Bem, amigos do Sambario! Aqui é Túlio Rabelo, do canal no YouTube TR - Sambas de Enredo. Nesta minha estreia como colunista do site Sambario, venho falar sobre gravações independentes de samba enredo… das Escolas de Samba e Blocos de Enredo. Aquelas gravações que você não encontra nos álbuns oficiais, e que tiveram poucas tiragens, com raras inserções nos programas de rádio da época sobre Carnaval, como a rádio Tropical e a rádio Nacional. Além desses sambas oficiais desconhecidos, esta coluna também abordará brevemente sambas concorrentes, tema este que merece um tópico próprio, para maior explanação.

Vinil, fitas K7, mini-fitas K7, CD… ah que saudade! O tempo infelizmente levou muitos dos registros gravados nestas mídias. De fato, tem acontecido ainda alguns resgates, inclusive em meu canal, mas isto é uma amostra, a ponta de um iceberg que o tempo levou!

Inicialmente, iremos à década de 1970. O LP do Grupo de Acesso do RJ de 1972 a 1978 tinha anualmente 12 escolas, o que um dia me fez pensar: e os sambas das agremiações que ficaram de fora do LP? Será que alguns foram gravados de forma independente? Pois bem… sim! Alguns registros a gente tem disponível… outros são lendas. O fato é que, sempre que possível ($$$), as agremiações gravavam seus sambas em um compacto ou incluíam-os em um LP aleatório.

O Império da Tijuca, por exemplo, quando ficou de fora do álbum oficial em 1973 “Brasil, Explosão do Progresso” e em 1976 “O Guerreiro das Alagoas”, gravou o samba por meio de compacto. Isso foi possível, pois estes sambas tinham como um dos compositores Marinho da Muda, também responsável pela gravação. Curiosamente, o samba de 1978, que não é do Marinho da Muda e versa sobre “O Calendário Carioca”, não tem registro de gravação. Escute abaixo o samba de 1976, quando o carnavalesco Joãosinho Trinta levou a agremiação ao título do Acesso.

Ainda na década de 70, temos digitalizada a gravação em compacto de Unidos de Lucas 1977 “Insurreição do Queimado”, Unidos da Zona Sul 1974 “A Veneza Brasileira e sua História” e União da Ilha 1971 “Ritual Afro Brasileiro”. Conforme relato de André Poesia, a Independentes de Cordovil gravou em compacto o samba de 1978 “Pregões do Rio Antigo”, quando foi vice-campeã do Grupo 3 (terceira divisão). Esta informação me leva a crer que a campeã do mesmo grupo, a Em Cima da Hora, tenha gravado “O Samba é Embaixador”. O que já temos como confirmado, mas sem rastro do vinil, é o samba da Lins Imperial de 1977, cujo enredo era “Cruz Credo, Eta Diabo” e se encontra listado no site IMMUB.

Veja a letra do samba da Lins Imperial 1977:

Créditos: SIAN - Sistema de Informações do Arquivo Nacional

Na década de 1980, a Tradição gravou seus primeiros sambas em compacto. Posteriormente, em 1990, temos registro de três compactos: Unidos do Campinho (foto no fim da página), Império da Tijuca e Império do Marangá. Este último, da saudosa Império do Marangá, a gente não tem, até o momento, o vinil pra digitalizar. Listado no site IMMUB, o samba-enredo “Clementina, uma Rainha Negra”, gravado por David do Pandeiro, tem como autores Jacy Inspiração e Serafim Adriano. Para se ter uma ideia da importância desta homenagem da Império do Marangá, o compositor Serafim Adriano é autor de um dos maiores sucessos da Clementina de Jesus, o samba “Ingenuidade”. Ou seja, é uma homenagem de um amigo pessoal dela. Ainda na década de 90, consta o compacto da Unidos da Villa Rica para 1993, cuja gravação de Moisés Santiago versava o tema enredo “Quem não arrisca não petisca, façam o jogo”.

