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Editorial Sambario

Edição nº 45 - 13/2/2012

Dez momentos marcantes da história da Sapucaí - Chegou a semana do Carnaval! O momento favorito do coração de todo sambista, de todo folião. Os tambores vão soar, os tamborins repicar, e o surdo, tal qual um coração, pulsará todas nossas emoções. Uma renovada e repaginada Marquês de Sapucaí será mais uma vez o palco do maior espetáculo do planeta. Nesse festival de cores, de alegria, de vibração e de muito samba no pé, o Editorial SAMBARIO tem a ousadia de selecionar os dez momentos mais marcantes da história da Passarela do Samba. Há alguns acontecimentos negativos, mas que foram inclusos neste ranking pelo fato da comoção de seus bravos componentes pelo fracasso de um desfile também provocar lágrimas de todo um país, até dos alheios à folia. A lista possui um contexto semelhante à elaborada pelo colunista Rixxa Jr em seu texto Dez Momentos que Arrepiaram o Carnaval (2008), mas esta procura focar o Sambódromo, a partir de 1984, dando destaque para acontecimentos mais recentes. Confira:



10º O banho de superação de Neguinho (Beija-Flor - 2009) - Em meados de 2008, Neguinho da Beija-Flor foi diagnosticado com um câncer no intestino. Em meio à retirada do tumor e à quimioterapia, sua presença no desfile da Beija-Flor de 2009 foi ameaçada. Nesse meio tempo, as alegrias na vida do intérprete impulsionaram sua cura, como o nascimento da filha e o pedido de casamento. Para a felicidade dos foliões, não só Neguinho marcou presença na Marquês de Sapucaí no Carnaval, como também se casou ali. Com a presença de celebridades como Roberto Carlos, a concentração da Passarela foi o palco do "sim" do cantor e de Elaine Reis. Em fase final de tratamento, com a cabeça raspada e uma tunica branca, Neguinho puxou a Beija-Flor do alto do carro de som como se nada sentisse e deu um banho de superação. Afinal, o enredo daquele ano era o sugestivo "No Chuveiro da Alegria, quem Banha o Corpo Lava a Alma na Folia". Até hoje, o intérprete do sorriso contagiante está na ativa, mais saudável do que nunca para alegria geral.



9º A águia sem asas da Portela (Portela - 2005) - Nilo Figueiredo assumia a presidência portelense prometendo uma "Nova Portela". No entanto, para o desfile de 2005 em que apresentaria o enredo "Nós Podemos: Oito Ideias para Mudar o Mundo", nada deu certo naquela madrugada de segunda para terça. Um incêndio consumiu o abre-alas na véspera da apresentação. O carro foi reconstruído, porém ocorreu um problema no encaixe das asas da tradicional águia da azul-e-branco de Madureira. Assim, ela apresentou a escola daquela forma mesmo: sem asas. E os problemas não parariam por aí. O último carro, que traria a Velha Guarda, quebrou antes de cruzar a concentração. Temendo que a Portela estourasse o tempo do desfile, que já se encaminhava para o encerramento, Nilo Figueiredo não teve escolha e precisou vetar a entrada da alegoria e dos baluartes portelenses. Com as portas de acesso à passarela fechadas, a comoção foi geral. As lágrimas inundaram a Sapucaí e muitos integrantes da VG passaram mal, sendo socorridos pela ambulância. O imprevisto com a alegoria acarretou no atraso de quase uma hora do prosseguimento do espetáculo. Antes da entrada da Imperatriz, a escola seguinte a se apresentar, a Velha Guarda enfim desfilou, realizando solitária o percurso de 700m da Sapucaí, recebendo uma ovação singular. Mesmo com o desfile desastroso, a Portela terminou a apuração na 13ª e penúltima posição, permanecendo assim no Grupo Especial.




