botou o cara pra cantar outra porrada. Um samba fluido, de melodia simples porém cativante. Luis Butti, Theo Valter, João Marcos e Willian Tadeu se juntaram para, depois daquela cópia descarada de Isso Aqui O Que É (que, admito, de início não curti, mas pouco a pouco conquistou), criar uma obra acima de quaisquer adversidades. Três refrões com gingado (e eu vou até perdoar o erro de métrica do refrão de meio), e estrofes escorregadias, muito bem boladas. Destaque para o terceiro refrão, acelerado e marrento. É claro que um samba sobre poesia só podia dar poesia da melhor qualidade. Problemas: Apenas o pequeno errinho de encaixe em “És minha poesia”, refrão de meio. O que eu faria de diferente: Absolutamente nada. Ah, é, em tempo: Ronaldo! Cantei junto.

Gaviões Imperiais: O CD do Grupo Especial se encerra com um dos melhores sambas do ano, mas com falhas e modificações simplesmente revoltantes. A obra de João Pinho e Imperial sempre foi considerada a melhor nas disputas e, é claro, não por acaso, foi a vencedora. Se fosse uma corrida de cavalos, eles teriam ganhado por corpos e mais corpos de distância. E idéias pra dar mais charme e diferenciais ao samba não faltaram, maioria delas muito boas. Uma delas, a mais interessante, e uma das poucas que foi concretizada, foi o convite ao inigualável Tiãozinho Cruz (Acadêmicos do Cubango) para defendê-lo. E, é claro, toda a comunidade acreditou que esta teria sido a maior contratação por parte de uma escola virtual. Mas aí a Gaviões executou a modificação mais revoltante que já aconteceu em seu samba: colocou seu refrão do meio em tom maior. O resultado foi, para mim, catastrófico. Além de quebrar a linearidade melódica do samba, que, excetuando-se o refrão de meio, é todo em um tom menor muito aguerrido, forçou o coitado do Tião de tal maneira que ele, logo ele, justo ele, um dos maiores intérpretes que já agraciou o Grupo de Acesso do Rio de Janeiro, não alcançou uma nota sequer. O “Me leva, me leva”, que era a sensação do ano, levou um tiro na cabeça, e a Gaviões, um tiro no pé. Um tirambaço de ponto-doze que eu gostaria que ninguém se esquecesse... Se alguém concordasse comigo. Problemas: O refrão do meio é o problema deste samba. O tom menor soaria mais natural, e manteria o exotismo. Fazê-lo ser cantado naquele maior foi um crime. O que eu faria de diferente: Acho que não preciso nem dizer. Era para ser um dos sambas do ano, mas depois das modificações, pulei depois da primeira passada.


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Barra Funda Estação Primeira: Depois de Primeira da Zona Leste, renascer como a Estação Primeira da Barra Funda (pra quem não é de São Paulo, faz todo o sentido, já que a estação Barra Funda do metrô era, na época da fundação da escola, terminal da Linha Verde), virar cartaz do Imposto de Renda e voltar, a escola mais desbocada e sem sentido da Liga volta em forma de bloco, com mais um samba nonsense, dessa vez sobre a peste negra. Ou coisa assim. Sobrou pro Leonardo Bessa, que depois de ser “o pinto que passou em sua vida”, defendeu o Pula Pulga. O samba, que é uma fusão de – ai, ai, ai, espero que a moda não pegue – TREZE sambas, é uma loucura total, que exalta Paulo Cintura (“Saúde é o que interessa! O resto não tem pressa! Irra!”) como herói nacional, não sem antes passar pelo “paraíso asiático febril” Quirguistão (sabe onde fica? Nem eu) antes de voltar para o Brasil “pestilento e maneiro” que é o seu lugar. Esse samba é para quem gosta de um bom besteirol... E para quem acha que a LIESV é a epítome do pragmatismo. Como a Barra Funda Estação Primeira é o bloco que vai abrir o Acesso, e não vai disputar, não me comprometo em notificar os problemas e o que faria de diferente aqui. Eles que se virem.

