O CANTO FOI CAMPEÃO

Num dos carnavais mais equilibrados da história, a Beija-Flor sagrou-se campeã. Que maravilha é ver a escola, com sua comunidade aguerrida, cantando o samba a plenos pulmões. Um samba apenas bom, que cresceu porque a escola tem uma bateria fantástica, um intérprete espetacular e, principalmente, porque cada componente doou um pouco de sua alma.

O canto foi campeão. Ele foi fundamental para definir as colocações das escolas. Salvou do rebaixamento uma Porto da Pedra plasticamente horrenda, que impactou com o seu samba melodioso, cantado numa cadência forte, porém gostosa. Fez a Tijuca ter uma colocação superior à Viradouro de Paulo Barros e sua invencionices.

E castigou uma das escolas mais belas que já vi passar na Sapucaí. Renato Lage fez um desfile exuberante no aspecto visual, coisa de deixar qualquer um de queixo caído. Mas a escola cantou pouco, desfilou desanimada e causou apatia no público. Prova disso foram as duas notas baixíssimas em harmonia – e que foram justas.

Querem ver como se faz uma campeã? Vejam esta declaração de Laíla, diretor de carnaval da Beija Flor, sobre a contratação de Alexandre Louzada: "a escola investiu nele porque sabia que precisava melhorar em termos de enredo e concepção de alegorias e fez um grande carnaval". A Beija-Flor reconheceu seus erros e, em vez de culpar os jurados pelo quinto lugar do ano passado, corrigiu suas falhas.

Espero que o Salgueiro faça o mesmo. Que seus diretores, compositores, sambistas e “torcedores” escutem as críticas dos especialistas, leiam as justificativas, revejam o desfile sem se contaminar com o visual e vejam as razões para a sétima colocação. Elas eram previsíveis.

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Os rebaixamentos de Estácio e Império Serrano foram tristes, mas corretos. De forma surpreendente, a Estácio, mesmo com um samba conhecidíssimo, não cantou como no campeonato de 2006. Além disso, apresentou um desfile pesado, fugindo de suas características.

O erro do Império foi parecido. Os enredos “moderninhos” não combinam com a escola. E a conseqüência foi devastadora – mesmo assinado pelos mestres Arlindo Cruz e Aloísio Machado, o samba não conseguiu ter conteúdo ou emocionar. Por fim, é preciso explicar ao carnavalesco que uma redinha de néon com a escultura de um cérebro em cima não pode ser alegoria de escola de Grupo Especial.

Que a São Clemente não cometa erros semelhantes e venha alegre e irreverente para fazer um belo desfile em 2008 e tentar se manter entre as grandes escolas.

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Um dos momentos mais maravilhosos da transmissão dos desfiles de São Paulo foi o verdadeiro “esporro” que o jornalista Maurício Kubrusly deu nos telespectadores. A Globo colocou uma pergunta de um internauta que morava no Japão – uma pergunta tola, apenas para justificar a emissora se vangloriando e falando que a transmissão estava sendo feita para não sei quantos países, etc. A questão era relativa à um aspecto da competição.

Eis que o comentarista se revolta com a pergunta, dizendo que o mais importante era o desfile e sua beleza intrínseca, criticando esse condicionamento do público em ver o carnaval como uma simples disputa entre agremiações. Bravo!

Porém, o melhor da transmissão foi mesmo o belo desfile da Mocidade Alegre, campeã com o melhor samba do ano em São Paulo e com um chão maravilhoso, de fazer inveja a muita escola grande do Rio. Desfilaço.

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Falando em comentaristas da Globo, o sambista Dudu Nobre resolveu gravar um CD com Sambas Enredo. A seleção das faixas está sendo feita com a ajuda do público, através de votação no programa Domingão do Faustão, da TV Globo. Apesar do cantor ser da mesma gravadora do CD de Sambas Enredo do Rio de Janeiro de 2007, a Universal, e de tal jogada ter sido uma descarada estratégia de marketing, é evidente que é muito boa, para o gênero, essa exposição. Se os sambas estão longe dos picos de popularidade do final dos anos 80, a renovação do interesse da mídia pode levar a uma revalorização da parte musical da festa, tão desprezada na última década.

