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Editorial Sambario
Edição nº 81 - 31/05/2021

DOMINGUINHOS DO ESTÁCIO... DA IMPERATRIZ, DA VIRADOURO, DO BRASIL

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Desde quando me conheço por gente, toda vez que ouvia o primeiro repicar de um tamborim, um acorde do cavaco ou o roncar de uma cuíca, a imagem que vinha imediatamente na mente era de Dominguinhos do Estácio. Domingos da Costa Ferreira é sinônimo de Carnaval. Ambos se confundem. No primeiro repente em que desponta no pensamento o mar de ilusão tomado por alegorias e fantasias, é impossível imaginar um cenário sem ele envergando o microfone com todo o carisma e animação.

Dominguinhos ajudou a consolidar a função de puxador de samba-enredo. Sim, puxador! Jamelão que me desculpe aí em cima, mas o carioca oriundo da Unidos de São Carlos não apenas cantava o samba na avenida. Agitava, brincava, pulava, caqueava (iihhh, iihhh). Contagiava o público! A alegria proporcionada pelo maior espetáculo audiovisual do planeta se materializava no sambista.

Nos anos 70, quando iniciou sua trajetória na folia, geralmente um dos compositores vitoriosos da temporada era o escolhido para gravar o hino no LP e cantá-lo no desfile. 
Ainda havia o pragmatismo da opção pelos conjuntos vocais que sempre acompanhavam as gravações, como As Gatas, Conjunto Nosso Samba e Juventude Samba Show. Isso quando a escola não apelava pra um artista de renome pra entoar a obra na avenida, um expediente bastante comum naqueles tempos. Afinal, nem Jamelão registrava fonograficamente o samba da Mangueira na época. 

Pois Dominguinhos começou a se firmar em meados daquela década, surgindo na mesma leva que também revelou Neguinho da Beija-Flor, Aroldo Melodia, Carlinhos de Pilares, entre outros. Era o Carnaval formando estrelas que se tornariam grandes nomes de nossa música. Dessa forma, as agremiações foram se esquecendo de vez de importar figuras consagradas na MPB pro desfile. E os LPs da década de 80 campeões de vendas teriam como marcas os intérpretes oficiais de cada escola. Até mesmo Jamelão se renderia, antes tarde do que nunca...


No começo dos anos 80, pela Imperatriz

Dominguinhos sempre foi do Estácio, antes mesmo da Unidos de São Carlos mudar de nome a partir do Carnaval de 1984. Tanto na agremiação que antecedeu a Estácio de Sá, quanto na Imperatriz Leopoldinense, ganhou vários sambas seguidos na virada dos 70 para os 80. Afinado, começou a se tornar figura tarimbada no disco e na avenida naquela ocasião. Dominguinhos do Estácio sintetiza desde então a figura do puxador de samba (perdão mais uma vez, José Bispo!).

Mesmo um compositor de mão cheia, Dominguinhos consagrou obras-primas que não fez. É difícil ouvir "A Festa do Círio de Nazaré" em outra voz. Mesmo não tendo gravado no LP oficial de 1975, não tinha como o devoto de Nossa Senhora de Nazaré, presente anualmente no Círio em Belém do Pará todo segundo domingo de outubro, não conseguir a identificação definitiva com o clássico, reeditado pela Viradouro em 2004. Repetição feita como uma forma de compensá-lo por não ter sido o intérprete no desfile original de quase 30 anos antes. Dominguinhos tinha mesmo que cantá-lo na Sapucaí.

Tanto que um aperto me deu quando soube de um assalto que sofrera em 2017. Os gatunos não pouparam nem o cordão com sua medalhinha sagrada de Nossa Senhora de Nazaré, que tinha seu nome gravado e nunca tirava do peito. "Já tive dois infartos, um aneurisma abdominal e fui salvo por Ela", disse ao Jornal Extra.


Em 1989, fez a voz da igualdade ser sempre a nossa voz

Quis o destino que Dominguinhos recebesse como presente "Liberdade, Liberdade! Abra as Asas sobre Nós!". Era sua segunda passagem pela Imperatriz Leopoldinense, após ser expulso da Estácio de Sá por desavenças com a diretoria da época. A escola havia se classificado em último no Carnaval anterior, devendo desfilar no Acesso em 1989. Acabou permanecendo no Grupo Especial. Na disputa interna gresilense, o clássico de Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Jurandir e Vicentinho chegou a ser desclassificado, porém a música fora bancada pelo carnavalesco Max Lopes. O resto é história! O registro em sua voz embalaria até abertura de novela.

Após se eternizar na Estácio de Sá e na Imperatriz, o coração ainda ficou reservado para uma terceira paixão. O amor está no ar! Vermelho e branco como a Estácio, a Viradouro também passou a ser confundida com a própria trajetória de Dominguinhos. Parecia que um não vivia sem o outro. Logo de cara, ajudou no primeiro campeonato da escola niteroiense. Caiu na gandaia!

Encerro essa breve crônica com uma impressão pessoal. De sempre esperar pela presença carismática e gigantesca de Dominguinhos nas vinhetas carnavalescas da Globo e da Manchete na infância. Tempos em que os sambas eram executados à exaustão na TV e no rádio. Quando a energia do refrão "me dê me dá, me dá me dê" cativou de cara um menino de oito anos recém-completados, que passou a suplicar insistentemente pela fita K7 com os sambas de 1992, comprada num camelô de Tramandaí-RS. Que se fascinaria ainda mais com a valentia da Dança da Lua, cujo descontentamento épico com a falha no sistema de som da Sapucaí se tornaria meme décadas depois. "Absurdo, mas a gente vai chegar lá!".



Dominguinhos não é só do Estácio. É da Imperatriz, da Viradouro, da Sapucaí, do Carnaval... do Brasil!

Tristeza não tem fim, felicidade sim...

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