União Independente: Estreante na LIESV depois de bater dois anos na trave, a União Independente começou fazendo tudo errado. O presidente Jeff Rodrigues não se enturmou até agora, e até hoje a única coisa que sei dele é que trata-se de um torcedor da Tom Maior. O enredo foi lançado nem sei como, e só fiquei sabendo do que se tratava quando pipocaram as notícias do samba vencedor. Samba esse que é a expressão de um enredo SUPER original e inovador: A história do Carnaval (falando sério, agora, gente: por favor, né? Quando eu digo que a LIESV é lugar pra investidas experimentais, negada não vai na minha...). O samba difere um pouco do enredo no quesito ousadia, já que, enquanto o enredo não é nem um pouco ambicioso, o samba traz repetições bem feitas, e até um jogo de palavras muito esquisito que pode ser uma armadilha: A esquadrilha da morte “balancê/balançar/balança/balançou” do refrão principal (“Vem no balancê que eu quero ver/Você balançar nessa paixão/Balança traz saudade da folia/Que balançou meu coração”). Inteligente? Talvez. Perigoso, com certeza. Além do mais, os versos possuem pouca coesão, apesar de coerentes. No fim das contas, a sinopse e o comportamento obscuros da União Independente nos oferecem um samba fraco para começar o Grupo de Acesso. Uma pena: depois de bater dois anos na trave, a União ainda tem muito a aprender. Problemas: Não ter se relacionado com a liga; repetições perigosas no refrão; versos com pouco sentido no conjunto da obra; a interpretação dada pelo intérprete Léo Cantalice (que é ótimo) não beneficia a letra. O que eu faria de diferente: Confiaria no pessoal da Liga e me enturmaria mais. Esse é um dos casos onde, se o samba saiu como saiu, a culpa é da escola mesmo. Nem deixei começar.

Pavão de Osasco: A qualidade dos sambas da Pavão, todos haverão de concordar comigo, está em queda livre. Depois do clássico instantâneo que foi 2006, a azul e amarelo que hoje não é exatamente de Osasco (é, acontece) tem acumulado desencontros. Não, nada contra as propostas que a escola apresenta (apesar de que o ano passado foi demais para a boa vontade de qualquer um), pelo contrário – a escola agora vem com sambas bem humorados, com joguetes de palavras se não inteligentes, muito engraçados (“Olê olê, olê olá/É a galera de Osasco fazendo a tribo sambar” ano passado – deus, como isso foi ridículo – e “Ei, ei, ei/Pavão é nosso rei” esse ano. Maravilhoso!). Aliás, é essa mesma a face que o presidente da Pavão, Edson Fiuza Junior (é, sem acento mesmo. Quando ele era da Ponte Aérea, me chamou até de idiota por querer escrever o nome dele em português correto) queria dar para a escola que assumiu, depois da saída do fundador Rafael Garcia. Então está indo bem. Sobre o samba, oscila entre o humor e o poético, muito bem construído. Infelizmente, o intérprete Leonardo Moreira não alcançou todas as notas. Não é problema – ele é amador, e com uma aula de canto o garoto matava a pau. Problemas: Há uma indefinição melódica terrível, porém, em “No tabuleiro ou nos palcos/A mais pura sedução/Seja bem-vindo ao meu mundo de ilusão”. Além do mais, a homenagem à João Marcos, Imperial e Luís Butti no fim do samba (“Mistérios de um velho sonhador/Histórias de um mestre genial/Loucuras de um ousado sem pudor/Reis do universo virtual”) não funcionou. O que eu faria de diferente: Tiraria a homenagem, e deixava rolar. Ouvi inteiro.