Gostaria, no entanto, que este CD tivesse um trabalho de resgate maior do que o que se aponta. Se por um lado, é saudável a participação popular, por outro teremos a repetição dos mesmos sambas de sempre, com a inclusão de alguns mais recentes, como o da Mocidade de 1992, cuja popularidade é indiscutível. Seria interessante, entretanto, mostrar que o gênero vai além de “Aquarela Brasileira” e “É Hoje”. Samba enredo é feito por escolas em todos os cantos do Brasil. Samba Enredo, no Rio, vai além do Grupo Especial.

Quando Jamelão lançou, em 1961, o que eu considero ser o primeiro LP de Sambas Enredo da História, com um lado de sambas de quadra e o outro de sambas enredo do ano, pegando as obras campeãs e vices dos três grupos existentes na época, tornou imortal uma composição que, de outra forma, seria totalmente esquecida – “Seca do Nordeste”, da vice-campeã do segundo grupo, a Tupy de Brás de Pina. Martinho também teve esta preocupação, gravando, em LP, vários sambas da década de 60.

Sei que é difícil exigir de Dudu Nobre uma preocupação semelhante, mas seria maravilhoso ver um sambista, com a mídia que ele tem, gravando sambas de São Paulo, Porto Alegre, Manaus, Brasília, sambas dos anos 60 para trás, sambas dos grupos de Acesso, sambas concorrentes que não ganharam, etc.

Diante disso, resolvi colocar, toda semana, um samba enredo que gostaria de ver regravado e popularizado. Inicio com um samba histórico de Porto Alegre:

HOJE O ASTRO SOU EU – Acadêmicos da Orgia, de 1981.

A Acadêmicos da Orgia, que desfilou este ano no Grupo de Acesso de Porto Alegre, já foi três vezes campeã do grupo principal, sendo a última em 1978. O samba disponibilizado é um exemplo de simplicidade, com letra curta e de fácil entendimento, e um refrão contagiante: “Oi, cirandeia / A ciranda vamos cirandar / Quem quiser entrar na roda de samba / Que venha sambar...”

Link:

http://www.4shared.com/file/10657443/e452ea5d/01_acadmicos_da_orgia_1981_-_hoje_o_astro_sou_eu.html

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Falando em Porto Alegre, era nossa idéia comentar os sambas de lá, porém o CD saiu muito em cima do carnaval. Alguns registros merecem ser feitos – o Estado Maior da Restinga, a escola que tem a melhor estrutura e defendia o título, resolveu se carioquizar. Fez um samba tipo os que escutamos no Grupo B do Rio, falando de energia, e acabou ficando apenas na sétima colocação. A campeã foi a tradicional escola Bambas da Orgia.

Em Florianópolis, a Consulado confirmou o favoritismo e foi tricampeã. Em Manaus, a Grande Família conquistou o título. Já no carnaval de Vitória, a Jucutuquara foi campeã, com o inusitado rebaixamento da tradicional MUG, que teve problemas de quebra de carros no desfile.

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Lembrando os links postados na última coluna:

30 Anos de Samba de São Paulo – links:

http://www.4shared.com/file/10067371/b5c757fa/30_anos_de_sambas_sampa1.html

http://www.4shared.com/file/10068305/a5881572/30_anos_de_sambas_sampa2.html

Sambas de Florianópolis – links:

http://www.4shared.com/file/10062043/457c2b7e/Sambas_de_Floripa1.html

http://www.4shared.com/file/10062952/24b11126/Sambas_de_Floripa2.html

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Por fim, o momento “jabá” da coluna. No site da Liga das Escolas de Samba Virtuais, foi disponibilizado um CD em mp3 com os sambas do pessoal da LIESV que concorreram (alguns, inclusive, ganharam) nas Escolas de Samba reais. Todos com qualidade digital, 128 kbps.

Dentre eles, dois sambas meus, sendo um deles o que fiz para a Renascer de Jacarepaguá, em 2006. Um samba horroroso, confesso – fiz para ajudar um amigo, porém sequer vi a palestra do carnavalesco e não tinha a menor idéia do tom que a escola queria impor em seu desfile. O outro, é melhorzinho, sendo interpretado pelo Fredy Vianna, que defende a Acadêmicos do Tucuruvi, em São Paulo.

Estes dois sambas são apenas curiosidades. O resto do CD tem ótima qualidade, com alguns sambas bem superiores aos que as escolas efetivamente levaram para a avenida. Mas não fiquem com a minha opinião – escutem os sambas. O link:

http://www.liesv.com/noticias/006.html

Abraços a todos!

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br