Pois bem, voltamos a década de 1970, desta vez pra falar de sambas enredos que foram incluídos em LPs aleatórios. Um dos exemplos que temos é o samba da Grande Rio de 1978, lançado como “Devaneios de um Pierrot” no LP "Carnaval Festa do Povo" de 1978. Outros sambas de enredo, lançados em discos aleatórios, são “Bahia, templo de tradições e fé” do Bloco Canários das Laranjeiras 1976 e “Memórias de um Preto Velho”, do Boi da Freguesia 1973, atual Boi da Ilha. O do Canários foi gravado no disco do Conjunto Nosso Samba de 1976, cujo membros faziam parte do Bloco. Já o do Boi foi gravado no disco “Roda de Samba - Volume 3” de 1979. Na década de 1960, o Bloco Vai Se Quiser produziu um LP próprio, no qual entre as faixas do disco, gravou o samba enredo de 1969 “Imigração do Brasil”

Pulando para a década de 1990, é importante citar que a cidade de Nova Iguaçu produzia LPs de samba enredo, cujos sei da existência de discos de 1991, 1996 e 1997. Agremiações que faziam jornada dupla e também desfilavam no RJ, como Leão de Nova Iguaçu e Inocentes de Belford Roxo, gravaram seus sambas de 1997 por lá, sendo respectivamente, “O Som Nossa de Cada dia” e “Dandara, o sol da liberdade”. Escute o samba da Inocentes na voz de Jackson Martins.

Antes de migrarmos o assunto para as fitas K7, precisamos citar brevemente as mini-fitas K7. Na época da censura, as escolas de samba e blocos produziam um documento que geralmente continham informações como letra do samba enredo, sinopse e desenhos de fantasias e alegorias. Nestes documentos, disponíveis gratuitamente para consulta no site SIAN - Sistema de Informações do Arquivo Nacional, constam que as agremiações carnavalescas precisavam entregar mini-fitas K7 com a melodia dos sambas. Provavelmente uma gravação mais amadora, acompanhada de cavaquinho. Devido a fragilidade que esta mídia tinha, provavelmente estes registros sonoros tenham se perdido no tempo, haja vista que não estão disponíveis no site.

Enfim… vamos de fitas K7! É um assunto muito amplo, que será falado aqui de forma mais superficial, visto que renderá outros textos. Conforme relatos, há gravações de sambas concorrentes em fita K7 ao menos desde a década de 1980. O compositor André Poesia me relatou ter possuído diversas fitas da época, sobretudo de sambas postulantes aos carnavais da Portela. Entre estes da Águia, havia sambas do compositor Romildo. Infelizmente, até o momento, as fitas K7 com os sambas de Romildo sumiram. Um dos sambas que viram a luz do túnel e seguem vivos na internet, foi o do Didi para a União da Ilha 1983.

E quem diria ouvir um samba concorrente da Mangueira para 1988 na voz do Jamelão…

Um lindo registro que me faz pensar: será que um dia veremos sambas concorrentes ou as versões "eliminatórias" dos sambas campeões para enredos como “Kizomba” (Vila Isabel 1988), “Liberdade, liberdade” (Imperatriz 1989) e “Ratos e Urubus” (Beija-Flor 1989)?

Se da década de 1980 e da primeira metade da década de 1990 temos poucos registros, devido a já ser relativamente bem antigo, ao menos tem aparecido muitos registros de 1996 pra frente. Com ajuda de colaboradores, tenho conseguido trazer à tona diversas gravações raras, sejam sambas oficiais de escolas de grupos inferiores ou sambas concorrentes, como você pode ver no vídeo abaixo, que traz uma coletânea com parte do acervo de Flávio Souza.

Com as fitas K7 entrando em declínio, veio uma nova mídia física: o CD. Era de praxe, por parte de parcerias de sambas concorrentes e também de escolas dos grupos inferiores, gravar seus sambas nestas mídias, divulgando cópias para a galera. Exemplificando: os sambas da Unidos da Vila Kennedy de 2000 e 2002, disponibilizados em meu canal, vieram de CDs cedidos pelo amigo André Baiacu.

Enfim… há infinitas gravações raras por aí. Seja qual for a mídia, o resgate destes áudios hoje em dia tem sido possível a partir de amantes do gênero que preservaram seus respectivos acervos e gentilmente disponibilizam. No que tange as fitas K7, muitas vezes os donos de acervos têm gravações oriundas de fragmentos de programas de rádio, raramente a própria fita original. Em breve farei uma coluna para citar sambas oficiais de escolas de grupos inferiores que foram gravados em fita K7 e estão sumidos. Bem como, mostrar os resgates já feitos. Um abraço e tamo junto!

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