Bandeirante da Folia: A única escola da LIESV que veio de samba afro porque queria mesmo, a Bandeirante quebra o paradigma que todo mundo pensou que ela fosse seguir e vem com uma porrada, fusão de três sambas: Leandro Kfé, Junior Santana, Serginho Castro, João Pinho, Arthur Macedo e o meu mesmo. Sabendo que a Bandeirante foi apadrinhada por Imperial, você já sabe o resultado. Por isso, vou direto em cima dos problemas, já que elogios não vão faltar, como por exemplo pro refrão de meio, que é a porrada do Acesso, e pra primeira parte inteira, que é impecável. A tristeza começa na segunda, quando entram algumas palavras em, sei lá, iorubá?, que acabam com qualquer um. Teve que sair até malabarismo, na língua e no encaixe melódico, pra poder soletrar “ogó de Elegbará”. Aliás, sambas como o da Bandeirante tinham que vir com um dicionário português-iorubá grampeado do lado, pra negada saber do que se trata. Eu pelo menos sei o que significa cada palavra estrangeira que coloquei nas partes que me cabem. Aparte disso, é o samba do Acesso. Problemas: Muitas palavras em iorubá, maioria delas o povo sequer conhece. O que eu faria de diferente: Não daria aquela louca na melodia da segunda parte – me refiro ao salto mi menor—sol maior—si bemol maior—mi menor perto do fim do samba. Doideira total. Ouvi inteiro.

Colibris: Na mesma linha de Gaviões Imperiais, a Guerreira, hoje em dia longe de seus momentos de glória, apresenta o samba que poderia ser o samba do ano, se não fossem as modificações desnecessárias e revoltantes que fazem a sua qualidade despencar. Mas, diferente da vermelho e branco do Rio, a Colibris cai de tal maneira que o samba fica insuportável. A obra de Imperial e João Pinho, lembro-me bem, era daquele tom menor característico que é impossível estragar. Nas eliminatórias, barbada total. Dez a cada oito pessoas diziam que esse era O samba. E foi escolhido. Mas aí alguém teve a idéia genial de jogar esse samba em tom maior, e virou oba-oba. O samba tem indefinições e problemas melódicos gravíssimos que a interpretação de Júnior Santana não salva. E ele sabe disso, ao tirar o seu da reta, celebrando a escola “do presidente Guilherme Dourado”, não a “nossa” escola. Aliás, a interpretação um tanto quanto atrapalhada de Júnior nesse samba causou uma quebra melódica épica na primeira passagem do refrão do meio que ninguém estava esperando, muito menos o Leonardo Bessa, que foi o nosso violonista. Enfim, o samba é um conjunto de trapalhadas que transformaram aquela que devia transformar a obra do ano no Acesso em um dos piores. Problemas: O samba inteiro soa mal, num tom maior alegrinho que não combina com a força da letra. O tropeço no refrão do meio beira o aterrorizante, além de indefinições melódicas na segunda parte, no trecho “Pelas mãos da ciência/Teve um novo caminho/Selando paixões tão intensas/Sendo o bem ou sendo o mal”. O que eu faria de diferente: Deixaria esse samba em tom menor, do jeitinho que ele deveria ser. Não tinha como errar. Nem deixei começar.

Ponte Aérea: Se a Ponte e a Amigos do Samba trocassem de melodia, as duas estariam bem servidas. O enredo sobre lágrimas, um tema aparentemente emotivo e forte, ganhou um samba acelerado e alegre. A obra de João Pinho e Imperial tem uma característica interessante: a letra forte de Imperial e a melodia do Pinho combinam, mas ao mesmo tempo não combinam. É algo que não dá pra explicar, só ouvindo e tirando conclusões, mesmo. Estranho demais. Apesar do – repetindo o termo cunhado pelo intérprete da Setor 1 Thiago do Porto – “vício de origem”, o samba é muito legal. Parece que a energia e o bom humor da interpretação de João Marcos dão um gás diferente no samba, dá vontade de ouvir e curtir. A letra é correta e se encaixa perfeitamente com a melodia, fazendo a “descombinação” entre tema e melodia ser o único defeito desse samba. Não muda o fato do samba ser muito legal. Problemas: A melodia não combina do tema que a escola propõe. O que eu faria de diferente: Uma melodia. Tão legal quanto, mas mais apegada com o tema. Ouvi inteiro.