8º O DNA ousado de Paulo Barros (Unidos da Tijuca - 2004) - A Unidos da Tijuca era apenas a terceira escola a adentrar a Sapucaí naquele célebre carnaval de 2004, que marcava os 20 anos do Sambódromo e que teria como novidade quatro escolas reeditando sambas-enredo clássicos como "Aquarela Brasileira", "A Festa do Círio de Nazaré", "Lendas e Mistérios da Amazônia" e "Contos de Areia". Mas o Pavão, que desfilava com o enredo "O sonho da criação, a criação do sonho. A arte da ciência no mundo do impossível" parou o Brasil com a deslumbrante alegoria do DNA, onde 123 componentes pintados de azul realizavam coreografias sincronizadas, gerando um efeito poucas vezes visto nos desfiles. Era o cartão-de-visitas do então desconhecido carnavalesco Paulo Barros, que passaria a desafiar os bambas mais conservadores oferecendo às escolas a nova opção de uma teatralização nas alas e alegorias, além de ousadias como colocar a bateria em cima de um carro alegórico em forma de um tabuleiro de xadrez, o que gerou conflito com as apresentações mais convencionais, já que seu estilo era mais chamativo e de fácil identificação com o povo. Após passagens por Estácio de Sá, Viradouro, Vila Isabel e Renascer de Jacarepaguá, no retorno à Unidos da Tijuca, a histórica comissão de frente ilusionista lhe proporcionaria seu primeiro campeonato em 2010 com o enredo "É Segredo".



7º As chamas consomem o sonho da Viradouro (Viradouro - 1992) - Era apenas o segundo desfile da Unidos do Viradouro no Grupo Especial. Após surpreender com uma magnífica apresentação, antes do entardecer, em homenagem a Dercy Gonçalves no ano anterior, a escola realizava um desfile espetacular para o enredo "A Magia da Sorte Chegou...", que certamente credenciaria a agremiação niteroiense ao título... Mas a Viradouro não contava com um incêndio que, em poucos minutos, transformou uma alegoria inteira em cinzas. Pouco tempo após esta cruzar a dispersão, as chamas rapidamente se espalharam pelo carro alegórico, provocando pânico e causando ferimentos, mas nenhuma morte - felizmente. A Praça da Apoteose foi tomada por uma nuvem escura, gerando uma cena melancólica, o que atrapalhou a dispersão das demais alas e alegorias, comprometendo a escola em evolução e harmonia, além de estourar o tempo em 13 minutos. Mesmo com todos os percalços, a Viradouro finalizou a apuração de 1992 numa honrosa nona colocação. 



6º Explodindo os corações na maior felicidade (Salgueiro - 1993) - Terceira escola a se apresentar na segunda noite do Carnaval 1993, o Salgueiro apostou num samba-enredo então bastante distinto dos que a Academia estava acostumado a levar para a avenida. Tradicionalmente apegada a obras mais requintadas até então, a vermelho-e-branco optou, para o tema "Peguei um Ita no Norte", num samba pra cima, impulsionado por um refrão chiclete e por alguns momentos marcheado. A escolha do popular "Explode Coração" gerou contestações na época, mas o efeito do samba, como sugeria o antológico estribilho, "contagiou e sacudiu a cidade". O hino, cantado a plenos pulmões por todo o complexo, foi o ponto forte de um impecável e singular desfile e embalou a quebra de um jejum de 18 anos de forma merecidíssima. O dito "efeito-Ita" foi tão avassalador que, a partir daí, o Salgueiro seguiu um novo e contestado rumo em termos de samba-enredo. A agremiação passou sempre a investir em obras com refrãos chamativos, na busca por um "novo Ita", mas até hoje a tal busca se mostrou infrutífera. Infelizmente, outras escolas também passaram a perseguir o seu "Ita", acarretando numa queda de qualidade dos sambas de lá pra cá.




5º O Carnaval futurista de Fernando Pinto (Mocidade - 1985) - O inovador e saudoso carnavalesco Fernando Pinto ofereceria ao folião uma temática diferenciada de desfiles, no segundo ano da Passarela do Samba. Até então, as escolas resistiam à ideia de desfilar sob o céu já azul. E a Mocidade, naquela manhã de segunda-feira do Carnaval de 1985, tinha seu grito de guerra ecoado pelo intérprete Ney Vianna às oito e quinze da matina. A solução encontrada por Fernando Pinto foi investir no branco e na prata, que reluziam perfeitamente no sol brilhante, gerando um efeito magnífico. O enredo "Ziriguidum 2001: Um Carnaval nas Estrelas", que contava a conquista do homem do espaço sideral, marcou pela profunda criatividade do carnavalesco, que trouxe representações extraordinárias de estrelas, planeta, espaçonaves, discos voadores, alienígenas, astronautas, luas e cometas. 
No final do desfile, a grande surpresa preparada pelo carnavalesco: a “nave-mãe” formada por cinco discos voadores acoplados, trazendo do espaço os sambistas. O talento de Fernando Pinto também parecia ser de outro mundo. Dois anos depois, ele também revolucionaria a Mocidade com o igualmente inigualável "Tupinicópolis". Aquele seria seu último Carnaval, vindo a falecer num acidente automobilístico em meados de 1987.