Acadêmicos do Setor 1: Ouça esse samba e me diga: A Setor 1 vem falando das flores ou de fé? O grande mistério deste enredo – e o samba não ajuda – é saber do que é que a escola quer falar. O título “Pétalas de Fé” é enigmático e não ajuda a decifrar o que a escola quer mostrar. As referências às flores são mais freqüentes, mas tudo sempre pende pro lado da crença e da religião. Estranho... Enfim, samba. Muito bom, gostoso de ouvir. A obra de Murilo Sousa e Eduardo Nunes conta com a primorosa interpretação de Thiago do Porto – ô, galera, vocês ainda queriam dispensá-lo? Pensem melhor da próxima vez, eu no seu lugar não cometia esse crime. Conta com um tom maior valente e melódico, fluído, que até nas alongadas da letra (como em “Um botão de esperança ao irmão”) fica bonito. A gingada em “Oxum, teus lírios da paixão/Fecundaram o encanto em Xangô” é genial. Sem dúvida, a galera da Esquentando os Tamborins, depois do campeonato sensacional do ano passado, começa com todo pé direito no quadro oficial da Liga. Problemas: Nenhum. O que eu faria de diferente: Talvez deixaria, no enredo, mais clara a intenção da escola. Flores ou fé? Ou mesmo flores na fé? Não deu pra entender. Ouvi inteiro.

Camisa 10: A remanescente da Acadêmicos de Madureira começa seus trabalhos na Liga com toda a sorte de polêmicas e trapalhadas. A escola que foi, por muito tempo, a mais impopular da LIESV – graças, é claro, às ações sem sentido de seus dirigentes –, consegue se redimir com esse samba que passa longe de ser bom, mas com certeza funcional e agradável. A letra, fusão entre os sambas de João Pinho, Imperial, Yuri Aguiar, Leandro Thomaz, Rodrigo Oliveira, Ewerton Fintelman e Murilo Sousa, conta com clichês antigos e desagradáveis como “Eu vi nascer no destino/Um canto menino que foi caminhar”, “A praga que passa revela a verdade/Traz brasilidade para cara olhar”, e, o pior deles, “O canto de um eternizar”. Mas a interpretação indefectível e incomparável de Celsinho (Camisa Verde e Branco) dá uma energia contagiante à obra, que é a que conta com a produção mais completa do CD. A melodia é agradabilíssima, e conta com viradas inesperadas, como em “A luz iluminou/O amor então brotou/Na arte que eu seu peito abrandou” e, a mais espetacular do samba inteiro, a jogada no chão em “No chão por qual passou/Seus filhos vão cantar”, que é raçuda, corajosa e cheia de estilo. E, no fim das contas, a escola acertou ao dispensar o bode pelo “tigre guerreiro e de raça”. Problemas: A letra é recheada de clichês velhos e irritantes. Felizmente, a melodia salva. O que eu faria de diferente: No samba, nada. Os maiores problemas dessa escola estão na organização interna e em como eles lidam com a imagem que transmitem para o resto da Liga. E isso não cabe a mim. Ouvi inteiro.

Império da Zona Sul: O samba sobre extremos, opostos e dualidades é, tal qual o enredo, feito de extremos. A obra de João Pinho, Imperial, Willian Tadeu e Ronaldo Junior, sob a interpretação muito mais corajosa de Victor Nowosh (que ano passado estava cheio de vergonha... Fica frio, rapaz, você é bom), além de chegar prejudicada nas paradas pela sua própria qualidade, ainda foi boicotada pelos erros e indefinições melódicas que surgiram no decorrer da produção. Problemas esses que não são na primeira parte, que é genial. O desabafo do personagem do enredo, autoria de alguém que meses depois estaria pulando do barco pra deixar Heliópolis na mão, é sintetizado no trecho espetacular “O mundo lá fora é tão louco/Me deixa contar só um pouco/De tudo aquilo que vi e que senti”. O refrão do meio é misterioso e precisa de muita interpretação de texto para ser compreendido. A segunda parte é que joga tudo pro alto: “Vão dizer por aí que há o certo e o errado/Irão pregar que a verdade é singular” tem um tom meio Porto Alegre, que emprega esse “vão dizer” solto de maneira inteligentíssima (como em Imperadores do Samba 2008: “Hã quem diga então/Que pra ser consagrado na nação...”). “Cadê os direitos? Cadê o respeito? Cadê o amor/Que faz cada um sonhar seus sonhos na avenida/Sejam sonhos de roqueiro/Ou sonhos de sambista?” é um trecho que só se entende se fizermos uma viagem no tempo, uma vez que o nome original deste enredo não era “Os Dois Sentidos da Vida”, e sim “A Roqueira e o Sambista”. Problemas: O enredo original foi modificado e entregue aos compositores de modo que a safra não colaborou. A escola fez o melhor que pode. Além do mais, a produção foi impaciente com essa escola, prejudicando-a fortemente na construção de sua melodia. O que eu faria de diferente: Tomaria mais cuidado com o carnavalesco. Depois de mudar tudo e fazer suas besteiras, foi embora e deixou todo mundo na mão. O “Boa noite, vitória” virou um “Obrigado por nada”. Belo exemplo... Pulei depois da primeira passada.

Raízes: Encerrando o CD duplo, a Raízes não repete o trabalho do ano anterior. Depois de um épico do Carnaval Virtual sobre o Brasil da Ditadura – samba que cantei em estúdio e, rapaz, é uma tapa na orelha –, o presidente e carnavalesco Eduardo Nunes não sei se caiu na mesmice dos enredos sobre lugares ou se decidiu fazer algo inovador no que se refere a enredos sobre lugares. O que é certo: cometeu o mesmo pecado da Falcões da Serra, lá em cima no Especial, com Mali. Um samba pesado, maçudo, cansado sobre uma nação um tanto mais conturbada e misteriosa que é o Timor Leste. Diferente? Com certeza. Inovador também. Mas o estilo Grande Rio de fazer samba não agrada. O samba é quase todo em tom menor, e segue um estilo que inclina para o triste e sofrido (o que fica bem óbvio em “Meu deus! Quanto lamento a ecoar”). E olha que o Imperial, que as más línguas acusam de escrever sambas “que escorrem sangue”, nem participou da criação do samba oficial! A obra é de Luís Butti, Ewerton Fintelman, Leonardo Moreira e Leandro Kfé; justamente alguns dos compositores dos quais eu nunca esperaria um samba assim. O pecado é ainda mais grave quando o samba alcança o seu refrão principal. A melodia muda completamente, passa do triste para o quase infantil, em um tom maior extremamente descombinado. Quando alguém diz que o refrão principal da sua escola parece música sertaneja, é realmente fim de carreira. Um final pouco honroso para este CD infeliz do Grupo de Acesso. Problemas: A dualidade entre o refrão principal e o resto do samba é gritante. Vai prejudicar a escola, com certeza. O que eu faria de diferente: Escolheria outro refrão principal, com certeza. Este talvez não combinaria com nenhum samba. Além do mais, priorizaria o ar de mistério ao invés de escolher um samba triste. Em tempo: Parabéns ao intérprete Murilo Sousa, novamente. Com o samba certo, esse garoto detona. Nem deixei começar.

Rodrigo Raposa
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