4º Os baluartes voltaram (Mangueira - 1999) - Tradicionalmente, um dos momentos mais esperados do Carnaval, sobretudo nas apresentações da Mangueira, eram as comissões de frente de Carlinhos de Jesus. Para os desfiles de 1999, o coreógrafo guardou o segredo a sete chaves, até a hora da sirene tocar. E o que para muitos foi incompreendido num primeiro momento, aos sambistas foi uma ode. A comissão era da altura do enredo "O Século do Samba". Num repente, desceram dos céus nomes do naipe de Cartola, Noel Rosa, Ismael Silva, Pixinguinha, Candeia, Sinhô, Mestre Fuleiro, Clementina de Jesus, Clara Nunes, Donga, Nelson Cavaquinho, Natal da Portela, Tia Ciata... todos para saudar o público e apresentar a Mangueira. Os sósias dos grandes sambistas "reencarnados", cuja maquiagem utilizada era semelhante a de Robin Williams no filme "Uma Babá Quase Perfeita", arrancaram lágrimas emocionadas dos bambas e até hoje causam arrepios a cada lembrança. A Estação Primeira terminou apenas na sétima colocação, mas aquela comissão, de concepção simplória mas arrebatadora, foi um triunfo para a eternidade carnavalesca.




3º Mesmo proibido, olhai por nós (Beija-Flor - 1989) - A morte de Joãosinho Trinta em dezembro de 2011 deixou o Brasil órfão de seu talento e também de sua essência contestadora. O homem que foi definitivo para as características atuais do Carnaval, como o luxo excessivo e a inserção de destaques nas alegorias, nos brindou com um espetáculo inesquecível no Carnaval de 1989. Com o polêmico "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia", além da exibição de diversas alas de mendigos, o maranhense tinha a intenção de exibir numa alegoria Jesus Cristo como um deles: crucificado e esfarrapado. No entanto, às vésperas do desfile, a Igreja Católica conseguiu vetar sua apresentação. Indignado, o carnavalesco mandou cobrir o Cristo com uma imensa lona preta e os dizeres estampados em letras garrafais: "Mesmo proibido, olhai por nós". O impacto causado foi ainda maior do que se a estátua realmente tivesse sido mostrada. O protesto foi o marco de um dos mais famosos desfiles da história do Carnaval, cujo vice-campeonato após a leitura das notas foi muito criticado. O título de 1989 ficou com a Imperatriz Leopoldinense, embalada pelo antológico samba "Liberdade, Liberdade! Abre as Asas Sobre Nós".



2º Valeu Zumbi, Zumbi Valeu (Vila Isabel - 1988) - Em comemoração ao centenário da Abolição da Escravatura, a Vila Isabel celebrou a festa da raça negra no Carnaval-1988. O enredo idealizado por Martinho da Vila, "Kizomba, a Festa da Raça", gerou um dos mais belos sambas-enredo da história, defendido com uma bravura única na Passarela. Sem muito luxo em termos plásticos e passando por dificuldades financeiras e também na preparação de seu Carnaval, a escola de Noel apostou na garra de seu componente e comemorou seu primeiro título, acarretando naquele que muitos consideram o maior desfile da história da Marquês de Sapucaí. A singularidade daquela apresentação foi tão simbólica que, naquela ano, fortes chuvas impediram o Sábado das Campeãs. Ou seja, aquele espetáculo jamais seria repetido.



1º A apoteose em verde-e-rosa (Mangueira - 1984) - Na minha opinião, o momento mais emocionante da história da Marquês de Sapucaí e - por que não? -, de toda a trajetória octagenária das escolas de samba. A Estação Primeira de Mangueira encerrava os desfiles do ano de estreia da Passarela do Samba já na manhã de terça-feira. Após uma apresentação impecável e contagiante do enredo "Yes, Nós Temos Braguinha", os componentes naturalmente deveriam dispersar na nova Praça da Apoteose, certo? Pelo menos não naquela oportunidade. Sem nenhuma outra escola esperando para entrar na concentração, os mangueirenses simplesmente deram meia-volta e prosseguiram com o desfile, dessa vez do lado contrário, em direção à concentração. A alegria se multiplicou, enquanto os espectadores que ainda permaneciam na Sapucaí se juntavam aos componentes para brincar aquele Carnaval, proporcionando um momento mágico e singular, que também nunca mais se repetiria. Com toda a justiça, a Mangueira não só foi a campeã dos desfiles de segunda como também se sagrou a Supercampeã, sem qualquer contestações.

Um Feliz Carnaval para todos!

Marco Maciel